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In English: Cosplay Portfolio (Updating) | SALES

30.1.19

K-On! Movie

K-On! Movie
Yamada Naoko - Kyoto Animation
Anime - Filme
2011
7 em 10

Há quanto tempo é que eu não via anime? Pois é, estou aqui com uma questão com o meu computador em que não devo ou posso sacar nada novo, então é assim...

O filme de K-On fala-nos de uma secção da segunda season, a viagem de graduação da banda. Para quem já tenha visto esta season o filme acaba por não trazer muito de novo, sendo que a conclusão (que tanto me emocionou à primeira) sabe a pouco.

Tendo isso em conta, é sempre um prazer ver mais aventuras deste grupo relaxado de meninas, desta feita em Londres. Assistimos a alguns momentos de concerto que nos enchem as medidas musicalmente e existe uma caracterização bastante interessante do ambiente musical londrino, embora sempre carregado de uma inocência infantil, o que sempre foi natural neste tipo de anime.

Também a arte e animação são pontos a favor. Temos cenários detalhados, cada um quase fotográfico, e sequências de acção que se coadunam muito bem com o que está a ser apresentado. Sobretudo nos concertos, é dada uma especial atenção à banda, ao público e à relação entre eles, sendo estas cenas carregadas de bastantes detalhes.

Gostei muito deste meu regresso ao anime. Agora estou imparável outra vez.

Stabat Mater | Paixão Segundo João

Stabat Mater | Paixão Segundo João
Antonio Tarantino
1997
Teatro

E como também ando a aprender mais sobre dramaturgia, emprestaram-me (obrigada) este mini-mini-livrinho com duas peças de um familiar do Tarantino, que pelos vistos também é maluco. :)

Comecemos por Stabat Mater. É uma performance a uma voz, em três partes, em que uma personagem feminina está aos gritos com alguém, falando do filho que teve e do homem que a abandonou. Mas a forma como fala destas coisas é desregrada, de uma linguagem vernacular cheia de energia e cheia de expressões engraçadas. O texto é complexo e delirante, apesar de estar a contar uma história muito simples. Não fosse o seu tamanho, difícil de decorar, quase que tinha vontade de o interpretar eu mesma (huhuhu).

Já a Paixão Segundo João é um outro tipo de exercício. Este texto é mais difícil de desfiar, estando pleno de significados e crítica social que poderão ser um pouco difíceis de contextualizar. Observamos um louco numa sala de espera e o seu acompanhante, que parece esperar que a esp4era do louco termine. O discurso é rápido, com energia vital. Imparável.

São dois textos dramatúrgicos muito estranhos, mas ainda assim muito estimulantes. Obrigada!

Abismo

Abismo e Outros Contos
Jean Meckert
2013 (Antologia)
Contos

Tenho estado a aprender um pouco mais sobre contos, pelo que me emprestaram este livro como exemplo de contos integrais.

Convém falarmos um pouco do autor. Este foi um daqueles escritores atormentados pelas dificuldades da pobreza, pela falta de emprego pela altura da Grande Depressão e pela guerra que espreitava por todos os lados. A sua infelicidade: constante busca por uma forma de vida que lhe permitisse manter um lugar onde viver e o que comer.

Isto reflecte-se, sem qualquer dúvida, nos três contos contidos neste volume. No primeiro, conta como a sua aldrabice para conseguir uma comissão destruiu a vida a uma família. No segundo, remte-se a uma prisão e narra os pequenos acontecimentos do dia nesse local. O narrador oferece-se como uma entidade neutra, tão inocente quanto criminosa, o que transmite todo um aspecto tragicómico à situação. Nestas duas histórias, o autor também relata de forma paralela a pobreza que se vive por todo o lado, caracterizando muito bem a sociedade que o rodeava nessa época.

Finalmente, o último conto aparece como um manifesto da tristeza, autor questionando tudo e todos se o podem compreender, se o podem ajudar e porque não fazem isso estando ele à beira do abismo. Depois dos primeiros contos, que no fundo quase são uma cronologia autobiográfica, este aprece como um murro no estômago.

Uma excelente leitura, também muito rápida. Obrigada!


Ronin

Ronin
Frank Miller
1983
Graphic Novel

Comprámos esta Graphic Novel no AmadoraBD do ano passado. Uma leitura tão difícil como extraordinária.

Um samurai sem mestre, Ronin, é amaldiçoado por um demónio. Renasce no corpo de Billy, um homem do futuro com poderes telecinéticos associado a um super computador. Aquarios, esta nova tecnologia, tem uma inteligência artificial suprema e uma capacidade de aprendizagem invejável. Mas a acção do demónio, que também renasceu, irá complicar as coisas.

Se há coisa que impressiona desde logo neste livro é a arte. É uma arte complexa, cheia de traços e sombras que, pintado a aguarela numa paleta de cores vibrante e incompleta, transmite um conjunto de sensações visuais impressionantes. No entanto, tornam a leitura também muito confusa enquanto se tenta descortinar o sentido de cada acção que, de forma muito dinâmica, nos conta uma história plena de violência.

A ideia por trás de Aquarius também revela uma grande originalidade no conceito, talvez com uma certa inspiração em Hal de Kubrick. O demónio sobrenatural, algo nada lógico nem científico, consegue enganar a máquina mais inteligente de que há memória, usando para isso o seu próprio mecanismo. Assim, o demónio e a máquina tornam-se quase como uma unidade.

Vale a pena ler este volume pela sua importância histórica e pelo desafio de enfrentar o seu grafismo.

Sharp Objects

Sharp Objects
Jean-Marc Vallé
Série
2018

Esta é uma série baseada no livro "Objectos Cortantes", com argumento escrito pela própria autora. Assim, vi a série já sabendo o final e comparando mais ou menos os acontecimentos.

É uma adaptação perfeita do livro, sem deixar nada de fora e acrescentando elementos que - não sendo essenciais - colaboram na caracterização das personagens. Estas, são interpretadas de forma surpreendente, plenas de realismo na dor que todas sentem. É uma série completa, suportada em muito pelas interpretações mas também pelo processo narrativo, que se desenrola de uma forma sensata e objectiva.

A aura narrativa de toda a séria inspira ao terror e à ansiedade. Apesar de não ser uma história propícia a sustos, o espectador tende a sentir-se nervoso enquanto o mistério, cada vez mais complexo e com uma resolução inesperada (pelo menos para quem não tenha lido o livro). O ambiente retratado transmite alguma opressão, aquela característica das comunidades herméticas altamente tradicionalizadas dos estados unidos profundos.

Talvez o único defeito que tenha encontrado tenha sido a própria caracterização do embiente. É suposto ser um Verão ardente, um calor insuportável. Mas não só a personagem principal, sempre tapada, parece não sentir isso como quase ninguém sua ou exaspera com o calor. As cores da imagem sugerem um ambiente húmido e nada solarengo.

Fica a nota também para a banda sonora, que se enquadra de forma perturbadora às imagens e que coloca no centro alguma da música que melhor se tem feito hoje em dia.

Uma série que ficará na memória.

29.1.19

O Macaco Tozé

O Macaco Tozé
Janus
2000
Banda Desenhada

Na compra de um livro na Chilli com Carne (no AmadoraBD do ano passado) ofereceram-me este também.

Trata-se de uma antologia de pequenas histórias, originalmente publicadas em formato zine, que falam da vida na cidade do Porto de um certo macaco, o Tozé. O Tozé tem uma vida desregrada, plena de senhoras trabalhadoras e vinhos variados, sendo que frequentemente acaba maltratado, sujo de cagalhões ou prisioneiro.

É um retrato duro e violento da vida no final dos anos 90, numa cidade que podia ser qualquer outra. O álcool, as drogas, o desespero patente em cada uma das vinhetas que, passando por cómicas, revelam apenas uma tristeza profunda e um desapontamento seminal pela sociedadeem que este macaco ciranda sem parar.

A arte é igualmente violenta, com traços e rabiscos escuros, um ambiente de negro e brutalidade, de sujidade e um mau cheiro permanente.

Um álbum interessante, mas que talvez tenha ficado para trás no tempo.

Deserto/Nuvem

Deserto/Nuvem
Francisco Sousa Lobo
2017
Banda Desenhada
Este é um livro que queria ler desde o seu lançamento, sendo que o comprei no AmadoraBD do ano passado. Trata-se de um livro "duplo", digamos assim, composto por uma análise breve à vida dos monges do convento da Cartuxa, perto de Évora e, depois, uma evocação do sentido religioso do próprio autor.

Francisco Sousa Lobo é um autor que escreve sobre a sua vida e pode escrevê-lo da maneira que preferir. Apesar de a sua arte ter algumas falhas técnicas que não seriam perdoáveis noutro contexto, estes dois livros contém uma imagética muito própria, bastante ligada à busca do céu, perfeição e do divino.

No encontro com os monges da Cartuxa, o autor procura uma análise da sua própria relação com o divino, admitindo-se desde logo um católico recheado de dúvidas. Procura vê-las esclarecidas através das cartas aos monges de Nuvem, em que a sua voz parte para não regressar num eco de resposta. No entanto, consegue colocar o leitor a pensar sobre todas estas questões e a tentar responde-las por si só.

Apesar de ser um volume de grande simplicidade técnica, vale a pena lê-lo pela sua profundidade filosófica e emocional.

Vou pô-lo a circular no Bookcrosso. :)

A Louca do Sacré-Coeur

A Louca do Sacré-Coeur
Moebius e Jodorowski
1992
Banda Desenhada

De surpresa, recebi este livro de empréstimo (com o devidamente notado V de Volta). Uma leitura bizarra.

Um estranho professor de filosofia que criou uma espécie de seita religiosa entre os seus alunos é seduzido por uma aluna meio louca que afirma que irá dar à luz ao novo João Baptista. Nisto tudo, o professor é levado a uma aventura de sexo e auto-conhecimento impossível e assustadora.

Dividido em três partes, este álbum explora a intimidade das personagens, levando-nos numa louca (muito louca) história pela filosofia, religião e também traficantes de droga. Explora a vida e a morte, explora as experiências sexuais, explora a velhice e a juventude, explora tudo e tudo ao mesmo tempo e no fundo acaba por ser uma explosão de imagens terríveis e assustadoras que nos assombram pelos cantos das vinhetas.

A história perturbadora associada a uma panóplia de imagens que resvalam entre a perfeição anatómica e o nojo escatológico tornam este volume numa leitura um pouco exasperante e dolorosa. Apesar de a qualidade ser extraordinária, é muito difícil ligar-nos à história e absorver toda a imensa quantidade de informação que recebemos a todo o instante.

Queria muito ler este livro, mas fiquei desapontada.

Chances

Chances
 Horacio Altuna
1987
Banda Desenhada

Recebi este livro através do BookCrossing. Ninguém queria ficar com ele e adoptei-o provisoriamente. Foi uma leitura um pouco diferente do habitual, para mim.

Numa cidade plena de pobreza, crime e drogas, um clone criado para ser dador de órgãos foge em busca da liberdade. O que virá a encontrar é uma festa de horrores e sensualidade que o irá destruir tanto física como emocional e psicologicamente.

Se a história deste álbum é bastante simples, não podemos deixar de ficar admirados pela qualidade da arte. São desenhos muito suaves mas também bastante detalhados, atentando sobretudo a pormenores anatómicos. O design da cidade e das roupas oferece uma boa perspectiva sobre que universo o autor desejava criar para os seus personagens. 

Infelizmente, esta banda desenhada peca pela reduzida dimensão, o que fica a saber a pouico. Gostaria de ter sabido mais sobre os detalhes sociais desta civilização meio perdida e gostaria também que à personagem principal tivessem sido oferecidas mais oportunidades de desenvolvimento.

Agora está pronto para viajar de novo! =D

23.1.19

A Morte do Comendador

A Morte do Comendador
Haruki Murakami
2018
Romance
As pessoas estão tão convictas de que Murakami é o meu autor preferido, devido ao facto isolado de ser um cidadão japonês, que me ofereceram este livro DUAS VEZES no mesmo Natal. Note-se, portanto, que quantos mais livros leio deste senhor mais o abomino. Este veio confirmar esse sentimento.
 
Ora bem, temos um homem mais ou menos da minha idade que, denominador comum do autor, tem várias frustrações sexuais misteriosas. Após o divórcio (misterioso e inexplicável) vai parar a uma casa (misteriosa) onde encontra um quadro (muito estranho) e conhece um homem bastante peculiar. Depois vivem aventuras bizarras e o livro acaba antes de acabar porque, parabéns!, é só o primeiro volume.
 
Para além da narrativa se focar em demasia em temas sexuais que não parecem ter relevância nenhuma nem para a história nem para a caracterização das personagens, é um livro cheio de pequenas notas erráticas, em que o autor se coloca a nu perante o leitor da forma mais absurda.
 
Isto é, referindo os seus autores, músicos, compositores e coisas preferidas e colocando-as na boca das personagens. Não há ninguém neste livro que tenha uma verdadeira personalidade e, por isso, os acontecimentos misteriosos não têm interesse nenhum.
 
Lá lerei o segundo volume quando sair, nem que seja por obrigação moral.

Bohemian Rhapsody

Bohemian Rhapsody
Bryan Singer
2018
Filme
5 em 10

O inacreditável filme que foi escolhido para as nomeações dos óscares. A tentativa de contar a história dos Queen que se tornou na história do Freddie Mercury e que se tornou num filme apropriado para passar nas tardes de Domingo num qualquer canal generalista.

O certo é que é um filme bom para fãs, porque tem um tipo a imitar de forma mais ou menos competente a diva do rock e porque cantam as canções mais famosas e cantam-nas a quase todas. Algumas ficaram com a história por contar, noutras contaram a história de uma forma um pouco estranha, como se tudo ficasse magicamente resolvido pelo toque mágico do Freddie.

Ele próprio é apresentado como uma pobre e infeliz vítima de circunstâncias abusadoras, vendo-se maltratado por todos os lados, acossado por fãs, jornalistas e pessoas menos amigas, sempre isolado e nada apaixonado pela vida que não fosse a do excesso. Que nem por isso é bem caracterizado, porque todos se limitam a beber champanhe e nem cigarros há por aí além.

A forma como a doença é abordada também é extremamente conservadora e faz com que o acontecimento perca a relevância e o seu sentido de trágico.

Para além disso, o Freddie não era assim tão disforme nos dentes.

Odiei.

Os Cães Ladram Facas

Os Cães Ladram Facas
Charles Bukowski
2018 (Antologia)
Poesia
Se há quem diga que o poeta é um fingidor e que a sua vida normalmente e naturalmente é bastante pacata e isolada, Charles Bukowski é a famigerada "excepção à regra" que tem de nos vir incomodar. Porque temos uma pessoa feia, traumatizada, violenta e muito bezana que escreve exclusivamente sobre esses temas e sobre outras coisas bezanas. E que o faz de uma maneira fantástica.
 
A poesia de Bukowski, que experimentei pela primeira vez com este livro (que li todo de uma assentada, diga-se de passagem) é violenta, estranha. É directa, um discurso dirigido com exactidão a um leitor imaginário que, certamente, tem tanto ódio dentro de si como o autor. Ele não se faz rogado em criticar e violentar com palavras todas as coisas que desconsidera ou despreza. Bukowski despreza muita coisa. Os sóbrios, as mulheres, os ricos, os convencidos, os petulantes, os outros escritores.
 
Apesar de ser uma pessoa execrável, os seus poemas contém uma beleza bizarra, uma pequena emoção que se esconde atrás de um não-verso. Um pequeno detalhe que demonstra, de forma sincera e agressiva, o que o autor realmente sente sobre o assunto, uma profunda infelicidade disfarçada de indiferença e de bom humor.
 
Uma boa antologia e fiquei com vontade de ler mais da (vasta) obra do autor!

Toda a Luz Que Não Podemos Ver

Toda a Luz Que Não Podemos Ver
Anthony Doerr
2014
Romance
Este é um livro que, apesar de espesso, se lê numa penada. Uma escrita contagiante e viciante, com uma história um pouco inverosímil mas ainda assim bastante curiosa.
 
Uma rapariga cega vive em Paris, guiando-se pela memorização de uma maquete à escala da cidade. O seu pai é serralheiro no Museu de História Natural. Algures na Alemanha, um rapaz é excelente a manipular objectos electrónicos, sobretudo rádios. Há um diamante. E a segunda guerra mundial estala.
 
Acompanhamos as personagens ao longo de todos os anos da guerra, partindo do pressuposto do seu encontro e observando a sua sensibilidade em relação ao universo - mais ou menos visual - que os rodeia. Assistimos à violência consentida a que as crianças dos dois espectros da guerra eram submetidas, admitindo situações de grande injustiça mas que, ainda assim, acabam por ser pouco tocantes devido à indiferença com que o autor as maltrata.
 
Apesar de ser uma leitura muito interessante, precisamente porque está escrito no presente do indicativo (o que faz com que os nossos olhos procurem constantemente a palavra seguinte), as personagens ficaram aquém das minhas expectativas, sendo o final estranhamente conveniente para impressionar.
 
Fica a nota para as descrições das paisagens, que estão muito bem conseguidas e que nos levam directamente para as maravilhosas praias de Saint Malo.

16.1.19

The Man Who Killed Don Quixote

The Man Who Killed Don Quixote
Terry Gilliam
2018
Filme
9 em 10
Há quantos anos não dave eu uma nota tão alta ao que quer que fosse? Este épico de Terry Gilliam, que tanto esforço, tempo, dedicação e paciência demorou a fazer, entrou-me no coração e lá ficou.

Com uma graça e actualidade surpreendentes, Gilliam adapta o livro de D. Quixote com uma exactidão irrepreensível misturado com uma liberdade original que apenas beneficia a primeira história. Não irei contar muito sobre a narrativa, para não estragar o filme aos que aí vierem, mas posso dizer que faz um jus extremo ao livro e que se nota que o autor não só o leu atentamente como viveu (tal como quase todos os que o leram) as verdadeiras aventuras do Cavaleiro da Triste Figura.

Com efeitos especiais extraordinários e paisagens bastante conhecidas por nós (existe mesmo uma secção passada em Portugal, apesar de todas as dificuldades), acompanhamos uma aventura maravilhosa, encantadora, cheia de humor e uma verdeira paixão pela arte de fazer um filme.

Um filme surpreendente e estelar.

15.1.19

Blindspotting

Blindspotting
Carlos López Estrada
2018
Filme
6 em 10

Um filme surpresa.

Em Oakland, um tipo que esteve preso vive os últimos três dias da sua pena suspensa. Tem de se esforçar ao máximo para que nada aconteça que o faça parecer um criminoso, mas parece que as ondas do destino não são favoráveis.

Este é um filme muito divertido, que nos mostra com simplicidade e de forma sincera o processo de adaptação da faixa marginal de Oakland aos modernos hipsters que estão a invadir todas as casas. Também permite um excelente desenvolvimento aos personagens, que conseguem expandir-se e encontrar novas formas de viver dentro do seu contexto, terminando com um tom de bom-humor, aceitação e realização.

Narrado de forma muito dinâmica e bastante criativa, temos um showdown de discursoss cantados, um hip-hop casual que parece fazer parte da própria linguagem desta comunidade. Também temos uma mostra quase publicitária deste bairro, desta cidade, que demonstra que nem tudo o que vemos nos filmes - mesmo que falem sobre pessoal ligado a drogas e a armas - tem de ser um sítio esconso, horrível e sujo.

Não deixem passar este filme ao lado.

Absurdistão

Absurdistão
Gary Shteyngart
2006
Romance

Absurdistão é um romance absurdo. Foi-me oferecido pelo Natal.

Conta a história de um judeu russo riquíssimo e muito obeso, que está a viver nos Estados Unidos a boa vida do estudante e filantropo artístico. O seu pai, pouco antes de morrer, ordena que volte para a Rússia, de onde não mais pode sair devido aos crimes do primeiro. Então, acaba por ir parar a uma estranha terra, o Absurdistão, que fica ali algures entre o Irão e a Rússia. Lá, envolve-se em batalhas pelo poder e numa guerra sem sentido nenhum em que se afunda cada vez mais.

É um livro muito curioso e muito estranho, mas que vale a pena pela sucessão do discurso e, talvez, enquanto análise biográfica do autor (que, confesso, não conheço nem nunca tinha ouvido falar). A personagem de Misha parece um auto-retrato grotesco, assim como todas as relações sociais - nomeadamente com mulheres. As descrições hediondas do pénis do personagem e das suas actividades, assim como os relatos do corpo massivo de Misha a engurgitar-se com comidas nojentas, tornam a narrativa num festim dos horrores verbal.

No entanto, no meio de todo este caos, desperta um personagem que - físicamente rejeitado - acaba por se demonstrar como uma pessoa sensível, preocupada e intimamente maravilhada com o mundo "das pessoas normais", querendo ajudá-las ao máximo até que a sua inocência, finalmente, lhe demonstra que nada o poderá salvar.

ULeitura muito interessante, que recomendo pela simples bizarria.

First Man

First Man
Damien Chazelle
2018
Filme
6 em 10
Tenho estado um pouco motivada para a ideia das viagens espaciais, por isso este filme calhou-me muito bem. Conta a história da missão Apollo, que levou o primeiro homem à Lua (Neil Armstrong). Segue esta figura ao longo de toda a narrativa, construindo uma ligação emocional que - penso - tenta mimar a excitação corrente nos anos 60 em que tais eventos se passavam.

Infelizmente, o filme é apressado, saltando muitas partes do projecto que - menos interessantes - poderiam ser igualmente importantes. Há um foco especial nas tragédias que vão acontecendo, sendo que é dada uma aura a Neil Armstrong que vai pouco de encontro ao sonho  lunar. Mostram-no como pessoa ausente, desfazada, inadaptada, pouco interessante e, por isso, nunca se sabe muito bem porque é que é ele o escolhido para a missão. Os feitos espectaculares que faz em testes não convencem, porque o actor nunca mostra confiança, nem alegria, nem nenhuma outra emoção que seja diferente de "estou triste porque SPOILER aconteceu".
 
O facto de a narrativa da missão Apollo ser focada nesta dor contida no personagem, faz com que tudo pareça menos realista e que o feito de lá terem chegado pareça irrisório, já que a contemplação da nova realidade não é feita de cara lavada mas sim ainda plena de uma emoção sofrida que, sejamos sinceros, cansa rapidamente.
 
Fica uma nota especial para os cenários e efeitos. Nunca imaginei que os primórdios da exploração espacial fossem tão... Frágeis. Torna tudo muito mais assustador, porque ficamos a sentir na pele o perigo que estes astronautas corriam, em nome de um sonho e em nome da ciência.
 
Pena que nem sonho nem ciência estejam presentes.

Darkest Hour

Darkest Hour
Joe Wright
2017
Filme
7 em 10
Este filme estava à espera de ser visto desde os óscares do ano passado. Estava esquecido, mas foi boa a hora em que assistimos a este Darkest Hour.

O filme fala dos primeiros dias de Churchill enquanto primeiro ministro do Reino Unido, na deflagração da geurra mundial que viria nos anos seguintes. Acompanhamos o seu processo de tomada de decisão nestes momentos difíceis, em que a sua teimosia e coragem promoveram o envolvimento do seu país nesta guerra, pensada perdida desde logo, impedindo assim o nazismo de se levantar em toda a Europa e mundo.

Acredito que a história tenha tomado algumas liberdades de estilo, mas ainda assim é muito emocionante. E tudo isso se deve quase em exclusivo ao actor. A sua interpretação é de um realismo contagiante, apresentando-nos um Churchill divertido e igualmente assustador, ligado a valores de extrema ética e bondade. Isto talvez possa ser um certo exagero estilístico, mas funciona muito bem no contexto.

De resto, não existe nada de especialmente atractivo neste filme. Até houve uma inclusão de material digital perfeitamente desnecessária, como quem diz "para ter um filme de prémios tehop de ter uma perseguição de barcos espectacular".

Vale a pena pela performance.

9.1.19

Green Book

Green Book
Peter Farrely
2018
Filme
7 em 10
Inspirado numa história real, Green Book baseia o seu nome no guia turístico que indicava onde os negros podiam ficar hospedados no sul dos Estados Unidos, numa época em que a luta pelos direitos civis ainda só se iniciava.
 
Um tipo descendente de italianos, meio rufia, meio ligado à máfia, meio não sei quê, é contratado por um misterioso "Doutor" como motorista. Vem-se a saber que esse "Doutor" é Doc Don Shirley, um talentoso e famoso pianista de música contemporânea. Que vai fazer uma tour pelo "Deep South". E que é... Negro.
 
Em oposição às intervenções racistas que vão injustiçando o par ao longo do filme, desenvolve-se uma relação entre as duas personagens que se vem a tornar numa grande amizade. Se o motorista ensina sobre a pobreza e a sinceridade ao artista, o artista ensina a arte de bem falar, de bem vestir e de bem socializar. E assim as personagens crescem e mudam a cada momento difícil, aproximando-se mais uma da outra e encontrando um ponto em comum: a música, o talento, o respeito pelo outro.
 
Gostaria de deixar uma nota para a extraordinária banda sonora. Não tenho a certeza se o actor era também o intérprete, mas se assim for é algo de fabuloso!
 
Forte candidato aos Oscaros, vamos ver até onde o filme consegue chegar.

Quem Disser o Contrário é Porque Tem Razão

Quem Disser o Contrário é Porque Tem Razão
Mário de Carvalho
2014
Ensaio 

Comprei este livor na Feira do Livro 2018, tendo tido a sorte de o ter autografado pelo autor. Trata-se de um ensaio que reúne algumas ideias sobre o que o novel escritor deve fazer para melhorar a sua arte e, assim, escrever com tanto prazer como qualidade.

Atenção: este não é um livro que fala de escrever em quantidades astronómicas em muito pouco tempo (estou a falar da anormalidade que é o Nanowrimo). Também não é um livro que fala sobre publicar livros e ter sucesso pessoal e financeiro enquanto escritor.

O que o autor faz é partir da sua própria experiência para dar alguns exemplos do que pode e deve ser feito enquanto se escreve e do que se deve evitar. Repare-se que a experiência principal a que se remete é a da própria leitura. Logo no primeiro capítulo, Mário de Carvalho insiste na importância da leitura enquanto objecto educativo e de pesquisa.

Fascina-me que haja pessoas que queiram escrever e não gostem de ler.

Durante o resto do livro, são-nos dados várias dicas de coisas giras que podemos utilizar e como o fazer sem cair na tentação do ridículo. No entanto, a prosa é muito dura, intrincada e um pouco difícil para um leitor menos avisado.

Um livro muito útil e divertido!

Beautiful Boy

Beautiful Boy
Felix Van Groeningen
2018
Filme
6 em 10


Havia quem estivesse ansioso por este filme, pois o actor principal também participava no querido Call Me By Your Name.

Em "Beautiful Boy" explora-se uma história (real) da relação entre pai e filho. Apesar deste filho ter sempre sido um exemplo maravilhoso, descobre-se agora que tem um vício e um prazer terríveis: as metanfetaminas. E a heroína, entre outras coisas. A espiral de decadência em que se envolve, após várias tentativas falhadas de reabilitação, é um sofrimento para o próprio e para a sua família, nomeadamente o seu pai. Este procura sempre apoiar o filho mas acaba por não conseguir compreender o vício nem o que faz o vício viciar.

Apesar de ser uma história sobre esta relação familiar, aliás muito bem interpretada por todos os intervenientes, o filme acaba por ser uma terrífica ode ao anti-consumo, um apelo desesperado para a rejeição da droga: o filme admite que a droga não pode ser (nem deve ser!) compreendida e que os seus utilizadores devem ser imediatamente retirados da sociedade de forma a não se prejudicarem a si próprios.

Esta análise emocional e muito doutrinadora torna o filme quase como um ralhete ao espectador, em que todos os personagens, o realizador e o resto da equipa nos dizem "as drogas são más, meu filho". E apesar de termos alguns momentos de grande qualidade, não consigo deixar de sentir que há algo de muito pessoal neste filme que não nos é dado a compreender.

Fica pelas interpretações. Realmente, temos aqui alguém com futuro.

Bird Box

Bird Box
Susanne Bier
2018
Filme
5 em 10
Tinham-me falado imenso deste filme. Diziam que era aterrorizante, ameaçador, provocador para o pensamento. Então eu comecei a ter pesadelos em que via o filme e este consistia em algo como "se olharem uns para os outros começam a crescer-vos olhos gigantes por toda a cabeça e explodem". O que é de sobremaneira pavoroso quando se está a sonhar.

O filme não é bem assim. O que me causa grande pena, porque o meu sonho era bastante mais emocionante.
 
Um bicho/doença/demo/coisa misterioso aparece no mundo. Quando as pessoas olham para ele  têm a irresistível vontade de se matar, por puro terror ou pura felicidade. Há quem diga que o bicho é lindo e, por isso, todos têm de olhar para ele. Há quem tente sobreviver. E Sandra Bullock, mais uma vez, tem que ser forte e não-emocional para poder sobreviver, agora acompanhada por duas crianças e uns passarinhos digitais (as únicas criaturas que podem prever o aparecimento do bicho). Fará tudo isso de olhos vendados.

Apesar de a história ser interessante e um pouco desafiante (como sobreviver sem ver), aparece um pouco repetitiva considerando o tratamento do tema por escritores e filmógrafos do passado. A actriz faz um papel medíocre e não transforma a sua personagem numa figura identificável e amada pelo espectador, pelo que os acontecimentos são mais ou menos indiferentes a quem vê.

No fundo, é ver quem morre quando e porquê, tal qual um slasher movie dos antigos. As personagens são todas descartáveis e as suas mortes diversas tornam-se mais engraçadas do que assustadoras ou comoventes.

Fica a nota para a longevidade dos passarinhos digitais, que vão à água, apanham humidade, apanham calor e frio e nem por isso morrem. Extraordinário.
 
 

Cabaret da Coxa (2018)

Cabaret da Coxa
Rui Unas
2018
Talk-Show
Reservo este espaço para a primeira vez em que falo de um talk-show neste blog. O talk-show de que falamos hoje tem tanto de hilariante como de subsersivo. Estreado e destruído há coisa de uma década e meia, esteve de volta na altura entre o Natal e o Ano Novo de 2018 para cinco programas dedicados ao mais puro azeite e escatologia.

Rui Unas conversa com três convidados em cada programa, acompanhado pelo seu fiel papagaio de elevada educação. Ao primeiro convidado é reservada uma meia hora, aos outros uns breve dez a quinze minutos. As conversas não são muito reveladoras sobre nada de importante sobre os convidados, mas fazem rir e isso é o essencial.

Fica a questão sobre a escolha duvidosa dos convidados. Censurarem a Pergunta perante Madame Cristas parece-me violento. Escolhê-la para falar num programa de comédia também. Outros convidados mais tecnológicos, educativos e relativamente desconhecidos também surgem de forma um pouco estranha, mas ao menos são engraçados.

Finalmente, os decadentes espectáculos do Cabaret mantêm todo o seu charme de desespero.

Será que volta em 2019?

2.1.19

Black Mirror: Bandersnatch

Black Mirror: Bandersnatch
David Slade
2018
Filme Interactivo
8 em 10
E eis que aparece a Netflix com algo completamente novo! Bem, não é completamente novo, mas é uma grande novidade para o final dos 10s. 

Em tempos, muitos se jogavam aventuras interactivas, através de livros ou jogos RPG, em que se podia escolher o caminho que a nossa personagem iria tomar ao longo da história. Bandersnatch é a mesma coisa, só que para um serviço de streaming de televisão. Como as novelas em que se ligava para lá a escolher o final (A ou B), mas muito mais divertido.

Neste jogo, conseguimos tomar as decisões por Stefan, um jovem programador que sonha em ter um jogo baseado no livro Make Your Own Adventure "Bandersnatch". Existem muitas coisas estranhas que envolvem este livro e Stefan começa a ficar preso dentro do próprio jogo. Nós decidimos o que lhe vai acontecer. 

Cheio de mensagens subliminares, assustadoras referências a outros episódios de Black Mirror, esta é uma aventura do terror, que se torna tanto mais interessante como paranóica e perturbadora.

Infelizmente, apenas pude assistir à versão compilada com uma hora e meia, pois não tenho a Netflix. Dou uma grande nota a este filme episódio porque acho que o método é realmente especial e uma nova coisa a esperar destes serviços.

Roma

Roma
Alfonso Cuáron
2018
Filme
7 em 10

O novo filme de Cuáron (autor que nem por isso eu conheço assim tão bem) aparece como uma lufada de ar fresco e de sinceridade no panorama actual.

Um drama familiar protagonizado por uma empregada doméstica que, longe da sua aldeia indígena, sofre um grande revés na sua vida. Uma história comovente mas imensamente realista, que quase nos deixa a pensar se haverá algo de autobiográfico nesta narrativa. Com personagens apaixonantes e únicas, tão plenas de simplicidade como de várias texturas de personalidade, ficamos a conhecer um pouco da vida diária na Cidade do México.

Passamos por diversas situações violentas, mas também temos outros momentos de aparente calma no bulício do quotidiano. A relação firme que todas as personagens mantém umas com as as outras oferece-nos uma sensação de segurança e esperança no futuro que vem amanhã.

A fotografia e edição da imagem são também apaixonantes, revelando-nos o autor um olhar contemplativo sobre a viagem, a mudança e a continuidade. O preto e branco é maravilhoso e remete-nos para um passado querido.

Recomendo bastante.



Assim Nasce Uma Estrela

Assim Nasce Uma Estrela
Bradley Cooper
2018
Filme
6 em 10

Esta época do ano necessita sempre de filmes românticos e épicos, um regresso à tradição Hollywoodesca por excelência. "A Star Is Born" ("Assim Nasce Uma Estrela") é o remake do ano, uma revisitação a um clássico dos musicais que fica bem em qualquer ocasião.

Um cantor famoso, com um problema de alcoolismo, encontra num bar muito diferente uma rapariga que canta. E ela canta bem. Imediatamente apaixonado, este cantor toma Ally debaixo da sua asa e, a pouco e pouco, ela nascerá como um sol pela manhã.

*inserir Ave Maria de Shubert*

Porque é assim: esta história, apesar de estar actualizada com smartphones, é uma história lamechas, é um drama de inocência e paixão absoluta, é um despertar da mente num universo de amor rosado e inchado que mesmo na mais pura das tragédias incita a buscar por mais desta cantora, desta personagem, desta Ally de fantasia.

Felizmente, temos actores excelentes para dar vida a este romance choroso, o que faz com que o filme acabe por ser agradável e mais ou menos tocante. Surpreendentemente, Lady Gaga é uma pessoa normal que consegue interpretar personagens normais. Penso que talvez seja ela a força motriz de todo o filme.

Assim sendo, é um musical aceitável. Não peço que esperem muito das músicas.

Monstros Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald

Monstros Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald
David Yates
2018
Filme
6 em 10 

Apesar de o meu interesse neste filme não ser demasiado, foi um belo filme para um fim de noite, uma grande aventura que quase me deixa com um pé no mundo fantástico de J.K. Rowling.

O filme agarra na história alguns meses após a primeira aventura. Mas agora Newt Scamander é desafiado a ir a Paris para uma missão liderada pelo grande e único Dumbledore. O que se segue é uma festa de efeitos especiais e animais bizarros, tudo tendo em vista a apresentação deste novo vilão que, terrível, se mostra à altura de um Voldemort dos tempos passados.

Apesar de a narrativa ser bastante simples e um pouco juvenil, o que acaba por ser óptimo para dar ao filme toda uma aura de fantástico e especulativo, os momentos de acção são tantos e tão variados que ficamos agarrados durante toda a longa duração do filme.

Infelizmente, peca por alguns momentos de descaracterização, pela pressa dada a alguns momentos em detrimento de outros que me pareceram menos ricos e por uma melancolia um pouco desnecessária em todos os actores.

De resto, fiquei tão curiosa com tudo isto que fui ao Pottermore, apenas para descobrir que sou uma texuga dos Hufflepuffes. Woohoo!