Black Mirror Season 3
Charlie Brooker
Série - 6 Episódios
2017
Para o novo ano estávamos excitadíssimos com a ideia de que ia haver uma nova season de Black Mirror. Mas esta season foi esquisita e deixou-nos um pouco tristes. A mim especialmente pois, devido às seasons anteriores, estava à espera de algo que me perturbasse a esse nível.
Mais uma vez temos seis episódios, cada um sobre um assunto diferente. Mas, na generalidade, as conclusões destes episódios foram imensamente mais positivas do que o que era habitual, sendo que - prevalecendo o bem - acabamos por não ficar especialmente chocados com as tecnologias que causaram os problemas em questão. Vejamos cada um dos episódios:
USS Callister - Um episódio para todos os geeks. Na empresa criadora do mais imersivo jogo virtual, existe uma pessoa que não está muito bem adaptada. Infelizmente, essa pessoa é o coder de génio que inventou o jogo. E cada vez que alguém na empresa o contraria, ele cria uma cópia dessa pessoa dentro do jogo em que ele é o único herói. Um episódio divertido, que dá que pensar na medida em que nos dá a ideia de que pode haver algum tipo de entidade consciente em rede. É um tema que roça um pouco o cyberpunk, apesar da imagética colorida e desactualizada de uma série dos anos 70.
Arkangel - Episódio para mostrar à minha mãe :p Uma mãe preocupada instala na sua filha um aparelho chamado "Arkangel". Através dele pode acompanhar todos os seus passos, ver pelos seus olhos e censurar todas as coisas que lhe pareçam desagradáveis. O problema é que, mais tarde ou mais cedo, a criança que tem toda a sua vida censurada acaba por ter uma atitude de loucura. Por isso, a mãe decide guardar o aparelho e nunca mais interferir na vida da filha. Mas será que vai conseguir? Um episódio que fala da violência emocional que os pais podem causar aos filhos e do problema de não permitirmos as crianças viverem uma vida normal longe da tecnologia que nºao lhes permite receber uma verdadeira percepção do mundo.
Crocodile - Um policial. Uma agente de seguros procura as memórias de pessoas enquanto tenta recriar um acidente. Infelizmente, encontra uma pessoa que não deseja de todo que as suas memórias sejam reveladas. É um episódio que prima por paisagens lindíssimas e pela multiculturalidade (sempre presente ao longo da série). Já o conceito tecnológico não é assim tão perturbador, sendo que o mais estranho é mesmo a actriz que faz o papel de assassina.
Hang the DJ - E se a vida real fosse uma espécie de app de encontros, em que estes se sucedem uns aos outros até criar o nosso perfil ideal e encontrar a pessoa certa? Não encontrei grande interesse neste episódio, talvez porque a situação não me convenceu muito. Também a componente sexual muito exacerbada não me agradou especialmente.
Metalhead - Num cenário pós-apocalíptico uma mulher faz tudo para escapar de uma máquina "cão de guarda", que a perseguirá até aos confins da existência para a destruir. Este episódio falha porque não existe um contexto para a realidade em causa, sendo mais uma sequência de tentativas falhadas de sobrevivência, uma fuga para um lugar que o espectador desconhece com um objectivo que o espectador desconhece. O preto e branco do episódio é interessante, mas fora isso passa ao lado.
Black Museum - Uma rapariga para num museu de artigos criminais. E, nessa tour, conhecemos três perturbadoras histórias. Este episódio tem vários elementos ligados e, no fundo, remete-nos mais uma vez para a possibilidade de existir uma consciência para além do corpo, uma consciência humana que pode estar dentro da máquina ou em rede. Isto é, mais uma vez um tema cyber. Apesar de tudo, a conclusão do episódio é brilhante, apesar de mais positiva do que esperaríamos.
Enfim, esta season indica-nos um caminho que talvez não seja o esperado para Black Mirror. O autor parece muito focado no tema da consciência (o tema do "ghost" na "shell" ;) ) e acaba por perder alguns temas que poderiam ser também muito interessantes de explorar. Agora, aguardemos mais um ano para tirar as nossas conclusões.
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