QUINTA DIMENSÃO: 5/16
O Processo
Franz Kafka
Romance
1920
Ainda sem browser, depois de longas conversações com o meu avô que envolveram bençãos, eu ser muito bonita e todos os seus filhos se darem bem (e eu me apresentar, por diversas vezes) terminei de ler o livro que iniciei no avião: O Processo, do Kafka.
Quando me falaram deste livro descreveram-no como negro, opressivo e paranóico. Eu não achei nada disso. É um livro extremamente bizarro, sem qualquer tipo de beleza. K. (que eu leio "kê") é acusado de alguma coisa e movimenta-se um processo em tribunal. As razões desconhecem-se, o crime desconhece-se e o processo desconhece-se, mas K. tem de lidar com ele de qualquer forma. Considero este livro, e sendo a segunda obra Kafkiana que leio acho que posso generalizar e dizer que Kafka é todo assim, um ensaio surrealista. O personagem movimenta-se como num sonho. Os espaços em que ele está, muitas vezes são duas coisas ao mesmo tempo. As pessoas que ele vê, têm alguns traços mas ainda assim aparecem como sombras. É sem dúvida um livro sombrio, mas é do tipo sonho. Não um pesadelo, apenas um sonho estranho. Além disso existem coisas que /não fazem sentido/. Não é um alho passar a chamar-se bugalho na página seguinte. É uma coisa muito subtil, tão subtil que não consigo arranjar nenhum exemplo. É um livro de subtilezas, detalhes e significados. Creio que todo o livro é uma parábola para outra coisa qualquer, mas essa coisa é profundamente obscura e talvez apenas o Kafka a compreenda. Ou talvez tenha sido um sonho extremamente longo.
A escrita é muito simples, inesperadamente simples. Há uma riqueza de detalhes, mas detalhes inúteis, detalhes que apenas ajudam a manter a estranheza de toda a narrativa. O que mais me surpreende é o facto de K., que segundo me descreveram passaria todo o livro absolutamente desesperado e atormentado com o seu processo, se manter mais ou menos indiferente ao que acontece até mesmo no momento da sua execução. Kafka diz "ele sofre", Kafka diz "ele preocupa-se", Kafka diz "ele sente-se mal", mas não é essa a sensação que transmite. K. aparentemente aceita a sua derrota logo desde início. Não sei se isto será bom ou mau.
Parece que gostei e não gostei ao mesmo tempo. Não gostaria de ter este sonho, mas acho que gostei de o ler. Creio que tenho de ler mais K.
Numa outra nota, eu estive - há alguns anos - na casa onde ele viveu em Praga. Era o número 7 no bairro antigo, uma casa azul microscópica. Aparentemente o pobre do Franz dormia de pé dentro da dispensa. Não admira que tenha ficado assim...
Quando me falaram deste livro descreveram-no como negro, opressivo e paranóico. Eu não achei nada disso. É um livro extremamente bizarro, sem qualquer tipo de beleza. K. (que eu leio "kê") é acusado de alguma coisa e movimenta-se um processo em tribunal. As razões desconhecem-se, o crime desconhece-se e o processo desconhece-se, mas K. tem de lidar com ele de qualquer forma. Considero este livro, e sendo a segunda obra Kafkiana que leio acho que posso generalizar e dizer que Kafka é todo assim, um ensaio surrealista. O personagem movimenta-se como num sonho. Os espaços em que ele está, muitas vezes são duas coisas ao mesmo tempo. As pessoas que ele vê, têm alguns traços mas ainda assim aparecem como sombras. É sem dúvida um livro sombrio, mas é do tipo sonho. Não um pesadelo, apenas um sonho estranho. Além disso existem coisas que /não fazem sentido/. Não é um alho passar a chamar-se bugalho na página seguinte. É uma coisa muito subtil, tão subtil que não consigo arranjar nenhum exemplo. É um livro de subtilezas, detalhes e significados. Creio que todo o livro é uma parábola para outra coisa qualquer, mas essa coisa é profundamente obscura e talvez apenas o Kafka a compreenda. Ou talvez tenha sido um sonho extremamente longo.
A escrita é muito simples, inesperadamente simples. Há uma riqueza de detalhes, mas detalhes inúteis, detalhes que apenas ajudam a manter a estranheza de toda a narrativa. O que mais me surpreende é o facto de K., que segundo me descreveram passaria todo o livro absolutamente desesperado e atormentado com o seu processo, se manter mais ou menos indiferente ao que acontece até mesmo no momento da sua execução. Kafka diz "ele sofre", Kafka diz "ele preocupa-se", Kafka diz "ele sente-se mal", mas não é essa a sensação que transmite. K. aparentemente aceita a sua derrota logo desde início. Não sei se isto será bom ou mau.
Parece que gostei e não gostei ao mesmo tempo. Não gostaria de ter este sonho, mas acho que gostei de o ler. Creio que tenho de ler mais K.
Numa outra nota, eu estive - há alguns anos - na casa onde ele viveu em Praga. Era o número 7 no bairro antigo, uma casa azul microscópica. Aparentemente o pobre do Franz dormia de pé dentro da dispensa. Não admira que tenha ficado assim...
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