Astronomia
Mário Cláudio
2015
Romance
Recebi este livro pelo Natal. Já há algum tempo vinha alimentando curiosidade por este autor, pelo que o presente veio mesmo a calhar.
Este livro compõem-se de três partes distintas que nada têm a ver com o título proposto. Aliás, o tema estelar nunca é tocado ao longo de nenhuma parte da narrativa, com excepção devida para a parte finalíssima.
Na primeira parte assistimos à infância de um personagem, por enquanto conhecida por "o velho", num universo caseiro e escolar ainda inflamado por uma guerra e pela pobreza. Ainda assim, descobrimos que esta criança tem uma grande paixão pelos livros e por tirar apontamentos destes, nem sempre apropriados para a situação que está a ser relatada. Esta foi a parte do livro de que gostei mais, porque tem toda uma aura de fantasia e de felicidade que é apenas característica das crianças.
A partir da segunda parte, figurada por um "rapaz", tudo começa a ficar um pouco mais estranho. Vamos acompanhando a adolescência e o início da vida adulta desta pessoa, revelando os seus gostos, prazeres, traumas (com uma breve referência à guerra colonial, que pensei - pela sinopse - que seria muito mais apontada) e paixões. No entanto, comecei a reparar numa certa coincidência... É que o percurso deste rapaz parecia exactamente o mesmo que o do próprio autor, conforme descrito na aba do livro! Mas... Que se passa aqui afinal? Será que afinal de contas estou a ler uma autobiografia? Mas para que quero eu saber da vida de uma pessoa que nem sequer conheço? E se não for uma autobiografia? Que raio de autor faz uma auto-inserção deste nível num personagem?
Finalmente, na terceira parte, temos o "menino", que é o personagem numa idade avançada. Aqui o autor faz elocuções extremas sobre as tecnologias e os acontecimentos do "agora", que me pareceram arrogantes e, sobretudo, maldosas - sobretudo no relativo ao insurgir de novos autores, que, pelos vistos, não têm o direito a cansar a pobre hipocondria do personagem com suas inutilidades.
Ainda assim, temos de admitir que o livro está muito bem escrito, fazendo uso de muito rico vocabulário. É um livro excelente, mas a atitude é que é má.
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