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23.7.17

O Diário de Bridget Jones

O Diário de Bridget Jones
Helen Fielding
1995
Chick-Lit

Literatura para galinhas, prova de que eu me transcendo a mim própria na leitura de livros irrelevantes.

Bridget Jones tem mais ou menos a minha idade e está desesperada por ter um homem que a satisfaça. Mas como ela é atrasada mental corre-lhe tudo mal. Os amigos não gostam dela, ela não gosta de ninguém e acaba por concluir que não precisa de macho na vida dele e que consegue ser uma mulher independente e feliz. Mas nunca conseguirá resistir aos caprichos de ter um namorado e acaba o diário com o príncipe encantado, homem muito rico e muito bonito e muito bom e muito talentoso.

A história é inana e uma falta de respeito para toda a identidade de género e conceitos feministas. Mas o pior é que o livro está mesmo mal escrito. Isto é, não compreendi bem se o livro estava mal escrito, mal traduzido ou se a personagem era simplesmente tão ignorante que não se dá ao trabalho de escrever sem erros gramaticais no seu próprio diário.

Supostamente este é um livro com que todas as mulheres se identificam, mas eu devo ser homem porque o odiei.

D. Afonso Henriques

D. Afonso Henriques
Diogo Freitas do Amaral
2000
Biografia

Esta é uma biografia do fundador do nosso Portugal, escrito por uma das pessoas mais detestáveis do panorama político deste mesmo lugar.

Ainda assim, foi um livro que me cativou pela paixão como foi escrito. Nota-se que Freitas do Amaral, apesar de ser um maluco psicopata, é um apaixonado pela história de Portugal e, em especial, pela história do Afonso Henriques.

Neste livro ele explica-nos o contexto em que o nosso primeiro rei viveu e como é que este influenciou as suas decisões de conquistar cada vez mais terra. Aprendemos também algumas curiosidades menos conhecidas, como facto de ele ter tentado invadir Espanha e, em qconsequência disto, ter ficado com a mobilidade muito reduzida.

No entanto, o livro peca por alguns defeitos na escrita, como a utilização de muitas expressões em Inglês perfeitamente desnecessárias e a repetição de conceitos enumerados anteriormente.

Gostaria, no entanto, de dar um abracinho ao autor por ele ter tanto gosto em escrever sobre este assunto.

Castlevania

Castlevania
Sam Deats - Netflix
Animação - 4 Episódios
2016
6 em 10

O Qui sempre adorou os jogos do Castlevania. Portanto, quando saiu o anúncio de que a Netflix ia produzir uma série de animação baseada nestes, ficou logo cheio de vontade de ver. Por isso, vimos assim que saíram estes quatro episódios de vinte minutos.

A arte e animação é evidentemente inspirada no estilo animesco do Japão, fazendo uso de cores em cell-shading e expressões delicadas. No entanto, rapidamente se torna evidente de que isto é uma produção americana, por pequenos detalhes como os cenários e os diálogos.

A história é muito interessante e estes quatro episódios deixam água na boca para saber o que daqui virá. Funcionam estes episódios quase como uma apresentação dos personagens, mas ainda assim com cenas de acção muito cativantes e um recurso à violência tão brutal que se torna quase hilariante.

Infelizmente, a animação não é perfeitamente consistente em todos os episódios, sendo que o segundo foi evidentemente algo de transição em que decidiram fazer uma plena poupança de orçamento.

As vozes, dub original americana, são muito pouco convincentes, mas os diálogos também não ajudam, pela sua pouca qualidade.

Mas fiquei com muita vontade de ver a segunda season: ver como encontram o Drávula e, sobretudo, ver o que ele tem a dizer!

Reideen

Reideen
Hongou Mitsuri - Production I.G.
Anime - 26 Episódios
2007
5 em 10

Por vezes aparecem-me para ver estes animes que de nenhuma maneira fazem qualquer sentido.

Este é um mecha como todos os outros mechas. Um rapaz perfeitamente vulgar (neste caso a sua invulgaridade é saber matemática) encontra um perfeitamente vulgar tobot e com ele luta contra outros do mesmo género até aparecerem os aliens. Então tem de se escapar dos aliens e lutar contra outros robots semelhantes cada vez mais poderosos e histericamente dourados para salvar o mundo e universo em seu redor, etc. etc.

Aqui nada de novo. Poderíamos ter alguma coisa de qualidade não fossem os designs tão bizarros e o uso flagrante de CG tridimensional que fica absolutamente horroroso dentro do contexto. Já informei que é tudo dourado? Porque isso também é espectacularmente feio.

A banda sonora é de uma vulgaridade impassível e nada acrescenta.

Fica a questão: porque é que eu vi isto?

A Criação do Mundo

A Criação do Mundo
Miguel Torga
1937-1981
Autobiografia

Quando comecei a ler este livro, achei tudo tão improvável que pensava que era uma história inventada. Só muito mais tarde me atingiu a conclusão de que é uma autobiografia em seis actos de um dos autores mais profundos da nossa nacionalidade.

Miguel Torga conta a sua vida desde a infância profunda nas terras transmontanas, passando pela sua adolescência brasileira e, finalmente, a sua grande luta por se poder educar, com esforço e dedicação, contra todas as possibilidades: afinal, era muito difícil para uma criança pobre receber algum tipo de educação superior se não se tornasse seminarista (o que realmente aconteceu, sendo posteriormente abandonado)

Adorei saber que Torga foi médico e todos os pequenos detalhes da actividade, que eu reconheço pela minha profissão. O relato de alguns casos e a forma como estes mudaram a perspectiva do mundo para o autor, a luta constante entre a morte e a criação da vida, a incapacidade de resolver assuntos pela falta de meios, a falta de confiança para sempre inerente à profissão... Revi-me em todas essas coisas!

O autor fala também do tempo em que esteve preso, do sofrimento que por lá passou, não tanto físico mas emocional: afinal, nunca sabemos se vamos resistir às perguntas, à pressão, à tortura, sem antes passarmos por elas. O corajoso em potencial poderá fraquejar a qualquer momento e o autor rapidamente o reconhece.

Sobretudo, este é um livro maravilhoso porque está especialmente bem escrito. Cada palavra nos agarra e nos remete para um Portugal ligado à terra e às gentes da terra.

Fiquei com muita vontade de ler o resto da obra do autor, mas infelizmente muito dela se perdeu graças ao Estado Novo. Ainda assim, lerei o que restou. :)

José e Pilar

José e Pilar
Miguel Gonçalves Mendes
2010
Filme
8 em 10

Tinha visto este filme no cinema pouco após a morte de José Saramago, numa sessão comentada pela própria Pilar del Rio, sua esposa. Gostei tanto na altura que agora o quis rever com o Qui. Portanto, aqui vai um pequeno comentário sobre este filme que tanto me maravilhou.

Este é um documentário intimista que nos mostra, qual camera indiscreta, os pequenos momentos da vida de Saramago e da sua esposa Pilar. Atarefadíssimos com o trabalho que nunca os larga, passam juntos todos os eventos, os melhores e os piores, rodeados de pessoas que mal compreendem a sua dimensão pessoal mas, sobretudo, acompanhados um pelo outro.

Mais do que um documentário, este é o retrato de uma história de amor.

Com imagens simples e sinceras, assistimos a revelações do grande autor que nos dizem muito mais do que o esperado sobre as suas crenças e sobre a sua personalidade. É um filme que nos revela muito de pessoal sobre este personagem que sempre me nutriu tanta curiosidade.

Talvez a única parte que tenha gostado menos tenham sido aquelas pequenas intermissões encenadas, que tanto tiram da naturalidade do filme.

De resto, um filme que recomendo a todos os fãs do autor ou de qualquer tipo de literatura. :)

Dias à Margem #1


Dias à Margem #1
Evento
Este foi um evento cultural que aconteceu no passado Sábado, no Ponto de Encontro de Cacilhas, local já de si famoso pela sua actividade em prol do desenvolvimento da juventude enquanto polo de cultura.

Chegámos já um pouco tarde, pois o evento propriamente dito já havia começado pelas 15:00, sendo que ainda estivemos um pouco sentados à porta a ver as pessoas que passavam. Lá dentro, começámos por ver uma pequena exposição de fotografia que não me nutriu grande interesse, pois tratava-se de um conjunto de fotos tiradas numa festa com pessoal bezano, ie. os amigos do fotógrafo.

Na parte de fora ocorria um concerto ou DJ Set, do qual não nos conseguimos aproximar, por excesso de gente envolvida na dança e contradança sonora. De todos os modos, era hip-hop e não era nada de extraordinário. Nesse momento assistimos a algo estranhíssimo, um conjunto de pirilampos electrónicos que subiam no céu e atravessaram o rio, pousando como uma bola sobre as nossas cabeças, lá no alto. Invasão alienígena? Estrelas fugindo com medo? Quem sabe...

Finalmente, subimos ao andar de cima onde dois artistas solitários faziam um concerto de electrónica para um público inexistente.

E, no terceiro andar, encontrámos uma exposição, quiçá a parte mais envolvente do evento, em que vários artistas plásticos nos mostravam as suas perspectivas do que é um dia à margem (sul). Também estavam a passar curtas-metragens: vimos uma de extrema violência com recurso a conjuntos de imagens de arquivo. 

E assim foi. Esperemos que haja mais, porque foi divertido. :>

16.7.17

Boku no Hero Academia

Boku no Hero Academia
Nagasaki Kenji - Bones
Anime - 13 Episódios
2016
6 em 10

Um amigo gostou tanto deste anime que acabou por me convencer a adicioná-lo à minha PtW. Agora que o tinha começado a ver ele disse-me que aguardasse pela segunda season, que a segunda season é que vale a pena, etc. No entanto, a recomendação foi feita ainda esta não tinha estreado!

Bem, continuando, este é um anime típico de super-heróis, em que têm muita inspiração nos antigos comics semanais americanos, com um conjunto de heróis e vilões aparentemente invencíveis e um rapaz que tem de se tornar cada vez mais forte para conseguir lutar contra as forças do kmal. Estes personagens estão muito limitados no seu espaço, não sendo muito diferentes de outros arquétipos do shounen que já vimos milhares de vezes antes. O herói genki pode ser refrescante para alguns mas, para mim, é absolutamente cansativo.

A história é absolutamente previsível, assim como o desenvolvimento dos personagens. Dizem-me que na segunda season é que vão acontecer coisas, mas esta é a primeira e coisas deveriam ter acontecido.

A animação está engraçada, com algumas cenas de acção bem animadas e um padrão de cores muito vivaço. Os designs dos fatos dos heróis são perfeitamente absurdos e muito pouco práticos.

A banda sonora não impressiona e é recordatória de outros animes do género.

Dentro do estilo dos super-heróis, nunca daria este anime como exemplo. Muito mais interessantes achei OPM ou Tiger and Bunny. Talvez venha a ver a segunda season só por descargo de consciência, mas não estou especialmente motivada.

A Vida é Breve

A Vida é Breve
Jostein Gaarder
1996
Carta

Este livro é uma suposta tradução de um tal de "Codex Floriae", carta da amante de Santo Agostinho ao próprio, explanando as razões pelas quais teria sido muito melhor eles terem ficado juntos, em vez de Agostinho se ter convertido ao ascetismo e abstinência.

Supostamente uma tradução do latim (e, se não for, é uma mentira muito bem feita), Floria - a tal mulher que deu um filho ao santo antes da sua conversão, revela-se uma mulher culta e erudita, apresentando argumentos lógicos e apoiando-se em referências filosóficas inegáveis.

No entanto, as citações das Confissões do santo parecem estar retiradas de um contexto muitomaior e parecerem significar algo que não seria o seu objectivo inicial.

De todos os modos é um livro apaixonado, romântico e ainda assim muito simples e fácil de ler. Em uma horinha de descanso despacha-se a toda a velocidade.

Fernão de Magalhães

Fernão de Magalhães
Stefan Zweig
1975
Biografia

Não tenho muito por uso ler não-ficção, mas desta vez calhou. Uma biografia de Fernão de Magalhães, português, argonauta e a primeira pessoa a dar a volta ao mundo por via marítima, provando definitivamente que este planetazito é, sem mais discussões, esférico e redondo.

Aprendemos sobre a vida deste personagem histórico nos seus meandros desde a infância até à sua morte, com todas as consequências seguintes das suas descobertas náuticas. É muito curioso ver alguns detalhes que não nos foram bem explicados nas aulas de história, nomeadamente os traços da personalidade rígida e férrea de Magalhães, com a qual ele consegue lidar na perfeição com motins , revoltas, com a fome nos seus navios e com outros problemas que vão aparecendo ao longo da viagem. Também é muito interessante ver como é precisamente esta personalidade imbatível que leva ao fracasso da missão enquanto conquista de novos espaços, pois Magalhães é morto em combate de uma forma um pouco ridícula (bem, na altura ninguém deve ter achado graça nenhuma).

Para além do mais o livro está escrito de uma maneira muito cativante e viciante, que nos elva realmente a querer saber o que vai acontecer, como se de um verdadeiro livro de aventuras se tratasse. Claro que a viagem de Fernão de Magalhães foi uma aventura, mas daquelas reais!

Koe no Katachi

Koe no Katachi
Yamada Naoko - Kyoto Animation
Anime - Filme
2016
8 em 10

Depois de uma pessoa ver tanto anime, começa a pensar que já nada a vai surpreender. Sobretudo, que já nada sobre a vida real a vai surpreender. E é então que surge este filme. "A Forma da Voz" é um romance inesquecível, uma história de crescimento pessoal e um encontro com a nossa própria adolescência perdida. Vejamos.

Um rapaz do sexto ano diverte-se com os seus amigos, até ao dia em que aparece uma nova estudante na turma. Shouko tem uma característica especial: é surda. E isso leva a que todos gozem com ela, sendo que rapidamente se torna a preferida vítima de todas as partidas. Muitos anos mais tarde, todos se voltam a encontrar. Mas será que as feridas do passado estão curadas?

Com um conjunto de personagens de excelência, com vozes muito bem trabalhadas, temos uma história sobre o passado e sobre o presente, uma história que pode não ter futuro mas que a qualquer momento se pode alterar. São pessoas, são humanos, com uma sensibilidade em tudo semelhante à nossa, com problemas que qualquer pessoa que tenha tido uma adolescência complicada poderá compreender. No meu caso, o filme tocou-me de uma maneira especial: se Shouko é surda, também nós poderemos ter um pouco dessa surdez. A incapacidade de nos ouvirmos uns aos outros, a incapacidade de nos vermos uns aos outros, a incapacidade de nos compreendermos uns aos outros. E à medida que o filme se vai desenvolvendo, acabamos por encontrar um ponto de equilíbrio: a forma da voz não é só a capacidade de a ouvir. É, sobretudo, a capacidade de a compreender.

A animação é, também ela, um foco de brilhantismo. Com cenários extraordinários, de uma beleza e detalhe quase fotográficos, um uso de cores e luzes emocionante, todos os momentos deste filme são um encontro com a pura beleza. Os cenários são poucos, reduzidos, mas reflecte-se neles a mudança das estações e a mudança da história que vai acontecendo em volta.

Finalmente, a banda sonora. Com um conjunto muito reduzido de peças, temas em variações, todas elas nos transmitem um sentimento de melancolia, de ausência, de saudade de um tempo que foi desperdiçado e não mais voltará.

Um filme que me tocou muito pessoalmente e que recomendo vivamente.

Moonlight Mile: Lift Off

Moonlight Mile: Lift Off
Suzuki Iko - Studio Hibari
Anime - 12 Episódios
2007
5 em 10

Este é um anime sobre a exploração espacial. Aliás, um anime sobre a competição para ser um astronauta digno de de fazer a dita exploração espacial.

Um homem escala montanhas e, depois de chegar ao topo do Evereste, promete ao seu amigo que ambos irão escalar as grandes montanhas do espaço e da lua. Mas nem tudo é assim tão fácil e existe uma imensa guerra interna para ver quem chega primeiro à escola dos astronautas.

Os personagens têm o seu interesse, sobretudo o principal, mas existe muito pouco desenvolvimento para além do "eu sou melhor que tu". As relações entre eles são muito forçadas e relativas à luta para chegar a astronauta. A partir do momento em que eles chegam lá tudo se torna muito mais aborrecido, porque o mote principal se perde.

É um anime um pouco violento em palavras e acções, embora não haja sangue nem nada do género. Existem muitas cenas de nudez e sexo, em que é patente a fraquíssima qualidade da animação. Existem erros anatómicos pavorosos e que não fazem sentido para um grupo de profissionais e também há um uso muito evidente de CG, que acaba por ser utilizado nas ocasiões menos adequadas. De resto, não existe nada de especialmente impressionante quer na maquinaria quer nas paisagens e cenários.

A música também é pouco impressionante e não fica na memória.

Fiquei sem vontade de ver a segunda season.

Antigas e Novas Andanças do Demónio

Antigas e Novas Andanças do Demónio
Jorge de Sena
1976
Contos
Este é aquele tipo de livro que eu gostaria de ter escrito. Todos os contos são tão feitos para mim que eu sinto que poderia ter sido eu a criá-los. E isso dá um gozo tão grande quando se lê que não posso deixar de recomendar.

Estes são contos, escritos ao longo de vários anos, sobretudo os da juventude do autor,. que falam de pequenas coisas que podem ou não ser ligeiramente demoníacas. São contos estranhos, muitas vezes surreais, muitas vezes com um toque de infantilidade perversa que os torna absolutamente inesquecíveis.
 
O meu conto preferido, e que me ficará durante muito tempo na memória, é o do peixe-pato. Achei-o igualmente triste e encantador, um pouco aterrorizante, como um sonho que tem tudo para dar uma noite descansada mas que se vai alterando até se tornar num foco de melancolia.
 
Não gostei especialmente dos vários contos dedicados ao Natal, pois me pareceu que a caracterização deste feriado estava feita de forma demasiado religiosa (embora seja difícil de fugir a este facto).
 
De todos os modos, foi um livro que adorei ler e que adorarei reler um dia mais tarde. Espero que, podendo, lhe dêem também uma oportunidade!

Doutor Jivago

Doutor Jivago
David Leans
1965
Filme
7 em 10
Vimos este filme em dois dias, porque é sem dúvida demasiado longo para a nossa existência. Terei de, necessariamente, compará-lo com o livro.

Este épico do cinema conta-nos a história dos amores e desamores de Doutor Jivago, um médico apanhado no seio da revolução russa, com todos os problemas que isso acarreta. Infelizmente, Jivago é aqui caracterizado como uma pessoa plena de fragilidades, que ama apaixonadamente por razões arbitrárias, enquanto que no livro o personagem era uma pessoa ausente que ia mudando de cidade e de esposa com o vagar do vento, uma espécie de Don Juan inveterado interessado unicamente na sua procura pessoal. Aqui, existe enquanto poeta incompreendido pela sociedade, que se alterou subitamente, apresentando-se como uma pessoa passiva que não consegue controlar os seus impulsos de artista.

Assim, a história do filme encontra-se completamente alterada relativamente à do livro, baseando-se nas duas mulheres de Jivago e da sua relação com este homem a quem só acontecem azares que levam à consequente separação daqueles que ama. Tudo o que lhe acontece é por acaso e ele não parece tomar nenhum tipo de decisão, excepto no capítulo final em que se recusa a abandonar a Rússia e, evidentemente, irá morrer às mãos dos revolucionários, uma espécie de suicídio cultural motivado por elementos estranhos ao personagem, que não aparenta ter uma causa e razão para s sua decisão fatalista.

No entanto, o filme tem alguns pontos muito positivos que não poderemos deixar de notar. Os actores são surpreendentes na sua sinceridade e naturalidade, fazendo um trabalho que tem tanto de teatral como de cinematográfico. As suas expressões são detalhadas e delicadas, transmitindo precisamente todos os pensamentos e sentimentos das personagens, embora estas sejam um pouco fracas em comparação com o livro. Também a cinematografia, relativamente às imagens, edição e fotografia, é extraordinária. Apresentam-se-nos desesperantes paisagens geladas, de uma beleza petrificante, o que ajuda muito à transmissão do que realmente se passa em termos de caracterização.

Também temos uma banda sonora épica, contundente, que muito ajuda na solidificação do filme enquanto unidade.

Fiquei um pouco desapontada por ser muito diferente do que estava à espera, mas não deixa de ser um épico imperdível.

10.7.17

Irmãos Catita

Irmãos Catita
Concerto
A propósito do Festival Internacional de Teatro de Almada, inauguraram os Irmãos Catita, banda tão respeitada no círculo cultural, o espaço "café-concerto": concertos na esplanada de um dos palcos participantes neste festival.

Pois que chegámos na dúvida se o concerto seria à meia-noite ou uma hora antes: na agenda dizia uma coisa, depois eventos diversos na internet diziam coisas diferentes. Mas, pelos vistos, chegámos a tempo. Imediatamente constatámos que a maior parte do público presente era uma fila interminável para a obtenção de fontes de hidratação. Decidimos ir buscar as ditas cujas ao café do lado.

Mais tarde, começa o concerto. Percebe-se de imediato que algo errado se passa: a voz não se ouve. Mais especificamente, a voz do Vieira não se ouve. Tudo o resto se ouve, menos a voz do senhor. Felizmente, este consegue lidar com a situação que nem um lord, hidratando-se com coptios oferecidos por caridosos voluntários. Tantas vezes ignorados foram eles, mas sempre voltaram, sempre regressaram, com os copos necessários para a hidratação da banda.

As músicas eram sabidas de todos nós, de todos nós menos da própria banda. Vieira admite-o logo ao início, demonstrando soberbo talento na leitura da letra escrita num tablet. Claro que, de vez em quando, havia coisas que estavam mal escritas, pela ordem errada ou que não faziam sentido. Mas, que mal tem isso?

De resto, foi um concerto realmente divertido, porque estas letras, estas músicas, são tanto badalhocas como quase surrealistas. E é nesta falta de sentido que está a verdadeira diversão de ouvir esta banda.

As condições não terão sido as melhores, mas não teria escolhido outro programa para a noite.

Tsuki ga Kirei

Tsuki ga Kirei
 Kishi Seiji - feel.
Anime - 12 Episódios + 1 Special
2017
5 em 10


O outro anime que vi desta season que terminou agora. Escolhi ver este porque me apetecia um shoujo fofinho, mas parece que já não se faz disso.

Esta é uma história de crescimento colectivo, de um grupo de jovens enquanto amigos e enquanto turma, tendo como foco final a fatalidade de que todos se irão separar no fim do ano lectivo e ir cada um à sua vida. Ora, tudo isto seria muito interessante se: 1. os acontecimentos ocorridos durante a série fossem minimamente relevantes; 2. os personagens estivessem minimamente caracterizados.

Tendo isto em conta, o anime não passa de uma sucessão de situações extremamente calmas, em que os personagens não aprendem nada, em que os personagens pouco intervém e, no fundo, mal participam. Sendo este uma espécie de fatia-de-vida, com um ligeiríssimo romance à mistura, seria de esperar que acontecessem coisas. Não acontece nada.

A arte é bonita e é isso o que salva o anime. Temos uma paleta de cores muito suaves, quase tudo numa tonalidade pastel que liga bem com as paisagens, detalhadas e aquareladas. Os designs dos personagens são, no entanto, um pouco estranhos: se por um lado não se distinguem uns dos outros, por outro lado temos um tipo com cabelo cor de rosa.

Musicalmente, é também um anime fraco, pois a banda sonora é semelhante ao que já vimos em tantas outras situações.

Muito desapontante.

9.7.17

Seikasuru Kado

Seikasuru Kado
Murata Kazuya - Toei Animation
Anime - 12 Episódios + 1 Special
2017
6 em 10
Estive a ver muito poucos animes nesta season de Primavera que passou. Este foi um dos que acabou de terminar.

Um grupo empresarial Japonês vai fazer uma viagem quando aparece um cubo gigante que os absorve. Dentro desse cubo vive uma misteriosa criatura com poderes bizarros, que poderão vir a ser muito positivos para a humanidade em geral. Assim, começa um processo político-social de tentar descortinar as intenções do dono do cubo e, ao mesmo tempo, analisar a sua estrutura de forma a conhecê-lo melhor.
 
É um anime realista: se nos víssemos na mesma situação, o que faríamos? No entanto, o desenvolvimento da relação entre os personagens acaba por se tornar um pouco forçado, à medida que aparecem mais seres estranhos envolvidos. A trama política pareceu-me o aspecto mais interessante, embora para muitos espectadores isto seja pouco atractivo.
 
A animação é muito interessante em alguns aspectos, nomeadamente o design e estrutura do cubo. Os personagens, na maior parte do tempo, estão animados  num CG em cell shading, muito discreto mas ainda assim fácil de notar para um olho mais atento. Isto faz com que a maior parte dos seus movimentos não tenha densidade ou peso, o que torna tudo muito estranho.
 
Temos uma banda sonora pequena, por vezes repetitiva, insistente em grandes épicos corais nos momentos mais despropositados.
 
Ainda assim, foi o meu anime preferido desta season que passou. De onde se conclui que foi mesmo muito fraca.

Taiyou no Kiba Dagram

Taiyou no Kiba Dagram
Takahashi Ryosuke - Sunrise
Anime - 75 Episódios + 1 Special
1981
5 em 10

Se por um lado Dagram é um anime de robots gigantes um pouco diferente do habitual, é o tipo de série que se deixa influenciar tanto por outros trabalho que perde, à partida, muita da sua originalidade.

Desta feita, o ambiente é de guerrilha. Tentando realizar golpes de estado (às vezes resultam, outras falham), um grupo de soldados guerrilheiros conta com a participação de Dagram, um robot que não sendo especialmente poderoso é o que está à mão para lutar contra os inimigos do novo ideal.

Assim, vemos muitas cenas que tentam explicar o sofrimento pelo qual as pessoas passam enquanto estão no regime, enquanto que por outro lado as forças libertadoras são vistas como um grupo de gaiatos muito divertido, solidário e amigo do seu amigo, uma muito genki força do bem versus maléficos soldados.

Existem demasiados personagens e demasiadas histórias entre eles para que se capte o interesse para o foco principal. Existe uma presença feminina (muito fraca, por sinal) sempre misteriosa, que apoia os jovens com as suas capacidades diplomáticas. Mas isto não contribui muito para o desenvolvimento da narrativa que, até aos episódios finais, se manteve em águas de bacaljau numa sucessão de batalhas e de experiências com novas armas.

A animação, como é natural num anime tão longo desta época, é infeliz. Não existe detalhe nos cenários ou designs, o robot é demasiado genérico para que se distinga até dos inimigos, as cenas de batalha são primitivas. Paleta de cores muito reduzida e quase nenhum sombreamento que nos transmita algum tipo de textura. A bidimensionalidade no seu melhor.

Musicalmente, temos sempre o mesmo conjunto de meia dúzia de peças, que aparecem sempre nos mesmos momentos dos episódios.

Ainda assim, tem de se dar o merecido valor a uma série que, nesta época, se esforça por tocar nos temas da ditadura, da repressão e da luta pelos ideais da juventude e da liberdade.

Não existisse uma coisa chamada Gundam, talvez se destacasse mais.

8.7.17

Aura

Aura
Carlos Fuentes
1962
Novela

Quase um conto, com apenas oitenta páginas, um livrinho diminuto que se lê em meia hora no café.

O aspecto mais curioso será o facto de que está narrado na segunda pessoa do singular, coisa que vejo muito raramente. Isto acaba por tornar a identificação com a situação, pela parte do leitor, muito mais directa e simples, como se Felipe - o personagem - pudesse ser qualquer um de nós. Como se qualquer um de nós reagisse daquela forma à situação relatada.

Esta, para não revelar o mistério, é simples e já muitas vezes vista, acabando também por ser um pouco previsível. No entanto, a forma como tudo está narrado torna tudo muito mais denso do que seria de outra forma, transmitindo a estranheza do surreal e a variedade de emoções dos intervenientes.

Um pequeno exercício de surrealismo, sem dúvida muito bem montado.

Vinho Mágico

Vinho Mágico
Joanne Harris
2000
Romance

Um livro mais ligeiro para variar dos clássicos da minha nova TBR.

O personagem principal é um escritor que teve apenas um grande sucesso, tendo depois se convertido a escrever ficção científica barata. Como é natural, está farto da sua vida na roda viva inglesa e, num impulso, compra uma casa de campo em França. Lá, irá descobrir segredos do seu passado e inserir-se numa nova comunidade, descobrindo também os seus próprios mistérios.

O livro tem o seu interesse, mas os flashbacks constantes à remota adolescência do personagem tornam-se aborrecidos devido à sua frequência. A maior parte dos aspectos aí relatados não têm qualquer influência nas ideias actuais da história, sendo que o personagem recorrente (e fantasma) do velho Joe não recebe suficiente caracterização em nenhuma das partes, passada ou futura.

Os mistérios que se vão desvendando são irreais na medida em que pecam por uma falta de lógica exuberante. A conclusão do posfácio torna todos felizes para sempre das formas mais improváveis possível.

Para além disso a dicotomia inglesa/francesa está muito mal explorada.

De resto, lê-se bem.

4.7.17

Mazurca para Dois Mortos

Mazurca para Dois Mortos
Camilo José Cela
1985
Romance

Livro estranho e denso, conta a vida diária de uma aldeia na Galiza, antes, durante e depois da guerra civil.

O livro conta com uma enumeração constante, quase repetitiva mas ainda assim melódica, de grupos de personagens, famílias, referindo sempre, uma e outra vez, as características principais que o narrador encontra nas pessoas. O narrador pode não ser sempre o mesmo, pois existem ocasiões em que se refere a si mesmo de diferentes formas: o narrador pode até ser o próprio autor, mas tambékm pode ser qualquer uma das personagens.

No final acabamos por perceber que o que procurávamos desde o início era saber de que forma morreram os dois mortos: isto não nos é nunca revelado e é apenas uma inferência que se tira após toda a leitura.

No entanto, não gostei mesmo nada dos elementos sexuais, sempre repetidos, sempre constantes, que demonstram uma falta de valorização do ser feminino e do próprio ser humano, em que toda a gente é tida como porca, suja ou incapaz de fazer o que quer que seja. As pessoas deste livro não sabem o que deve ser feito nem porquê, apenas limitando-se a criticar e a ofender todos os outros.

Foi a minha segunda experiência com o autor, desta feita em português, e desapontou-me um pouco.

Giovanni no Shima

Giovanni no Shima
Nishikubo Mizuho - Production I.G.
Anime - Filme
2014
6 em 10

Um filme com muito de história que mostra uma faceta desta que era desconhecida para mim (e, possivelmente, para outros visionantes): o apoderamento russo de certas ilhas japonesas, no pós-segunda guerra mundial.

Dois miúdos gostam de comboios e de viajar pelo espaço da imaginação, como no famoso livro "Night on the Galactic Railroad" (cujo nome só sei em inglês, perdoem-me). Tudo está normal até ao dia em que chega um barco de guerra russo e estes começam a tomar conta da escola, das casas e das posses de toda a gente. As pessoas não têm o que comer. Enquanto isso, um dos rapazes faz amizade com Tanya, uma loirita que - fantasticamente - compreende japonês. Ele, fantasticamente, também compreende russo. Falam nas duas línguas, uma cada. Penso que isto, no contexto do filme, seria para demonstrar algum tipo de barreira linguística, mas tem o efeito diametralmente oposto.

Enfim, depois são levados para a Rússia, onde passam frio.

É um filme melodramático e altamente previsível, que não acrescenta nada de novo ao cinema desse ano nem ao da década. De certa forma, parece um decalque de outros filmes não muito bons, como o Grave of the Fireflies.

Distingue-o a arte e animação, que está usada de forma excelente, com uma óptima utilização de formas, texturas e cores. Os designs dos persongens estão muito simplificados, mas num filme de apenas uma hora e meia isto acaba por não incomodar.

A música é também um pouco repetitiva.

Um filme interessante para quem quiser conhecer uma perspectiva desta parte da história.

Os Jardins de Luz

Os Jardins de Luz
Amin Maalouf
1991
Romance

Este é um romance histórico um pouco diferente do habitual. Foi a minha única compra na Feira do Livro e gostei bastante dele.

Conta a história de Mani, fundador e profeta do Maniqueísmo, fé que ganhou popularidade nos primeiros séculos depois de Cristo para depois ser esquecida. Conta-nos o autor como Mani, o profeta, teve as suas visões e mostra-nos um pouco de como elas divergiam das vigentes, pregando a união e a busca pela perfeição. E, afinal, não era isso o que os outros profetas diziam?

Entretanto, Mani é tido como conselheiro de diversos reis, príncipes e outra nobreza, sendo isso o que mais tarde causa a sua desgraça. Ele viaja pelo mundo conhecido dessa época (bem maior do que possamos imaginar) e encontra diferentes hábitos e crenças que muito se unem com a quele ele tenta transmitir.

O mais surpreendente é constatar como estas sociedades da antiguidade eram tão evoluídas em termos de equilíbrio social, higiene e outras necessidades básicas que foram esquecidas após a sua queda.

Gostaria de o partilhar no BookCrossing, mas antes vou emprestá-lo ao meu pai.

Okja

Okja
Bong Joon-Ho
2017
Filme
8 em 10

Há certos filmes que revolucionam. Revolucionam a indústria, revolucionam a crítica. Revolucionam-nos. Este é um destes casos.

Produzido pelo canal online Netflix, este filme é único pela sua distribuição: não passou pelas salas de cinema, excepto em excepções muito exclusivas, e foi libertado directamente na internet para que quem fosse assinante do canal o pudesse ver sem restrições. E, claro, quem não for assinante também o encontrará com toda a facilidade. Para além disso há uma escolha delicada dos participantes, havendo aqui uma mistura entre o americano e o coreano que não pode4 deixar de funcionar bem. Mas, com isto tudo, o filme poderia ser uma vulgar peça televisiva. Será?
 
Okja é um super-porco, supostamente perfeitamente natural, nascido miraculosamente numa quinta. É enviada para a Coreia do Sul, onde é criada por uma menina e o seu avô. Mas, dez anos depois, o projecto está concluído e agora será levada de volta para os EUA, para ser apresentada como a melhor super-porca e demonstrar o quão ecológica esta espécie é. E, sobretudo, o quão saborosa.
 
Esta é uma história irónica que nos apresenta a crua realidade da indústria da carne de uma maneira simpática o suficiente para poder ser vista por qualquer um sem nos impressionar grandemente. Mas eu conheço a indústria. E posso dizer-vos que é exactamente assim, o que torna o filme deveras assustador. Temos em oposição a grande empresa, liderada por uma Tilda absolutamente aterradora, e os revolucionários, uma Animal Liberation Front choninhas quue se afasta tanto da realidade que chega a ser cómica.
 
E, no final, podemos apenas concluir que não podemos lutar nunca contra o sistema, por mais que mostremos a realidade às pessoas.  Como diz a vilã... "Se for barato as pessoas compram".

E, assim, fica o sentimento agridoce de que este filme não mudará nada. Mas pelo menos tentou. Uma fábula inesquecível, perturbadora e triste. Talvez alguém sinta alguma coisa.