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29.4.16

O Amante Japonês

O Amante Japonês
Isabel Allende
2015
Romance

Este livro foi-me oferecido pela minha mãe pelo Natal do ano passado. Já há muitos anos que não lia nada desta autora e, por isso, não me recordava bem do seu estilo. Assim, não tinha muitas expectativas em relação a este novo romance. Na verdade, acabei por o consumir avidamente num único dia, sem nunca o largar! Absolutamente viciante!

Este livro conta a história de um amor que ultrapassa gerações, misturando histórias sobre histórias em diversas camadas narrativas, mas de uma forma tão directa e simples que não deixa de ser apaixonante. Tudo começa quando uma rapariga, que tem os seus próprios segredos, começa a trabalhar num lar de idosos. Lá, conhece Alma e o seu neto. A partir da recolecção das memórias desta velhota, descobre o seu principal segredo, sendo que - ao explorá-lo - encontra uma história muito diferente do que lhe contam as fontes oficiais.

Este livro toca em assuntos diversos e, por vezes, difíceis de confrontar. Para começar, o racismo: a história de como a comunidade Japonesa nos EUA foi erradicada para campos de concentração durante o final da Segunda Grande Guerra. Depois, conta-nos um pouco da diferença entre classes. Também nos fala de abusos sexuais, de homossexualidade... No fundo, toca em todos os assuntos que podem ser fracturantes na relação interpessoal de uma comunidade. Talvez isto faça com que o livro se perca um pouco do arco narrativo principal.

O final é bonito, mas um pouco místico demais para o resto do contexto da história.

De qualquer forma, gostei imenso! Tanto que irei fazer um Ring, para o partilhar pelo BookCrossing :)

As Noites das Mil e Uma Noites

As Noites das Mil e Uma Noites
Naguib Mahfouz
1982
Romance 

Recebi este livro pelo BookCrossing, no primeiro ring de um novo membro. Como era um novo membro e o livro parecia muito interessante, não pude deixar de participar :) Embora a edição que tenha recebido seja diferente da desta imagem que encontrei.

Naguib Mahfouz é o único prémio Nobel de língua Árabe até agora. E ele tem realmente uma mestria absoluta enquanto contador de histórias. Neste pequeno livro, ele conta-nos o que acontece depois de Xerazade terminar a sua milésima primeira noite. Tudo está bem quando acaba bem, mas será que na cidade deste sultanato tudo vai ficar como esperado?

Através da acção de diversos génios, com mais ou menos maldade dentro deles, os vários habitantes desta cidade encontram problemas que os confrontam com a linha entre o bem e o mal. E é a decisão que têm de tomar perante estes que define o futuro da sua vida e, consequentemente, o futuro desta cidade e deste bairro.

Cada história, de cada personagem, é mística e misteriosa, recriando um ambiente fantasioso árabe que apenas conseguimos encontrar nessas antigas histórias e que, parece-me, se perdeu um pouco com os acontecimentos recentes. Este livro faz-nos ganhar uma fascinação pelo ambiente, mas também um certo respeito pela religião muçulmana, que é relatada sempre como uma crença que procura a paz e o entendimento e, sobretudo, fazer o bem. Quando o bem não é feito, qualquer que seja aquilo em que acreditamos, há sempre um castigo divino operado pela mão humana. Que sempre é violento.

Isto acaba por ser, de certa forma, irónico. Deus é paz, mas também é violência. Talvez isto seja a confrontação entre o bem e o mal que os personagens encontram ao longo dos seus percursos.

De resto, fiquei muito curiosa com este autor e espero ter a oportunidade de ler outras obras.

Purple Rain

Purple Rain
Albert Magnoli
1984
 Filme
6 em 10 

Este 2016 tem sido um ano trágico para as vidas famosas, pelo menos da música. Desta vez, a vítima foi um artista que eu conhecia pouco: Prince. Assim, em celebração da sua obra, passámos o fim de semana longo a ouvir os seus sons e aproveitámos para ver também o filme que o lançou no mundo do cinema, granjeando-lhe também um óscar para melhor banda sonora.

No entanto, não se pode dizer que o filme seja especialmente bom. Prince estrela como The Kid, o problemático líder de uma alternativa banda que toca numa discoteca todas as noites para ganhar a vida. The Kid tem problemas diversos: a sua família está quebrada, a sua banda está prestes a separar-se, a sua namorada torna-se competição artística... Será que ele vai conseguir criar uma música suficientemente especial para se redimir e para se encontrar com os corações das pessoas?

Infelizmente, este personagem está construído de tal forma que é impossível para qualquer pessoa num estado normal identificar-se com ele. O pobre Prince dá o seu melhor para interpretar uma personagem tão terrível, uma pessoa violenta que apenas aprende mais violência a partir do seu exterior, para quem a apoteose final parece não revelar nada sobre a sua evolução e apenas uma dedicação inusitada à figura paterna que, para mais, é horrível. Talvez o melhor actor seja este, na verdade. Quanto à rapariga, parece estar ali apenas para tirar a camisola e aparecer com lingerie terrívelmente datada.

Sem dúvida que o valor do filme se encontra, em exclusivo, na banda sonora. Toda ela composta (e praticamente toda) e interpretada por Prince, estabelece uma sonoridade pop revolucionária para a época. As cenas dos concertos também são muito interessantes, devido à originalidade do público e à intensidade das performances, que nos remetem para esse local e para essa época.

De resto, é um filme noveleiro e bastante medíocre, que não faz jus ao artista que lançou.

Brasil

Brazil
Terry Gilliam
1985
Filme
7 em 10

Segunda noite em isolamento e vamos ver um filme completamente louco, realizado pelo senhor que animava os bocadinhos dos Monty Python (e também com alguns deles).

Este filme é a verdadeira acepção do termo cyberpunk. Como sabemos, toda a ficção científica é adaptada à sua era. E, neste caso, está intimamente ligada com os aspectos relativos aos anos 80. Todo o ambiente tem uma aura de falsidade, sendo que todos os objectos (tubos, paredes, etc.) aparentam ser feitos do mais simples cartão. E isto, além de poupar dinheiro, conjuga-se perfeitamente com o tema do filme.

Um homem é escravo de um universo burocrático, onde vive e do qual se alimenta, não desejando nada mais do que a simplicidade da vida. Não procura sucesso nem felicidade, não tem qualquer tipo de ambição. No entanto, tem um sonho... No dia em que é visitado por um revolucionário que arranja esquentadores ilegalmente (isto é, sem passar pelo processo burocrático) a sua vida vira-se ao contrário e ele vê-se envolvido numa conspiração, entre as autoridades e terroristas. Mas será que até a conspiração é um sonho?

Todo este universo é recordatório de Kafka: a luta pelo espaço no universo de papelada impossível, a procura de uma autoridade que nunca existe e que nunca o pode atender, o facto de estar perdido num local incompreensível mas que ainda assim é perfeitamente conhecido.

Assim, o filme é uma intensa experiência imaginativa, cheio de detalhes preciosamente hilariantes com os quais não podemos deixar de gargalhar.

Finalmente, diga-se que o filme não tem nada a ver com o Brasil, sendo que este é apenas o título da canção recorrente (Brasil, Brasil, lalalalalala, tão a ver?) Também dizem que tem este título devido ao fim da ditadura militar nesse país, mas não vejo a relação com o tema em questão.

De qualquer forma, recomendo vivamente, é uma experiência muito interessante!

Hail, Caesar!

Hail, Caesar!
Ethan & Joel Coen
2016
Filme
6 em 10

Finalmente este filme apareceu por aí numa qualidade aceitável, então aproveitámos a nossa viagem ao mundo do campo para o vermos. Foi assim a primeira noite. Infelizmente, houve um erro com as legendas e não tínhamos internet para tirar umas novas, portanto teve mesmo de ser visto sem elas. Eu tive alguma dificuldade, porque praticamente todos os personagens têm um cerradíssimo sotaque, o que para mim é um pouco complicado de compreender.

Adiante.

Este filme fala sobre a época dourada do cinema, mas de uma maneira que não a torna nada dourada. Vários personagens estão concretizando uma série de filmes, mas acabam todos por se encontrar em conclusão. E, no fundo, os nossos Irmãos Coen tecem aqui uma crítica cerrada aos acontecimentos cinematográficos dessa época, retratando tudo como ridículo, exagerado e estupidamente brilhante, em contraste com as pessoas envolvidas que são todas incapazes e, como dizia um crítico qualquer, "bovinas".

No entanto, este aspecto bovino dos personagens acaba por se desvanecer com o seu desenvolvimento que, sempre puxando o lado cómico de todas as coisas, se revela subtil e orquestrado de tal forma que as mudanças próprias dos personagens se diluem nas mudanças do cinema da época: através destes personagens podemos observar as alterações que se seguem na indústria, prevendo os dias de hoje.

De resto, talvez um dos filmes mais hilariantes destes autores!

Coleccíon Masaveu

Coleccíon Masaveu
Museu Nacional de Arte Antiga
Exposição Temporária

A expoisção já terminou há algumas semanas, sendo que eu e o Qui fomos precisamente no último dia. Mas só agora me sentei para falar um pouco sobre ela. Achámos por bem ir porque uma amiga estava a trabalhar como guia da exposição e, assim, era uma boa ocasião para lhe dar um oi :) Acabou por nos fazer uma espécie de tour privada, explicando os quadros um a um (excepto um deles, classificado como "Boring"), o que foi uma ajuda preciosa para compreender o que se estava a passar por aqui.

Esta colecção é o conjunto privado de uma série de quadros, coleccionados por uma família de senhores espanhóis importantes, dedicados a fábricas de cimento e outras coisas, que - pelo sinal - têm montes de papel. Assim, coleccionaram ao longo de três gerações um conjunto de preciosos elementos do mundo artístico espanhol, sendo que alguns foram reunidos nesta exposição temporária no Museu Nacional de Arte Antiga. Repare-se que a maioria destas obras vieram de casas privadas e escritórios, onde as pessoas têm a (relativa) sorte de as poder ver todos os dias.

Tudo começa num tempo longínquo, na época medieval, em que os artistas se dedicavam a pintar cenas religiosas escabrosas, decorando-as com picotados típicos das obras do país. Adiante, começamos a ver cenas da vida normal e naturezas mortas, mas sempre tudo muito pegado aos santos, aos Jesuses, às Marias e a essa gente toda. A parte que mais me assustou nestes quadros foi o facto de muitos dos santos e Marias estarem a elevar-se rodeados de cabeças de crianças com asas, o que é perturbador como tudo.

Claro que havia por aqui alguns quadros impressionantes, mas desta secção o que mais gostei foi uma pequena estátua, tão detalhada que até tinha a textura da barba do senhor representado.

Depois há uma mudança radical! De repente, passamos para uma arte um pouco mais moderna, introduzinto o famoso Goya com alguns pequenos desenhos que pintou ao longo da sua vida. Aparentemente, esta é a secção da colecção que começa a ter mão do filho, que aprecia menos temas religiosos e mais temas da nossa vida real. Há alguns quadros com uso extremo da luz solar, que transmitem um calor de pavor, mas o que eu gostei mais foi este, que passo a citar:





Também gostei muito de um que tinha crianças a nadar, porque tinha uns truques muito giros com a luz que transmitiam perfeitamente a textura da água. Mas esse não acho imagem para por aqui.

Enfim, agora já não posso recomendar que vão à exposição, mas estou ansiosa por ver outras, fiquei mesmo motivada para este universo da arte pictórica! =D

Para a próxima, lá estarei!




22.4.16

Astronomia

Astronomia
Mário Cláudio
2015
Romance

Recebi este livro pelo Natal. Já há algum tempo vinha alimentando curiosidade por este autor, pelo que o presente veio mesmo a calhar.

Este livro compõem-se de três partes distintas que nada têm a ver com o título proposto. Aliás, o tema estelar nunca é tocado ao longo de nenhuma parte da narrativa, com excepção devida para a parte finalíssima.

Na primeira parte assistimos à infância de um personagem, por enquanto conhecida por "o velho", num universo caseiro e escolar ainda inflamado por uma guerra e pela pobreza. Ainda assim, descobrimos que esta criança tem uma grande paixão pelos livros e por tirar apontamentos destes, nem sempre apropriados para a situação que está a ser relatada. Esta foi a parte do livro de que gostei mais, porque tem toda uma aura de fantasia e de felicidade que é apenas característica das crianças.

A partir da segunda parte, figurada por um "rapaz", tudo começa a ficar um pouco mais estranho. Vamos acompanhando a adolescência e o início da vida adulta desta pessoa, revelando os seus gostos, prazeres, traumas (com uma breve referência à guerra colonial, que pensei - pela sinopse - que seria muito mais apontada) e paixões. No entanto, comecei a reparar numa certa coincidência... É que o percurso deste rapaz parecia exactamente o mesmo que o do próprio autor, conforme descrito na aba do livro! Mas... Que se passa aqui afinal? Será que afinal de contas estou a ler uma autobiografia? Mas para que quero eu saber da vida de uma pessoa que nem sequer conheço? E se não for uma autobiografia? Que raio de autor faz uma auto-inserção deste nível num personagem?

Finalmente, na terceira parte, temos o "menino", que é o personagem numa idade avançada. Aqui o autor faz elocuções extremas sobre as tecnologias e os acontecimentos do "agora", que me pareceram arrogantes e, sobretudo, maldosas - sobretudo no relativo ao insurgir de novos autores, que, pelos vistos, não têm o direito a cansar a pobre hipocondria do personagem com suas inutilidades.

Ainda assim, temos de admitir que o livro está muito bem escrito, fazendo uso de muito rico vocabulário. É um livro excelente, mas a atitude é que é má.

20.4.16

Akagami no Shirayuki-hime 2nd Season

Akagami no Shirayuki-hime 2nd Season
Ando Masahiro - Bones
Anime - 12 Episódios
2016
6 em 10
 
Depois de ver a Primeira Season tinha ficado bastante curiosa para saber a continuação, por isso não perdi a instância seguinte. Infelizmente, desapontou-me um pouco.

Esta season pega exactamente no local onde tínhamos ficado anteriormente e apresenta um conjunto de novas aventuras que permitem um novo desenvolvimento da relação entre os personagens. Sendo que esta perspectiva é interessante e motivadora, a forma como as acções levam às consequências não foi muito bem pensada e acaba por retirar ao anime toda a aquela aura de "magia dos contos de fadas" que a primeira season tinha.

Para começar, há um grande ênfase nos aspectos políticos deste universo, coisa que passou um pouco ignorada anteriormente e que me apanhou de surpresa. Assim, a história perde-se e acaba por se tornar um pouco aborrecida, pois perdemo-nos nos meandros do drama político que se processa, perdendo um pouco aquele aspecto da vida diária que caracterizava a primeira season. Para além disso, aparecem novas cenas de acção cheias de perigos e risco de vida, o que também descaracteriza a natureza da história, ficando todo o contexto bastante diferente.

Para além disso, os personagens perdem um pouco o seu desenvolvimento, tornando-se demasiado dependentes dos sentimentos uns dos outros para continuarem as suas vidas. Assim, a personagem forte de que eu gostava - Shirayuki - passou a ser mais uma menina chorona e totalmente viciada no seu príncipe encantado. Os designs das roupas também pioraram, perdendo um reminiscente histórico e misturando épocas completamente distintas.

Musicalmente, pareceu-me estar tudo mais ou menos na mesma, assim como na animação, que não está muito diferente.

Agora já não quero fazer cosplay deste anime :<

Seitokai Yakuindomo

Seitokai Yakuindomo
Kanazawa Hiromishi - GoHands
Anime - 13 Episódios + 13 Episódios
2010
5 em 10

Mais um anime que roubei na lista dos nomeados do meu clube e que adensa o mistério sobre os gostos de alguns nomeantes... Porque razão alguém quereria recomendar este anime?

Trata-se de uma comédia e paródia sexual sobre nenhum tema em particular, uma sucessão de acontecimentos da vida diária de um conjunto de personagens que se caracterizam exclusivamente por serem um bando de tarados. 

Talvez já tenha dito isto, mas parece-me que há uma certa tendência a modificar os animes ecchi desta década. Em vez de o conteúdo erótico ser demonstrado pela hiper-sexualização das personagens femininas, parece-me que este é feito através de gags cómicos que envolvem jogos de palavras e objectos censurados (a maioria objectos fálicos mal identificados). Ora, isto é capaz de funcionar uma vez. Duas vezes. Funcionou em Gintama, que me parece ser o fundador desta tendência. Mas depois, começa a ser demais. E o que é demais enjoa. É o caso deste anime.

A história poderia ser valorizada pelo percurso escolar dos personagens, mas para isso necessitariamos de ter um conjunto de bons personagens. Ora, estes são caracterizados exclusivamente pelas suas manias sexuais ou pela sua pudicícia apresentada de forma "irónica". Felizmente e graças a deus, isto acaba por não ser de todo realista: isto é mau para o anime, que perde conteúdo, mas é bom para nós, porque significa que não há muitas pessoas assim no mundo real.

A arte começa apresentável mas fica progressivamente pior, havendo uma grande diferença de qualidade entre as seasons. Se ao início ainda havia uma certa dedicação em desenhar algumas partes das personagens, à medida que nos aproximamos do fim todas elas são reduzidas ao mais simplificado chibi, que se apresenta comicamente através de balões de texto e onomatopeias desenhadas.

Musicalmente, temos algum conteúdo que poderia ter sido melhor aproveitado, houvesse a narrativa dado mais dedicação a esses momentos em vez de se espalhar por piadas sobre posições anatómicas relativistas. Assim, a banda sonora acaba por ficar para trás.

Um anime infeliz, que espero que seja o último do género que eu veja em muito tempo.

16.4.16

Sete Contos Góticos

Sete Contos Góticos (Volume II)
Karen Blixen
1934
Contos

Também comprei este volume na feira do livro da Oficina do Cego. Já disse que também tentei vender lá alguns livros! Foi lá que finalmente desovei a colecção incompleta de Loveless que já não queria e que me vinha ocupando espaço xD

Comprei este livro ao engano, porque só mais tarde reparei que se tratava do segundo volume: em vez de sete contos góticos só tive direito a três. No entanto, talvez tenha sido pelo melhor, porque não apreciei mesmo nada a forma de escrita e capacidade descritiva da autora.

Os três contos tratam de temas misteriosos em terras cheias de frio e neve, recriando assim uma ambiente puramente "gótico" europeu, sem no entanto ceder à pressão de povoar as histórias de monstros horrendos ou temíveis espectros. Mas a forma como as histórias são relatadas acaba por ser aborrecida e intimidante: dentro de cada história os personagens contam outras histórias, cujos personagens contam outras histórias. Uma espécie de "Mil e Uma Noites" modernizado.

Ora, isto torna a leitura um pouco confusa. Para além disso, o tipo de linguagem utilizado é antiquado para a época em que o livro foi escrito, talvez em imitação do clima vitoriano em que as histórias se passam.

Não me senti nada agradada por esta autora. Voluntariamente, não voltarei a repetir.

Kyou Kara Ore Wa!!

Kyou Kara Ore Wa!!
Mori Takeshi - Studio Pierrot
Anime OVA - 10 Episódios
1992
5 em 10

Pelo seu aniversário, o meu clube decidiu fazer uma actividade para nos divertir: uma Roleta de Anime! Consistia no seguinte: cada membro sugeria uma série ou filme para vermos e depois cada um recebia uma sugestão. A mim calhou-me este e eu fiquei ligeiramente... wat. Mas lá acabei por ver tudo dentro da data prevista, com algum esforço.

Trata-se de um OVA, com episódios bastante longos (entre uma hora e 37 minutos), que saiu entre 1992 e 1997. Por acaso é sobre um assunto que aprecio bastante e me fascina: os delinquentes juvenis. No entanto, a série acaba por pecar por exagero e tornar-se demasiado longa. Isto porque as piadas são constantemente repetidas e cada atitude dos personagens culmina *sempre* em variados enxertos de porrada.

Os personagens teriam interesse ao início, quando se inicia a sua caracterização, mas cada um deles acaba por regredir para o interior de um estereótipo que, podendo ser divertido, acaba por se tornar cansativo pelo excesso. As expressões são descuidadas e as atitudes cómicas constantes tiram a credibilidade ao tema e ao anime.

A arte, para a época, pareceu-me bastante boa no primeiro episódio. No entanto, a partir daí parece tornar-se cada vez mais descuidada, o que acaba por ser curioso considerando que se passaram cinco anos entre o primeiro e o último episódios. De resto, podemos apreciar alguma animação interessante (no contexto dos anos 90) nos momentos de luta, se bem que por vezes ela é muito pouco detalhada.

A música é típica de um anime deste contexto, sendo que a ED pode ser considerada das coisas mais irritantes que uma banda sonora nos pode oferecer.

Este anime poderia ter ficado para a história como uma excelente comédia, houvesse sido muito mais curto. Acredito que um filme teria sido o suficiente.

A Morte de Carlos Gardel

A Morte de Carlos Gardel
António Lobo Antunes
1994
Romance

Comprei este livro numa pequena feira que houve na Oficina do Cego, enquanto estive lá a tirar um breve curso de escrita criativa (poderão consultar resultados no meu blog de escrita, O Bentivi Urbano) Escolhi-o porque nunca tinhna lido nada do autor e queria corrigir essa falha. As minhas expectativas eram um pouco estranhas, pois tinha ouvido dizer que a leitura seria muito complexa.

Assim, fiquei agradavelmente surpreendida com este volume. A escrita é complexa, é verdade, mas não de uma forma intrincada que não nos permita compreender o que se passa. Na verdade, está tudo escrito de forma tão naturalista que podemos ler como falamos, o que é sempre algo de valor. Para mais, o livro tem uma excelente estrutura e está tecnicamente muito bem trabalhado. Todos os elementos acabam por se unir, num relato da vida de algumas pessoas que podiam ser pessoas que conhecemos, ou mesmo nós.

Pegando no mote da morte de um rapaz após abuso de droga (vítima de hepatite, o que era comum nesta época. Hoje em dia o livro já não se mantém tão actual), explora os diversos sentimentos de todas as personagens que se relacionaram com ele. Isto é, podemos ver como as atitudes dos outros, quem quer que sejam, podem influenciar a vida dos que os rodeiam, de maior ou menor forma. É esta relação que o autor explora, retratando uma sociedade, uma época, um conjunto de lugares que - sendo deprimentes para uns - podem ser lugares felizes para outros.

Também gostei imenso do facto de grande parte do livro se passar no meu bairro! Pela primeira vez não tive de "imaginar" os locais, porque os conheço perfeitamente, hahaha

Fique a nota de que esta edição tem uma falha: algures a meio do livro as páginas estão todas ao contrário, de cabeça para baixo. Depois voltam ao normal.

Foi uma boa primeira experiência e agora estou ansiosa por repetir o autor!

Kekkai Sensen

Kekkai Sensen
Matsumoto Rie - Bones
Anime - 12 Episódios
2015
5 em 10

Série que foi sugerida no meu clube, sabe-se lá porque razão. Encontrei uma miríade de razões para desgostar completamente dela.

Primeiramente, o tema é parvónio. Por uma misteriosa razão que ninguém consegue descortinar, os mundos paralelos e perpendiculares uniram-se e agora Nova York é habitáculo de bicharada diversa, monstruosa ou não. Um rapaz que, como sempre, ambiciona uma vida normal, vê-se envolvido num grupo de controlo destes seres e vive inusitadas aventuras. De natureza episódica, este anime mostra as mais variadas situações (muito, muito engraçadas, sim...) que podem acontecer quando, oh!, se partilha a cidade com monstrolengos.

Os personagens aparentam existir em função das frases que dizem, que deveriam ser muito cómicas, e das situações que vivem. As suas relações estabelecem-se exclusivamente no gag e não há qualquer tipo de desenvolvimento válido, apesar de haver um esforço nessa direcção nos episódios finais, em que há uma espécie de "arco" narrativo que conta uma história perfeitamente vulgar e tantas vezes já vista.

A arte é bastante incapaz, sendo que seria aceitável há 10 anos. Mas não agora. As paisagens são desinspiradas e repetitivas, o design das criaturas é infeliz, a animação perde-se pelo meio de expressões insuficientes e tudo parece um pouco inacabado.

O único ponto positivo, para mim, terá sido a banda sonora que, fazendo uso de temas clássicos, acaba por se tornar muito interessante. Fique a nota para o terrível casting das vozes, que pareciam pertencer a personagens completamente distintos dos que o que estávamos a ver.

Enfim, mais uma série para esquecer.

15.4.16

O Gato e o Rato

O Gato e o Rato
Günter Grass
1997
Romance
Não é meu costume ler livros do mesmo autor tão pegados, mas aconteceu. Recebi este livro por mero acaso na troca de prendas do nosso Jantar de Natal habitual, sendo que a pessoa que o escolheu (o Chico) me disse que queria muito que me calhasse a mim... Eu já o tinha lido há alguns anos, mas disse logo que o leria de novo!

Foi engraçado porque me lembrava perfeitamente dos primeiros capítulos, embora já não estivesse tão certa da minha memória a partir do segundo terço do livro.
 
Este é um livro sobre a adolescência no durante e pós-guerra, sendo o personagem focal um rapaz que - na sua estranheza - remete o narrador para um fascínio especial. É um rapaz feio e aparentemente sem qualidades mas que, perante os outros rapazes do grupo, exerce uma influência notável devido à sua capacidade de mergulhar junto de um navio afundado e trazer coisas ao de cima.
 
O livro acaba, então, através deste personagem, por caracterizar um pouco o que era a vida na Alemanha - para um grupo de jovens - nesta época. Pelas ambições, desejos e vontades deste rapaz, apesar dos seus estranhos hábitos, conseguimos perceber um pouco sobre todas as pessoas que coabitavam com ele e com o autor.
 
É um ambiente marcado pela guerra, mas não de uma forma altamente negativa ou trágica: a guerra é um elemento que está presente, mas que não influencia grande coisa na vida destas pessoas. O maior acontecimento que pode haver é haver um navio afundado que permite novas descobertas. E é curioso ver isto, já que os livros que tratam do tema normalmente referem sempre grandes fomes e mortes diversas.
 
Para mais, é uma excelente peça de literatura.
 
Como já o tenho, vou colocá-lo a circular. :)

Cinema Paradiso

Cinema Paradiso
Giuseppe Tornatore
1988
Filme
7 em 10

Há muitos anos (mesmo imensos), o Stepfather ofereceu-me o DVD de um dos filmes preferidos dele. Mal sabia que eu raramente vejo filmes com pessoas por mim própria. Assim, o DVD ficou a apanhar pó estes anos todos e nunca tinha visto o filme. No entanto, a semana passada, o Qui sugere-me vê-lo! E, assim, acabei por cumprir o pedido com tantos anos de idade :)

Este é um filme sobre amar o cinema. Numa pequena vila italiana, um rapazinho (Toto) tem uma paixão pelo cinema. Assim, acaba por se tornar amigo do projeccionista, que lhe conta histórias sobre o cinema e sobre o seu pai, que desapareceu na guerra. Graças a esta amizade, o pequeno Toto ganha um amor inusitado sobre filmes e todo o ambiente que os rodeia, acabando por habitar este cinema tão popular entre as gentes da aldeia: Cinema Paradiso.

O filme pode ser dividido em três partes, correspondentes às fases da vida deste rapaz. Na primeira parte, devo dizer que não gostei da actuação infantil (apesar de ser muito aclamada): achei que o miúdo era demasiado infantil para a idade que tinha. Na segunda parte, vemos o rapaz adolescente e o primeiro amor, que eventualmente não corre pelo melhor. Finalmente, vemos a derradeira parte. Em cada uma delas, o mais interessante é ver a evolução do cinema, do tipo de fita ao conteúdo dos filmes que passam.

De resto, as outras personagens são a parte mais interessante do filme. Temos um conjunto muito colorido de pessoas que ilustram perfeitamente o que é viver numa pequena aldeia italiana nos anos 50, sempre com muito humor e candura. Os diálogos são muito complexos e por vezes emocionantes. E, na parte final, é realmente triste ver como todos mudaram, assim como o cinema.

Em termos visuais, o filme tem algumas paisagens bastante características, sendo sobretudo patente o resultado da passagem do tempo. A banda sonora é um pouco repetitiva, embora a peça original seja interessante.

Enfim, um excelente filme para um serão com a família! Vou sugerir que o vejamos na Véspera de Natal do próximo ano :)

Sono

Sono
Haruki Murakami
1990
Novela

No passado Natal de 2015 uns primos ofereceram-me um livro de Murakami... Que já me tinham oferecido antes! Hehehe. Então, fui trocá-lo por outro do mesmo autor. Este era único que ainda não tinha lido e, confesso, estava bastante curiosa com ele (porque a capa é bonita, eu sou assim...)

Trata-se de uma novela, um conto longo (cerca de 80 páginas) que, fazendo uso do realismo mágico ao qual o autor nos vem habituando, conta a história de uma mulher que não dorme há 17 dias. A história, narrada pela própria, mostra-nos um pouco da sua vida diária, que se processa sempre da mesma maneira, dia após dia, até ao momento em que, após um pesadelo com água à mistura, ela deixa de conseguir dormir.

Mas estabelece desde logo que não se trata de uma insónia: ela encontra-se perfeitamente bem de saúde, apenas não dorme. O que faz nesse novo tempo que lhe resta é o mote para a história, passando então a relatar-nos a sua nova vida diária e as consequências que isso tem na sua vivência familiar que, aparentemente imutável, lhe traz novos sentimentos de indiferença em relação ao marido e ao filho.

É um livro curioso, com ilustrações bastante vívidas (embora um pouco desconexas, talvez pela mistura violenta entre o azul e prateado), que se suporta muito em vários simbolismos que nunca são revelados e que acaba por nos mostrar um pouco da vida de uma pessoa que nunca chegamos realmente a conhecer.

No entanto, mais uma vez, irrita-me a forma de escrever do autor, nomeadamente o uso e abuso extremo da expressão "acto contínuo", que é repetida ad nauseum por todos os seus livros. Também achei que o final poderia ter sido melhor trabalhado, como também tem sido a minha opinião em relação às outras histórias de Murakami que tenho lido.

Ainda assim, é uma leitura simples e bastante rápida, que dá para entreter um pouco.

Ghost World

Ghost World
Daniel Clowes
2000
Banda Desenhada

Volume que me foi oferecido pelo meu Qui pelo Natal de 2015. :)

Como sabem, não estou muito habituada a ler banda desenhada, sem ser manga e alguma BD nacional. Assim, este livro foi uma boa experiência introdutória.

Ghost World conta a história de duas amigas vagando pelo mundo da sua adolescência, metendo-se com os outros, pegando partidas e, no fundo, esforçando-se por se encontrarem na sua identidade. As personagens estão muito bem estabelecidas, na sua personalidade e na sua evolução que levará, em consequência, ao seu afastamento. É na força destas personagens que o leitor encontra o fio narrativo, que se alinha na direcção dos acontecimentos que as duas raparigas provocam nos outros e em si mesmas.

O mais espantoso deste livro é a linguagem utilizada. Na contra-capa há uma referência que gostei: "uma espécie de Catcher in the Rye para uma nova geração". Foi exactamente isso o que senti: este livro é escrito por jovens e para jovens, numa linguagem que apenas eles compreendem. Por isso o livro será acessível para alguns (os desta geração) mas estranho para outros. Isto acaba por se reflectir nas atitudes descompassadas das personagens, o que acaba por tornar a leitura muito interessante.

Também gostaria de fazer uma nota para a arte, pois é de certa maneira bastante original. Os tons de branco e verdes, apesar de muito simples, dão um toque de cor que fica na nossa imaginação. Para além disso, gostei do facto de as personagens serem todas bastante "feias", perante os parâmetros a que estamos habituados, o que as torna muito realistas.

Foi uma leitura interessante e que me deixa curiosa para ler mais comics em Inglês.

A Salvação de Wang-Fo e Outros Contos Orientais

A Salvação de Wang-Fo e Outros Contos Orientais
Marguerite Yourcenar
1938
Contos

Este livrinho foi adquirido juntamente com A Ratazana. Posso dizer que gostei imenso dele!

Li os meus primeiros livros de Marguerite Yourcenar muito miúda e, por isso, talvez não tenha tido a capacidade de os apreciar devidamente. Assim, não tinha muitas expectativas em relação a este minúsculo volume de contos. Foi uma surpresa muito agradável e deu-me muita vontade de ler mais e mais livros desta autora!

Tratam-se de dez contos com um tema em comum: o oriente. Mas, para a autora, o oriente é um espaço que compreende muitos locais, desde a Ásia propriamente dita, China, Japão, Índia, incluindo países como a Grécia e a Turquia. Assim, cada conto é muito diferente do anterior. A autora faz, então, uma recolha de alguns mitos e lendas tradicionais, também se inspirando em magnas obras da literatura desses países (como "O Romance de Genji", um maravilhoso livro) para criar as suas próprias histórias.

São violentas e estranhas, remetendo-nos para um universo passado que envolve mortes trágicas e figuras femininas misteriosas e fortes. No entanto, o final de cada conto é sempre diferente do que esperamos e, assim, cada história é uma surpresa.

A minha preferida foi mesmo a primeira, "A Salvação de Wang-Fo", porque está escrita de forma muito bela e o final é comovente e quase romântico. Mas o facto de estar bem escrito não se limita a este conto, sendo que todos os outros estão elaborados com uma mestria rara e, talvez, perdida.

Recomendo vivamente este pequenino como introdução à obra da autora. Tanto, que o partilharei :)

13.4.16

One Punch Man

One Punch Man
Natsume Shingo - Madhouse Studios
Anime - 12 Episódios
2015
7 em 10

Vou dizer já, logo no início, para estarem todos mentalmente preparados: não achei este anime uma coisa assim tão especial.

Já estou de braços abertos, à espera que me preguem na cruz, obrigada. 

Mas vamos começar pelo início. One Punch Man conta a saga de um jovem que, depois de se ver em dificuldades com um monstro, decide fazer ginástica suficiente para se tornar no homem mais forte do mundo. Conseguindo-o, a força do seu murro tem a capacidade de desfazer até os mais poderosos e horrendos monstros. No entanto, quando se inscreve para ser um herói oficial, ninguém lhe liga nenhuma...

A história tem uma natureza muito engraçada e completamente transviada da realidade. No entanto, a interacção dos heróis uns com os outros e dos monstros terríveis que aparecem (e a forma como são derrotados) da azo a algumas gargalhadas. Não muitas, no meu caso, mas algumas. No entanto, nem só de piada vive um anime: as personagens de OPM são completamente destituídas de tudo o que as possa caracterizar, para além do elemento gag. Assim, toda a sua caracterização existe em função da piada seguinte e, desta forma, acabamos por ter um anime bastante vazio em termos de desenvolvimento narrativo.

Este aspecto é compensado por uma animação espectacular. Os aspectos relativos à história e tudo isso ficam escondidos por trás de cenas de lutas brilhantes, bem coreografadas, com linhas cinéticas cheias de energia, com cores variadas e um mix de explosões e brilhos que se pegam aos nossos olhos e não nos largam. Por isso esta série acaba por ser viciante, porque a animação está tão viva que não conseguimos deixar de lhe dar um segundo de atenção!

Torna isto a série numa obra-prima da modernidade? Não me parece.

Em termos musicais, achei a OP pouco inspirada e a ED pouco apropriada. No parênquima nada de especialmente cativante.

Assim, temos uma série que vive praticamente da sua animação e dos gags de super-heróis que espicaçam um pouco o mote para as lutas. Mas que é praticamente destituída de fio narrativo e de desenvolvimento. Portanto, fica nota 7 pelos pontos bons e por me ter apanhado. Mas fique a nota de que não é o cristo redentor de todos os animes.

Lupin III (2015)

Lupin III (2015)
Yano Yuuchirou - TMS Entertainment
Anime - 24 Episódios
2015
7 em 10

Após ter visto alguns animes desta instância, pensei que não poderia perder uma nova série dedicada a Lupin! Esta série teve lançamento também na Itália (até mesmo antes do lançamento Japonês), local onde o anime é passado.

Foi uma excelente aventura ver este anime e, para mim, foi o melhor da sua season. Talvez mesmo o melhor do ano!

Lupin e seus amigos mantém-se muito semelhantes àquilo que conhecemos. Nesse aspecto, achei que a série manteve uma pureza fantástica, obrigando-se à reinvenção para se manter íntegra com as experiências passadas. Os nossos personagens continuam plenos de inteligência e bom humor, sendo que o resultado não podia ser melhor: em cada episódio (ou par de episódios) nos é mostrada uma diferente história, uma diferente aventura que Lupin e a sua pandilha vivem, a forma como se metem em problemas e, sobretudo, a maneira cheia de esperteza com que se safam sempre.

Existem alguns personagens novos, é verdade, mas não achei isso um problema. Na verdade, achei mesmo vantajoso pois foi uma forma simples e livre de ardores de dar algum tipo de modernidade à série, introduzindo novos conceitos que nos anos 70 eram pouco comuns, como diferentes armas, efeitos biológicos, diferente tipo de instrumentos. Tudo isto traz uma nova vivacidade a Lupin, enquanto série, e é fonte de diversão absoluta.

Ajuda muito a arte que, detalhada e com uma paleta de cores vibrante - apesar de escura - nos mostra uma série de paisagens e objectos que quase que servem como spot turístico para os locais. Quase que nos dá vontade de visitar a Itália para podermos ver os lugares onde Lupin viveu as suas aventuras! A animação poderia, por vezes, ser um pouco melhor mas regra geral cumpre bem o seu papel, sendo que também nesta o estúdio colocou um pouco da sua descontracção.

A banda sonora, cheia de temas tradicionais, swings e reminiscentes dos anos 60-70, remete-nos para um ambiente de polícias e ladrões, de problemas e de soluções. A ED, especialmente, foi-me impossível deixar de a ouvir em quase todos os episódios!

Uma série divertida, descontraída e que leva Lupin, o personagem, a uma nova geração, tocando em temas actuais mas mantendo sempre a personalidade que todos amamos.

Poesia de Alberto Caeiro

Poesia de Alberto Caeiro
Alberto Caeiro
Anos 10
Poesia

Finalmente, a última pessoa de Pessoa que me foi dada a oportunidade de ler. Alberto Caeiro é considerado, tanto como pelo seu nemesis como pelos seus pares, o mestre de todos os heterónimos. E neste volume é-nos dado a conhecer um pouco sobre ele.

Este volume compreende, então, "O Guardador de Rebanhos" (colectânea máxima do autor), "O Pastor Amoroso" e alguns dos "Poemas Inconjuntos".

Recordo mal o que aprendi no secundário sobre Caeiro, mas lembro-me de que me diziam que se tratava de um simplório naturalista fascinado pelo ambiente bucólico dos campos. Mais uma vez se confirma que o professor da altura sofria de acefalia, porque o entender sobre estes poemas que tive é totalmente diferente. Caeiro admira a natureza não pela sua beleza infantil mas sim pela sua capacidade de se manter sempre igual na mutabilidade que a caracteriza. Porque Caeiro não procura escrever sobre o belo nem sobre os elementos descritivos, mas sim sobre a sua visão da vida: a vida não é uma vida, porque simplesmente existe. É essa manifestação, o "simplesmente", afecta a vida desta figura nos seus mais variados aspectos: a admiração do mundo natural é apenas a constatação da passagem do tempo pela vida. Sentimentos como o amor reflectem-se na capacidade que temos de aceitar a nossa insignificância como elementos da própria natureza.

O resultado é simples, eficaz e muito belo. Também curioso e por vezes bem humorado, sobretudo nos momentos de reflexão sobre a religião.

Deixo-vos, então, aqui um par de poemas de que gostei bastante. O primeiro porque achei giro, o segundo porque concordo tanto que me fartei de rir =D

II

O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no Mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo…

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...




A manhã raia. Não: a manhã não raia.
A manhã é uma coisa abstracta, está, não é uma coisa.
Começamos a ver o sol, a esta hora, aqui.
Se o sol matutino dando nas árvores é belo,
É tão belo se chamarmos à manhã «Começarmos a ver o sol»
Como o é se lhe chamarmos a manhã,
Por isso se não há vantagem em por nomes errados às coisas,
Devemos nunca lhes por nomes alguns.

A Ratazana

A Ratazana
Günter Grass
1986
Romance

Este livro foi obtido numa troca por um voucher que me ofereceram da minha livraria habitual (que, por sinal, é a Bertrand. Nada de alternativo por aqui) pelo meu aniversário. Quando li a sinopse na contracapa fiquei logo rendida à ideia: uma ratazana, representante da sua espécie, conta toda a história da humanidade pelos seus olhos, desde Noé até ao fim dos tempos.

Infelizmente, o livro não correspondeu propriamente à sinopse. Mas não deixou de ser muito interessante.

Um homem, o narrador, recebe pelo Natal aquilo que sempre desejou: uma ratazana de estimação. Esta ratazana, a Rata de Natal (pois...) começa a falar com ele num sonho em que o narrador se encontra amarrado a uma cadeira numa cápsula espacial e consegue ver o fim da humanidade como a conhecemos, por influência desta espécie de muscelídeos. No entanto, temos vários pontos narrativos que se interligam uns com os outros, para no final se juntarem todas as pontas nesse fim do mundo rático em que a espécie dominante são estes bicharocos.

Temos então a história das ratazanas propriamente dita; depois a história de um grupo de mulheres que conta medusas no oceano a bordo de um navio; a história de um realizador de cinema que visita a avó pelo seu centésimo sétimo aniversário; finalmente, a história dos contos de fadas do filme que este vai realizar.

Este conjunto de histórias pode começar por ser um pouco confuso, mas à medida que se vão reunindo todas as ideias no mesmo arco narrativo (o das ratazanas) começamos a perceber melhor a existência de todos estes pontos. Na verdade, o autor tece neste livro mais do que uma história mas sim uma crítica social contundente relativamente ao advento da tecnologia e à destruição da Natureza. Pois é devido a estes que a a humanidade acaba por perecer, sem sequer perceber muito bem como.

A escrita é bastante leve, apesar da narrativa ser complexa. Mas devo confessar que odiei a tradução: qual a necessidade do tradutor explicar palavra por palavra o seu significado na língua original?

Uma leitura um pouco difícil, que à primeira vista não recomendaria.

12.4.16

Ed Wood

Ed Wood
Tim Burton
1994
Filme
7 em 10

Vimos este filme já a semana passada mas, como terão visto, não tive muito tempo para vir actualizar este espaço. Gostei imenso do filme, que me fez rir muito, mas também me comoveu bastante.

É um filme sobre a paixão do cinema. Sobre como um realizador sem muito talento mas com muitas ideias faz todos os possíveis para levar os seus projectos avante. É muito inspirador e dá muita vontade de fazer todo o tipo de coisas! Este realizador, Ed Wood, acaba por se tornar um ícone dos chamados "filmes série B", que são aqueles filmes de baixa produção e dos quais se costuma dizer que são tão maus que se tornam... Bons!

Mas este personagem, que foi mesmo uma pessoa, tem muito mais nele do que a vontade de fazer filmes. Tem segredos, tem histórias que deseja mostrar ao mundo, tem amigos. E estes amigos acabam por ser tão dedicados à cinematografia como ele, ou não passariam por todas estas coisas, trinta por uma linha, para o acompanhar e "wrap the scene!"

Destes amigos destaca-se uma importante figura: Bela Lugosi. Bela Lugosi, neste filme, ainda não morreu. Mas a sua história é contada paralelamente e acaba por ser triste, comovente, mas ao mesmo tempo cheia de candura. Porque aqui nos é contado o final de vida do primeiro Drácula, a forma como ele acabou por ser um actor ignorado e nunca contratado e se envolveu no mundo do consumo de estupefacientes (o que levou à sua morte, já em idade avançada).

Para além disso, a forma como este filme está feito revela uma mestria poderosa e cheia de talento. O que mais aprecio em Tim Burton não são os seus efeitos coloridos, as suas histórias bizarras, as suas maquilhagens. É a forma como ele relata a vida estranha das pessoas normais: os estranhos não somos nós! São os outros! E em "Ed Wood" ele consegue dizer-nos isto, e de que maneira! O filme é todo a preto e branco, mas tem uma tal vivacidade que eu me recordo dele a cores...

Assim, temos uma homenagem à arte de amar o cinema, ao amor por fazer o que se gosta e à dedicação. Tudo com "a little help from my friends..." ;)

Prosa Crítica e Ensaística

Prosa Crítica e Ensaística
Fernando Pessoa
Anos 10 - 30
Crónica

Dizia eu há uns minutos que se calhar prosa não é o forte do nosso amigo Fernando. Mas veio-se a revelar muito rápido que essa afirmação é uma mentira! Porque este livro de críticas e ensaios curtos, crónicas (por assim dizer) é um regalo para mente!

Aqui, Pessoa discorre sobre os mais diversos assuntos que atormentam a sua alma crítica. Fala de todo o tipo de assunto, da literatura ao funcionamento dos eléctricos, passando por contemplações sobre a natureza feminina e o estado do tempo. E faz isto com tanta acidez e humor que uma pessoa até ganha uma úlcera no duodeno de tanto mostrar os dentes.

"Um crítico de segunda ordem tem, por natureza, tanto poder de teorizar como uma tainha ou um caracol". Espero eu não ser uma comentadora de segunda ordem, porque não quero ser tainha! Embora não me importasse de ser caracol... Enfim, uma pequena frase para ficarem com uma ideia da forma como Pessoa trata dos seus combates pessoais.

É desta feita que finalmente conhecemos um pouco mais de Lisboa destes anos, não através de puras descrições do ambiente, mas sobretudo através das pessoas que nele vivem e que o autor nos mostra a pouco e pouco nos seus comentários. Talvez a parte que tenha gostado menos tenha sido o prolongado ensaio sobre os direitos e deveres das criaturas fêmea, que estão brutalmente desactualizados e revelam uma natureza muito pouco didática sobre o assunto, revelando que Pessoa - apesar de escrever muito bem - não sabia grande coisa sobre o assunto.

Gostei deste livrinho! Será libertado ao vento, sob o jugo do BookCrossing!

O Vale da Paixão

O Vale da Paixão
Lídia Jorge
1998
Romance

O primeiro livro que li desta autora não me agradou muito... Mas este superou plenamente as minhas expectativas!

Esta narrativa está localizada num enorme casarão numa ladeia perto de Sagres. O dono desta velha casa, também ele velho, tem vários filhos mas um deles é do piorio: anda sempre a vagabundear e acaba por engravidar uma rapariga. E a história é narrada pela filha destes, sendo que para ela o pai é o "tio" e o seu tio acaba por se tornar o verdadeiro "pai". Mas o personagem principal é, realmente, este homem que anda sempre em viagem, livre como um pássaro, como os pássaros que desenha nas suas cartas vindas de todo o mundo.

Pelos olhos desta menina, depois mulher, vemos o que causa a ausência deste pai, seguida da partida de (quase) todos os irmãos, deixando uma unidade familiar sozinha numa enorme casa sem sentido e sem caminhos, tão grande que se conseguem distinguir as pessoas pelo som dos seus passos. Mais do que um drama de família, este é um relato da vivência de um grupo de pessoas perante condições inabaláveis e que tanto afectaram (e afectam) os mais variados grupos de pessoas neste país. 

O tema central é sempre a solidão.

Escrito com mestria, a narradora conta-nos a história de seu "tio" e da sua família misturada com as suas próprias aventuras. Assistimos ao seu crescimento, de criança ignorada a única pessoa presente, através de palavras escolhidas com toda a certeza, mas também com toda a delicadeza própria de uma escrita eminentemente feminina.

Um livro claro e brilhante.

O Livro do Desassossego

Livro do Desassossego
Bernardo Soares
Anos 10-30
Crónicas

Fernando Pessoa é um dos ícones da cultura literária Portuguesa, mas sobretudo um ícone da sua culutra Pop. Por todo o lado vemos o seu bigode e os seus óculos redondinhos, que popularizou mesmo antes do rapaz com o raio na testa. Ora, talvez essa iconicidade tenha uma razão de ser para além da genialidade dos seus poemas. É que Fernando Pessoa também escreveu prosa e a maioria encontra-se reunida sob o nome de outra pessoa: Bernardo Soares.

Mas Bernardo Soares não é um heterónimo puro, mais uma das personalidades desviantes de uma Pessoa de Fernando. Na verdade, Fernando assinava muitas vezes em conjunto com ele. Assim, poderíamos depreender que Soares é apenas um nome que Fernando usou para dizer coisas que achava sobre a vida e que lhe apeteciam. Mas eu espero bem que não.

Porque Bernardo Soares escreve tal e qual uma miúda hipster de meados de anos 2000.

Os seus assuntos grassam sobre temas tão relevantes como "sou feio", "estou triste", "não tenho amigos". Todas as suas frases dão grandes citações quando tiradas do contexto. E é nisso que este livro se torna: um livro de citações sobre a decrepitude da vida, tal qual como seria vista por uma rapariguinha inadaptada na sua escolinha.

Esta amálgama de citações acaba por não nos levar a lado nenhum, já que as opiniões que Soares prega sobre o mundo são completamente destituídas de maturidade e, consequentemente, de interesse. Não revelam nada sobre os usos e costumes da sua época, não descrevem qualquer tipo de paisagem urbana, o que teria muito interesse (já que se trataria da cidade de Lisboa), referem a passagem do tempo como uma tortura mental por ser sempre igual e sempre igualmente deprimente.

Portanto, este livro irritou-me de sobremaneira. Portanto, adeus.

8.4.16

Mobile Suit Gundam: Iron-Blooded Orphans

Mobile Suit Gundam: Iron-Blooded Orphans
Nagai Tatsuyuki - Sunrise
Anime - 25 Episódios
2015
6 em 10

Tenho estado um pouco ausente deste espaço porque estou numa aglomeração brutal de trabalhos diversos. Na verdade, neste momento encontro-me um pouco enlouquecida de sono. Mas em breve colocarei aqui uma série de comentários (uma dúzia, para aí, a maioria de livros). :)

Mais uma season e não perdi o novo Gundam. Mas acho que esta foi a gota de água que me fez perder completamente a esperança neste franchise. E acabo por detectar que o problema não é a timeline: IBO é UC. O problema é que as ideias são boas, mas a execução é tão frustrante que o resultado final acaba sempre por cair no limiar da mediocridade.

Nesta instância, assistimos a uma rebelião num local onde as crianças são obrigadas a trabalhar em esforços violentos. Depois, há grandes revoluções políticas desregradas em que as crianças se tornam independentes. Ora, isto é tudo muito bonito mas o anime esquece-se que as crianças são efectivamente infantis. Como poderia um grupo de adolescentes e miúdos liderar uma revolta política se não num universo animesco pouco inspirado? Assim, as respostas para todos os males destes personagens são sempre limitadas a um conceito de "os adultos são maus, baw". E isto irrita-me, porque eu sou um deles.

É certo que os personagens de alguma forma evoluem. Se ao início estão um pouco perdidos, encontram o rumo e percebem o que se está a passar. Mas a inclusão de novos antagonistas, uns a seguir aos outros, ao longo de toda a série, tornam o anime repetitivo e narrativamente incoerente, sendo que tudo isto parece acontecer para que grandes lutas entre robots gigantes possam brilhar. E estas... Bem, se não temos pilotos cativantes, como nos poderão interessar estes combates? Pela animação?

É luminosa, colorida, cheia de detalhes no respeitante a estes dados. Mas as coreografias parecem-me recicladas de outras instâncias Gundam (o que prova que há sempre uma reciclagem, em qualquer que seja o campo) e, tendo isto em conta, serão insossas para um fã mais antigo. Os designs dos personagens são um pavor, com cabelos que não lembram ao diabo mais velho e roupas que não fazem qualquer sentido dentro do contexto. Mais uma característica que infantiliza o franchise e o torna, mais uma vez, numa máquina de vender bonecos. O design da maquinaria não chama a atenção pela diferença.

Musicalmente, temos uma banda sonora bastante normalóide que não traz nada de novo ao panorama.

Portanto, acho que por uns tempos vou desistir do meu querido Gandamu.

3.4.16

Itoshi no Muco

Itoshi no Muco
Higa Romanov - DLE
Anime - 25 Episódios
2015
7 em 10
 
Talvez um dos melhores animes da season que passou e, sobretudo, um anime que me deu imenso gozo ver.

Este é um anime muito simples sobre a vida diária de... Um cão. Muco é uma cadelinha, de raça shiba inu, que vive com o seu amado dono num estúdio de artes em vidro. Tem vários amigos humanos e vive diversas aventuras cheias de simplicidade e vivacidade, que apenas mostram o bom que é ter uma vida de cão. É um anime muito simpático, bastante infantil, mas com muita graça e candura, que me fez rir às gargalhadas em demasiados momentos. Talvez o grande defeito da série seja apenas percebido por profissionais da área (como eu): o facto de muitos dos comportamentos de Muco não serem realistas do ponto de vista do comportamento canino. Mas acabo por perdoar isso, porque a série é demasiado amorosa para darmos atenção a esse tipo de coisa (que, sendo irritante, é defeito meu)

Tal como a história, também a arte é muito simples. Vemos um excelente mix entre animação 3D digital e um 2D típico, sendo que a sua mistura dá azo a alguns truques de perspectiva bastante interessantes. Os fundos têm detalhe quanto baste e todo o aspecto é muito agradável à vista.

Musicalmente, temos alguns temas constantes, mas fique a nota para a excelente OP: não só caracteriza a relação de um cão com o dono como é simplesmente viciante!

Talvez isto seja algo totalmente subjectivo, porque adoro cães, mas gostei imenso desta série! Recomendo a quem quiser ter alguns momentos de riso descontrolado.