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31.5.15

Tetsuwan Birdy Decode

Tetsuwan Birdy Decode
Akane Kazuki - A-1 Pictures
Anime - 13 Episódios
2008
6 em 10

Isto é um 6 que é quase um 7, porque gostei mesmo muito desta série. :)

Birdy é uma personagem da imagética passada, mas que eu não conhecia. Assim, é a minha primeira experiência com este franchise. Felizmente, apanhei uma série que tem tudo para ser excelente, começando pelos seus valores de produção.

Tudo começa quando esta agente alienígena, que procura um objecto super poderoso do qual depende o futuro do universo como o conhecemos, vem ao planeta Terra e, acidentalmente, mata Tsutomu. Um rapazinho perfeitamente normal. A partir daí, passam a partilhar o mesmo corpo, com o perigo das suas mentes se unirem e de ambos desaparecerem. Na busca por esse objecto acabam por, juntos, viver aventuras diversas, quer na Terra quer no planeta de Birdy.

A premissa é simples e funciona bastante bem, mas a verdade é que a série se alongou um pouco na tentativa de desenvolver os personagens, o que não teve o efeito pretendido. Pareceu-me que as cenas da vida diária de Tsutomu poderiam ter sido eliminadas, pois não têm qualquer interesse nem influência directa na narrativa. Já o mesmo não acontece quando assistimos a cenas no planeta de Birdy, pois conhecemos uma série de alienígenas muito engraçados, o que dá bastante gosto ver. A relação Birdy-Tsutomu tem a sua relativa relevância, já que ambos partilham o corpo, quiçá a mente, o que dá azo a grandes conversas. Poderiam elas ter sido um pouco mais filosóficas, havendo partilha de conhecimentos entre as duas entidades (terráqueo-alienígena), sendo que se limitaram bastante a conselhos sobre o que fazer com a vida quer de uma parte quer da outra. Por outro lado, o ponto narrativo de "temos de recuperar o corpo do Tsutomu" acaba inconsequente e um pouco repetitivo.

A arte é um excelente aspecto. Fluida, luminosa, com grandes cenas de acção de excelentes coreografias,é um prazer olhar para esta série. Infelizmente, as cenas de acção têm tal potência que acabam por insistir no facto pouco realista de Birdy ser uma espécie de entidade invencível. Fique também a nota para os designs dos personagens, originais, refrescantes e muito bem pensados. Gostei sobretudo das pessoas cão. :>

O lado musical é, também, um ponto forte deste anime. Com uma banda sonora colorida e animada, mas também emotiva quando os momentos o pedem, a série tem toda ela uma intensidade física e emocional que a torna numa grande experiência.

Um anime gratificante e que recomendarei conforme necessário. :)

Still the Water

Still the Water
Naomi Kawase
2015
Filme
6 em 10

Para variar um pouco, vimos um filme Japonês escolhido pela selecção de Cannes deste ano.

Numa ilha tropical Japonesa, passam-se coisas da vida normal. Há vida, há morte, há amor, há dúvidas, há depressão. Num equivalente ao fatia de vida do anime, assistimos ao desenrolar da relação entre dois adolescentes, numa ilha isolada onde os mitos e ritos da natureza ainda estão bem vivos.

O filme é emocional e tem um conjunto de cenas que, individualmente, carregam em si uma grande beleza. Podemos ver, então, a morte e o renascimento, assistindo a rituais que representam precisamente o facto destes momentos serem perfeitamente naturais. No entanto, o desenvolvimento da história acaba por parecer incompleto (afinal, quem é o homem morto) e a evolução da relação adolescente é pouco satisfatória, considerando aquilo que viemos a assistir durante todo o filme.

Com um excelente trabalho de fotografia, podemos ver vários cenários naturais desta ilha, com o mar - mais ou menos revoltado - sempre presente. Existem cenas que, aliadas a uma maravilhosa banda sonora, são extremamente belas e comoventes. Falando desta, é curiosa a utilização de músicas tradicionais e cantos simbólicos, que trazem bastante intensidade a alguns momentos.

Não gostei muito da violência impressa nas representações da morte: as cabras, a árvore, espero sinceramente que não tenham tirado vida a estas criaturas para simplesmente as por a aparecer num filme. Sobretudo a árvore.

Foi um filme agradável e bonito, mas que me recordou constantemente animes do género, quer pela narrativa quer pela qualidade do diálogo. Não diria que esta história, com estas frases, funcionasse bem em anime, mas a verdade é que me recordou bastante esse tipo de media.

27.5.15

Mezzo DSA

Mezzo DSA
Umetsu Yasuomi - Arms
Anime - 13 Episódios
2004
6 em 10

Depois de Mezzo Forte descobri que havia uma série com as mesmas personagens. Assim, fui vê-la.

É um anime divertido, directo ao assunto, que mantém viva a memória do OVA original. DSA é um grupo de três que resolve problemas diversos relacionados com o submundo, de assassinatos a raptos e pequenos casos misteriosos que envolvem robots. De natureza episódica, é uma série recheada de acção, com uma grande componente sensual.

Os personagens mantém a sua natureza dos anos 90, mas não são desenvolvidos muito mais do que as suas características base. São introduzidos novos personagens ao longo dos episódios que têm um papel mais ou menos relevante dentro de cada uma das histórias. Agradou-me sobretudo o design, que se mantém fiel à época original, sendo muito patente o estilo próprio do autor.

A animação não se pode considerar incapaz, mas também não é nada de extraordinário. As sombras são fortes, trazendo a toda a série um aspecto cru, duro ou, como gostam de dizer os japoneses, "hard boiled".  Existem alguns erros, mas no geral as cenas de acção estão bastante bem coreografadas, com a intensidade devida.

A parte melhor é, sem dúvida, a música. É de uma animação e intensidade surpreendentes e fica muito bem em todas as situações. A OP, sobretudo, é memorável.

Assim, temos um pequeno desenvolvimento do OVA original, o que foi uma experiência bastante engraçada.

26.5.15

Chappie

Chappie
Neil Blomkamp
2015
Filme
6 em 10

Vimos este filme em casa. Tinha vontade de o ver depois de uma amiga o ter elogiado bastante.

Nesta África do Sul, tão futurista mas tão próxima da nossa realidade, gangs e meliantes são destruídos e presos por uma nova tecnologia: polícias robot. No entanto, a confusão começa quando Deon, um cientista que criou um programa de "consciência" para os robots, é raptado por um estranho grupo de gangsters que o obrigam a montar o robot, para que este trabalhe para eles. Mas o robot vem com um defeito: tal como uma criança pequena, tem de ser ensinado. 

O filme tem um tema relativamente semelhante a outro que vi do mesmo realizador, o District 9. Um encontro improvável vai oferecer-nos as diferentes perspectivas de dois mundos. No caso, o mundo agressivo da realidade dos gangsters, em que sobrevive apenas o mais forte, versus o universo familiar de um grupo de pessoas que, apesar dos problemas na vida, mantém a sua humanidade. Assim, temos uma caracterização muito interessante desta "família", em que Chappie - o robot - é ensinado a ser cada vez mais humano e obtém características completamente inesperadas. Se por um lado ele procura fazer apenas o bem, conforme a sua "mãe" e o seu "criador" lhe ensinam, na outra mão temos a maneira de lidar com a vida do seu "pai" e do amigo Amerika. Isto só pôde ser conseguido por um trabalho de actor bastante interessante, protagonizado pela banda Die Antwoord, que eu não conhecia mas na qual fiquei muito interessada. Afinal, grande parte da banda sonora é também protagonizada por eles e pareceu-me algo de fabuloso!

Dentro desta narrativa, também não perdemos a oportunidade de ter um inimigo estranhamente psicótico, acreditavelmente assustador. Também aqui fique a nota para o trabalho de actor, pois este inimigo obsessivo e perigoso dá mais intensidade às cenas de acção do filme. Estas, infelizmente, pareceram-me demasiadas e, sobretudo, muito exageradas. A cena final, sobretudo, é exasperantemente melodramática o que, dentro do contexto, acaba por não funcionar muito bem.

A conclusão é aterradora e dá que pensar no noss lugar enquanto humanos relativamente às maquinas. Aliás, todo o filme acaba por ser um exercício dessa possiblidade. Apesar de tudo, é amoroso e criamos rapidamente laços com os personagens. Assim, posso recomendá-lo.

A Vista de Castle Rock

A Vista de Castle Rock
Alice Munro
2006
Contos

Este livro foi-me oferecido, com dedicatória e tudo, pelo meu Qui pelo meu aniversário do ano passado. :) *

Já tinha lido um livro desta autora de que havia gostado muito. Este é um pouco diferente. Trata-se de um conjunto de contos de natureza autobiográfica. Na primeira parte, Alice Munro fala sobre a evolução da sua família, como partiram da Irlanda para o Canadá e como lá se estabeleceram. É uma leitura fascinante, de certa forma, pois conta com exactidão como estas pessoas viviam da agricultura e todos os pequenos detalhes sobre a sociedade da época. Na segunda parte, Munro relata alguns eventos da sua infância e assistimos ao seu crescimento enquanto pessoa. Demonstra como desde sempre foi uma pessoa pouco adaptada, que corria riscos sociais imensos para manter a sua liberdade.

A escrita é fascinante, directa, sem complexos. As descrições são extremamente cativantes, apesar de por vezes nos mostrarem uma realidade que nem sempre é a mais bela. A natureza é relatada como espectacular, o que é de certa forma irónico: a autora refere muitas vezes que, nesta sociedade, apreciar a natureza era algo considerado bizarro e excêntrico.

Com este livro fiquei a saber um pouco mais sobre a vida pessoal da autora e como ela chegou ao ponto em que está. Assim, deixou-me com ainda mais curiosidade para explorar o resto da sua obra.

Mad Max: Fury Road

Mad Max: Fury Road
George Miller
2015
Filme
7 em 10

Tinha um grande furo no meu horário de trabalho, portanto decidi ir ao cinema em Santarém. Repare-se que era Sábado e que não havia nada que fazer nesta cidade, pois todas as lojas, todos os cafés, todas as coisas... Tudo fechado. Até a biblioteca. Só o centro comercial estava aberto. Enfim...

Eu sabia muito pouco sobre o Mad Max original. Apenas que inspirou o clássico do anime "Hokuto no Ken". Sabia que por alguma razão o mundo se tornou num deserto e que havia guerras para obter gasolina. Nesta versão do franchise, o ambiente é o mesmo, mas há algumas diferenças. Agora a luta é pelas pessoas e pela água.

Max é um tipo meio louco que anda pelo deserto. Quando se vê capturado por um grupo de gente ainda mais louca que ele, faz tudo para sobreviver. Acaba por se juntar a Furiosa, uma entidade importante nesta sociedade, numa perseguição e fuga por uma estrada infinita, de forma a tentarem salvar as mulheres do líder desta comunidade, uma espécie de profeta religioso que tem em si tudo o que pode ser mau.

É um filme de acção do início ao fim. Na verdade, o filme pode ser considerado como uma longa perseguição de carros por um deserto sem fim. E esses carros, camiões, motas, coisas motorizadas em geral, estão muitas vezes em chamas e explodem constantemente. É um filme quente, metálico e altamente viciante. Mas, apesar de ser um blockbuster recheado de acção, este filme tem uma grande dimensão feminina: as personagens são muito fortes e estão todas muito bem caracterizadas, apesar de nunca sabermos muito sobre elas.

Isto foi, para mim, um aspecto que podia ser melhorado. Na verdade, estamos neste universo, assistimos a flashbacks, assistimos aos vários aspectos de uma sociedade sem nunca saber bem o que se passa, porque é que as coisas são assim. Entramos dentro do filme, mas está tudo fora do contexto e fiquei com muita vontade de saber mais, muito mais, acerca do mundo e das personagens. Para mais, algumas cenas de luta pareceram-me demasiado longas, o que pode ser um pouco fastidioso.

Mas, no geral, valeu muito a pena ir ao cinema sozinha. É raro desejar isto, mas até quero que façam sequelas sem fim para podermos saber mais sobre este universo fantástico!

22.5.15

Inferno Cop

Inferno Cop
Amemiya Akira - CoMix Wave Films
Anime - 13 Episódios
2012
5 em 10

Esta foi aquela recomendação no gozo que por vezes aparece no clube, assim sem mais nem menos por razões que a própria razão desconhece. Diziam eles que isto era o novo "Mars of Destruction", tido por muitos como o pior anime de sempre. Assim, vim preparada para algo de extraordinariamente terrível, um terrível fora do normal, algo que de tão mau se situa na escala do épico, tal qual uma Ana Malhoa. 

Mas... Isto não é assim tão mau?

São treze episódios com mais ou menos três minutos cada um, vê-se a série toda em menos de uma hora. Fala das aventuras e desventuras de uma criatura misteriosa e não humana, um tal de Inferno Cop, que protege as pessoas de todo o mal, de alienígenas a meliantes, com ajuda (ou não) de outros super-heróis tão estranhos como ele.

É uma série de comédia, que não se leva a sério num único momento. É algo que foi feito para ser mau, com a intenção de ser ridículo. Assim, podemos criticar a série quando ela se torna ridícula? Se esse era o seu primeiro e único objectivo? Tudo nela contribui para isto, das vozes (todos os personagens são interpretados por cerca de três pessoas) à terrível animação, se é que se pode considerar animação a sucessão de imagens paradas e recortes que rodopiam conforme a necessidade de acção.

O efeito, no geral, acaba por ser bastante engraçado. Eu, que não tenho sentido de humor, fartei-me de rir em algumas partes. Isto é simplesmente um exercício de comédia pura e dura, sem nenhum objectivo para além da experimentação de gags e popularização de um personagem que não faz sentido nenhum.

Claro que não a irei recomendar, mas também não me posso juntar às vozes críticas que o comparam a uma turbinada. Não é assim tão mau. Também não é assim tão bom.

Aquilo Que Eu Amava

Aquilo Que Eu Amava
Siri Hustvedt
2003
Romance

Depois de ter tido uma excelente experiência com um livro desta autora, decidi experimentar outro para saber se tinha sido caso único ou se poderia realmente adicionar esta senhora à minha lista de leitura. Com este romance, a minha opinião ficou consolidada.

No mundo artístico dos anos 70 a 90, um professor de história de arte e crítico nos tempos livres forma amizade com um artista desconhecido. Com um olhar conhecedor e muito observador, Leo assiste à ascensão deste artista e às suas relações interpessoais, ligadas intimamente com a sua própria vida. Assim, o livro é mais que um exercício dos conhecimentos artísticos da autora, mas uma avaliação emotiva e contundente da vida humana e das emoções deste conjunto de personagens.

A escrita é bela e directa, sendo que - como leitora - me senti muito ligada à vida de todas estas pessoas, desejando por vezes vivê-la eu própria, como se eu fosse mais do que uma espectadora de todos estes acontecimentos. Isto é algo que devemos valorizar bastante.

A partir da terceira parte o livro toma um rumo um pouco diferente, passando a ser uma espécie de policial dentro de uma teia de problemas psicológicos e mentiras que são um pouco difícieis de compreender, quer para os personagens quer para o leitor. Não me agradou especialmente, sobretudo a conclusão um pouco triste, consequência de todos estes eventos que destroçaram emocionalmente os personagens.

Ainda assim, foi uma leitura gratificante e estou ansiosa por ler mais livros desta autora.

Mai-HiME

Mai-HiME
Nagai Tatsuyuki - Sunrise
Anime - 26 Episódios
2004
6 em 10

Depois de tantos fatias de vida seguidos (dois, pelo menos), avançamos para um anima de contornos sobrenaturais. Estava com certas expectativas para ele, depois de ter lido reviews muito positivas e de o manga ter sido recomendado no meu clube. Não posso dizer que as expectativas tenham saído frustradas (porque não estavam nos píncaros), mas devemos considerar que este anime tem as suas falhas.

Mai é uma rapariga normal que se descobre com um poder especial que serve para lutar contra uns bicharocos maléficos. Assim, junta-se a um grupo com envolvimento socio-político chamado HiME, uma sigla para um nome que não interessa e que não faz sentido. Neste grupo, conhece muitas pessoas, amigas e inimigas, estabelecendo relações fortes com elas. Acabamos por descobrir de onde vêm os bichos estranhos, como os vencer e as consequências altamente politiqueiras deste grupo e dos seus oponentes (envolvendo até uma equipa SWAT e coisas dessas).

A história tem uma complexidade que acaba por não se coadunar com a emoção dada ao desenvolvimento das relações entre as personagens. Isto é, para um grupo altamente profissional como este, as atitudes acabam por ser um pouco infantis, com muitas lágrimas e gritos à mistura. Apesar de tudo, estes momentos são gratificantes, não pela morte das personagens mas pela intensidade como são vividos pelos que restam. Fique a nota para algumas excelentes interpretações no respeitante a vozes.

A arte está envelhecida e, para a época, um pouco desactualizada. Os designs lembram os finais da década de 90s e a própria animação está um pouco fraca para o ano em que o anime foi concretizado. Mas podemos dizer que os designs dos monstros e animalária que se passeia pela narrativa estão bastante bem concebidos, havendo uma mistura de criaturas assustadoras com aquelas em que podemos confiar.

Musicalmente, há uma certa desafinação na OP e ED. No parênquima, há algumas peças que atingem a espectacularidade quando inseridas dentro do contexto emotivo das cenas.

Assim, no geral, foi um anime interessante e que pode servir como exemplo de experiência paranormal do meio dos 00s.

16.5.15

Hyakko

Hyakko
Fukuda Michio - Nippon Animation
Anime - 13 Episódios
2008
5 em 10

Mais um fatia de vida, desda vez acompanhando as aventuras e desventuras de quatro meninas não muito fofas mas cheias de energia. Elas estudam numa escola de contornos agigantados, em que frequentemente se perdem, encontram muitas pessoas novas e fazem asneiras em seguimento de outras asneiras.

Em termos de história, temos apenas a relação da vida diária dos personagens que, apesar de característico do género, acaba por se apresentar insuficiente. Isto porque os personagens em si não têm força bastante para que as suas interacções mantenham um nível elevado de interesse. Em cada episódio conhecemos novos personagens, que depois se tornam recorrentes, mas o desenvolvimento que é dado a cada um deles não tem nada de espectacular, tocante ou com alguma simples densidade, o que torna todos os eventos numa sucessão de caretas cómicas. Isto acaba por não funcionar muito bem, sendo que o anime rapidamente se torna irrelevante. O grupo principal tem as suas características próprias, mas os seus traços não estão bem definidos, acabando cada uma delas por cair dentro de um lugar comum ou mesmo por aparecer como pessoa em branco, sem qualquer tipo de desenvolvimento que lhes possa dar um lugar ao sol. Para mais, outras personagens têm comportamentos erráticos, com mudanças rápidas na personalidade que não jogam bem dentro do contexto.

A arte é brilhante, mas o design dos personagens é desactualizado para a época, existindo falhas recorrentes em termos de perspectiva. Para mais, grande parte do anime consiste nas tais caretas, nos gags, nos momentos cómicos, o que - em termos artísticos - necessitaria de uma abordagem diferente para funcionar de uma forma original e interessante para o nosso olhar crítico.

Finalmente, a música. Baseada sobretudo em peças eruditas muito conhecidas, é pouco inspirada e muito repetitiva. As vozes, essas, tornam as personagens um pouco mais cativantes, mesmo com todas as suas falhas.

Um anime que será rapidamente esquecido.

15.5.15

Non Non Biyori

Non Non Biyori
Kawatsura Shinya - TV Tokyo
Anime - 12 Episódios
2013
7 em 10 

Foi sugerido pelo meu clube. Na verdade, tinha as expectativas muito baixas. Quando olhei para o cartaz e li a sinopse, fiquei um pouco de pé atrás. Mas logo aos primeiros minutos juntei-me de novo ao clube do "nunca tenhas expectativas sobre nada", porque percebi logo que ia gostar. :)

Este anime conta a vida diária, uma fatia de vida, de quatro meninas numa aldeia isolada nos confins do Japão rural. Elas, mais um rapaz que não tem relevância para a história (infelizmente) são os únicos alunos da escola da aldeia. A sua vida processa-se de forma muito calma, com pequenas coisas que a distinguem de outros animes do género passados em meios urbanos, desde as paisagens ao comportamento dos personagens.

Estas, são simples mas caracterizadas de forma a podermos identificar os seus traços gerais, cada uma com um dilema específico e factores que as distinguem facilmente das outras. Assim, a sua interacção torna-se bastante interessante e é uma experiência relaxante assistir às suas conversas e brincadeiras que, no fundo, são apenas jogos de crianças. Aliás, a criança presente está muito bem caracterizada como tal, o que é uma coisa bastante rara. Talvez o design não tenha sido apropriado, sobretudo nos episódios em que as roupas são mais justas, mas acho que se pode perdoar isso tendo em conta os elementos emocionais constantes no resto da abordagem.

A arte é um dos melhores aspectos: brilhante, detalhada, de uma beleza extraordinária no que respeita a fundos e cenários. É ela o espelho da vida rural no Japão e o que demonstra que viver aqui pode ser uma experiência de pura paz e felicidade.

Finalmente, também não podemos descurar a música. Com peças muito bonitas, por vezes melancólicas, com um toque de solidão, encerram em si o ambiente bucólico e afastado da realidade presente em todo o anime.

Apenas gostaria que, talvez, tivessem insistido mais nos problemas decorrentes deste isolamento social, que certamente existe nestas aldeias tal como existe nas nossas. De resto, um anime excelente que merece a minha recomendação.

Universus da Poesia

Universus da Poesia
Vários
2014
Poesia

Poderei alongar-me um pouco, portanto vou dividir esta postagem em quatro partes. :)

Parte 1 - Como vim parar a este livro

Dos vários grupos a que pertenço, alguns são de literatura. Também recebo notificações de vários concursos no meu e-mail, fazendo esforço por participar, mais por exercício mental de escrever sobre um determinado tema do que para ganhar o que quer que seja (o que, sendo improvável, já aconteceu uma vez ou outra). Assim, recebi o convite para participar nesta antologia poética sob a chancela UniVersus, com o tema "Universus da Poesia". Escrevi um poema a propósito e pediram-me mais, pelo que escrevi mais uns dois ou três e juntei outros que tinha guardados do passado. Acabaram por ser escolhidos esse escrito de propósito e uma letra que tinha escrito para o projecto musical Ocaso, do meu amigo R.

Claro que depois houve um dilema enorme, pois a editora desejava que eu falasse sobre mim e eu sou o tipo de pessoa que não tem nada de interessante para contar. Lá inventei uma coisa qualquer, de relativa piada. Também queriam uma foto e a primeira que mandei não foi aprovada por não considerarem "apropriada". Vejam lá e digam-me se é desapropriada!





Enfim, acabei por mandar um retrato que um artista Japonês me fez uma vez e que é o meu avatar em alguns locais.

Tendo tudo isto em conta, ainda era necessário pagar o livro. Aí está uma condição curiosa: para se participar tem de se comprar pelo menos um livro, caríssimo por sinal! Mas pensei "olha, é agora ou não é agora, boraí que se calhar vale a pena" Será que valeu... Fico à espera de outras opiniões. Bem, mais uma publicação com o meu nome escrito na prateleira...

Parte 2 - Coisas que eu acho sobre a poesia e essas cenas

Eu não sou grande apreciadora de poesia, admito desde logo. Quando era muito pequena, era o que eu gostava de escrever. Mas houve algum ponto de viragem, algures na minha vida, em que de repente me tornei senhora da prosa e passei a só gostar de escrever historietas. Ainda assim, vou lendo poesia de vez em quando e, ainda mais raramente, vou escrevendo um poemita ou outro.
Ao longo deste tempo, acabei por desenvolver uma teoria sobre a poesia. Há dois tipos de poesia: a inocente e aquela que sofre. A inocente é aquela que escrevemos quando somos adolescentes e pensamos que estamos a sofrer imenso. A que sofre é aquela que dói para nascer. Neste livro, a grande maioria é da primeira categoria. Isso não é uma coisa má, cada um escreve aquilo que sente e aquilo que lhe parece bem. Mas, pessoalmente, gosto mais da segunda. 

Apesar de tudo, houve algumas passagens duvidosas, que me fazem duvidar da capacidade de selecção da editora. Coisas como "aves aladas" e assim (todas as aves têm asas...). Para mais, estranhei as pequenas notas biográficas dos autores, que na maioria pareciam uma enumeração de palmarés ganhos e publicações o que, dentro do contexto, não deixa de ser irrelevante. Interessa saber que ganharam a Menção Honrosa do Clube Caminho Fantástico? Eu podia ter posto isso....

Mas fica a nota, a nota muito importante, de que o artista é um bom artista. Portanto, todos os poemas desta antologia têm o seu valor, independentemente de eu ter gostado ou não deles. Gostaria de dar os parabéns a todos.

Parte 3 - Sobre o trabalho editorial

Isto sim, deixa muito, muito, MUITO a desejar. Primeiramente, a edição está cheia de gralhas. Por todo o lado. Depois, como participei, sei perfeitamente que nem contactaram os autores a propósito de uma eventual edição do texto. O que me pareceu foi que simplesmente fizeram um cópia-e-cola dos ficheiros word enviados: ninguém reparou (nem eu) que no poema da "Dança" falta uma vírgula e a formatação do poema da lua está completamente disforme, sem separação entre as estrofes - o que tira um grande significado à coisa.

As fotografias dos autores são pouco claras, havendo até uma (coitadinha da senhora) que está totalmente pixelizada.

Assim, UniVersus, mesmo que eu tivesse dinheiros para que me publicassem, não ia deixar.

Parte 4 - Um poema de que gostei

Entre uns e outros, houve poemas que gostei bastante e outros que gostei menos (até alguns que não gostei mesmo nada). Gostaria de citar o que me marcou mais. :)

Banco de Jardim
de Rui Machado

Foram muitas bocas a fazer chegar aos meus ouvidos
de que nunca se deve voltar
aos lugares onde fomos felizes.
Não acreditei.
Essas mesmas bocas já se tinham aberto antes,
para me dizer que o Amor era lindo.
Bocas que vomitam sílabas luminosas de mentira,
línguas que se movem como a vida nos desertos,
lábios que sabem a veneno doce.
São o maior perigo dos que precisam ouvir o Amor.
Para lá do bater do coração dos abralos,
para lá dos gemidos dos lençóis,
para lá dos olhos que incendeiam.
Hoje, senti bem cedo que o dia era traiçoeiro
para quem traz ainda estilhaços de Amor no corpo.
Sou um deles,
veterano de uma guerra
onde a cada Amor que fazia
ia adiando o hastear da bandeira branca dos fracos;
adiando a cada promessa,
a cada beijo o teu desembarque final,
o teu ataque cruel,
a tua desleal emboscada.
Ainda não sei bem o que fizeste acontecer.
Soube apenas que tinha acontecido coisa feia,
quando me deixaste derrotado,
estendido,
sem tratado de paz,
herói de nada,
peito sem condecorações de metal,
dilacerado pela pólvora das palavras,
estropiado de Amor
e abandonado ao desprezo
da ausência de um golpe de misericórdia.
Devaneio maior dizer-se que o Amor é lindo.
Devaneio supremo falar-se ou achar-se
que do Amor se possui alguma sabedoria.
Dele nada se saberá nunca,
tudo se sentirá sempre.

Incauto, por ventura,
para superar a saudade
que rasgava o avesso de mim,
voltei àquele jardim
Fui pisar-lhe o chão para me segurar ao mundo,
proteger-me na sombra das memórias que queimam,
fui rebentar um mar de saudada nas rochas duras da vida
que teima em não seguir caminho.
Procuro o nosso banco,
lugar do nosso Amor
onde a vida ganhou asas.
Procuro o lugar onde já fui feliz, sim.
Sem medo,
sem coragem,
incompleto, 
quase vivo,
urgente.
Encontro-o.
Não me sento nele, 
não sou tolinho de todo.
Sento-me no banco da frente,
num dia de semana
que esvaziou quase tosos os bancos daquele jardim.
Sem que quisesse desdobro,me por magia da nostalgia
que pede para voltar o que já esqueceu caminho.
Vejo-me no nosso banco,
estou feliz,
tenho na cara os olhos que te aguardam
e a boca que te deseja.
Espero-te pelas vezes que visito o relógio no meu punho.
Uma espera feliz, sei que nãom tardarás.
Curvam-se então os meus lábios,
num sorriso que inventei para te dar as boas vindas.
Chegas,
e antes de te sentares,
beijas-me.
Sentas-te, cheiras bem.
Não sei se é o cabelo,
a pele
ou a roupa,
que está a mais.
Enquanto nos bservo a olharmo-nos,
a trocar palavras,
beijos e toques,
assombro-me;
estou louco e encantado com isso.
A loucura devolve-nos às tábuas daquele banco de jardim,
palco do nosso Amor que em tantas matinés de Domingo,
enchemos de inveja os que passavam.
Vejo-me, 
peghar numas chaves
para ferir o banco com os nossos nomes.
Enquanto gravo os nossos nomes na madeira,
tu ris e pedes-me para parar,
mas eu sei que é para continuar e continuo.
Termino.
Entre os nossos nomes deixo um coração.
O nosso.
Tu olhas, sorris e abraças-me.
Eu não me consigo deter e levanto-me para ir de encontro a nós, 
ao nosso banco.
Corro até nós e antes de chegar,
explodimos como bolas de sabão.
Voltei a ser só eu. 
Maldita poucura que não dura.
Olho o banco onde há pouco me via a escrever.
Não está lá nome nenhum,
nem o meu, nem o teu;
só metade do que parece ter sido um coração.
Sou metade de qualquer coisa que não tem nome sequer.

Nota:

Se tiverem interesse em ler as coisas que escrevo, consultem o meu deviantArt (estranhamente, tem muito pouco cosplay): http://ladylouve.deviantart.com

As Pequenas Memórias

As Pequenas Memórias
José Saramago
2006
Autobiografia

Quando estive no Porto da última vez, na sempre fofinha companhia do Qui, quis muito passar na famosa Livraria Lello. E o que melhor para trazer de recordação do que um livro? Escolhi este pelo título. Afinal, também eu estava produzindo "pequenas memórias"...

Foi com alguma surpresa que o descobri como uma espécie de autobiografia, sem ordem cronológica, apenas relatos de pequenos momentos da infância deste autor, que gosto imenso, um amor de paixão. São minúsculas narrativas inseridas num passado esquecido, pelos olhos de um adulto que agora avalia o que foi ser criança numa época de pobreza e dificuldades. Ainda assim, com momentos de alegria, momentos de brincadeira. Mas digamos que os eventos tristes são bastante mais frequentes.

A imagética relatada, as descrições de paisagens, do sol, das terras, do céu, das pessoas, tudo isso remete-nos para um lugar que, tendo existido realmente, parece que saiu da fantástica imaginação do autor. Tudo isto regado com aquela pequena ironia que tanto o caracteriza, trazendo à tona a realidade das situações que, sendo por vezes terríveis, acabam por se tornar um pouco indiferentes: apenas memórias.

Também podemos debater qual o funcionamento real das nossas memórias. Saramago diz muitas vezes que não sabe se o que escreve são memórias verdadeiras ou falsas, coisas que existiram mesmo ou que se calhar ele inventou com o passar do tempo. Isto levou-me a pensar nas minhas próprias lembranças e foi um exercício muito interessante.

É um livro para ser lido apenas para quem ama este autor e queira saber um pouco mais sobre ele.

13.5.15

Seitokai no Ichizon

Seitokai no Ichizon
Sato Takuya - Studio Deen
Anime - 12 Episódios
2009
5 em 10

De quando em quando, aparece este tipo de anime. Um anime que é feito para parodiar, gozar, com outros animes. Antigamente, gostava muito deles: eram um teste ao meu conhecimento. Se eu percebesse as piadas, significava que era uma animófila de primeira. Mas hoje em dia, com mais umas centenas de títulos no bolso, parecem-me demasiado acessíveis, simples e não lhes acho graça. Na verdade, como sabem, eu sou uma pessoa destituída de sentido de humor. Portanto comédias... É difícil para mim apreciá-las. Sobretudo se são assim.

Seitokai no Ichizon segue a vida diária de uma associação de estudantes, em escola anónima e em circunstâncias que levam a que todos os membros sejam miúdas giras. Fora o nosso personagem principal. O anime consiste, então, nas suas conversas que, por sua vez, deveriam ser muito engraçadas. Ignorando o factor supostamente cómico que elas deveriam ter, posso dizer que me pareceu que os gags eram demasiado excessivos, insistindo constantemente no elemento "isto é um harem". Acaba por ser uma paródia de si próprio, mas é levado à exaustão o que se torna repetitivo e cansativo.

Os personagens são folhas brancas, com características que os tornam exactamente iguais àquilo que tentam parodiar. Para mais, os seus designs são pouco únicos, a ponto de podermos confundir o único rapaz (fonte de comédia) com mais uma rapariga bonita. As vozes não me pareceram nada apropriadas, ficando eu com o sentimento de que outras pessoas quaisquer, que não os personagens, estavam a falar. Simplesmente não há uma associação coerente entre todos os elementos característicos desta gente, o que reduz o potencial que poderiam ter para nos fazer rir.

A arte é simples, apesar de luminosa, dedicando-se sobretudo a planos parados que consistem muitas vezes em cenas ecchi. O sentimento do anime é gozar com elas, mas para isso não faria mais sentido tornar estas cenas sensuais em algo ridículo?

Musicalmente, nada de especial a apontar, mas fique a nota de que os efeitos sonoros dos gags não eram assim tão desagradáveis.

Talvez isto tenha a sua graça para quem não tenha o corpo cheio de animes até à medula, que é o meu caso.

Edit: Fiz uma conta no Bloglovin' de forma a chegar a mais pessoas. Pediram-me que pusesse um link para me associarem aqui a este sítio. Aqui está ele.

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12.5.15

Heroic Age

Heroic Age
Noto Takashi - Xebec
Anime - 26 Episódios
2007
6 em 10

A ficção científica é um tema recorrente no anime. Heroic Age tem uma visão um pouco diferente e bastante original. Mas será que consegue avançar com a ideia de forma a colocar a série em outro nível? É o que veremos.

Neste universo, existem cinco tribos: Golden, Silver, Bronze, Heroic e Iron. Nós, seres humanos, somos Iron e somos os mais recentes. Por alguma razão, Silver e Bronze estão dedicados em destruir-nos. Para nos proteger, temos um elemento da Heroic, um jovem adolescente de 120 anos chamado Age (Eiji). Mas as outras tribos também têm o seu próprio monstro heróico... E agora, o que fazemos?

Esta é uma narrativa recheada de acção que irá satisfazer todos os fãs de space-opera. No entanto, existem alguns elementos que a impossibilitam de atingir um patamar superior. Para começar, está pouco explicada a origem e função das diversas tribos e raças. Fora os insectos Bronze, são todos muito semelhantes a seres humanos, o que - tendo em conta que têm poderes e características distintas - não faz muito sentido. Para mais, os elementos dourados são tidos como uma espécie de divindade extraterrestre, que mudou de dimensão ou de universo mas que, apesar de querer que os outros os acompanhem, condenou as outras tribos a cumprir uma série de missões e passar por muitos arcos em chamas para os poderem seguir. As explicações são poucas e, nesse aspecto, pareceu-me que a série era bastante incompleta.

Temos uma grande variedade de personagens, representativas das diversas espécies (fora os bronze - por alguma razão aparecem muito pouco-), que têm um desenvolvimento relativo. No entanto, o foco principal é dado a Age e à sua princesa Dianela (ou Daniela, como eu lhe chamo). Ambos são personagens bastante típicos, o rapaz bem disposto e a menina carinhosa, o que torna as suas interacções - à qual a série se dedica bastante - um pouco previsíveis.

A animação tem aspectos memoráveis, apesar da fraca utilização de CG. Fica a crítica ao design de alguns elementos, nomeadamente os monstros Heroic, que se parecem extraordinariamente (acaso ou não) com EVA Units.

A OP e ED puxam para uma emoção que não existe ao longo da série. Dentro do resto da OST, temos canções bastante típicas dentro do género, mas estão adequadas.

Apesar de tudo, é um anime agradável e com o seu interesse.

Peito Grande, Ancas Largas

Peito Grande, Ancas Largas
Mo Yan
1995
Romance

Desde que tinha sido anunciado o Prémio Nobel de 2012, queria ler este livro, que é considerado a sua obra maior. Encontrei-o na Feira do Livro do ano passado e, agora, finalmente li-o. É uma obra prima e há algum tempo que não lia nada assim.

Percorrendo a China desde o início da segunda guerra mundial, este livro relata a vida de uma grande família localizada numa província campesina, que vive, luta e sofre ao longo dos tempos. A narrativa relata muitos eventos que aconteceram ao longo destes anos todos, sendo que esta família sofre às mãos de todo o tipo de regime, dos imperialistas aos comunistas, em acções que dizem muito sobre a realidade escondida do que se passou nestas épocas perdidas e esquecidas.

O personagem principal, Jintong, nosso narrador ao início e protagonista no final, tem características psicológicas muito especiais: ele é um inveterado apreciador de seios e do leite que deles jorra, a ponto de não se conseguir alimentar de mais nada durante muito tempo. Isso torna-o numa pessoa débil, fraca, cobarde, o que traz consequências negras para a sua vida e para o que o rodeia. É o último filho de uma mãe, figura poderosa e inquebrável, com oito irmãs que - movidas por uma incessante paixão - se unem a homens especiais, por vezes perigosos, o que também tem consequências graves para a vida de Jintong. O destino de cada uma das irmãs é traçado de forma imprevisível, sempre mutável pelas mudanças na vida política da China. Assim, o livro conta através delas todas estas alterações, sendo que a vida da família - entretanto reduzida a Jintong e à sua mãe - é profundamente afectada por elas. São pessoas que assistem à guerra, à fome, à solidão, ao horror. Mas também existem momentos felizes.

O que mais me surpreendeu, mais do que a história, é a técnica de escrita. O livro é altamente descritivo, mas nunca aborrece, pois todas as imagens relatadas são belas. Mas de uma forma crua, quase insensível. A forma de Jintong ver a vida está cheia de analogias à vida diária na aldeia em que vivem, com muitos elementos da natureza espalhados por todo o lado, com matizes de cor e textura que me fascinaram e apaixonaram. Por vezes as descrições são grotescas, a visão é nua, a visão é o espelho de uma realidade que muitos autores preferem omitir por ser tão horrível ou nojenta. Mas estão escritas de tal forma que conseguimos formar imagens perfeitamente exactas do que realmente se passa, por vezes de um estonteante belo.

Apesar da quantidade de personagens que existem, o livro é bastante simples de seguir e muito acessível. É uma escrita simples, sem complexos, muito clara. Isto parece-me simplesmente extraordinário. Passarei a recomendar este livro como uma obra fundamental, sobretudo se tivermos em consideração os factores políticos de que o autor foi vítima por o ter publicado.

Um livro essencial e muito recomendado.

7.5.15

Hyakujuu-Ou GoLion

Hyakujuu-Ou GoLion
Sasagawa Hiroshi - Toei Animation
Anime - 52 Episódios
1981
4 em 10

Então uma vez estava a falar com o Qui sobre anime (sabem, eu na realidade esforço-me por não falar de anime às pessoas físicas, mas quando começo ninguém me cala...) e ele pergunta-me se eu alguma vez vi o Voltron. Não, nunca tinha visto o Voltron. Então decidi colocá-lo na lista para ver. Calhou agora.

Ora, fiquei a saber, depois de pesquisar um pouco, que o Voltron que o Qui - e a maioria das pessoas que alugavam cassetes nos anos 90 - viu foi uma edição americana em filme, um pouco bastante diferente do original. No original o Voltron chama-se Golion e é uma série de 52 episódios de contornos bastante negros e dramáticos.

Golion é um robot com certos poderes, composto por cinco leões espaciais (leoas, não têm juba) conduzidos por pilotos que, não sendo especializados, têm em si características próprias para conduzir leões espaciais: coragem, dedicação, amizade, amor, essas coisas. No entanto, a série - ao longo de tantos episódios - nunca se foca no desenvolvimento ou sequer na caracterização das personagens, preferindo dedicar-se às lutas constantes contra forças do mal (umas pessoas roxas) que atormentam a vida diária de Altea, um planeta qualquer. Nem mesmo a morte precoce de um dos personagens principais vem a perturbar a dinâmica da série: é imediatamente substituído pela princesa de serviço. Isto leva-me a comentar as personagens femininas: é certo que estamos nos anos 80, mas esta série tem uma perspectiva bastante redutora do papel da mulher. Resume-a a uma pessoa de sentimentos confusos, sempre pronta a ser atraídfa para o lado do mal pela sua própria fraqueza, emocional e física, passando a ser "aquela pessoa que tem de ser sempre salva". Os inimigos são realmente muito maus e não têm traços que os distingam.

Em termos de história, temos uma repetição constante de lutas, entre Golion e vários monstros gigantescos com poderes variados. A luta entre os dois planetas não tem uma explicação concreta e parece que a conquista pelas forças do mal existe simplesmente porque... São forças do mal. Só nos momentos finais os personagens têm atitudes um pouco mais complexas, o que traz um certo alívio. Neste aspecto, talvez a edição americana torne a história muito mais interessante, pois certamente cortará com partes não essenciais. O aspecto mais interessante será talvez as imagens da brutalidade da guerra, em que não se salva ninguém, amigo ou inimigo, homem ou mulher, idoso ou criança.

Sendo que temos de dar sempre um desconto às séries antigas, que não tinham valores de produção como agora nem as técnicas modernas, não pude deixar de me sentir desapontada quanto à animação. Os designs são interessantes, mas a repetição de cenas (todos os episódios vemos o Golion a ser montado, one, two , three...) e a pouca qualidade da animação em geral dão um sentimento de frustração. Simplesmente parece que não utilizaram frames suficientes para animar cada gesto, pelo que todos eles parecem extremamente mecânicos e quadriláteros, sem a fluidez necessária para captar a atenção.

Quanto à música, posso dizer que é bastante boa. Temos OP e ED muito típicas de um shounen da época (eu adoro-as) e dentro dos efeitos sonoros e música de fundo temos uma boa variedade de temas, que seão sempre apropriados às situações. Fica a nota para o trabalho de actor em algumas vozes, que traz a intensidade necessária para colmatar as outras falhas do anime.

Gostei bastante de o ver e sei, tenho a certeza, de que se tivesse alugado este filme no clube de vídeo o teria adorado de paixão. Mas, objectivamente, temos de admitir que foi um anime para quem os anos passaram realmente, deixando marcas. Para mais, nem na sua época poderia ser considerada uma série de excelência. Interessante pelas memórias que causou, marcante pelo seu papel na indústria de anime no ocidente e sua distribuição, não será esquecido.

2.5.15

Uchuu Kyoudai

Uchuu Kyoudai
Wataname Ayumu - A-1 Pictures
Anime - 99 Episódios
2012
6 em 10

Foi estranho estar este tempo todo sem escrever sobre anime... Foram duas semanas! Mas a verdade é que demorei este tempo infinito a ver esta série. Afinal, 99 episódios ainda é qualquer coisa! Foi-me sugerida pelo meu clube, com alguma antecedência, e terminei de a ver mesmo no fim do prazo. :p

Uchuu Kyoudai ("Space Brothers") conta a história de dois irmãos que sempre sonharam em ir para o espaço. Hibito, o mais novo, conseguiu e agora está prestes a ir para a Lua. No entanto, o mais velho - Nanba - é vítima de uma série de azares e agora está desempregado. Será que a sua vida vai mudar quando a sua família envia uma candidatura em nome dele para a Jaxa, agência espacial Japonesa?

Ao longo de bastante tempo (passam-se vários anos na série) assistimos à luta de Nanba para se tornar um astronauta e conseguir cumprir com o seu sonho: construir um telescópio na Lua. Este é o foco principal da série: o realismo na selecção e treino de astronautas, tudo aquilo pelo qual eles têm de passar para vierem a pisar a superfície lunar. Existe muito detalhe nestas cenas e é esta a principal fonte de interesse ao longo de toda a série.

Para efectuar todas estas acções, a série precisa de personagens. Assim, temos uma paleta bastante variada de pessoas que estão envolvidas com Nanba e Hibito, desde os seus superiores a colegas, que os acompanham ou vão ficando pelo caminho. Cada um tem as suas motivações, desejos e sonhos, mas apesar de tudo a sua caracterização está feita de tal modo que é difícil obtermos uma identificação próxima com eles. Assim, todos os momentos dedicados aos personagens - conversas, jantares, coisas pessoais - podem tornar-se um pouco aborrecidas e repetitivas. Os nossos irmãos, personagens principais, têm um pouco mais de personalidade, mas mesmo assim poderia ter havido um desenvolvimento mais claro da sua relação, que aparece um pouco fria tendo em conta as imagens da infância que aparecem repetidamente. Aliás, estes flashbacks são muitas vezes repetidos e parecem desnecessários.

A animação tem momentos muito interessantes, sobretudo no que respeita ao detalhe dado no material utilizado no espaço. Nota-se que a produção teve um certo cuidado em manter pequenas coisas que, apesar de não serem essenciais, trazem um pouco de personalidade à série. As cenas em que aparece o céu são normalmente belas, mas por vezes há um uso exagerado de CG, que destoa.

Musicalmente, temos bastantes OPs e EDs, bastante variadas também mas sempre dentro do mesmo tema. Não as considerei extraordinárias, embora tenha havido uma (a quarta ou a quinta ED?) que gostei muito. Os efeitos sonoros são sempre os mesmos, o que os torna um pouco repetitivos e transforma cada cena em algo bastante previsível: cada efeito sonoro é usado sempre no mesmo tipo de situação.

Apesar de tudo, é uma série muito interessante no que respeita ao estudo da vida e obra dos astronautas, relatando muitos acontecimentos, fantasiosos ou verdadeiros, e com um certo espírito de comédia que o distingue de um mero documentário. Mereceria uma segunda season, mas quiçá um pouco menos longa.

Mind Game

Mind Game
Yuasa Masaaki - Studio 4ºC
Anime - Filme
2004
8 em 10

Chegados a casa, não sabíamos que filme ver. Como tínhamos estado a falar deste filme enquanto esperávamos que o Capitão Falcão começasse (não sou só eu que vejo animus dentro do meu grupo de pessoal :v ) fui buscá-lo ao Nyaa para o vermos. Assim, também ensinei ao Qui sobre o Nyaa. Já tinha visto este filme umas três vezes no passado, mas de cada vez é sempre uma experiência diferente: o filme tem tantos momentos e tantos detalhes que é impossível lembrarmo-nos de todos.

Tudo começa de uma forma calma: um rapaz encontra o amor da sua infância anos depois, indo jantar com ela. Quando são atacados por yakuza, ele é levado para um lugar onde nada existe: só ele e uma criatura sem forma a que chama de "deus". Depois de fazer um acordo com este "deus" (ou será o diabo?) Nichi, o rapaz, decide mudar a sua maneira de ver a vida. E a partir daqui desenvolve-se uma louca corrida de acção e uma aventura de contornos surreais em que os nossos personagens aprendem mais sobre si próprios, sobre o mundo que os rodeia e, afinal, sobre o que é realmente viver a vida e ser feliz.

É um filme extremamente experimental, com um uso de variadas técnicas de animação, que explodem em cor e acção a todo o momento, dando azo a grandes situações psicadélicas, simplesmente loucas, um prazer visual intenso que nos leva a perceber realmente quem são estas pessoas, o que as levou até ali e o que elas desejam. À medida que a solidão os ataca, que o aborrecimento os mata, inventam sempre novas coisas para fazer, cada uma mais alucinante que a anterior, revelando no final aquilo que realmente desejavam para a sua vida e ganhando nova força para sair da situação em que estão e, realmente, lutar para que as coisas aconteçam.

À primeira vista pode ser difícil de perceber quais os motivos destes personagens e o que os leva a ter estes desejos ocultos, pois a narrativa está quebrada em várias situações e os flashbacks são feitos de forma a mostrar apenas os elementos mais simples da vida diária, misturando memórias fortes do passado com momentos do quotidiano. Os eventos marcantes são repetidos ao longo do filme, o que por vezes pode ser um pouco aborrecido, mas o resultado final é tão imersivo que não deixamos de ficar a pensar no que foi realmente esta viagem.

Um filme ácido.

Capitão Falcão

Capitão Falcão
João Leitão
2015
Filme
6 em 10

Fomos ao cinema! Desde que vira o trailer deste filme que queria muito vê-lo. Afinal, este filme representa uma luta: começando como episódio piloto de uma série, foi recusado. Assim, decidiram fazer um filme. Mas o filme ficou interdito de passar no cinema durante uma eternidade. Até que finalmente a Nos-Lusomundo decidiu apostar nele. E agora está  ser uma bomba de popularidade! E ainda bem! Porque, afinal, é um filme português diferente, que goza consigo próprio e com toda uma sociedade, sem nunca deixar de demonstrar as influências e o carinho que tem pelas figuras tradicionais da banda desenhada e das séries antigas.

Capitão Falcão é o herói que Portugal precisa. Sob as ordens patrióticas do Presidente António de Oliveira Salazar, uma criaturinha frágil que gosta de fazer bolos-rei, e com ajuda do seu parceiro, chinoca de Macau, Puto Perdiz, luta contra as forças do mal que ameaçam os grandes pilares da cultura portuguesa: Fé; Trabalho; Família. Os seus inimigos tomam muitas formas, cada um mais perigoso que o anterior. Comunistas. Feministas. Comunistas que são Ninjas... Comuninjas. E os temíveis... Capitães de Abril!

Todo o filme é uma ironia, um retrato cómico de uma época que cada vez mais se esquece: os seus intervenientes vão desaparecendo progressivamente, já não se lembram ou, pior, perante o estado em que as coisas estão viram-se para a fé de que antigamente é que estava tudo bem. O nosso Capitão dá uma nova perspectiva: estava tudo bem... Mas era tudo muito estranho! O filme pega e exagera estereótipos, de forma a que o resultado é uma comédia em que me ri histericamente do início ao fim.

Os actores fazem um papel maravilhoso, sobretudo Waddington que nunca, nem por um segundo, se afasta do exagero que é o seu personagem. Assim, Capitão Falcão surge como um herói dos anos 60, com todas as características da época, mas que conta uma história que - dentro do passado - critica a sociedade moderna e a nossa aceitação passiva dos acontecimentos.

O filme tem muitas cenas de acção e artes marciais, que por vezes se prolongam demasiado. Ainda assim, é algo nunca antes visto num filme português e, por isso, acho que se pode dizer que o filme é uma espécie de revolução (haha)

Enfim, uma experiência hilariante e que não posso deixar de recomendar. Vejam enquanto podem!

Habibi

Habibi
Craig Thompson
2011
Banda Desenhada

Livro que me foi emprestado pela Ana-san no Anicomics e que li de uma assentada enquanto esperava que aparecesse alguma urgência (não apareceu)

Habibi é uma fantasia árabe, uma espécie de interpretação das mil e uma noites num ambiente melancólico e surreal. Conta a história de duas crianças que, confrontadas com um futuro de escravatura e horror, fogem para o deserto. Aí, desenvolvem uma relação de mãe-filho, que também podia ser de irmão-irmã ou mesmo de homem-mulher, conforme a evolução da história e das personagens.

As personagens sofrem muito ao longo da narrativa, em repetidos abusos emocionais e sexuais, de forma a perderem toda a esperança. Isto apenas traz mais força ao final e ao triunfo do laço que os liga, mas por vezes senti um exagero na violência relatada, como se o factor de choque fosse mais importante do que o elemento narrativo.

A arte é muito bela e extremamente detalhada, havendo sobretudo ênfase no momento em que se contam "histórias". Estas histórias são a parte mais interessante do livro, pois - com um especial uso da palavra e do alfabeto árabe (com todas as suas significâncias) - trazem uma moral religiosa e a conclusão evidente de que todos somos iguais, todos viemos do mesmo lugar. No fundo, a moral do livro é uma mensagem contra o racismo e contra a intolerância religiosa, embora outras pessoas a possam ter como apropriação cultural e falta de pesquisa. Nesse aspecto, o livro pode falhar, pois as pessoas "árabes" (note-se que este é um universo fantástico!) muitas vezes vitimizam os nossos personagens de formas muito agressivas, sendo que é muito difícil encontrar pessoas realmente boas. No entanto, elas aparecem! E isso demonstra todo o objectivo do livro.

Existem muitos símbolos espalhados ao longo das vinhetas e páginas, nem todos imediatamente compreensíveis, sobretudo se não se tiver um conhecimento mais alargado sobre os mitos culturais muçulmanos. Neste aspecto, o autor revela uma capacidade de pesquisa infalível. O detalhe dado a estes elementos é a parte mais agradável da leitura.

Assim, Habibi aparece como um marco no universo da Graphic Novel: uma história estranha, triste, mas com uma carga emocional que apenas revela os verdadeiros aspectos da humanidade. E, em conclusão, aquilo em que eu sempre acreditei: que a humanidade é inerentemente boa.

1.5.15

Dark City

Dark City
Alex Proyas
1998
Filme
7 em 10

Passada segunda feira, disse-me o Qui: "Hoje vamos ver um filme de culto"

Dark City é uma aproximação à ficção científica surpreendentemente perturbadora. Um homem acorda sem se lembrar de quem é e o que faz ali. À medida que procura a verdade, acaba por descobrir uma situação muito desconfortável que envolve toda a cidade em que vive.

Há elementos estranhos. Surreais. Os relógios, os edifícios, tudo muda de lugar, nada é constante. Isto tem uma elevada carga simbólica, relacionada com a manipulação de memórias, em que é difícil de detectar o que é uma memória real do que está falsificado. E, no fundo, acredita-se que é através das memórias individuais que se pode encontrar a essência da alma humana. Mas a conclusão do filme vem a provar o contrário. Quando confrontado com poderes divinos, um "super-eu", o personagem principal trabalha para que todas as pessoas possam encontrar a sua individualidade e para que possam aproveitar as coisas boas da vida, amizade e amor. Afinal, parece-me, é nisso que se baseia realmente a alma humana.

Os efeitos especiais podem parecer um pouco datados, por vezes, mas existem cenas puramente espectaculares, como os momentos de mudança da cidade e a reunião dos "Senhores". Infelizmente, o orçamento foi esbanjado numa luta final, um corpo a corpo mental, que poderia ter sido muito mais curta. Apesar de tudo, a caracterização da época (que mistura todas as épocas de uma memória humana colectiva), da cidade, edifícios e arquitectura, roupas... Tudo isso é um trabalho fenomenal.

Foi um filme que gostei imenso, apesar do final amargo. Poderíamos pensar numa sequela, mas acho que neste contexto nem faria sentido. Talvez as pessoas de "Dark City" possam vir a ser felizes.