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30.6.17

Shaun of the Dead

Shaun of the Dead
Edgar Wright
2004
Filme
6 em 10

Apanhámos este filme na televisão e ficámos a vê-lo. :)

Shaun é um homem que costuma beber todas as noites mas que, apesar da ressaca, está à procura de um foco para a sua vida. Tem de lidar com a namorada, com a mãe, com o melhor amigo... E agora também tem de lidar com uma epidemia zombie. Temos assim um clássico filme de zombies e da luta pela sobrevivência, mas carregada de uma ironia e, atrevo-me a dizer, de um realismo tão grande que tudo o que faz é... Rir!

As personagens deste filme são pessoas como nós. Isto é, se houvesse um apocalipse zombie, também nós seríamos zombies. Apesar de tudo, farão tudo para salvarem as pessoas que amam, o que também é bastante natural. Os embates contra os zombies são realistas, poruq equase nunca funcionam. E a interacção entre todos também é perfeitamente natural: também não funciona.

Não é um filme especialmente bom, mas toda esta componente humana é imensamente divertida e a improbabilidade das situações é ultrapassada pelo sentimento de... O que faríamos nós?

Like Father Like Son

Like Father Like Son
Hirokazu Koreeda
2013
Filme
6 em 10

Queríamos ver um filme Japonês recente, mas havia muito pouco por onde escolher. A nossa escolha recaiu sobre premiados de prémios europeus, de onde costumam vir coisas interessantes. Calhou-nos este, mas foi um pouco desapontante.

Uma família descobre que o seu filho de 6 anos foi trocado à nascença no hospital. Como é que irão lidar com a situação? É um tema delicado e forte, abordado de uma maneira muito neutra, sem mostrar muito de ambos os lados. O filme parece focar-se sobretudo na relação de um dos pais com o seu filho, que não corresponde ao seu ideal (quer o de antes quer o de depois da troca). 

Portanto, nesse campo, o filme acaba por falhar o pé, pois a carga emocional de todos os personagens não é devidamente transmitida e todos parecem estar ligeiramente indiferentes aos acontecimentos, excepto- talvez - as crianças. Para além do mais, os actores fazem um trabalho demasiado naturalista, o que acaba por cair em exagero na parte final, retirando muito do realismo.

Gostei muito, no entanto, da forma como algumas sequências estão filmadas. São perespectivas discretas e intimistas, como um olho vigilante que estivesse escondido por trás de um pano.

Ainda assim, parece-me uma boa abordagem de um tema difícil.

Flip Flappers

Flip Flappers
Oshiyama Kiyotaka - Studio 3Hz
Anime - 13 Episódios
2016
7 em 10

Tudo o que havia ouvido dizer sobre este anime era terrível. Até que, por obra do senhor, acabou sugerido no meu clube e, assim, acabei por o ver. Mas que agradável surpresa!

Uma rapariga com uma vida normal é desafiada por uma energética moça que a leva para um mundo mágico onde deverão coleccionar pedacinhos de cristais. Para lutar contra organizações rivais e monstros horrendos, terão de se transformar em meninas mágicas. Assim, sucedem-se episódios com aventuras variadas, cada uma tocando em temas recorrentes da indústria do anime, dando-lhes uma nova interpretação dentro do contexto do flip-flapping.

Cada episódio mostra um momento de tensão diferente e é através destes que as duas personagens aprendem a formular uma amizade e desenvolvem os seus poderes em conjunto, por forma a combater inimigos cada vez mais fortes. No fundo, este anime é uma revelação da identidade adulta, um "coming of age" muito simples que utiliza o mundo do flip e do flap e dos cristais como mote para a perda da fantasia infantil para encaminhar a personagem para a sua vida real. Assim, o final acabou por ser um pouco insatisfatório, na medida em que tudo ficou bem porque acabou bem,. quando talvez devesse ter havido um contraponto ligeiramente mais realista à situação.

Muitas das críticas a este anime referem-se ao "estilo por cima da substância". E isto não é mentira. O estilo de animação e as técnicas utilizadas tornam este anime num festim para os olhos (seus cones e bastonetes), com uma variedade de movimentos muito fluídos, uma explosão de cores e formas e cenários muito originais.

Musicalmente, temos algumas peças um pouco estranhas que se coadunam bem com o tema geral do anime. Gostei especialmente da ED.

Assim, é com todo o gosto que recomendo este anime. Talvez também eu seja uma plebeia. ;)

A Grande Muralha da China

A Grande Muralha da China
 Franz Kafka
1917
Contos

Este é um livrinho que se lê muito rápido, compreendendo três contos de Franz Kafka. São contos que causam uma certa estranheza, mas a verdade é que penso que dentro da obra do autor este foi o volume mais fraco que li.

O primeiro conto, "A Grande Muralha da China", fala de como o autor interpreta a construção desta obra arquitectónica, tentando localizar-se na China antiga. Infelizmente, o autor parece ter feito tudo isto por contas de cabeça, porque existem muitos elementos que não só tiram a realidade quotidiana da história como demonstram uma ignorância profunda. Assim, a estranha historieta acaba por soar falsa e improvável. Afinal, o que fazem igrejas na China antiga?

Depois temos "A Toca". Este foi o conto que gostei mais. Acompanhamos os pensamentos de um bicho que não sabemos qual é (apenas que tem garras, dentes e uma testa para bater na terra) enquanto admira a sua toca. Mais uma vez temos aqui um tema arquitectónico. O que torna o conto interessante é o dilema do bicho quando vê que a sua toca poderá (ou não) ter sido invadida por outra criatura, o que lhe causa grande incómodo.

Finalmente, "Investigações de um Cão". Apesar de adorar cães este foi o conto que gostei menos. Isto porque o autor parece desconhecer na totalidade o que é um cão e, assim, o facto de se colocar nas suas patas é muito pouco convincente. A visão do cão das coisas caninas é absurda, de uma maneira pouco propositada. O dilema da fome tem o seu interesse, mas tudo o resto é demasiado estranho.

No entanto, a quem desejar conhecer no íntimo a obra do autor, penso que não deve perder a oportunidade de ler estes contos. :)

28.6.17

América

América
Franz Kafka
1927
Romance

Este é um livro de Franz Kafka um pouco peculiar: parece que Kafka se esqueceu de ser Kafka, sem nunca - no entanto - conseguir deixar de o ser.

Karl Rossmann (um novo K., parece-me) é enviado pelos pais para a América por ter tido alguns problemas com uma criada. Lá começam as suas inusitadas aventuras, em que tudo corre sempre pior do que possa parecer. Apesar de ser um livro um pouco mais ligado à terra do que é habitual neste autor ainda assim a visão kafkiana da América é muito estranha e, sem dúvida, com um forte toque surrealista.

Este encontra-se no desespero patente do personagem, que parece apenas vogar a favor da corrente, quando este se encontra em situações ilógicas, com mutias portas, muitos corredores, muitos objectos inúteis, muitos guichês de informações, muitas pessoas em oposição.

Penso também que os outros personagens representados, que são mais ou menos recorrentes durante todo o livro, podem representar algo não só na vida do personagem como também do próprio autor.

Infelizmente, como quase toda a obra deste senhor, o livro encontra-se incompleto. Quem sabe o que mais viria daqui?

Jewelpet Twinkle☆

 
 Jewelpet Twinkle☆
Yamamoto Takashi - Studio Comet
Anime - 52 Episódios
2010
4 em 10

Para variar um pouco, que tal um anime para meninas de quatro anos? :) Tenho muita pena de ser obrigada a dar uma nota tão negativa, porque o anime é realmente encantador. Apenas tem demasiados erros técnicos para que se possa dar uma nota aceitável.

Akari é levada por um coelhinho mágico, Garnet, para a Jewelland, onde irá pertencer a uma escola de magia e aprender a fazer essas coisitas. Sucedem-se episódios em que4 vão aprendendo novas técnicas, usando novas roupas, conhecendo novos bicharocos amorosos e fazendo novos amigos. Penso que o melhor que este anime teria a fazer seria manter-se com uma natureza puramente episódica. A partir do momento em que os personagens se envolvem num combate fatal contra um mago poderoso e muito incompreendido, a narrativa fica bastante quebrada e perde o interesse. Para além disso, existem algumas incoerências: afinal, de que serve ir para o reino da magia se quando nos tornamos adultos ficamos sem ela?

A arte e animação são muito infelizes, plenas de erros anatómicos e com uma péssima utilização de cores e sombras. Os designs são muito variados mas imensamente confusos, sendo difícil de perceber a estrutura de todas as roupinhas utilizadas. Para além disso, os bichinhos em si são ligeiramente estranhos, pois muitas vezes estão tortos e o seu design é absurdo.

A música é uma histeria de açúcar e muito pouco variada. Fica a nota para as vozes, que sendo possivelmente das mais irritantes que ouvi na minha vida acabam por dar uma certa presonalidade a esta bicharada.

Apesar de tudo, gostei de ver este anime e o final fez-me sorrir. :>

Nitaboh

Nitaboh
Nishizawa Akio
Anime - Filme
2004
5 em 10

Baseado numa história real, este filme mostra-nos como Nitaro, um jovem que ficou cego na infância, vence todas as circunstâncias na sua ânsia de se dedicar ao shimasen e à sua música. Temos uma premissa interessante, mas infelizmente este filme falha em diversos aspectos técnicos.

Para começar, a narrativa está estruturada de uma maneira muito amadora, sendo que o filme é quase episódico, passando numa sucessão de pequenas sequências com uma edição deficiente na sua transição. Para além do mais, os personagens são pouco identificáveis e têm uma caracterização mínima, pelo que se perde em absoluto a dimensão do conflito entre uns e outros e mesmo dentro dos próprios. Existem algumas confusões na sucessão do tempo (por exemplo, de onde veio aquele bebé?)

A animação é muito simples, com designs um pouco repetitivos, sendo que o filme se dedica sobretudo a mostrar cenários e paisagens. Infelizmente, estas não possuem grande detalhe ou profundidade, para além de que muitas vezes é utilizado um CG muito evidente (sobretudo em cenas aquáticas).

O único ponto realmente positivo deste filme será, sem dúvida, a música. Os dois solos de shimasen no final valem pelo filme inteiro, sendo que a forma como a música se envolve nos personagens é verdadeiramente emocionante. Apesar disto, temos muitos temas que não se coadunam bem com a época e com o ambiente em que estamos.

Não recomendaria.

25.6.17

Fanny Owen

Fanny Owen
Agustina Bessa-Luís
1979
Romance

Foi a minha primeira experiência com esta autora e devo dizer que fiquei muito impressionada. Um livro viciante!

Conta a história dos amores e desamores entre José Augusto e Fanny Owen, amigos de Camilo Castelo Branco. A história é simples e trágica, mas o que cativa neste livro não é a narrativa: é a forma como tudo está escrito e descrito. A autora é uma mestra das palavras e localiza este livro num tempo passado, como se tivesse sido realmente escrito no século XIX. O vocabulário utilizado é antiquado, mas isto funciona perfeitamente dentro do contexto. Para mais, segundo consta, os diálogos dos personagens são retirados das suas cartas e diários, o que imprime um imenso realismo a toda a obra.

Este livro é um excelente repositório de descrições dos hábitos da época, muito mais do que se tivesse sido escrito na própria época. Assistimos tanto aos bailes repletos de vestidos e tecidos luxuosos como às conversas e dramas pessoais da gente regular, que sem d´+uvida vê a vida de uma forma diferente.

Fiquei muito entusiasmada com este livro e espero poder ler mais desta autora em outras ocasiões.


Osso Vaidoso

Osso Vaidoso
Concerto
 
A Casa da Cerca, aqui em Almada, tem organizado os chamados "Concertos ao Pôr do Sol", a propósito de uma instalação artística sobre os cinco sentidos que lá está exposta. É um concerto mensal e o deste mês foi Osso Vaidoso, uma banda que adoro, como provavelmente sabem. :)
 
Estavam instalados sobre a relva, iluminados por lâmpadas amarelas, rodeados por um morcego ou outro. Havia uma certa aura de magia no meio disto tudo, associada aos sons dolorosos daquela guitarra e à poesia das letras das músicas.
 
Apresentaram-se com uma nova formação, incluindo um membro que nos oferecia a samplagem de alguns beats que, juntamente com aquilo que já conhecíamos, apenas acrescentou mais textura a estes sons. Mostraram-nos um novo álbum, "Miopia", que usa nas músicas poemas de alguns consagrados poetas. São músicas que, com a guitarra crua e a voz possante, nos mostram um lado negativo, um lado mau, um lado... Maroto.
 
Enquanto isso, a querida vocalista queixava-se que tinha frio, fome, sede, xixi... Tadinha, o ambiente estava mesmo contra ela! Mas tudo isto demonstrava uma química muito especial entre os membros da banda.
 
No final tocaram para nós alguns sons mais conhecidos do primeiro álbum "Animal", sempre com cuidado para não abusar muito da linguagem (havia muitas crianças a assistir).

Um concerto muito agradável, com música muito poderosa e que nos deixa a pensar.

The Salesman

The Salesman
Asghar Farahdi
2016
Filme
6 em 10

Este filme foi o vencedor do óscar para melhor filme estrangeiro no último ano. No entanto, devo dizer que não o achei nada de especial e até considero que tem coisas imperdoáveis.

Um casal tem de sair da sua casa porque o prédio se está a desmoronar. São actores e neste momento estão a encenar a peça "The Salesman". Mudam-se para outra casa, onde a antiga inquilina tinha uma profissão um pouco duvidosa. Por isso, não é surpreendente quando a nova habitante da casa é atacada no banho por um antigo cliente da anterior. A partir daí desenvolve-se um drama pessoal em que a mulher tenta encontrar um equilíbrio entre a sua vida e o trauma e o homem começa uma busca obsessiva e incessante por vingança.

Mas, apesar de os personagens estarem bem caracterizados e possuirem uma grande dimensão humana, existem muitos erros narrativos neste filme, como por exemplo... Se os vizinhos ajudaram a mulher, porque é que não disseram logo ao marido quando ele chegou? Se ela gritou assim que foi atacada, como é que o atacante teve tempo de tirar as meias? E assim por diante.

Para além disso, há o início de algumas narrativas paralelas (por exemplo, o confronto com o outro actor) que acabam por ficar a meio sem ser exploradas.

Foi um filme um pouco novelesco e,sobretudo, muito desapontante.

Um Quarto com Vista

Um Quarto com Vista
 Edward Morgan Forster
1903
Romance

Os romances desta época têm uma tendência muito incomodativa de me chatearem de morte, sobretudo quando são escritos por senhores ingleses que admiram a sua capacidade de serem senhores ingleses.

Este livro é um resumo da vida quotidiana do meio rural britânico, tendo como mote a visita a Itália de uma rapariga que, se a pudermos caracterizar em uma palavra, é parva. A viagem a Itália, que aparentava ser o foco principal do livro, acaba por se remeter à irrelevância perante os acontecimentos que atingem os personagens no seu regresso à sociedade inglesa. Esta é retratada de uma maneira plena de orgulho próprio e um certo patriotismo bacoco, mas ainda assim com uma certa dose de autocrítica, na medida em que a rapariga parva acaba por descobrir que sofreu alterações emocionais fatigantes na sua viagem.

Outro aspecto que não gostei é o facto de o livro estar narrado da perspectiva feminina e ainda assim  conseguir ser essencialmente machista, dominador e redutor. Quando a personagem diz que se sente inferiorizada pela ideia de que "sou mulher e deveria estar sempre a pensar em homens", os quea rodeiam, homens e mulheres, levam-na ainda mais ao ridículo, provando que sendo fekminina é precisamente esse o único pensamento que tem.

Não apreciei de todo este livro, embora compreenda a sua importância histórica.

87ª Feira do Livro de Lisboa

87ª Feira do Livro de Lisboa

 Este ano não estava muito motivada para ir à Feira do Livro. Não estava com muitos fundos para investir em ainda mais livros e, sobretudo, comecei uma TBR enorme e não preciso de ainda mais livros (lol). Ainda assim, o Qui queria ir e a Ana-san e o pessoal iriam estar por lá, portanto consegui convencer-me a mim própria para fazer este passeio.

Fomos de barco e subimos a Avenida da Liberdade toda a pé, o que demorou o seu tempo. Isto significa que assim que cheguei à Feira propriamente dita já estava mais para lá do que para cá e, sobretudo, cheia de fome. Apetecia-me imenso, imenso, imenso!, um cachorro quente! No entanto, na banquinha dos cachorros não havia salsichas vegetarianas... Este ano a Feira estava muito bem servida de bancas de comida um bocadinho mais alternativas (para não usar o epíteto "gourmet"), pelo que havia muito por onde escolher. Acabei por comer uma espécie de crepe enrolado com salmão, que estava muito bom - apesar de o preço ser ligeiramente proibitivo. Enquanto comia, estava um palco com uma senhora a demonstrar as receitas de um livro de culinária. Só me apetecia dizer-lhe "dá-me isso para eu comer, dá pra mim dá!"

Depois fizemos o nosso circuito habitual, da direita para a esquerda, passando primeiro pelos alfarrabistas. Este ano fiquei especialmente surpreendida pelo valor dos livros: não havia nem um volume a menos de cinco euros! O que, de certa forma, contribuiu muito para o meu auto-controlo. Enquanto isso, ia telefonando à Ana-san, que se encontrava sempre no canto oposto do sítio onde estávamos, hahaha ^_^

Deste lado da feira, o elemento mais curioso a acontecer foi uma feirante que me queria obrigar a comprar um livro horroroso, com um vulcão em erupção na capa, chamado "Dianética - o Poder da Mente sobre o Corpo". Foi muito difícil explicar-lhe que não tencionava que a minha mente se apoderasse do meu corpo.

Quando demos a volta ofereceram-nos umas latinhas de cidra Strongbow, muito pequeninas mas muito fresquinhas. No entanto, talvez devido aos excessos da noite anterior, a cidra caiu-me muito mal e fiquei cheia de dores de barriga e puns :(

Do outro lado, desta feita, havia bancas bastante mais interessante. Perdi algum tempo numa que tinha livros sobre paganismo, sendo que havia muitos muito interessantes. Tive foi vergonha de ir espreitar a banca das publicações espíritas, tema que tenho explorado ultimamente apesar de não ser do meu especial interesse. 

Assim , saí da feira com um único livro: !Os Jardins de Luz, de Amin Maalouf. Escolhi-o porque li um volume deste autor há pouco tempo e gostei imenso, pelo que quis expermintar outro!

Só mesmo quando estávamos a ir embora encontrámos o pessoal! Ainda deu para vermos os livros que uns e outros havíamos comprado!

E assim se passou uma Feira do Livro com contenção de custos...

21.6.17

Olhos Azuis, Cabelo Preto

Olhos Azuis, Cabelo Preto
Marguerite Duras
1986
Romance

Avanço desde já que nunca gostei especialmente desta autora.

Este é um romance muito curto, leitura para uma hora e meia, que fala da relação entre homem-mulher, explorando as suas fragilidades: ciúme, traição, inconsequência e falta de dedicação. Tudo isto seria uma excelente ideia, se a autora se tivesse dado ao trabalho de caracterizar minimamente os seus personagens.

O único personagem que vive realmente é o fugaz "olhos azuis cabelo preto", que aparece uma vez e acaba por ser o tema de conversa recorrente entre o homem e a mulher que, por alguma razão ainda estão juntos e partilham uma cama de hotel. Para quê? Não se explica.

Para além do mais, os personagens estão constantemente a chorar. Qualquer coisa que se lhes diga, choram. Qualquer coisa que aconteça, choram. Qualquer referência às boas memórias do "olhos azuis cabelo preto"... Choram. Que melodrama!

Não achei mesmo graça nenhuma a este livro. Não recomendo.

Fogo Pálido

Fogo Pálido
Vladimir Nabokov
1962
Romance 

Foi o primeiro livro do autor que li depois de "Lolita", que passou pelas minhas mãos há muitos anos atrás. Cheguei à conclusão de que o pobre Vladimir não regula muito bem da pinha.

Um livro muito recordatório de Joyce, pela forma de escrita e, talvez, pelo tema abordado, relata-nos uma estranhíssima história de um poema, um poeta e um misterioso reino do norte e sua família real.

Shade, um poeta famoso (penso que inventado) escreveu o poema "Fogo Pálido". Agora, um dos seus mais próximos amigos (supostamente) decidiu publicá-lo acompanhado por uma análise detalhadíssima. No entanto, esta análise trata quase em exclusivo daquilo que o amigo influenciou no poema. Isto é: conta a história do amigo como se o poema tivesse sido escrito para ele. O que é muito estranho, porque o poema não se pode interpretar dessa forma, mesmo que seja inventado, mesmo que não exista. Fala simplesmente de outros assuntos!

Mas o analista insiste que o poema é sobre ele e sobre o seu fantástico e amado reino de Zemla, onde houve grandes acontecimentos relativos à deposição e fuga do rei, que se vem a saber muito mais tarde que terá mais influência na vida do autor do poema do que possamos imaginar.

Nabokov inventa palavras e frases, inventa uma história que, não fazendo sentido, é muito engraçada. Portanto, para quem só conhece a sua obra mais popular, sugiro que tentem este livro. Irá certamntew surpreender-vos!

Festa da Casa da Cerca 2017

Festa da Casa da Cerca 2017
Festa
Foram raras as vezes que tive oportunidade de ir a esta festa, a da Casa da Cerca. Gosto muito desse espaço, pois tem um jardim botânico lindíssimo. Sábado passado, decidimos passar por lá para ver uns concertos.
 
Chegámos um pouco atrasados e o concerto que q1ueríamos ver já estava quase no fim. Era Cacique 98, uma banda com raízes moçambicanas que estava a dar tudo por tudo para que toda a gente dançasse. Infelizmente, começou uma trovoada com chuva torrencial. Até soube bem, porque estava imenso calor, mas esconder-nos debaixo das árvores foi insuficiente. Fugimos para a estufa, onde estava um bafo medonho.
 
Havia espalhados pelo espaço vários elementos alimentares e lojinhas com artesanatos variados. Como terão feito com a chuva?
 
Passado um pouco vimos que estava existindo uma performance de dança e teatro à porta da Casa da Cerca propriamente dita. Tanta gente lá estava que achámos melhor nem assistir.
 
Finalmente, chegou o DJ Lizardo, que pôs toda a gente, efectivamente, a dançar (tendo sucesso onde outros falharam), com mixes e viagens à descoberta do indie pop mais antigo e obscuro.
 
Depois ainda fomos a um bar novo que um amigo abriu, mas eu já não dizia coisa com coisa :)
 
E assim se passou Sábado.

Level E

Level E
Kato Toshiyuki - Studio Pierrot
Anime - 13 Episódios
2011
5 em 10

Consideremos que o mundo em que vivemos está densamente povoado de seres alienígenas que se esforçam ao máximo para que ninguém dê por eles. Consideremos que um amigo nosso vem a ser alien e, para mais, é um poderosíssimo príncipe das entidades espaciais. Só que havia perdido a memória. Que aventuras poderão acontecer?

Este é um anime leve que faz do seu próprio conceito uma comédia. Isto seria uma boa ideia, se as piadas da comédia fossem, de alguma forma, engraçadas. As piadas baseiam-se essencialmente numa crítica sarcástica a outros géneros de anime, com referências aqui e ali, sendo que os personagens acabam por cair dentro do estereótipo daquilo que, precisamente, tentam parodiar. A paródia não é de todo evidente, repare-se.

A arte é colorida e brilhante e os designs têm uma aura um bocadinho old-school, apesar de o anime ser desta década. Mas, em termos de animação, temos muito pouca coisa para ilustrar, sendo que quase tudo se baseia em movimentos repetitivos e rítmicos que se esforçam por imprimir alguma piada às situações que, claro, não a têm.

A música é essencialmente irrelevante, sendo que a OP e ED, apesar de serem sons interessantes, não se conjugam com nada do que existe na série.

Um anime que se esquecerá rapidamente.

14.6.17

Mirai Nikki

Mirai Nikki
Hosoda Naoto - Asread
Anime - 26 Episódios
2011
5 em 10

Este é daqueles animes tão famosos e tão populares que uma pessoa tem sempre dificuldade em criar uma expectativa. Assim, fui para este anime sem saber quase nada sobre ele. Tudo o que sabia é que havia uma miúda maluca, uma yandere (talvez o exemplo primordial deste tipo de dere). E agora, que o vi, fiquei um pouco triste. Porque este anime tem uma ideia base que funcionaria bem. Se não fosse tudo o resto.

Um jovem inadequado, como muitos, tem um diário no telemóvel e fala com os seus amigs imaginários. Um dia descobre que estes amigos imaginários são reais e que o seu diário prevê o futuro. Agora, está envolvido num battle royale em que terá de matar os outros utilizadores de diários para ser o rei da cocada preta. Ora, isto ao início é uma excelente ideia: um jogo de sobrevivência em que sabemos sempre o próximo passo e podemos alterá-lo de alguma maneira. Mas a partir do primeiro terço da série, a situação dá uma volta bizarra e agora é o mundo que vai ser destruído e ai coiso.

Os personagens também são demasiado unidimensionais para que o foco na sua relação funcione. O rapaz é um verme, que faz tudo para sobreviver e não tem qualquer tipo de qualidade que lhe permitisse vencer o jogo se este se passasse no mundo real. Claro que no final já é ágil, forte e poderoso, por alguma razão que não se compreende. E a rapariga, está essencilmente focada em ser uma obsessiva máquina de matar, sem nada que explique a sua dedicação sem ser um bizarro trauma passado que não parece ter grande relação com os eventos actuais. Aliás, que personagemnesta série não tem um trauma passado?

A arte é simplesmente feia. Os designs são improváveis, com erros anatómicos constantes e pouco profissionais, sendo que as cenas de animação também revelam uma má utilização de orçamento que poderia ter sido utilizado em, por exemplo, arranjar desenhadores de keys que soubessem desenhar. Os cenários também são pouco detalhados e muito infantilizados.

Já a banda sonora também revela muito más opções. Se a OP e ED dão um certo thrill à expectativa, tudo o resto é banal, pouco coerente e retira qualquer efeito emocional que estas cenas poderiam ter.

Portanto, mais uma vez: uma ideia boa, completamente destroçada.

As Ilhas Desconhecidas

As Ilhas Desconhecidas - Notas e Paisagens
Raul Brandão
1924
Livro de Viagem

Comecei uma nova TBR, que consiste em ler todos os livros do escritório da minha mãe. O primeiro que arrebanhei foi este. Confesso que não esperava muito dele. Foi, no entanto, uma leitura maravilhosa e surpreendente!

Nos idos anos 20, um homem visita as ilhas pela primeira vez. Este é o relato das suas experiências. Raul Brandão mostra-nos, através de um olhas suavemente impressionista, as paisagens a azul e verde das ilhas, a força da natureza e da floresta, o medo do mar, o poder das ilhas enquanto matéria viva e orgânica, que o homem tenta conquistar mas sai sempre defraudado. Porque existe neste relato um poder de imagem, um remeter para um universo fantástico povoado de estranhos monstros e criaturas, que quase não corresponde a uma realidade. Mas, tendo ido aos Açores, a verdade é que o relato está tão bem feito, tão verdadeiro e sincero que apenas nos dá vontade de voltar.

O autor também fala muito dos hábitos das pessoas que vivem nestas terras inóspitas. A maneira de vestir, falar, comer, trabalhar. Mostra-nos como é trabalhada a terra na agricultura, mostra-nos a criação de gado. Mostra-nos a pesca e a caça da baleia. Sem temores, sem pruridos. As coisas tal e qual como são. O que, nos anos 20, nas ilhas, eram bastante terríveis.

Este livro transportou-me a um mundo mágico. E, sabendo que esse mundo existe realmente, traz uma saudade, uma vontade de voltar. Como se nunca tivéssemos de lá saído e estivéssemos no continente a fazer férias.

Batman Begins

Batman Begins
Cristopher Nolan
2005
Filme
6 em 10

Antes do famoso "Cavaleiro das Trevas" que tanto popularizou o mais popular dos inimigos do Batman, a trilogia de Nolan tem este filme: "Batman Begins". Aqui, vemos o jovem Bruce Wayne e o processo de criação da figura de Batman.

Após o seu trauma de infância, Wayne decide que deseja ser um vingador. Mais que um vingador, um protector da justiça. Existe aqui uma dualidade de sentimentos: o desejo de retaliação pela morte dos pais contra o desejo de continuar a sua obra através da protecção das pessoas. Com inimigos como Scarecrow envolvidos, este é um filme que explora o personagem através da superação dos seus medos e, assim, a criação de um símbolo através deles.

Mas, se essa é a principal qualidade do filme, existem outros elementos que são mutio pouco adequados a semelhante figura. Por exemplo, a forma como Bruce Wayne é um patético quando está fora da máscara. A história de amor mal enjorcada que foi martelada ali, protagonizada por uma actriz com muito pouco mérito. E as próprias cenas de acção, pecam por um exagero flagrante e poderiam ter sido reduzidas ao mínimo (especialmente aquela perseguição de carros absurda).

Todo o filme parece ser uma introdução. Uma introdução com duas horas, mas deixa-nos sempre o pensamento de "o que virá a seguir, quando começa realmente a história?". Parece-me funcionar bem como primeiro elemento de uma trilogia, mas como filme individual fica um pouco aquém das expectativas.

NOS Primavera Sound 2017

NOS Primavera Sound 2017
Festival de Música
Quando saiu a notícia de que o Aphex Twin tocaria em Portugal, no Porto, no festival Primavera Sound, eu soube imediatamente que não poderia perder a oportunidade de o ver. Afinal, esteve desaparecido durante anos e pode voltar a desaparecer a qualquer momento! Mas, colocou-se imediatamente um problema: festival começava na quinta... E na quinta-feira é dia de trabalho! Assim, decidi ir apenas no Sábado, que era precisamente o dia do concerto que mais queria ver. :)

Tentei arranjar umas viagens de avião, daquelas por dez euros, mas já não estavam disponíveis. Portanto, parti no comboio das nove da manhã, ao lado de um fulano que ia a ver coisas no computador com os fones, impedindo-me de sair do meu lugar junto da janela para fazer alguma coisa (como experimentar as fantásticas casas de banho do comboio ou ir à mala apanhar o meu lanche da manhã). Fui depois para a estação de S. Bento, pois o AirBNB que havíamos alugado em conjunto (eu, o Qui e mais quatro amigos) era nessa zona.

Deixando as malas na residência, constatava-se que fazia parte de estranho edifício. Era no quarto andar, sem elevador, sem comunicador para abrir a porta da rua e, para chegarmos ao apartamento que nos competia, tínhamos de passar pelo meio das casas das outras pessoas: o corredor do prédio era também o hall de entrada dos apartamentos. A casa era idosa, com condições precárias, apesar de ter uma cama confortável. A cozinha horrorosa, a casa de banho toda peluda. Mas talvez ffosse porque já tinha estado habitada pelos gremlins nos dois dias anteriores.

Depois fomos para o recinto do festival. Fomos de Uber, que nos levou até uma entrada toda catita com meninas da Uber a receber-nos. Utilizámos este meio de transporte porque um amigo precisava de levar uma mala, que deixou no bengaleiro. Mas eu e o Qui não entrámos logo no festival. Antes disso, estivemos a apanhar sol junto da praia. Só depois troquei o meu bilhete por uma catita pulseira roxa e rosa e por um cartão de plástico. Os dois juntos permitiam acesso permanente até às três da manhã ao festival. Os dois separados não serviam de nada. Perdesse-se um, já não se entrava.

No primeiro dia, as sandes que o Qui tinha levado haviam sido retidos pelos cops. No entanto, a minha garrafa de água, através dos meus truques altamente simpáticos de, simplesmente, ser brutalmente honesta e dar a água à senhora, entrou pacificamente.

O espaço, o Parque da Cidade, é muito bonito e cheio de relva. Tudo estava muito bem organizado, existindo uma série de palcos que, estando todos muito junto uns dos outros, não interferiam em nada na apreciação dos concertos que estavam a decorrer. Ofereceram-nos uns sacos muito jeitosos com  toalhas de piquenique lá dentro, o que tornava o acto de sentar muito agradável. Claro que isso não impedi que eu fosse brutalmente mordida por pulgas, ao longo de ambos meus pés...

O primeiro concerto que vimos foi o da Elza Soares. Já apanhámos a meio. A senhora estava sentada num trono, mas ainda assim tinha uma presença em palco invejável. Não conhecia bem, mas fiquei a adorar as músicas, a voz, tudo poderosíssimo. As ideias, os conceitos, tudo isto com uma perspectiva antiga: uma espécie de proto-funk que saiu das ruas para dizer a verdade da forma mais brutal e crua possível. Ela ainda fez um encore, coisa rara, e nunca soubemos a solução do mistério: afinal, como é que ela vai sair dali?


Depois fomos explorar e jantar algo. Havia muitas opções de comida, não especialmente baratas e escolhi o lado vegetariano da vida, comendo um caril de grão que estava mesmo muito óptimo. Entretanto, o Qui havia-me revelado o segredo de que além de jola sobrevalorizada este festival vendia bebidas brancas ao mesmo preço da jola sobrevalorizada. Isto foi óptimo, porque poupei imenso dinheiro bebendo muito devagarinho e tive de ir muito menos vezes à casa de banho. Tinham o sistema de pagar uma caução pelo copo, que depois poderia ser devolvido ou, o que fizemos, levado para casa como recordação. Quanto às casas de banho, que estávamos a falar de xixi, eram aceitáveis, perdendo a qualidade à medida que a noite ia progredindo. Vi cenas estranhas, como branca no meio dos cagalhões. A parte que mais me espantou pela positiva foi o facto de  amaior parte das casas de banho eram unissexo. Apesar de tudo, isto continua a ser incompreensível para as pessoas em geral, porque havia uma fila masculina e uma fila feminina. Revoltou-me grandemente!

Andámos por aqui e por ali e depois vimos Death Grips. Tinha ficado a conhecer esta banda nos dias anteriores, mas adorei o concerto. Se bem que foi um concerto diferente... Já me doía os pés, portanto sentei-me e apenas ouvi o concerto. E foi brutal. Um hip-hop cheio de core, violento, cheio de dicas que à primeira vista não passam de ruído mas que, à medida que nos vamos envolvendo na sonoridade hipnótica, começam a fazer um sentido profundo e visceral. Entretanto havia descoberto que se me transformasse num calhau as pessoas perdiam a tendência de ir contra mim, coisa que me causa pânico nos concertos. Portanto, passei o resto do festival perspectivada como um calhau. :)


Depois fomos para o palco principal, onde vimos Metronomy. Achei uma parvoíce de banda, um pseudo-indie cheio de estilo que não tinha conteúdo nenhum. De seguida vimos Japandroids, mas não me cativou e portanto nem vi com atenção.

Até que foi momento, momento final, momento brilhante, momento de ver o Aphex Twin. Como descrever este concerto? Foi uma brutalidade, foi um exercício de resistência física e emocional, mas foi sobretudo uma experiência transcendental plena de detalhes que até agora estou a tentar compreender. Não o podíamos ver, ao artista, escondido na sombra, disfarçado pela luz que o rodeava. E os ecrãs, muitos ecrãs, mostravam as imagens mais improváveis: nós. O público aparecia nos ecrãs, com as suas imagens mutadas em milhões de padrões e cores. Enquanto isso, luzes e lasers levavam-nos para um planeta tão orgânico como puramente digital. Mas um digital defeituoso, um computador viral. Porque o som, por vezes calmo, transmitia sempre uma sequência de nervosismo. Samples do próprio, samples do próprio disfarçado de outra pessoa, samples de amigos, nada de famoso, nada de histérico. Ainda assim, uma sequência autobiográfica e contemplativa que, junto com as imagens, ironizava todo o contexto, gozando connosco (tantas imagens dos palhaços de Portugal!) e também com ele próprio. De resto, foram duas horas a fritar ovos. E pipocas. Fritar tudo. Não parei de dançar um segundo, porque nem havia espaço para bater palmas. Seguido, seguido, cada vez mais violento, cada vez mais agressivo, um animal selvagem que se dirigia para nós para nos comer o cérebro às fatias, um ácido que entrou nas nossas mentes deixando-as em papa e, após recuperação, cheias de imagens subliminares.

Foi a melhor experiência musical que tive nos últimos anos.



Depois, voltámos de autocarro. Não sabia em que posição haveria de me meter, porque me doía tudo xD

No dia seguinte arrumámos tudo, deixámos as nossas malas num bengaleiro público que também era uma loja de souvenires e fomos almoçar. No dia anterior havíamos descoberto um restaurante com pizzas caseiras baratíssimas e lá voltámos. Depois fomos passear pelas lojas hipsters do Porto, o que foi uma situação horrorosa, porque tudo o que eu queria era estar sentada a apanhar sol, em vez de estar a ver coisas demasiado caras para serem coerentes.

Voltámos no comboio das sete. Adormeci.

Agora estou aqui. Ainda estou a pensar.

13.6.17

O Porquê da Vida

O Porquê da Vida
Léon Denis
1885
Ensaio

Como sabem, na minha visita a São Miguel tive uma "conversa fraterna" com um membro da Sociedade Espírita de Ponta Delgada. No final, ele ofereceu-me este livro, com uma grande dedicatória que ainda estou a tentar compreender (caligrafias difíceis...), dizendo que me iria dar mais algumas luzes sobre a perspectiva espírita da vida.

Devo confessar que... Não. Não me deu nada de novo.

Este livro é estranho porque, afirmando que vai dar soluções para as questões essenciais da vida, não passa de um resumo da matéria dada por Allan Kardec em O Livro dos Espíritos. As próprias frases estão estruturadas de forma tão semelhante que quase se assemelham a uma cópia. O senhor Denis parece não ter tido nenhum contacto que lhe permitisse dar-nos novidades sobre o estado da arte desta corrente espiritual.

Além disso, esta edição está recheada de estranhíssimas ilustrações, quase todas as páginas, que consistem em grandes planos de um mapa dizendo o lugar onde o autor nasceu e depois veio a falecer.

Fiquei realmente desapontada.

História de Um Cão Chamado Leal

História de Um Cão Chamado Leal
Luís Sepúlveda
2015
Novela
Havia oferecido este livro à minha irmã a propósito do Natal do ano passado, sendo que o encontrei agora quando buscava mais livros para compor a minha nova TBR (falando nela, já tenho uma nova! Vou demorar algum tempo a deitá-la abaixo, desta vez, hahaha ;))

Este é um conto, novela infantil em que o autor revela a sua paixão pela cultura do Povo da Terra, o povo Mapuche que foi expulso (e continua a ser) das suas terras pelos colonizadores. Afmau é um cão pastor alemão que é encontrado por um jaguar, que depois o leva para junto das pessoas, onde cria laços com uma nova família. Quando os colonizadores chegam, raptam este animal e, mais tarde, forçam-no a perseguir o seu próprio povo. Será que ele vai poder conseguir operar algum tipo de vingança?

Não se diria que é uma vingança, pois os cães não possuem esse tipo de discernimento, mas a verdade é que as contemplações de Afmau revelam muita amizade e lealdade perante o povo que o acolheu. O cão relata os momentos e eventos culturais do seu povo, a forma como este se liga com o mundo que os rodeia e se integra na natureza. Isto teria tido muito mais beleza se o autor não fizesse uma sucessão de palavras em mapuche, em que o livro quase se torna num glossário em vez de uma narrativa.

Também não gostei do final, porque o homem poderia ter optado por salvar Afmau em vez de se tratar a si próprio primeiro. De certa forma, dá uma má imagem ao Povo da Terra.

Este livro é rico em ilustrações que, sendo vectorizadas, acabam por trazer muita dinâmicao à narrativa e uma certa textura naturalista.

Lê-se numa hora e é divertido!

Merde Actually

Merde Actually
Stephen Clarke
2006
Romance

Recebi este livro numa BookBox do BookCrossing. Escolhi-o pois o pessoal do fórum tinha estado a falar dele há algum tempo. Afinal, descobri mais tarde, falavam de "One Year in the Merde", que é a prequela. Este aparece em sua continuação, mas não se perde nada se for lido sozinho.

Um jovem inglês que vive em Paris decide escrever um livro a contar as suas experiências estranhas com o povo francês, que é mal-educado e difícil de compreender para a perfeitamente sã mente inglesa. Este livro conta a forma como Paul, o personagem principal, acaba com a sua namorada que é maluca e tem uma família maluca, abre um café inglês em que todos são malucos, dá umas trancadas em outras francesas malucas e acaba por encontrar o amor da sua vida, que por sinal também é uma francesa maluca.

Isto é, é toda a gente louca menos ele.

Ou será que, afinal, o personagem não passa de um idiota? Isso parece-me muito mais provável.

As situações inusitadas perdem, então, a piada: o personagem é um idiota. Internacionalmente idiota. A forma como os franceses são vistos é ofensiva, redutora e insuportavelmente pedante. A forma como os ingleses são vistos em comparação não é muito melhor.

Um livro em que o autor manifesta o seu absoluto desconhecimento pela sociedade alheia e demonstra uma falta de abertura e integração abismal. Fazer disto um livro parece-me um  belíssimo golpe de mau gosto.

9.6.17

Sakamichi no Apollon

Sakamichi no Apollon
Watanabe Shinichiro - Tezuka Productions
Anime - 12 Episódios
2012
7 em 10

Tempo de antena para um anime completamente diferente! Como alguns saberão, hoje em dia tenho vindo a explorar muito o jazz enquanto cultura e género musical, sobretudo através de programas de rádio que oiço nas minhas longas aventuras condutórias. Assim, um anime sobre jazz veio mesmo a calhar!

Algum tempo depois do pós-guerra, no Japão, este género começa a insurgir-se entre a comunidade  e, claro, algumas pessoas querem mesmo tocá-lo. É isso o que descobre um jovem, um pouco inadaptado, estudante de piano clássico, que conhece um baterista que não se insere muito bem na sociedade por estar sempre do contra, nas lutas e a arranjar sarilhos. Começa a frequentar uma sala de ensaios onde este toca, fazendo novos amigos. Assim se começa a desenvolver uma história de amor e amizade, em que as pessoas e suas famílias se encontram ligadas por algo mais forte: a música.

A história tem um desenvolvimento original na medida em que é perfeitamente realista. Os personagens são cativantes, sendo que cada um deles é um solitário à sua maneira mas acabam por descobrir algo que os une e que se pode transformar numa das suas "favourite things" Também é plausível e bastante comovente a forma como tudo acaba por correr mal, não apenas pela força do acaso mas pelas próprias acções dos personagens. O autor acaba por, no final, arrumar tudo num futuro que, não sendo risonho, nos traz forte melancolia e saudade pelo passado.

Temos uma animação cuidada, sobretudo nos momentos musicais, em que os gestos dos personagens realmente correspondem ao que está a ser tocado. A paleta de cores é suave, com muitos castanhos, o que torna o ambiente deste passado perdido em algo remoto mas ainda assim facilmente identificável pelo espectador. Os designs são realistas e pouco dados a extremos, o que funciona muito bem dentro deste contexto.

Finalmente, a música. Como não falar sobre a música? Com um conjunto de standards tocados de formas originais e muito pessoais e também algumas peças originais, este é um anime muito completo para todos os apreciadores do género musical. É muito refrescante ver como ao início nem todos são perfeitos nos seus instrumentos, sendo que a evolução é patente com o progredir do anime E as versões cantadas, apesar do fortíssimo sotaque nipónico, têm realmente muito charme.

Gostei muito deste anime, relaxante, bem pensado e muito musical. Recomendo!

Watchmen

Watchmen
Alan Moore & Dave Gibbons
Graphic Novel

Comprei este livro no passado Anicomics. O Qui sempre mo havia recomendado e achei que seria um óptimo volume para acrescentar à nossa crescente colecção. No entanto, talvez este livro tenha chegado às minhas mãos de leitora na altura errada, porque senti que não o apreciei devidamente.

Este é um livro que fala dos super-heróis depois de deixarem de ser super-heróis. Num universo semi-distópico em que Nixon continua a ser presidente e a perseguição aos comunistas é cada vez mais acérrima, os super-heróis foram dispensados das suas funções de protectores da justiça, porque no fundo faziam mais mal que bem. Afinal, não passavam de seres humanos. Quase todos eles, pelo menos. Agora, desde o brutal assassinato de um veterano da equipa, Roscharsch - um dos heróis do passado que nunca revelou a sua identidade - procura descobrir o assassino e envolver os outors antigos amigos na sua busca.

No entanto, há algo mais forte que eles que está sempre um passo à frente. E assim começa uma riquíssima análise pessoal de cada um dos intervenientes desta história, que sofrem uma caracterização e desenvolvimento raramente vistos neste formato de banda desenhada. Cada um deles tem os seus momentos de felicidade, os seus pequenos momentos de vida diária. Mas por trás de cada uma destas figuras, podemos analisar os problemas que vieram do facto de terem todos sido super-heróis, da incapacidade que têm de se afastar das suas personagens passadas e, sobretudo, dos problemas que têm na interacção com o mundo que os rodeia. Afinal, este mundo deseja que eles por um lado sejam pessoas normais e inseridas na sociedade, mas por outro lado ainda precisa de vigilantes que os protejam e ajudem.

As revelações são surpreendentes e a cada volta que a história dá mais percebemos a ironia da construção de certas personagens, da loucura em oposição à moralidade e da perfeição física em oposição a uma crueldade crescente.

As cenas estão desenhadas num estilo que não me agrada muito, num ponto de vista puramente pessoal, mas possuem uma dinâmica incrível, na medida em que não existem cenas de acção profundamente elásticas mas existem momentos de profundidade emocional que não poderiam ter o efeito desejado se não fosse a qualidade da arte.

Existem cenas, também, que transmitem uma extrema beleza, nomeadamente as contemplações e divagações filosóficas em Marte e até mesmo a cena fatídica do final que, não sendo gráficamente brutalizante, é muito forte em termos de desenvolvimento e desfecho.

Um livro que gostaria de ler numa outra ocasião, mais calma. Recomendo.

4.6.17

Miracleman

Miracleman
O Escritor Original
1986
Banda Desenhada

Ofereci este livro, uma edição integral em Português, ao Qui pelo seu aniversário. Entretanto, li-o antes dele. :p

Miracleman é o que veio depois de Marvelman. Um herói feito para combater a popularidade da DC, que acabou por se perder no tempo e no espaço. Em 1986, o "escritor original" pega no personagem e dá-lhe uma nova interpretação. O que acontece quando o herói, quando o homem que está por trás do herói, esqueceu tudo e não passa de um homem de meia idade a tentar fazer a sua vida normal? E como é que a presença dos seus poderes irá influenciar a sua vida?

Esta é uma banda desenhada de extrema violência, nunca injustificada, que faz uma análise aguda e contundente dos seus personagens, permitindo uma variedade de interpretações para estabelecer a verdadeira profundidade das suas acções. O vilão está concebido de uma forma simplesmente brilhante, sendo que os super-poderes de Miracleman acabam por dominar a própria personalidade do homem por trás da máscara.

A arte é de uma brutalidade surpreendente, com imensos detalhes que só poderiam ser detectados numa segunda ou terceira leitura, com um uso de estilos mistos que envolvem todos os tipos de arte. Este não é um comic de todo normal. é surpreendente, fascinante e comovente.

O final é positivo, mas apesar de tudo fica uma nota interrogativa. Afinal, é preferível entregarmo-nos à perfeição rejeitando a nossa própria humanidade?

Um livro genial, que me orgulho de ter na minha colecção.

Marvel 2099 - Primeiras Aventuras

Marvel 2099 - Primeiras Aventuras
Banda Desenhada
1999
 
Finalmente, um colume que contém algumas aventuras dos nossos heróis Marvel preferidos, mas em 2099. Este foi um projecto do final dos anos 90, que tencionava dar uma nova imagem aos heróis, dando-lhes novos nomes, novas personalidades e um novo mundo para viverem, protegerem e povoarem.

Neste volume há histórias do Homem-Aranha, do Punisher e dos X-Men. Gostei muit das histórias do aranha, que são completamente diferentes do habitual. Neste mundo, os super-heróis estão completamente banidos, pelo que os mascarados são perseguidos pelas próprias autoridades. Assim, não se trata tanto do caso de "fazer justiça pelas próprias mãos", mas mais de uma procura pela auto-suficiência e sobrevivência.

O universo está bem caracterizado nos cenários, embora os movimentos dos personagens perante eles sejam um pouco descuidados. Os designs novos também são bastante curiosos, afastando-se bastante dos arquétipos da era.

Foi uma leitura gira e não me importava de ler mais aventuras.
 

A Canção do Carrasco

A Canção do Carrasco
Banda Desenhada
1997
 
Este é um volume dos X-Men, da Marvel, que combina os três capítulos da série "A Canção do Carrasco". Infelizmente, não consegui apreciar devidamente estes comics, porque não tinha contexto prévio para conseguir inserir os personagens no tempo-espaço das suas personalidades.
 
O problema dos X-Men, desta vez, é o rapto de Jean e Cyclop por uma entidade alienígena maléfica, para além do ferimento infligido a Charles Xavier por um terrorista. Vários X-Men e outros mutantes procuram salvar os seus companheiros e acabam por vencer um monstro terrível e muito horrendo.

Os desenhos da Marvel, fiquei a ver, são um pouco diferentes. Utilizam linhas mais finas e os designs dos personagens são um pouco mais humanos e brutais, não se exigindo a todos que tenham corpos perfeitos. No entanto, são utilizadas tantas ores que os desenhos acabam por ficar um pouco confusos, sendo as vinhetas menos dinâmicas comparativamente ao que havia lido antes.

Não fiquei com vontade de ler mais X-Men.
 

Super-Heróis

Super-Heróis
Banda Desenhada - 18 Volumes
1995

Esta é uma colecção em 18 volumes das revistas quinzenais de Batman, Liga da Justiça, Super-Homem e SuperBoy que foram publicadas entre 1995 e 1996 em Portugal, pela Abril/Controljovem. Inclui algumas séries semanais, nomeadamente a Queda do Morcego (e o seu regresso) e o prólogo para a Hora Zero.

Foi uma excelente maneira de onhecer, mais uma vez, alguns dos personagens mais icónicos da banda desenhada e comics americanos. Fiquei a saber um pouco mais sobre Batman e como Bruce Wayne ficou incapacitado durante algum tempo. Fiquei a conhecer a Catwoman, que adorei em fiquei com vontade de fazer cosplay de (embora, talvez, com um fato um pouco menos expositivo). Por outro lado, não gostei de conhecer o SuperHomem, que é um boneco, nem a Wonder Woman, que é uma parva, e muito menos o SuperBoy, que é muito irritante.

Também não gostei muito de ler as histórias aqui incluídas da Liga da Justiça, que eram todas demasiado improváveis.

Além disso, esta colecção tem o grande defeito de interromper o Regresso do Morcego, passando da parte das aventuras de Bruce Wayne imediatamente para a luta contra Azrael.

Em termos de desenho, são comics muito dinâmicos, com um uso de vinhetas muito interessante, mas em termos de cores pareceu-me tudo muito repetitivo.

Foi uma boa experiência, apesar de tudo!

Sci-Fi Harry

Sci-Fi Harry
Kodera Katsuyuki - ADDD
Anime - 20 Episódios
2000
6 em 10

Este anime passa-se nos States. Harry é um miúdo um pouco solitário, que não se dá bem com as outras pessoas e é constante vítima de bullying. Até ao dia em que descobre que tem poderes paranormais e extrasensoriais. A partit daí, inicia-se a sua aprendizagem, mas também uma perseguição por parte de vários grupos que desejam controlar os seus poderes.

Os personagens são interessantes na medida em que se distinguem da típica personalidade japonesa sempre presente nos animes. Apesar da dub ser nipónica, conseguimos identificar este grupo de jovens como puramente ocidentais. O seu desenvolvimento é, no entanto, bastante previsível dentro do contexto, assim como a evolução das suas relações pessoais.

Artisticamente, temos um estilo que já se perdeu no início do milénio, dedicado a um ultrarrealismo dos designs, inseridos num ambiente escuro e opressivo com cores reduzidas e insistência nas sombras. Os cenários não são especialmente detalhados, pelo que se não fosse pelos personagens seria um pouco difícil de localizar este anime num país em específico.

Em termos de música, não se apresenta nada de extraordinária, com excepção de abertura e final bastante coerentes e de um estilo rock que eu gosto muito mas que já não se ouve assim tanto por aí.

Um bom anime negro, para variar.

Bungaku Shoujo

Bungaku Shoujo
Tada Shunsuke  - Production I.G.
Anime - Filme
2010
6 em 10

Um filme que fala sobre livros, mais ou menos.

Um rapaz do primeiro ano do secundário conhece uma senpai com uma característica fascinante: ela come livros. Obriga-o a fazer parte do clube de literatura, onde ele escreve "snacks" para ela comer à hora do lanche. Mas quando um dia, por acaso, ele encontra no hospital a sua amiga de infância, que está internada por tentativa de suicídio, começa uma onda de mistério e ansiedade até ao desenlace final.

O ambiente do filme é bastante interessante, com a exposição da loucura dos personagens até ao extremo, mas a conclusão acaba por ser um pouco lugar-comum, sendo que não havia de todo necessidade de o filme ser tão longo. Houvesse terminado numa nota menos positiva, talvez tivesse tido mais efeito emocional no espectador.

A arte é simples, com um bom uso de cenários e uma paleta de cores muito simbólica na relação com a estação do ano retratada. Os designs, no entanto, são bastante fracos, sendo que o estilo anatómico sugere a existência de muitos erros, sobretudo na expressão.

A música será, talvez, a melhor parte deste anime, com utilização de uma série de peças que em muito contribuem para a caracterização emocional de cada cena.

Um filme normal.