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14.6.17

NOS Primavera Sound 2017

NOS Primavera Sound 2017
Festival de Música
Quando saiu a notícia de que o Aphex Twin tocaria em Portugal, no Porto, no festival Primavera Sound, eu soube imediatamente que não poderia perder a oportunidade de o ver. Afinal, esteve desaparecido durante anos e pode voltar a desaparecer a qualquer momento! Mas, colocou-se imediatamente um problema: festival começava na quinta... E na quinta-feira é dia de trabalho! Assim, decidi ir apenas no Sábado, que era precisamente o dia do concerto que mais queria ver. :)

Tentei arranjar umas viagens de avião, daquelas por dez euros, mas já não estavam disponíveis. Portanto, parti no comboio das nove da manhã, ao lado de um fulano que ia a ver coisas no computador com os fones, impedindo-me de sair do meu lugar junto da janela para fazer alguma coisa (como experimentar as fantásticas casas de banho do comboio ou ir à mala apanhar o meu lanche da manhã). Fui depois para a estação de S. Bento, pois o AirBNB que havíamos alugado em conjunto (eu, o Qui e mais quatro amigos) era nessa zona.

Deixando as malas na residência, constatava-se que fazia parte de estranho edifício. Era no quarto andar, sem elevador, sem comunicador para abrir a porta da rua e, para chegarmos ao apartamento que nos competia, tínhamos de passar pelo meio das casas das outras pessoas: o corredor do prédio era também o hall de entrada dos apartamentos. A casa era idosa, com condições precárias, apesar de ter uma cama confortável. A cozinha horrorosa, a casa de banho toda peluda. Mas talvez ffosse porque já tinha estado habitada pelos gremlins nos dois dias anteriores.

Depois fomos para o recinto do festival. Fomos de Uber, que nos levou até uma entrada toda catita com meninas da Uber a receber-nos. Utilizámos este meio de transporte porque um amigo precisava de levar uma mala, que deixou no bengaleiro. Mas eu e o Qui não entrámos logo no festival. Antes disso, estivemos a apanhar sol junto da praia. Só depois troquei o meu bilhete por uma catita pulseira roxa e rosa e por um cartão de plástico. Os dois juntos permitiam acesso permanente até às três da manhã ao festival. Os dois separados não serviam de nada. Perdesse-se um, já não se entrava.

No primeiro dia, as sandes que o Qui tinha levado haviam sido retidos pelos cops. No entanto, a minha garrafa de água, através dos meus truques altamente simpáticos de, simplesmente, ser brutalmente honesta e dar a água à senhora, entrou pacificamente.

O espaço, o Parque da Cidade, é muito bonito e cheio de relva. Tudo estava muito bem organizado, existindo uma série de palcos que, estando todos muito junto uns dos outros, não interferiam em nada na apreciação dos concertos que estavam a decorrer. Ofereceram-nos uns sacos muito jeitosos com  toalhas de piquenique lá dentro, o que tornava o acto de sentar muito agradável. Claro que isso não impedi que eu fosse brutalmente mordida por pulgas, ao longo de ambos meus pés...

O primeiro concerto que vimos foi o da Elza Soares. Já apanhámos a meio. A senhora estava sentada num trono, mas ainda assim tinha uma presença em palco invejável. Não conhecia bem, mas fiquei a adorar as músicas, a voz, tudo poderosíssimo. As ideias, os conceitos, tudo isto com uma perspectiva antiga: uma espécie de proto-funk que saiu das ruas para dizer a verdade da forma mais brutal e crua possível. Ela ainda fez um encore, coisa rara, e nunca soubemos a solução do mistério: afinal, como é que ela vai sair dali?


Depois fomos explorar e jantar algo. Havia muitas opções de comida, não especialmente baratas e escolhi o lado vegetariano da vida, comendo um caril de grão que estava mesmo muito óptimo. Entretanto, o Qui havia-me revelado o segredo de que além de jola sobrevalorizada este festival vendia bebidas brancas ao mesmo preço da jola sobrevalorizada. Isto foi óptimo, porque poupei imenso dinheiro bebendo muito devagarinho e tive de ir muito menos vezes à casa de banho. Tinham o sistema de pagar uma caução pelo copo, que depois poderia ser devolvido ou, o que fizemos, levado para casa como recordação. Quanto às casas de banho, que estávamos a falar de xixi, eram aceitáveis, perdendo a qualidade à medida que a noite ia progredindo. Vi cenas estranhas, como branca no meio dos cagalhões. A parte que mais me espantou pela positiva foi o facto de  amaior parte das casas de banho eram unissexo. Apesar de tudo, isto continua a ser incompreensível para as pessoas em geral, porque havia uma fila masculina e uma fila feminina. Revoltou-me grandemente!

Andámos por aqui e por ali e depois vimos Death Grips. Tinha ficado a conhecer esta banda nos dias anteriores, mas adorei o concerto. Se bem que foi um concerto diferente... Já me doía os pés, portanto sentei-me e apenas ouvi o concerto. E foi brutal. Um hip-hop cheio de core, violento, cheio de dicas que à primeira vista não passam de ruído mas que, à medida que nos vamos envolvendo na sonoridade hipnótica, começam a fazer um sentido profundo e visceral. Entretanto havia descoberto que se me transformasse num calhau as pessoas perdiam a tendência de ir contra mim, coisa que me causa pânico nos concertos. Portanto, passei o resto do festival perspectivada como um calhau. :)


Depois fomos para o palco principal, onde vimos Metronomy. Achei uma parvoíce de banda, um pseudo-indie cheio de estilo que não tinha conteúdo nenhum. De seguida vimos Japandroids, mas não me cativou e portanto nem vi com atenção.

Até que foi momento, momento final, momento brilhante, momento de ver o Aphex Twin. Como descrever este concerto? Foi uma brutalidade, foi um exercício de resistência física e emocional, mas foi sobretudo uma experiência transcendental plena de detalhes que até agora estou a tentar compreender. Não o podíamos ver, ao artista, escondido na sombra, disfarçado pela luz que o rodeava. E os ecrãs, muitos ecrãs, mostravam as imagens mais improváveis: nós. O público aparecia nos ecrãs, com as suas imagens mutadas em milhões de padrões e cores. Enquanto isso, luzes e lasers levavam-nos para um planeta tão orgânico como puramente digital. Mas um digital defeituoso, um computador viral. Porque o som, por vezes calmo, transmitia sempre uma sequência de nervosismo. Samples do próprio, samples do próprio disfarçado de outra pessoa, samples de amigos, nada de famoso, nada de histérico. Ainda assim, uma sequência autobiográfica e contemplativa que, junto com as imagens, ironizava todo o contexto, gozando connosco (tantas imagens dos palhaços de Portugal!) e também com ele próprio. De resto, foram duas horas a fritar ovos. E pipocas. Fritar tudo. Não parei de dançar um segundo, porque nem havia espaço para bater palmas. Seguido, seguido, cada vez mais violento, cada vez mais agressivo, um animal selvagem que se dirigia para nós para nos comer o cérebro às fatias, um ácido que entrou nas nossas mentes deixando-as em papa e, após recuperação, cheias de imagens subliminares.

Foi a melhor experiência musical que tive nos últimos anos.



Depois, voltámos de autocarro. Não sabia em que posição haveria de me meter, porque me doía tudo xD

No dia seguinte arrumámos tudo, deixámos as nossas malas num bengaleiro público que também era uma loja de souvenires e fomos almoçar. No dia anterior havíamos descoberto um restaurante com pizzas caseiras baratíssimas e lá voltámos. Depois fomos passear pelas lojas hipsters do Porto, o que foi uma situação horrorosa, porque tudo o que eu queria era estar sentada a apanhar sol, em vez de estar a ver coisas demasiado caras para serem coerentes.

Voltámos no comboio das sete. Adormeci.

Agora estou aqui. Ainda estou a pensar.

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