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In English: Cosplay Portfolio (Updating) | SALES

30.9.15

Amada

Amada
Toni Morrison
1987
Romance

Foi a minha primeira experiência com esta autora, detentora de um Prémio Nobel, e fiquei com uma opinião bastante dividida.

"Amada" é a história de uma mulher negra que, depois de fugir da escravatura, tem um acesso de loucura e mata a sua filha bébé. Esta filha regressa sob a forma de fantasma para a atormentar. Assim, temos um relato místico, que mistura crenças de lugares antigos com a realidade sofrida pelas pessoas na realidade. É uma mistura interessante, pois o lugar depois da morte acaba por representar o lugar antes da vida, o lugar onde estão estas pessoas que durante tanto tempo foram maltratadas e violentadas.

Os relatos desta realidade são fortíssimos, muito intensos, aterrorizantes. Uma pessoa realmente sente o medo destes personagens (que poderiam mesmo ter existido), os seus sentimentos, a sua fuga perante os sentimentos, a fissão entre o que querem e as consequências dessas vontades. A necessidade de não ter vontade para poderem sobreviver. Nesse aspecto, o livro é excelente, pois dá uma imagem fria, cuidada, exacta da época no contexto dos personagens. No entanto, talvez peque um pouco pelo exagero da imagem, pela fomentação do ódio, pela incapacidade de perdão que todas estas pessoas têm e que não lhes permite avançar nas suas vidas. Talvez seja exactamente isso o que o fantasma simboliza.

Falando no fantasma, foi a parte que achei menos boa. Na verdade, não sinto que para que a mensagem fosse transmitida houvesse necessidade de incluir estes elementos místicos. Ainda assim, as partes de pesadelo, de autorreflexão e de retrato destes momentos estão muito bem escritas e, por isso, a leitura é sempre um prazer.

Uma escritora para manter debaixo de olho.

29.9.15

Gangsta.

Gangsta.
Murase Shukou - Bandai Visual
Anime - 12 Episódios
2015
5 em 10

Considerado por todos o melhor anime da temporada, do ano e da década, tenho a dizer que... Non. Está certo que esta season só vi dois animes. Um era normal. O outro era mau. O outro era este.

A intro engana. Vamos ao engano para este anime convencidos que teremos um hard-boiled action cheio de estilo, cheio de sexo, drogas e rock'n'roll. Mas é mentira. Na verdade este anime é uma sucessão de machos reprodutores que têm umas lutas mas que, aparentemente, estão lá apenas para gáudio e felicidade de um grupo específico de senhoras.

Mas vamos ao início: a história. Não é muita coisa. Dois fulanos (muito, muito giros...) fazem pequenos serviços (muito, muito perigosos...) para variadas pessoas (muito, muito estranhas...). Depois encontram uma rapariga que, segundo consta, é prostituta. A partir daí encontram mais pessoas muito, muito estranhas e fazem outras coisas muito, muito perigosas, sem grande insistência numa progressão narrativa, num objectivo para a história ou algo que, simplesmente, ligue os acontecimentos numa massa coesiva. Assim, o anime resume-se a lutas entre vários personagens, que aparentam querer muito caracterizar este universo como violento e terrível, a dog eats dog world, mas que - no fundo, no fundo - é absolutamente inconsequente.

Poderíamos ser salvos pelos personagens, já que este anime se foca sobretudo no seu desenvolvimento. Mas este é feito de forma tão óbvia, em alguns casos, ou tão errática, em outros casos, que estes homens acabam reduzidos às suas cicatrizes e aos sofrimentos que passaram em eventos passados. Penso eu que factores traumáticos no passado poderiam ter algum interesse se fossem, bem... Mais intensos. Podem argumentar que um cigarro no olho não é intenso, mas a violência física é bastante limitada, no respeitante ao que existe por aí em termos de eventos traumáticos em anime.

Sucedem-se outras personagens psicóticas, em maior ou menor escala, que procuram matar tudo e todos numa guerra de gangs intemporal que não tem objectivo definido, nem qualquer sentido. Estes personagens secundários não sofrem qualquer tipo de exploração, ficando muito aquém das expectativas e limitados apenas à sua sociopatia.

A arte não é boa. A arte é limitada. As coreografias são simples, a animação é estática. Esta cidade tem interesse, eu admito que tem interesse. Mas os cenários pouco mostram dela e é tudo muito redutor. Tudo é simples, as texturas digitais simplesmente não funcionam, e as sombras estão exageradas nos lugares errados. É uma confusão artística que acaba por tornar toda a narrativa em algo ainda menos coesivo.

Finalmente, a música. Haja algo a favor! Temos a tal intro que é muito interessante e, dentro do parênquima (que, apesar de tudo, é muito silencioso. Não no bom sentido) temos alguns beats que, apesar de simples, carregam de intensidade estas cenas mal conseguidas.

Portanto, fiquem com os senhores muito muito giros. Bem vindos ao mundo do Bara. Divirtam-se.



Arslan Senki

Arslan Senki
Abe Noriyuki - Magic Capsule
Anime - 25 Episódios
2015
6 em 10

Este anime já veio da season que passou, a de Inverno. Desses, é capaz de ter sido o melhor. Simplesmente porque é bastante diferente do que os animes que têm dado nas televisões japonesas ultimamente.

Para começar, o ambiente, o universo deste anime, é muito original. Passado numa terra com tendências medievais, algo como uma mistura entre a antiga Ásia e o Médio Oriente, fala de uma guerra de encontros e enganos, com foco num príncipe perdido, Arslan. Sendo que este príncipe procura recuperar o seu trono, que lhe foi arrancado com a brutal morte do pai numa guerra de traições, desenvolvem-se então muitas estratégias interessantíssimas e bem pensadas, que culminam em diversos combates, quer a nível colectivo quer individual. Para que isto possa acontecer, temos um conjunto de personagens provido de inteligência estratégica que ajudam Arslan a conseguir os seus feitos. Têm uma boa caracterização, mas não sofrem qualquer tipo de desenvolvimento. No entanto, Arslan tem melhorias visíveis desde o início da série, apesar de se processarem de forma muito discreta. Só conseguimos reparar na mudança se colocarmos lado a lado a pessoa do primeiro episódio com a que temos no último. E, devo dizer, é verdadeiramente surpreendente.

Infelizmente, a narrativa tem algumas pontas soltas que nunca voltam a ser relatadas, esquecendo-se de personagens e de factos que aconteceram e passando a ignorá-los como se nunca tivessem ocorrido. Muitas vezes algumas acções não têm qualquer consequência, dando essa aparência de terem sido esquecidas, e também muitas vezes ficamos a pensar o que aconteceu a tal ou tal pessoa.
 
Coisa que também não liga bem com o ambiente, um pouco negro, da série são os momentos de humor que aparecem nas situações mais inusitadas, tornando tudo muito anti-climático e quebrando a concentração do visionante.

A animação tem uma grande utilização de CG que, nas cenas de grandes batalhas, destoa bastante do resto dos designs. Existem, sim, algumas batalhas que são surpreendentes não pela animação mas pelo contexto. Falo, nomeadamente, da batalha contra o exército de elefantes. Mas, enfim, a animação não é especialmente brilhante. Os designs são interessantíssimos e muito variados, não deixando de ser completmaente originais.

Na música, temos uma variedade de OPs e EDs muito enérgicas que podem ser um pouco desadequadas dentro do contexto clássico do ambiente do anime. No parênquima temos peças que se coadunam com as situações, tornando-as mais intensas ou comoventes (ou, palavra que odeio, "épicas"). Destaco o trabalho do actor de voz de Arslan, que transmite na perfeição o seu crescimento enquanto pessoa e personagem e a sua transição para uma vida adulta.

É um anime curioso pela sua originalidade, que será sobretudo apreciado para quem goste deste contexto em cenas de estratégia e grandes batalhas hípicas.

Akagami no Shirayuki-hime

Akagami no Shirayuki-hime
Ando Masahiro - Bones
Anime - 12 Episódios
2015
6 em 10

Considerando que esta season segui pouquíssimos animes, este foi o que considerei melhorzinho, apesar de ser bastante regular em todos os aspectos.

Um shoujo romântico passado numa era medieval, num país que tem algo de fantástico, conta a história de Shirayuki, uma herbalista (espécie de farmacêutica) que tem a particularidade de ter o cabelo muito vermelho, ao contrário das pessoas normais. Devido a este facto, o rei do seu país decide torná-la sua concubina e, como Shirayuki não se quer meter nisso, ela foge para ser encontrada pelo príncipe do país vizinho. Depois disto seguimos a sua vida no castelo, na sua luta para se tornar uma herbalista oficial e no desenvolvimento da relação entre os dois.

É um anime muito simpático e simples, que se foca sobretudo na manutenção dessa relação. Para isso, temos um conjunto de personagens muito agradável, com uma caracterização simples mas eficiente que agradará certamente a todos os gostos. Sendo que os personagens secundários são deixados para trás, todos eles têm algum interesse e, pessoalmente, gostaria de saber mais sobre eles. Zan, o príncipe, tem uma boa personalidade e uma história pregressa que lhe poderá dar mais densidade. Mas é Shirayuki a estrela principal. Uma personagem amável, querida de todos e com alguns elementos, como a coragem e determinação, que a tornam numa heroína ideal. Aliás, tanto gostei dela que cogitei a ideia de adicionar à minha lista de cosplays futuros, no Cosplay Portfolio, mas decidi aguardar até ao final da segunda season (que já está anunciada) para ter a certeza absoluta de que é uma personagem boa para mim.

Os designs são limpos e a arte bastante simples e colorida, sem grande detalhe ou distracção. Também as cenas em que há uma manifestação maior de técnicas de animação têm essas características. Na realidade, artisticamente não é o anime ideal, mas acaba por ser satisfatório pois, como em tudo, agrada à vista e é deveras relaxante.

Também o é a música, com uma pitada de bom humor que torna toda a história numa experiência positiva e dá ao anime todo um ar de conto de fadas, tal como o nome indica ("Branca de Neve dos Cabelos Vermelhos")

No geral, um anime satisfatório e simpático, que aguça a curiosidade para uma segunda season.

28.9.15

Sky Girls

Sky Girls
Iwasaki Yoshiaki - J.C. Staff
Anime - 26 Episódios
2007
6 em 10

Este é o anime que Strike Witches teria sido se não tivesse tantas cuequinhas. Caracteriza-se por uma histórias simples dirigida aos e pelos seus personagens, num ambiente de ficção científica pouco concreto.

O mundo foi invadido por umas criaturas alienígenas, "Worms". Para lutar contra elas desperdiçaram-se recursos do nosso planeta e agora não há homens em idade de combater. Assim, quando voltam a aparecer os Worms, quem tem de conduzir os mechas que os vão matar são um grupo de minúsculas meninas, que têm de especial o facto de se vestirem com uns fatinhos justinhos que se ligam aos robots por uma cauda. E, essencialmente, é esse o ponto alto do anime. Fatinhos com caudas.

Temos uma variedade bastante abrangente de personagens, mas em nada ajuda a história o facto de serem meninas pequeninas. Meninas podem apenas actuar como meninas e a história pedia um pouco mais de maturidade. Ficam por explicar muitos aspectos, como o funcionamento da maquinaria e o contexto da invasão alienígina, simplesmente porque o anime decide dedicar-se a uma caracterização incapaz que se limita a conversas enquanto se toma banho. As personagnes, essas, têm pouca densidade e aparentam estar ali apenas para que o visionante as aprecie e escolha, para si, uma delas como waifu. Mas temos de admitir que são amáveis e simpáticas, o que potencia este facto.

A animação está bastante regular, sendo que as partes mais interessantes são aquelas em que há uma descrição visual dos cenários que, apesar de bastante simples, são agradáveis. As cenas de acção demonstram um orçamento limitado e, dentro dele, uma má utilização de recursos.

Musicalmente, temos OP e EDs interessantes, apesar do Inglês absolutamente pérfido das letras.

É um anime muito genérico que será rapidamente esquecido.

25.9.15

Todos os Contos

Todos os Contos
Edgar Allan Poe
Vários
Contos

Este livro foi-me oferecido no passado Natal por duas pessoas diferentes. Tive de trocar um deles, mas claro que fiquei com o outro. Terminei-o agora. Como já havia lido vários contos, em outras edições (ver aqui) despachei-me bastante rápido, tendo em conta o tamanhão do livro.

Poe era um escritor de grande diversidade. Apesar de ser sobretudo conhecido pelos seus escritos de terror e ser um marco na literatura gótica, a maioria dos seus contos são providos de grande sentido de humor. Aliás, a maioria deles são críticas mais ou menos disfarçadas a elementos literários da época, sejam eles revistas ou outras pessoas. Com uma escrita elegante e muito erudita, ele faz troça de tudo e todos, recorrendo a trocadilhos e brincadeiras que, ainda assim, são muito ácidas e devem ter feito muitas pessoas chorar na sua época.

Existem também alguns contos futuristas, mas mesmo esses são também uma crítica social muito pertinente, em que Poe argumenta contra as correntes artísticas e literárias do seu tempo.

Desta vez, os contos que gostei mais foram precisamente os que se enquadram no género do terror. O conto do homem que foi mesmerizado, do que está a ser torturado pela inquisição, do enterrado vivo, até mesmo o do gato preto, são grandes exemplos do gótico americano e chegam a ser verdadeiramente arrepiantes, no sentido em que nos colocamos na situação presente e nos tentamos imaginar como esses personagens. No entanto, a grande maioria dos contos são, como referi anteriormente, pura comédia e sarcasmo.

Por vezes tornam-se muito aborrecidos, devido ao chorrilho de complexidades que o autor nos apresenta que, no fundo, são inconsequentes em termos palpáveis e apenas servem como crítica a situações que, nos tempos de hoje, desconhecemos e pouco interessam. O que seria a revista Blackwood que o autor tanto ataca?

De resto, é um livro muito grande e bonito, que fica muito bem na prateleira e, mesmo que não gostem da maioria dos contos, vale a pena arranjar pelo seu valor físico.

24.9.15

Freedom

Freedom
 Morita Shuhei - Sunrise
Anime OVA - 7 Episódios + 1 Special
2006
6 em 10

Infelizmente, tive de ver este anime com a manhosa dobragem Americana, pois as tracks de legendas não estavam a funcionar... Enfim!

Um grupo de jovens vive numa colónia na Lua e nada sabem sobre a Terra, o planeta de origem. Dedicam-se a corridas futuristas, moderadamente ilegais, em motas construídas por eles próprios. Dois amigos, depois de encontrarem umas fotografias, decidem ir à Terra ver o que lá está e se há pessoas a viver lá. O que acontece depois é uma grande aventura.

Este anime esforça-se por apresentar uma distopia em oposição a um universo de felicidade, fazendo para isso recurso de uma narrativa muito simples, consistindo em "fazer amigos -> salvar os amigos". É uma falha grande o facto de o universo apresentado não estar convenientemente explorado e tudo se dirigir para uma guerra fatalista e, de todos os modos, extremamente previsível. Também as atitudes dos personagens são indistinguíveis. A sua caracterização é mínima e os personagens secundários têm grandes limitações no seu desenvolvimento. Quanto aos principais, fora um discurso moralista que deveria ter grande intensidade, são indistintos e esquecíveis.

Um aspecto interessante deste anime é a arte. Fazendo uso de um arcaico CG com cell-shading (talvez uma das primeiras experiências neste estilo em grande escala), a animação está bem cuidada e temos cenas de acção de excelência que são muito agradáveis de ver. Os cenários são pintados de forma tradicional, tendo em si grande detalhe e uma construção de edifícios e maquinaria originais e fascinantes. As cores são vibrantes e uma delícia para os olhos.

Musicalmente, temos pouco a apontar, fora uma OP e ED que têm uma certa intensidade que liga muito bem com o tema do anime.

Este OVA de 7 episódios terá ficado para trás, mas é uma experiência curiosa e terá a sua importância técnica.

23.9.15

Houkago no Pleiades

Houkago no Pleiades
Saeki Shouji - Gainax
Anime - 12 Episódios
2015
6 em 10

Vi este anime,  muito rapidamente, por recomendação do meu clube. Trata-se de um simples anime de meninas mágicas, mas relacionado com o espaço.

Cinco meninas, que aparentemente não se conhecem mas que têm uma ligação no passado, unem-se para encontrar os pedaços da nave espacial de um habitante das Pleiades. Para isso viajam pela estratosfera montadas numas vassouras mágicas supersónicas. No entanto, têm um antagonista que procura os pedaços da nave para ele. E agora?

A história é muito simples e bem disposta, com uma posição positivista em relação à vida que é sempre agradável de se ver. É o tipo de história que depende totalmente dos seus personagens, que provavelmente necessitariam de mais episódios para atingir o ápex do seu desenvolvimento. Existe um episódio dedicado a cada uma das meninas, mas isso parece insuficiente para estabelecer as suas relações e para dar um rumo mais definido à história. Assim, apesar de elas serem muito simpáticas e de ganharmos carinho por elas, a sua caracterização é incapaz de as estabelecer como ícones e o anime, no geral, parece curto e incompleto.

Se há algo que é fantástico neste anime é, sem dúvida, a arte. Com designs amorosos, as personagens são desejáveis. Mas, sobretudo, são as visões paisagísticas do espaço que espantam e maravilham. Estão desenhadas com elevado detalhe, dando azo a momentos muito belos que fazem esta viagem valer a pena.

Musicalmente, temos músicas cheias de fofura, mas que não se distinguem de outros animes do género.

Considerando que este anime serve um pouco como spot publicitário para os criadores dos carros Subaru (Fuji Heavy Industries) é um exemplo curioso dentro do género. Acabei por não compreender bem o que desejavam eles anunciar, mas transmitem uma mensagem de bondade e esperança que funciona bastante bem. De resto, existem outros exemplos dentro do género que merecem melhores recomendações.

22.9.15

.hack//Sign

.hack//Sign
Sawai Koji - Bee Train
Anime - 26 Episódios + 2 Specials
2002
6 em 10

Quando se fala de animes de fantasia e de animes de inserção em jogos de computador, .hack//Sign vem sempre à baila como exemplo fulcral deste "género" (se é que podemos chamar um género). Finalmente me calhou a vez de o ver e, devo dizer que não o posso considerar exemplar, apesar de ser original de certa forma.

Estamos dentro de um jogo, The World. Como é que lá estamos não é muito explicado, não se fica a conhecer muito bem o sistema de jogabilidade e tudo isso. Mas é um MMORPG passado num universo fantástico. Ora, neste universo há uma personagem, uma pessoa, que não consegue fazer log-out. E, para além disso, tem todas as suas memórias numa misturada. É procurando resolver o problema deste personagem (e também procurando uma tal chave) que um grupo se reúne e vive aventuras diversas, enquanto se encontram, desencontram e fazem novos amigos. Apesar de parecer algo muito infantil, a narrativa é bastante sólida e a premisa original. Infelizmente, o facto de "The World" ser um jogo acaba por ficar para trás e o anime dedica-se mais a mostrar um pouco sobre as persoanagens. Nesse aspecto, ficou aquém das expectativas.

Os personagens são coerentes e bem construídos, evoluindo ligeiramente à medida que se conhecem melhor e estabelecendo laços sociais. A história do nosso personagem principal acaba por ser um pouco previsível, assim como o seu desenvolvimento se torna um pouco errático com o passar d tempo. Todos os outros têm em si grande simplicidade, mas são agradáveis e acabamos por gostar deles. Trata-se de um conjunto de personagens muito reduzido, pelo que é fácil reconhecer as suas tarefas dentro do contexto narrativo. Na verdade, até teria sido melhor haver um pouco mais de variedade de pessoas: todos os que aparecem têm roupas que são variações das do grupo principal, demonstrando que neste jogo não há grande varieade no aspecto, e quando aparecem não fazem nada de importante que nos ajude a compreender melhor o universo em que estamos inseridos.

A arte e animação não estão más para a época, apesar da paleta de cores muito escura. Os cenários poderiam ser um pouco mais detalhados e, como disse, há pouca variedade no design dos personagens. Não existem muitas cenas de acção em que possamos observar uma animação espectacular mas, no geral, está aceitável.

Finalmente, a música. Tenho a dizer que a banda sonora está muito interessante e variada, com sons corais que são muito agradáveis. No entanto, a altura em que cada música aparece está um pouco desregrada e muitas vezes estas peças tão curiosas acabam  por ser anticlimáticas.

Teria sido um anime muito melhor se tivesse feito uma maior exploração do universo e se se tivesse focado mais nesse aspecto. Tal como está, não passa de mais um simples anime de fantasia.

21.9.15

The Cockpit

The Cockpit
Kawajiri Yoshiaki, Takahashi Ryosuke e Imanishi Takashi - Madhouse Studios
Anime OVA - 3 Episódios
1993
7 em 10

Este OVA, com três histórias curtas, é criação do sempre genial Leiji Matsumoto. Variando bastante dos seus temas habituais, são histórias que falam de aventuras vividas na segunda grande guerra. Fazem-no com uma profunda intensidade e, como sempre neste autor, revelando uma humanidade sofisticada e altamente coerente.

Em todas as histórias há dois temas comum: aviões e a falha. Depois de alguns animes menos bem conseguidos que vi, estava bastante agradada por ver aviões. Era mesmo o que me fazia falta. The Cockpit entrega esse tema na perfeição, com um twist: todas as missões destes aviões falham. E isso, em si mesmo, é o que revela o horror da guerra e a forma como os personagens se livram de ser participantes neste festival macabro. Colocando os personagens em cheque, no meio de dúvidas e temores, o argumento dá-lhes a oportunidade de escolha de participarem ou não nos actos terríveis a que são propostos. A decisão que eles tomam, que talvez seja um acaso, revela a sua força interior e a sua capacidade de, citando, "não venderem a alma ao diabo". Isto é extraordinário nos dois primeiros episódios, mas perde-se um pouco no último, que tem uma narrativa mais leve e infantil e parece não se coadunar com o resto da obra.

A arte é exemplar, com imagens aéreas surpreendentes e uma animação muito cuidada no respeitante às cenas de luta entre os aviões, com tiros e explosões à mistura que agradarão até aos maiores fãs de acção. Algumas cenas são muito belas e a conjugação entre os vários aspectos, tendo em conta o arco narrativo em que se encontram, tem um efeito por vezes comovente. Os directores não esquecem a ligação ao céu, sendo que grande parte das cenas se passam num ambiente luminoso de estrelas, um ambiente bastante original.

Não é muito completo em termos musicais, sendo que as peças utilizadas poderiam ter sido recicladas de outros animes. A ED é bastante apropriada e, no segundo episódio, temos alguns momentos de koto, um instrumento que adoro.

Um anime surpreendentemente belo, que não deixarei de recomendar.

20.9.15

Super GALS! Kotobuki Ran

Super GALS! Kotobuki Ran
Kobayashi Tsuneo - Studio Pierrot
Anime - 52 Episódios
2001
5 em 10

Curiosamente, tinha lido um volume do manga que deu origem a este anime há bastante tempo. Arranjei-o em Madrid, quando fui lá a um evento de anime com a Hota-chan :)

Este anime fala da vida diária de três raparigas muito fashion e dentro da moda, verdadeiras GALs, que era o antigo nome dado a esse estilo de moda que é o Gyaru. Infelizmente, o anime não explora nada sobre moda, nada sobre as personagens e nada de nada. É apenas o relato das suas aventuras e desventuras em Shibuya e estas, pois... Não têm interesse algum. Para começar, seria de esperar que um anime em que as personagens vivem e respiram moda falasse um pouco disso: moda. Mas não existe um único toque nesse aspecto. As personagens usam pouquíssimas combinações de roupa, o que até faz sentido já que são estudantes do secundário sem muito dinheiro, e a única reflexão sobre elas é que "precisam" das peças. Não há nenhum comentário social aos seus utilizadores, não há nenhuma comparação entre outros estilos de moda presentes na época fora o Gal e o Ganguro (e, acreditem, no final dos 90s e início dos 00s,Shibuya era um poço de contemplação e inspiração)

Para lém disso, não há nenhuma narrativa coesa que ligue as diversas aventuras e que aponte para um final. Acontecem muitas coisas, é certo, mas nenhuma delas parece ter consequência de maior. Isto teria sido muito importante para que as personagens e pudessem desenvolver e isso não aconteceu. Na génese, as personagens são muito ocas e não têm complexidades, pelo que algum desenvolvimento teria sido bem vindo. Apenas Aya, uma das amigas, tem uma referência (logo no início da série) que teria sido importante e muito interessante em termos de crítica social, mas isso é rapidamente esquecido na medida em que ela é incluída nas aventuras. Acaba por ser ela a personagem mais interessante porque é a única "diferente": é a única que não fala aos gritos. Por mais que eu queira dar o braço a torcer às actrizes, aqui a prestação é muito insuficiente e ruidosa, tornando toda a experiência deste anime fastidiosa.

A arte é terrível em todos os aspectos. Mesmo tendo em conta o ano de produção e o facto de isto ser um anime de paródia, as caricaturas feitas são muito estranhas e de aspecto hediondo, sendo que as cenas de animação estão incompletas e pouco cuidadas. Existem alguns momentos que teriam um potencial para a beleza, se não fossem interrompidos por situações caricatas e caricaturais que, constantemente, invadem o ecrã.

No quadro da irritação causada, a música também contribui bastante. OPs e EDs estranhas e pouco relacionadas, músicas do parênquima com uma energia digital que apenas me causa taquicárdia e desconforto.

Assim, este anime cai no ridículo e isso é muito triste. Porque ele teria potencial para ser algo bastante bom e para ser inspirador, mas não o consegue de maneira nenhuma.

Casulo

Casulo
André Oliveira com Vários Artistas
2015
Banda Desenhada

Como estou a tentar manter-me a par com as novidades da BD portuguesa, comprei este album quando foi lançado, no Anicomics deste ano 2015. Trata-se de um livro curioso, numa edição luxuosa de capa dura e páginas brilhantes e cheirosas, um conjunto de curtas de BD de um senhor chamado André Oliveira com colaboração de uma miríade de artistas.

São histórias muito pequeninas, duas páginas a maioria, quatro se tanto, que falam de pequenas coisas mais ou menos boas que acontecem na vida. Também com um forte elemento de crítica social, este autor tem a arte de colocar em poucas palavras (e poucos desenhos) momentos muito significativos da vida diária das pessoas.

A arte varia muito de história para história, mas devo dizer que os meus momentos visuais preferidos foram nas histórias (três histórias) dedicadas ao Natal. De resto, em termos narrativos, fiquei de sobremaneira impressionada com "Silêncio" e com a que vem imediatamente a seguir, que me tocaram profundamente. Os pequenos relatos de viagem não me tocaram como, talvez, seria pretendido.

De uma forma ou de outra, este é um argumentista para manter no radar. Embora não tão poético como eu, pessoalmente, prefiro, tem um olho clínico para observar o dia a dia e isso é, sem dúvida, admirável.


19.9.15

Quando Fores Mãe Vais Ver

Quando Fores Mãe Vais Ver e Outras Pérolas do Folcore Materno
Ana Saragoça
2012
Livro

Depois de Todos Os Dias São Meus estava muito excitada para ler o outro livro de Ana Saragoça, nossa querida coleguinha do BookCrossing. Este livro foi-me emprestado pela mesma pessoa, obrigada! :)

Com muito humor e candura, a autora conta-nos um pouco sobre aquelas frases feitas que todas as mães usam mais tarde ou mais cedo ao longo do seu percurso materno. Coisas como "Aqui está a chover imenso!" ou "Estás tuberculosa!", pequenos momentos que todos os filhos ouvem de suas mães em qualquer altura da sua vida. Assim, segue-se um relato das aventuras e desventuras de infância, sempre recheadas de preocupações diversas e todas as reclamações que um filho tem todo o direito a fazer. Pois, está claro, embora sejamos adultos as nossas mães continuam a falar desta maneira, como se fôssemos pequeninos.

De certa forma senti que o livro era bastante pessoal e houve algumas coisas que me passaram ao lado, simplesmente porque não conheço as pessoas em causa e é, para mim, difícil de as visualizar. Não me consegui identificar plenamente com a posição de filha reclamante, porque a minha mãe nunca diz a maioria das coisas que as mães dizem neste livro. Isto parece-me mais uma mãe de uma outra geração, que não a da minha, que não se adaptou aos tempos modernos como... Bem... A minha. Ainda assim, é uma leitura leve e engraçada, que deu para grandes momentos de riso intenso e, sobretudo, muitos sorrisos rasgados. :)

Tomei também conhecimento que a autora do livro é minha confessa arqui-inimiga, pois andou nos Maristas de Carcavelos (eu andei nos de Lisboa, muahahahaha)

Apesar de ter gostado mais do livro anterior, este também é muito engraçado e vale a pena dar-lhe uma olhadela. Nem que seja para recordarmos coisas para nunca dizermos aos nosso filhos, num futuro muito longínquo. =D

Paprika

Paprika
Satoshi Kon - Madhouse Studios
Anime - Filme
2006
7 em 10

Estávamos a ver uma lista de filmes de animação desconhecidos e encontrámos lá este. Que para mim não é assim tão deconhecido, já que é a terceira vez que o vejo. :v

Do autor do afamado Perfect Blue, Paprika é uma história que podia muito bem acontecer, caso a tecnologia evoluísse bastante. Neste universo, foi inventada uma maquineta que permite a que se entre dentro dos sonhos das pessoas, de forma a que se possam partilhar entre amigos e, mas importante que tudo isso, fazer uma psicoterapia dirigida e ajudar as pessoas. Infelizmente, essa tecnologia cai nas mãos erradas e o mundo poderá ser destruído a qualquer momento. Entre realidade e sonhos está uma mulher: Paprika. Ela tem o poder de manipular a sua forma dentro dos sonhos das pessoas e ajudá-las e o seu trabalho será essencial para vencer esta força maléfica que se apoderou dos sonhos das pessoas e os tranformou num aterrorizante pesadelo colectivo.

A narrativa é simples, sem mistério, sem suspense. Os momentos mais estranhos estão na mistura das duas realidades, mas tudo é claramente explicado ao longo do filme, de forma muito acessível e sem deixar lugar para dúvidas. Polvilhada com uma querida história de amor muito improvável, a narrativa baseia-se então - sobretudo - nas acções e desenvolvimento dos personagens. Isto é bastante satisfatório, pois vários sonhos se misturam e através deles conseguimos interpretar um pouco sobre cada uma das personagens e ficar a conhecê-las um pouco melhor. Cada uma é única e apaixonante, caracterizando elementos da sociedade japonesa do "agora" sem temores nem papas na língua.

Outro aspecto muito interessante e querido é a homenagem ao universo cinematográfico. Satoshi Kon parece ver os sonhos como uma espécie de "filme" e discorre sobre as técnicas que poderia usar se eles fossem passíveis de ser filmados de forma muito apaixonada e dedicada.

A animação é bastante boa, com muita fluidez e muitas cores, até ao momento em que aparecem cenas repetidas, uma cópia total, sobretudo nos momentos da parada dos objectos e dos electrodomésticos. De resto, fique uma nota para a intro que caracteriza perfeitamente a personagem de Paprika. Até faria cosplay dela, com todo o gosto, mas não gosto da sua outra faceta.

Musicalmente, temos um curioso uso desse instrumento que é o "Vocaloid". As músicas são inteiramente digitais, o que transmite um ambiente muito moderno mas ao mesmo tempo surrealista e perturbador.

Um filme que poderei recomendar como um dos melhores exemplos do autor, mas que não ultrapassa o sempre fantástico Perfect Blue.


A Peregrinação do Rapaz Sem Cor

A Peregrinação do Rapaz Sem Cor
Haruki Murakami
2013
Romance

Recebi este livro no aniversário do ano passado e só agora o li... Sendo que está quase de novo no meu aniversário, lol

Para mim, Murakami deixou de ser um autor preferido. A sua escrita é muito contraditória, por vezes errática, muito inconsistente. Assim, tive um certo medo quando iniciei esta leitura, medo de não gostar, medo de me chatear de vez com o autor. Felizmente, isso não aconteceu, embora este romance esteja longe de ser o livro perfeito.

Um rapaz muito igual a todos os outros, tem quatro amigos em Nagoia, terra onde sempre viveu. Estes anigos têm nomes de cores e por isso Tsukuro, o nosso personagem principal, sente-se "sem cor", como se fosse invisível. Subitamente, expulsam-no do grupo. Ele tenta esquecer o que se passou, mas uma nova namorada motiva-o a, dezasseis anos depois, procurar o grupo e perceber o que aconteceu. E assim Tsukuro, o "rapaz sem cor" inicia uma viagem em que também busca o auto-conhecimento.

É uma escrita leve e fluída, embora as descrições dos momentos sensuais sejam bastante frias e afastadas da realidade, sendo que os sentimentos do personagem em relação a elas (e são deveras importantes) limitam-se um pouco a "ficou perturbado". Temos alguns momentos gráficos muito interessantes, com descrições vívidas de paisagens, urbanas e rurais. A narrativa em si tem muitos pontos de interesse, sobretudo no respeitante à caracterização das personagens, que são únicas e muito vívidas, apresentando-se numa realidade tangente em oposição ao mundo irreal dos sonhos e das histórias do passado.

No entanto, fiquei com o sentimento de que toda esta "peregrinação" acabou por ser inconsequente, pois demasiadas perguntas ficam por responder. E confesso que estava realmente curiosa em saber estas respostas. O final aberto, o assassinato inconclusivo, os simbolismos que aparecem mas que nunca são explicados, tudo isto deixou-me com água na boca e o resultado foi muito insatisfatório. Foi como se o autor nem sequer tivesse pensado que estas perguntas se colocariam, não pensando muito sobre elas.

Ainda assim, não é um mau exemplo para a literatura do autor. Mas, mais uma vez, não o apontaria para o Nobel.

18.9.15

Este País Não É Para Velhos

Este País Não É Para Velhos
Ethan Coen & Joel Coen
Filme
2007
8 em 10

Sem ideias sobre o que ver numa calma noite, decidimo-nos por mais um filme dos Irmãos Coen, dos quais gosto sempre imenso.

Este é um filme que fala de uma fuga e de uma perseguição. Chego, com ele, a uma certa conclusão sobre os filmes dos Coen... Todos eles se tratam de uma viagem visual por um ideal Americano corrupto e desmembrado, uma imagem de uma realidade que, se não aconteceu, poderia perfeitamente ter acontecido naquele contexto. Desta vez a viagem é feita pelos confins de um estado árido e desértico.

Um homem comum encontra, por acaso, uma cena de morte e horror, com muita droga e muito dinheiro. Decide apoderar-se do dinheiro e esse é o seu primeiro erro: a partir desse momento vê-se perseguido por um psicopata muito escrupuloso, com ideias sobre a vida bastante distintos dos das pessoas comuns. Para além dessa pessoa, também é procurado por mais uma série de gente. No fundo, ele deseja apenas escapar mas... Parece que é inevitável.

Recheado de diálogos interessantíssimos e muito filosóficos, este é um filme que sobrevive sobretudo com as suas personagens, que estão muito bem construídas e, sem dúvida, interpretadas de forma excelente. É sobretudo curioso este nosso "psicopata", pois o seu código moral é muito intricado e difícil de interpretar, mas claramente existe e ficamos muito curiosos com ele.

Como disse anteriormente, o filme é uma viagem. Isso é caracterizado por imagens muito fortes dos elementos típicos deste local Americano, com um uso de fotografia agudo que funciona muito bem. Outro elemento curioso é o facto do filme não ter quase nenhuma música a acompanhá-lo: é uma narrativa feita de silêncios que, por sua vez, causam mais ansiedade do que qualquer ruído poderia.

Um filme original, que dá que pensar. Como sempre, estes irmãos estão lá.


15.9.15

Read or Die

Read or Die
Masunari Koji - J.C. Staff
Anime - 26 Episódios + 3 Episódios
2003
6 em 10

Há algum (bastante) tempo atrás este anime foi apreciado no meu clube, mas eu não o vi na altura. Desde então que sempre tive uma certa curiosidade em vê-lo, sobretudo tendo em conta o título. Infelizmente, comecei por ver o OVA que, comparativamente à série, é bastante menos despretensioso e, por isso funiona melhor.

Este é um anime sobre algumas pessoas que têm o poder de controlar o papel, transformando-o em objectos laminados, projécteis e armas em geral. No OVA temos uma história muito simples, uma explicação do passado de duas personagens que depois virão a vir moderadamente importantes na série. Uma delas (The Paper) caiu-me logo no goto: gostei imenso dela e pensei logo em fazer cosplay. Mas depois de ver a série, em que ela não sofre mais nenhum tipo de desenvolvimento, perdi a ideia. Enfim, na série, uma sequela, temos três raparigas que tentam proteger uma autora de livros de uma estranha máfia livreira. A história desenvolve-se na exploração dessa entidade maléfica e explicações sobre o que fazem e porquê. É de certa forma interessante e original, mas acaba por se perder a paixão pelos livros que ligava todas as personagens: o facto do objecto em causa (o mote para toda esta aventura) ser um livro é puramente inconsequente.

As personagens, apesar de serem bastantes, também não sofrem grande caracterização. Com excepção de Anita, a mais irritante delas todas, as raparigas acabam por ser ignoradas em detrimento da primeira, que vive praticamente todas as aventuras sozinha. De resto, elas não sofrem desenvolvimento, sobretudo no respeitante à evolução do "não gostar de ler" para passar a gostar de ler (o que teria sido previsível e bem-vindo). De resto, as personagens passam grande parte do tempo a chorar e a gritar o que, apesar do poder vocal das actrizes, é bastante desconcertante e incomodativo. Também não se compreende o porquê de se passar muito tempo a relatar a vida diária numa escola, pois as relações com estas personagens também não têm qualquer relevância.

Sendo que no OVA a arte está bastante mais cuidada, não podemos dizer que o grafismo da série seja mau. Apesar dos designs muito simples e da falta da detalhe em geral, temos cenas de animação bastante satisfatórias, se bem que poderiam ser um pouco mais longas (considerando cenas de acção) para podermos observar melhor os movimentos, que até são interessantes. As cores são pouco variadas, mas no geral o aspecto funciona bem. Gostaria de ter visto um pouco mais de cuidado nas imagens de livros e papéis, que estão - essencialmente - em branco: isto não faz muito sentido pois todos os livros (excepto o famoso "Livro em Branco") têm letras.

Musicalmente, temos alguns momentos bastante intensos, com uma OP jazzística muito interessante. De resto, não há muita coisa que distinga esta banda sonora de um shounen comum.

Um anime que poderia ter sido excelente e entrar para o meu top de favoritos, se não tivesse cometido tantos erros. De resto, fica um piscar de olho para a ideia que, apesar de tudo, é bastante boa. :)

13.9.15

Tytania

Tytania
Ishiguro Noboru - Artland
Anime - 26 Episódios
2008
6 em 10

Anime criado pela mesma pessoa que está por trás do sempre amado e genial Legend of the Galactic Heroes, funciona como uma versão do mesmo. Mas mais infantil, menos inteligente e infinitamente mais básico.

A história tem muitos pontos em comum: um império maléfico, mas com um pouco mais para além disso, está em oposição com um grupo de rebeldes, com um pouco mais para além disso. Infelizmente o "mais para além disso" é mesmo muito pouco. Assim, temos uma narrativa altamente simplificada, que não faz um uso correcto de todos os seus personagens. Estes, apesar de estarem em oposição uns com os outros, são esquecíveis e aparentam estar ali, na sua maioria, apenas para satisfazer um certo ego vaginal. Não têm qualquer tipo de densidade e muitas vezes perdem o seu objectivo para existir. Isto acontece de tal forma que a maioria dos personagens apresentados inicialmente acaba por ser esquecido, em preferência do nosso "principal", um jovem cheio de ideias (que nunca são relatadas, mas estão lá!) e com muito bom ar que luta por um mundo melhor. Infelizmente, nunca temos um vislumbre sobre esta poética ideia do "mundo melhor" e temos então um personagem oco sem ideologia.

Podemos admitir que a arte está bastante aceitável. Sem erros de maior, temos uma paleta brilhante e designs complexos, apesar de completamente ilógicos. Nunca hei-de perceber como, nestes exércitos, estão todos vestidos de maneira diferente, mas isso é crime constante de todos os animes e séries que falam sobre um ambiente bélico. Os cenários não têm grande detalhe, mas estão bem explorados e, no geral, a forma como a imagem está descrita acaba por ter um efeito de originalidade bem patente. Poderia ter havido, ainda assim, mais detalhe na maquinaria e armamento.

Também a música não é totalmente infeliz. Com um início e final epopeicos, inspira-nos a viver esta luta entre facções de forma muito clássica, tomando livre inspiração nos temas que nos apaixonaram no passado.

Em conclusão, Tytania é um Legend of the Galactic Heroes mais acessível mas muito menos interessante. Assim, recomendo essa versão anterior que, de qualquer modo, não precisava de tentativa de melhoramento.

12.9.15

Kaze no Tairiku

Kaze no Tairiku
Mashimo Koichi - Production I.G.
Anime - Filme
1992
5 em 10

Era para ter ido ao cinema, mas como não me apeteceu sair de casa cá fiquei a ver este filme.

Estilisticamente, exemplo perfeito para a sua década, mas nos outros aspectos é indistinguível de qualquer outro anime de fantasia. Curioso como este tema, a fantasia pura e dura, se perdeu um pouco ao longo dos tempos e, hoje em dia, são produzidos tão poucos animes com ele. Enfim, uma party de três pessoas (um tank, um priest e uma miúda) encontra-se numa cidade misteriosa onde havia diversas riquezas. Eles viajam por um continente destruído, mas não há grandes explicações sobre o que se passou e o que levou o mundo a tornar-se assim. Na verdade, não há explicações sobre nada, espera-se simplesmente que o visionante viva a aventura destes três sem se questionar sobre nada. Assim, o anime deixa um sabor a incompleto, aparentando fazer parte de algo muito maior e mais complexo.

Para mais, as personagens que nos são apresentadas não têm qualquer característica distinguível, aparecendo amorfas e insignificantes. Também não sofrem qualquer tipo de desenvolvimento, o que teria sido interessante dentro do contexto e nos poderia ter ajudado a saber um pouco mais sobre este universo.

O ponto alto do filme será, talvez, a arte. Bastante característica da época, é também fonte de cenários altamente detalhados, apesar da paleta de cores bastante escura que torna alguns aspectos um pouco indistinguíveis uns dos outros, sobretudo no respeitante a sombras.

Musicalmente, temos uma banda sonora pouco original e muito simples.

Temos, assim, um filme perdido dos anos 90 que não poderá ser um sucesso, nem nessa altura nem agora.

Midori: Shoujo Tsubaki

Midori: Shoujo Tsubaki
Harada Hiroshi
Anime - Filme
1992
8 em 10

É com grande alegria que o post que ultrapassa a barreira dos mil seja um excelente e recomendável exemplo de animação experimental num tema muito pouco falado em anime. Foi o Qui que o descobriu, por mero acaso.:)

Inspirado num manga pelo rei do Guro, Suehiro Maruo, trata-se da trágica história de Midori, uma menina que após a morte dos seus pais é entregue a circo de freaks, que a maltratam de todas as formas possíveis. Até à chegada de um anão que faz magia "ocidental", que se apaixona por ela e a protege, relativamente dos acontecimentos. É uma história triste, sem um final feliz ou satisfatório, mas que serve apenas como mote para a terrífica experiência visual em que este anime se torna.

A animação é extremamente simples, uma produção independente estimulada pelo realizador Harada Hiroshi que, espectacularmente, desenhou todos os momentos deste filme. O filme está formulado de tal forma que se assemelha a um teatro de sombras de papel, sendo que na realidade a história original era um desses teatros. Assim, a animação mantém-se integra com a ideia original, servindo bastante bem como homenagem. Apesar da simplicidade da animação, existe um detalhe profundo no design dos personagens e nos cenários, o que torna o visionamento numa experiência agradável (apesar dos momentos sangrentos e horríveis). De resto, existem algumas cenas em que se investe numa animação desregrada, muito experimental e original, que nos levam até um reino de pesadelo e magias terríveis, ultrapassando os limites da mais perturbada imaginação.

Adicionando a tudo isto temos uma banda sonora perturbadora e assustadora, que torna a narrativa, que já de si é pesada, numa experiência brutalizante.

É um anime horrível,  tratando de temas horríveis, nada agradável para uma noite sem sonhos. No entanto, foi das coisas mais interessantes que vi ultimamente e não deixarei de o recomendar.

10.9.15

Ashita no Joe

Ashita no Joe
Dezaki Osamu - Mushi Productions
Anime - 79 Episódios
1970
5 em 10

É com muito orgulho que anuncio que chegámos ao milésimo post neste espaço! Talve em breve faça uma pequena celebração, mas queria só dizer a toda a gente. :) Tem sido muito agradável partilhar convosco estes meus comentários mais ou menos malcheirosos sobre coisas diversas :) É também com orgulho e um certo sentimento de dever cumprido que este milésimo post é sobre um marco histórico na indústria do anime como o conhecemos hoje: Ashita no Joe.

Estreado na televisão há 45 anos, é um anime bem presente na sua época e que definiu todo um género. Foi um dos primeiros animes de desporto com uma ligação bastante forte ao lado negro da sociedade, tema que vem evoluindo desde essa altura para outros animes de que tanto gostamos. Assim, é um anime muito importante em termos históricos e, apenas por isso, todos deviam experimentar vê-lo. Conhecimento nunca é demais, já dizia o meu Professor.

No entanto, olhando objectivamente para este anime, mesmo se tentarmos tirar os óculos dos anos 10 e tentarmos regressar um pouco à época que é retratada nele, tem algumas falhas que me levam a dar-lhe uma nota um pouco mais baixa que a minha média. Comecemos pelo início.

Este anime conta uma história simples, um "coming of age" de um rapaz que, tendo sido abandonado pelos pais e que não tem nada que o ligue às outras pessoas, acaba por se envolver num meio desportivo do boxe, começando a ganhar uma força diferente  e desenvolvendo relações. É precisamente nesse aspecto que a história não funciona. Para este tipo de narrativa precisamos de um personagem forte que, mesmo assim, esteja aberto à progressão e evolução. E, infelizmente, Joe não é assim. Simplesmente não combina com a sua personalidade.

Temos, então, um personagem principal irascível, insuportável e detestável, com o qual é impossível que alguém se identifique se não para desejar que ele perca todos os combates. As suas atitudes nunca melhoram, ele parece nunca estabelecer uma ligação com quem quer que seja. Tudo aquilo que faz é negativo e a sua personalidade, apesar de carismática, não permite algo tão simples como... Gostar dele. Talvez nos anos 70 este seja o modelo ideal de desportista mas, para mim, foi impossível ganhar qualquer afeição por Joe. Quanto aos outros personagens, temos um treinador que faz muito pouco além de gritar, um grupo de crianças que serve mais como alívio cómico do que outra coisa, duas mulheres em extremos opostos que não revelam grande personalidade (excepto que são o contrário uma da outra e Joe, evidentemente, terá de escolher de quem gosta mais) e um parceiro de equipa que acaba por ser o personagem mais interessante da colecção.

A narrativa processa-se de forma rápida, sem gastar tempo em coisas inúteis como treinos dos desportistas ou mesmo combates. Dedica-se mais a lutas de rua e às maldades que Joe vai deixando à sua passagem. Até a parte supostamente mais intensa, aquela em que Joe está na prisão, acaba por ser repetitiva e não nos transmite qualquer tipo de sentimento de horror.

Em termos artísticos, mesmo para a época a animação não é extraordinária. Apesar de termos um design de personagens bastante limpo, existem repetições infinitas das mesmas frames, o que levam a combates extremamente repetitivos e pouco ou nada coreografados. Gostei bastante, ainda assim, da utilização de cores e sombras. A paleta é muito reduzida (o que faz sentido para uma série longa nesta década), mas está bem usada em termos gráficos, apesar de alguns erros que o olho mais atento detecta facilmente.

Musicalmente, temos um tema que é repetido constantemente mas que, sendo tão belo, não cansa. Este tema e suas variações constituem toda a banda sonora do anime, incluindo as OPs e EDs que têm aquele aspecto "épico" das músicas antigas mas com uma interpretação algo fraca.

Assim, é um anime histórico que vale a pena conhecer, mas que - apesar de tudo - não fica na memória pela qualidade.

Garden Dreams

Garden Dreams
Fumi Yoshinaga
Manga - 1 Volume/4 Capítulos
1999
6 em 10

Comprei este manga no Anicomics, pois é de uma autora que amo de paixão (apesar de eu não saber muito sobre manga, continuo a ter os meus preferidos ;) ). Esperava um romance homoerótico cheio de classe, mas encontrei algo ligeiramente diferente.

Dois bardos viajam de Este para Oeste e acabam por se encontrar com um solitário Barão, um senhor feudal que não convive com ninguém excepto a sua filha. Algumas coisas acontecem, de forma muito rápida, e passamos para um flashback que nos conta a razão pela qual o Barão é tão solitário.

Pareceu-me a mim que esta história necessitava de mais alguns painéis para funcionar devidamente. As coisas processam-se demasiado rápido, sem um desenvolvimento coerente que nos permita perceber bem a relação entre os personagens. Esta é explicada com uma simplicidade quase exasperante, que acaba por as caracterizar de forma um pouco minimalista e simplória.

No entanto, a narrativa desenvolve-se de forma coerente e existe um romantismo muito intenso e clássico, que agarra o leitor imediatamente e provoca uma imersão dentro destas histórias de amor, levando os nossos sentimentos ao extremo. Aqui se revela aquilo que eu amo nesta autora. Infelizmente, tudo é quebrado por um final altamente anti-climático, mas ainda assim com um certo humor infantil, que relativiza toda a inocência da história que lemos até agora.

A arte é simples, sem grandes detalhes nos cenários, mas com um design de personagens muito agradável, tendo em atenção roupas e hábitos do universo (simples) que foi criado para esta história. Existem, também, algumas cenas belas envolvendo flores diversas.

Ainda assim, não é o tipo de manga que recomendaria a um leitor experiente.

Todos os Dias São Meus

Todos os Dias São Meus
Ana Saragoça
2012
Romance

Foi-me emprestado por uma amiga do BookCrossing e.... A autora também é uma amiga do BookCrossing! Fico muito feliz por conhecer uma autora. :) Na verdade, estava com algum medo de ler os livros dela e de não gostar, porque depois teria de o dizer aqui e seria muito desagradável... Mas na realidade gostei imenso deste curtíssimo romance, que li de fio a pavio numa viagem de autocarro. =D

Este livro conta a história de um assassinato. Uma rapariga é encontrada morta no elevador de um prédio e a polícia interroga todos os seus habitantes de forma a obter informações que os levem ao assassino. Assim, há uma sucessão muito rápida de narrativas de pessoas muito diferentes, cada um deles escrito de forma única. Intercalado com isto está uma espécie de "diário" da vítima, que também tem uma voz muito presente na história.

Assim, temos um desenvolvimento desta personagem muito coerente e interessante, uma caracterização e uma pessoa inadaptada na vida moderna com a qual me identifiquei bastante. A pessoa que todos acham apagada e desinteressante tem muito mais que se lhe diga, o que é verdadeiramente surpreendente. Também o é o final, que ao início me pareceu um pouco previsível mas que, lá chegada, me espantou bastante de maneira positiva.
 
Cada uma das personagens acaba também por caracterizar um pouco das "personagens" que vivem numa grande cidade no hoje em dia, apesar de poderem cair um pouco no estereótipo. De qualquer forma, as suas visões da vida são muito engraçadas.
 
É um livro simples e rápido, cheio de humor e um sarcasmo delicioso. Ansiosa por ler o outro livro da autora, que também me emprestaram! :)

Arkham Asylum

Arkham Asylum: A Serious House on Serious Earth
Grant Morrison & Dave McKean
1989
Graphic Novel

Ofereci este livro ao Qui pelos anos, porque - depois de ele me ter mostrado algumas imagens na net - achei que era um item de colecção muito interessante. E o Qui gosta do Batman e, portanto, gosto eu também de contribuir para a sua colecção de objectos Batmânicos :) Passado este tempo todo, ele emprestou-me o livro para que o lesse. Bem, devo confessar que eu também lho ofereci para depois lho poder pedir emprestado, lol

Nesta história, Batman é chamado ao Arkham Asylum, um manicómio onde estão encerrados os vilões e psicopatas mais perigosos de Gotham. Estes tomaram conta do asilo e agora ameaçam fazer mal aos inocentes que lá estão. Mas Joker, o organizador desta revolução, não deseja propriamente fazer "maldades" a Batman: ele quer apenas que o super-herói percorra os corredores do edifício e compreenda um pouco mais sobre si próprio. Pois, palavras do Joker... "Tu é que devias estar aqui, tu é que estás maluco".

Assim, esta narrativa mistura três histórias terríficas, que nos enviam - através da arte gráfica onírica e difusa - para um reino de pesadelo. Ficamos a conhecer o que se passou com o Dr. Arkham, fundador do asilo, que enlouqueceu após o assassinato da sua mulher e filha. Ficamos a conhecer mais sobre a loucura dos nossos vilões preferidos, que não compreendem porque estão ali e acabam por ser as vozes que perseguem Batman, mas que também levam a que ele tenha a capacidade de compreender mais sobre si próprio. E temos a auto-análise, uma reflexão, sobre o próprio Batman que, cirandando pelos assustadores corredores, entra numa espiral de loucura depressiva, perdido entre os seus objectivos e as suas memórias, em que ele próprio começa a duvidar da sua sanidade mental.

Será que, no fundo, o herói é o mais louco de entre todos?

Nada disto seria possível sem um grafismo extremamente original e impecavelmente belo, apesar de todos os momentos horríveis. Pintado em aguarelas, é uma visão muito diferente e revolucionária da banda desenhada como tinha sido até lá, permitindo uma nova corrente artística e uma nova forma de interpretar a BD: como forma de arte. O artista utiliza misturas de cores improváveis, muitas texturas, com um detalhe quase fotográfico - mas ainda assim aquoso - no respeitante a arquitectura e imagens de pessoas. Tudo isto é a recriação de um ambiente pavoroso, assustador, que nos deixa na ponta da cadeira durante toda a leitura.

Este volume tinha também uma secção muito interessante com o storyboard original, que nos permite compreender um pouco mais sobre a história e o método utilizado para a criar.

Eu não sou exactamente a pessoa ideal para falar de comics e graphic novels mas mesmo eu, que sei tão pouco, posso dizer que Arkham Asylum é uma BD genial. Todos a deviam ler. :)

9.9.15

Acabadora

Acabadora
Michela Murgia
2009
Romance

Recebi este livro pelo Bookcrossing e, apesar de ter demorado um bocadinho a chegar a ele, li-o num instante! Bastaram três dias!

Passado numa Sardenha, Itália, dos anos 40, conta a história de uma menina que é adoptada como "filha da alma" por uma velhota costureira. Isto significa que a mãe da menina a ofereceu à velha para não ter encargos. Mas tudo corre pelo melhor e assistimos à vida na aldeia, com todas as suas características próprias e curiosidades. O que Maria, a menina, não sabe é que a sua mãe adoptiva tem uma outra função... É "Acabadora": pratica a morte assistida nos casos de pessoas que, por estarem muito doentes, precisam de ajuda para morrer.

É um tema curioso, que me toca bastante também (pois tenho esta prática bem presente, em animais), mas que me pareceu que poderia ter sido explorado mais exaustivamente. O caso da morte relatado é um pinto fulcral de debate, mas as suas consequências acabam por parecer um pouco curtas, sendo que a narrativa não se debruça muito sobre elas, preferindo a autora falar da continuação da vida de Maria, afastando-a da aldeia e criando uma história paralela que é totalmente inconsequente.

É um livro simples, mas bem escrito, que tem belas descrições de odores e sabores, que nos remetem para esta aldeia perdida no tempo. Gostaria, talvez, de ter visto um pouco mais de imagens e paisagens.

De resto, a conclusão pareceu bastante lógica, com uma aceitação da morte muito plácida e quase bela. Ainda assim, como disse, gostaria de ter visto um pouco mais de discussão sobre o tema e um pouco de desenvolvimento, filosófico ou não, o que nos permitiria formular uma opinião sobre as atitudes e acções dos personagens.

Agora, regressa a casa :)

8.9.15

Cat Soup

Cat Soup
Satou Tatsuo - J.C. Staff
Anime - Filme
2001
8 em 10

E, para finalizar a noite, uma estranha curta metragem com meia hora. Já a tinha visto algumas vezes mas, como estava nomeada para o meu clube, achei por bem revê-la (e mostrar ao Qui).

De difícil interpretação, este anime tem uma narrativa base que, supostamente, pode ser bastante simples: um gatinho viaja ao Inferno para salvar a alma da sua irmã. No entanto, isto pode ser intepretado de diversas formas, como por exemplo, o filme tratar-se de uma analogia para o fim do mundo, para a guerra ou algo tão simples como a morte de uma família e o horror vivido por uma criança. Pessoalmente, gostaria de o interpretar como a morte de uma família depois de uma enchente ou mesmo numa perspectiva de terem sido "comidos" pelos seres humanos, uma espécie de representação do abandono e mau trato animal. Pois, nesta história, existem em oposição gatinhos e pessoas.

Esta minha visão é ajudada pela imagética presente ao longo do filme. Como disse o Qui e muito bem, todos os temas, todos os momentos de pesadelos, têm algo em comum: água quente. Começando pelo circo, em que um pinguim mágico explode numa enchente que os leva até ao "inferno", passando pela viagem no deserto em que um elefante feito de água derrete, sem esquecer a entrada na casa do "homem" (que pode representar tanto o "sistema" como um simples pedófilo), tudo tem a água quente, a "sopa" em comum. Isto significará que a morte destes gatinhos teve algo relacionado com sopa?

Eu não duvido que tenham morrido todos, pelo final desagradável em que culmina a viagem e, sobretudo, pela imagem repetida num ponto de obsessão dos créditos finais, uma suposta família feliz. Poderá este anime representar o que há de falso no esterótipo da família tradicional? Tudo questões interessantes, que cada um poderá interpretar à sua maneira.

Com uma banda sonora perturbadora, este anime vive sobretudo da imagem. Não existe quase nenhum diálogo (não é importante, na verdade) e a narrativa baseia-se na viagem pelos vários universos. A arte é exemplar, com momentos de animação brilhantes e um ambiente muito original e quase assustador.

É uma curta metragem estranha, que nos deixa a pensar. Peço que a vejam e que, depois, me digam o que vos pareceu.

Detroit Metal City

Detroit Metal City
Nagahama Hiroshi - Studio 4ºC
Anime - 12 Episódios
2008
9 em 10

Estamos em casa, não temos ideias do que ver e eu lembro-me... Que nos podemos rir bastante. Então coloco a sacar um dos meus animes de comédia preferidos: Detroit Metal City! Atenção, têm de dizer isto de maneira vocalmente agressiva. Já é a terceira vez que vejo este anime e a verdade é que nunca me canso de o ver!

Negishi é um rapaz da aldeia, uma pessoa querida e simples que tem um sonho: criar uma banda de pop sueco. Assim, vai para Tóquio de forma a poder cumprir com o seu sonho e viver a vida hipster que sempre sonhou. Infelizmente, nem tudo corre bem... De alguma forma ele vê-se como o cabeça de cartaz de uma banda que representa tudo o que ele sempre abominou: DEATH METAL. E eles são os... DETROIT METAL CITY.

Temos a fórmula perfeita para uma comédia contagiante e hilariante. Confesso: para mim é impossível parar de rir histericamente do início ao fim. As piadas e os gags baseiam-se essencialmente no nosso personagem principal, um rapaz simples que, no fundo, tem um distúrbio de personalidade. Nas piores ocasiões, ele tem de se transformar em Krauser II, o líder da banda mais horrífica do momento. E a forma como ele lida com estas transformações, com a sua dupla vida, é de morrer. No fundo, é a luta de uma pessoa que tenta ser normal num mundo onde nada é normal. Ou, visto de outra forma, a maneira de colmatar a sua figura gentil com a de um terrorista do inferno. As duas imagens misturam-se e chegamos ao ponto em que deixamos de saber qual deles é o Negishi real: o hipster dos casacos de malha ou o psicopata dos dez FUCK por segundo.

As situações são de tal forma improváveis, arrastando-se para um universo de absurdo e non-sense que, apesar de por vezes as piadas parecerem um pouco repetitivas, nunca deixamos de nos rebolar a rir com cada um dos momentos.

Para além disso, este anime é uma crítica agressiva e acutilante ao universo da música indie, no Japão e não só. Vários grupos estão representados, cada um mais louco que o outro, e todos eles são ridicularizados. Não são só o indie pop e o death metal que são vítimas! E não são só os músicos que são vítimas! O anime faz questão de gozar com todo o tipo de fãs. Afinal de contas, grande parte do universo musical é feito por eles.

Coroando todos estes temas, existe uma banda sonora original que, funcionando como paródia a cada um dos géneros, é também brilhante por si só. Apesar de as letras não fazerem qualquer tipo de sentido, se olharmos para elas com os nossos elitistas óculos do "coisas a sério", em termos musicais, melódicos e harmónicos, são músicas muito boas e que ficam na cabeça. Satsugai Satsugai!!

A animação poderia ser a parte mais fraca do anime, mas a verdade é que este estilo, extremamente simples e ausente de detalhe, funciona na perfeição dentro do contexto. Como uma espécie de sitcom, os cenários diminutos transmitem na perfeição o ambiente dos concertos e quase que nos fazem desejar estar lá para participarmos da loucura.

Assim, com um grupo de personagens louquíssimo (Presidente, estás na minha lista!), músicas cheias de brutalidade e situações do mais extremo bizarro, temos um anime perfeito para partir a barriga em gargalhadas numa noite qualquer, em que não haja nada para fazer.



Ulisses

Ulisses
James Joyce
1914-1921
 Romance (??)

Este livro foi-me oferecido pelo Natal do ano passado. Assim que abri o presente, fiquei aterrorizada. Este é o oneroso livro que nunca ninguém que eu conheça conseguiu acabar de ler. A pessoa que mo ofereceu não conseguiu. Até o meu pai, meu exemplo e modelo enquanto leitor, não conseguiu. Mas, ainda assim, eu disse para mim própria... "Não passa de um livro, eu vou lê-lo". Recolhi coragem até agora. E, durante um mês que se revelou um verdadeiro inferno, prossegui a lê-lo. Por isso não houve comentários a livros durante este Agosto: estava presa no universo do Ulisses. Consegui? Bem, cheguei ao fim. Só me falta o posfácio, fica para mais tarde. Mas compreendi? Não sei. Gostei? Não sei.

A primeira coisa que devo dizer sobre este livro é que, em minha opinião, não é o tipo de narrativa que está feita para ser "percebida". Está feita, na verdade, para ser "percepcionada". A percepção que cada um de nós tem deste livro será, então, muito variada. É algo de tão confuso e sensorial que cada um terá a sua interpretação. Falarei, assim, da minha.

Existem três personagens centrais, embora um deles só apareça realmente no final. Começamos com Leopold Bloom, um homem que falha bastante na vida, que sai de casa para ir a um funeral. Algures no meio do caminho encontra-se com Stephen Dedalus e, penso eu, saem para beber copos em diversos locais, que envolvem bares e um barco (talvez). Durante este encontro (todas estas 700 páginas relatam apenas um percurso de 24 horas) eles discutem diversas coisas, que são repetidas até à náusea e que parecem ser algo sobre as próprias opiniões do autor. Alguns assuntos discutidos são, por exemplo:

  • Shakespeare
  • O teu deus é judeu
  • Upe
  • Corridas de cavalos (cavalo Ceptro)
  • Cães diversos
  • Prostitutas e a ciência do sexo
Tudo isto é feito num ambiente de surrealismo duro e agressivo, tornando a leitura numa batalha muito difícil de vencer, num exercício de paciência e na manifestação do desejo "quando será que vai fazer sentido". Porque na verdade nada faz muito sentido. Aparecem árvores que cantam, pessoas que gritam, cães que uivam, uma miríade de imagens e ruído de fundo que contribui para todo este pesadelo.

Pareceu-me que esta primeira parte (primeira e segunda partes, oficialmente, para além de um bom pedaço da terceira) são a manifestação de Bloom enquanto homem descontente com o seu casamento. A sua esposa é Molly e ela é vagamente referida ao longo de todo este texto, mas não sabemos muito sobre ela e, sinceramente, acabamos por nos esquecer da sua existência. Bloom liberta-se num ócio bêbado, envolvendo-se com pessoas de diversas estirpes, até - finalmente - se acalmar e chegar a casa, para beber um chocolate quente. Subitamente, o narrador muda: e agora é Molly. Ficamos a saber, de repente, que Molly também não está contente com o seu casamento.

Assim, o dia em que se passa toda esta história é uma espécie de revelação. "Ulisses" fez uma viagem pelo inferno, para regressar a casa e estar tudo errado. É exactamente o oposto da "Odisseia". Consideremos também, conforme vinha escrito na contracapa do livro, que o dia em que se passa esta história é o mesmo dia em que James Joyce conheceu a sua mulher. Assim, "Ulisses" é o oposto de James Joyce. O pesadelo poderia representar tudo aquilo que o autor viveu antes de conhecer a sua mulher. E, assim, o livro poderia ser uma muito estranha declaração de amor. Gostaria de pensar assim, talvez.

É o tipo de livro que necessita de várias leituras e bastante estudo para se poder interpretar convenientemente e para se ter uma compreensão absoluta sobre ele. Mas eu não o vou voltar a ler em tempo breve. Estou livre. Foi uma leitura muito intensa que nunca irei esquecer. Mas terminar foi um verdadeiro alívio.

2.9.15

Kill Bill Vol. 2

Kill Bill Vol.2
Quentin Tarantino
Filme
2004
7 em 10

Este filme não pode ser visto sem a primeira parte, nem a primeira parte sem este. Idealmente, terão de fazer o que eu fiz: ver os dois seguidos (e dormir às seis da manhã). Para saberem sobre a primeira parte, cliquem aqui.

Nesta segunda parte, mais detalhes importantes são dados sobre a história, sobre as razões da "vingança". Isto é feito através de diálogos exemplares, que permitem o desenvolvimento das personagens e mais razões para todos odiarmos Bill. A acção brutal da primeira parte é substituída, então, por estas inteligentes trocas de palavras, em que ficamos a conhecer mais sobre Black Mamba, sobre Bill, sobre o seu passado juntos e sobre como cada um se tornou aquilo que é hoje. Também ficamos a saber um pouco sobre o que realmente se passou antes do "casamento" e o que levou os personagens a chegar aí.

Para isto, o autor dá-nos momentos altamente intensos e extremamente impressionantes, em que a morte e a vida se confundem sem nunca haver, por um momento, a capacidade de perdão (excepto numa cena que tem tanto de terrível como de divertida, a da anunciação da gravidez). A obsessão da nossa personagem pela vingança é levada ao extremo, sendo que nem tudo corre de feição. Ainda assim, as soluções apresentadas estão muito bem pensadas, fazendo muito sentido tendo em conta os momentos de flashback que podemos ver ao longo desta segunda parte.

Estes poderão ser, talvez, os momentos menos interessantes e menos credíveis, podendo até cair no exagero temático do primeiro filme. Ainda assim, contribuem muito para o desenvolvimento dos personagens e, só por isso, valem sempre a pena.

Estas personagens não poderiam ter ganho vida se não houvesse por trás um excelente trabalho de actor. é momento para falar um pouco da actividade de Uma Thurman como Black Mamba: é perfeita. A actriz tem em conta o facto de a personagem ter saído de um coma, apresentando sempre um certo desiquilíbrio (explorado no esforço que ela fez para andar primeiramente, na primeira parte), misturado com a própria natureza de Black Mamba ser uma assassina perfeita. Assim, tão forte personagem tem sempre um elemento de fragilidade, explorado com grande subtileza, sendo o resultado extremamente fiel a esta realidade imaginada.

Em conclusão, posso dizer que Kill Bill como um todo é um filme especial e único, mesmo dentro do universo Tarantino. No entanto, não foi dos meus preferidos e não sinto grande vontade de o rever em tempos próximos, assim como não me deixou memórias muito vívidas como o fizeram outros filmes do mesmo autor.