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12.4.22

Spells for Change

 

Spells for Change
Frankie Castanea
2022
Guia de Magia


Comprei este livro a propósito do Clube de Leitura do Refúgio da Bruxaria e fiquei altamente desapontada. Vou deixar aqui o comentário que escrevi no clube propriamente dito.


Então, como mini guia de feitiços para iniciantes parece-me bem. Para mim é muuuuito básico e não me traz grandes ideias novas a aplicar, mas para quem nada sabe, parece-me bom. Agora! Existem algumas coisas no debate activista que me devassam completamente algumas ideias, que gostava de partilhar com vocês. Para começar, acho o discurso (mais uma vez) extremamente americanizado. Na ideia de "tu vives na terra que era de outra pessoa" exclui-se de imediato... Nós aqui, por exemplo. Depois, a discussão da prática aberta vs fechada e porque não podemos fazer coisas da prática fechada... Tudo muito bem. Mas há 20 anos ninguém falava disto e todas as práticas eram encaradas como um grande guarda-chuva de intercâmbio. Mas pronto, para mim que sou uma kota (posso usar esta palavra?) é mesmo dificuldade de entender. Tenho pena que e autore não tenha mencionado esta parte da nossa história enquanto comunidade, tho Mas, voltando à ideia da prática fechada: e autore tem conceitos que não se coadunam com o que diz. E aqui vem o exemplo do athame. E autore diz que a "wicca é uma prática fechada" (afirmação um pouco discutível) mas usa uma tesoura para substituir o athame porque "é mais prático". Ora, o athame é um objecto altamente ritualístico e ritualizado, que tem uma função própria diferente de cortar papéis para feitiços de binding. Então, substituir o athame por uma tesoura não é uma apropriação? Ou só é apropriação quando é feito a POCs? Isto coloca-me num conflito, que é a ideia muito firme de que "o colonizador não pode ter cultura", coisa que eu acho absolutamente delirante nas comunidades mais jovens. E penso que esta ideia vem de toda uma cultura da libertação do oprimido, que tem toda a razão, mas desvirtuada pelo próprio colonizador para que possa ter aprovação e se considerar "bom" e "não racista".
Enfim, acho que este debate é extremamente doloroso, mas que é necessário. Um livro de feitiços não me parece o local apropriado, sendo que o activismo na bruxaria tem raízes profundíssimas tanto em movimentos civis como feministas. Parece que e autore não tem uma compreensão profunda sobre o assunto e atira as cartas para cima da mesa dizendo "é assim que eu sei, é assim que é". O discurso racista não tem discussão, é simplesmente merda, mas penso que é importante discutir o que se pode fazer, o que se deve fazer, o que queremos fazer sem entrar em conflito com conceitos sociopolíticos muito mais complexos do que isto. Assim, penso que e autore não tem capacidade suficiente para discutir este assunto e irritou-me bastante que fosse mencionado num capítulo inteiro. A bibliografia oferecida poderá ajudar, mas parece-me também altamente limitada. Enfim, deu-me ideia de uma pessoa que está numa posição de privilégio tentando ensinar outro privilégio sem manter a sua própria consistência. Também não achei o livro especialmente bem escrito, tendo uma linguagem juvenil que não me é propriamente querida.

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