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14.4.15

Anicomics 2015

Anicomics 2015
Evento
Parece que já estamos em 2015. Chega à Primavera e aí está mais um evento do nosso calendário habitual. Pois é, meus senhores... É tempo para mais um Anicomics! Desta vez percorri o evento de uma forma um pouco diferente do que costumo fazer. Tinha dedicado o meu tempo aos ensaios para o skit do Eurocosplay, que iria decorrer apenas no Domingo, assim o meu Sábado não foi passado propriamente no evento. Mas vamos ver as coisas por ordem cronológica, que fica mais fácil para todos nós. :)

Preparações, Sexta-Feira Ensaiante

Este ano houve uma série de festas e pré-festas em preparação para o Anicomics. Por razões diversas não pude estar presente em nenhum desses eventos anteriores: estive nos Açores, fui para o campo com o Qui, uma data de coisas da vida privada que são mais importantes que eventos e cosplay. Afinal, há uma gradação de importância nas coisas que se fazem e há prioridades. Mas enfim, nada disso é importante para o caso.

Ao longo destas semanas, apesar de já ter o fato todo preparado, tive bastantes problemas na gestão do tempo no que respeita aos ensaios do meu sukito. Era um sukito importante, como verão, e eu estava muito preocupada com o facto de vir a estar mal marcado, de correr mal, de caírem coisas, etc. Estava com aquele sentimento de desespero em que tinha a certeza de que tudo iria correr extremamente mal, sendo que no final iria chorar muito de frustração e horror e pânico. Tinha-me inscrito com pouca confiança, porque o meu audio não estava muito bem editado e era muita coisa para por no palco. Mas sexta-feira lá fui eu ensaiar, depois de ter ido a Santarém ver umas coisas lá na casa e a possibilidade de plantar um montão de árvores. Gosto muito de árvores.

Lá chegada, aparentava não estar ninguém. Entreguei a minha pen na regie e vesti os elementos essenciais do skit, os sapatos, o saiote (para ter noção da possibilidade dos meus movimentos) e uma peruca extra, a que vai ser para a Haruhi, para não estragar muito a peruca verdadeira. Como é muito comprida, a possibilidade de se enrodilhar toda sobre si própria é muito grande.

Ensaiei duas vezes, combinei os efeitos de luzes (para dar um aspecto mais nocturno) e estava feito. Parecia estar tudo a correr nos eixos. Mas quando desci do palco... Bem, a verdade é que não havia muita luz. Aquelas quatro escadinhas fazem um efeito especial interessante, sendo que uma delas é triangular e mais estreita que as outras. Evidentemente que me espetei delas abaixo, fazendo uma ferida no tornozelo no processo. Ainda me dói e já passaram estes dias todos! Mas não fiquei impossibilitada de andar, o que seria realmente uma grande chatice.

Depois dei uma volta por ali a falar com as poucas pessoas que lá estavam e fui embora. Ainda passei numa retrosaria para comprar umas tralhinhas. À tarde, refiz a minha coroa de pérolas. Estava muito feiosa e queria fazer uma mais bonita. Aqui está uma foto do processo:


Ainda ensaiei mais um bocadinho, uma espécie de ensaio geral, para estar tudo correctíssimo. Depois, não consegui dormir como deve ser, com pesadelos recorrentes sobre tudo o que podia correr mal. 8D

Sábado, uma Manhã

Para o meu sukito, necessitava de uma data de mobília, que roubei da minha casa (fora o espelho, que comprei no OLX de propósito para esta performance. O processo de compra e venda dá uma história engraçada, mas não interessa. Interessa é que é um espelho muito jeitoso). Assim, tinha combinado com a organização que deixaria estas tralhas todas no backstage durante o dia de Sábado. Empilhei tudo dentro do carro e dirigi até Telheiras, tendo arriscado alguns acidentes pelo caminho devido à maravilhosa organização da psicologia do trânsito que existe na cidade de Lisboa. Céus, detesto andar de carro! ;__;

Não havia lugares, portanto tive de estacionar mega longe, perto de uns prédios do lado direito de quem entra na estrada do evento. Primeiro transportei a cadeira e a mesa, que foram deixadas perto da banca da APC. Pedi que algum voluntário me ajudasse a levar a outra mesinha e o espelho, mas eles estavam ocupados e disseram para voltar às 10:30. Assim, pensei em ir tomar um café. Pelo caminho encontrei uma jovem que não via há séculos seculorum. :) Fomos tomar café as duas, conversando sobre aspectos musicais interessantes e intensos. Depois, ela ajudou-me a levar o resto do cenário e entrámos as duas. As partes que tinha levado anteriormente já estavam lá em baixo, pelo que levei tudo e depois organizei uma pequena pilha de móveis no cantinho mais cantoso do espaço. Tapei tudo com um pano branco (que por acaso é o pano do cosplay da Maya Kitajima) e fui andar por aqui e por ali falando com pessoas e outras coisas que não eram bem pessoas, mas que são boas criaturas na mesma. :>

Fiz as minhas compras. O resultado final das compras foi o seguinte:

  • O novo lançamento da Kingpin, a colecção de curtas "Casulo"
  • Um manga da Fumi Yoshinaga, autora que aprecio imenso
  • Um marcador de livros pintado à mão muito fofinho
  • Cartões de visita em geral
Encontrei a Ana-san, que me voltou a emprestar livros catitas e depois fomos almoçar, nós as duas mais o Pedro-san, que estava a organizar uma parte dos voluntários. Eu estava com desejos absolutos de pizza, mas tínhamos todos pressa e a fila estava magnânime, pelo que fomos a outro café próximo. Lá, alimentei-me de uma sandes de ovo com queijo, uma sopa e uma limonada.

Depois despedi-me e fui para a minha aula de costura, onde estou terminando o meu novo fato (Haruhi :) ). Mais uma vez, passadas essas horas e chegando à noite, não consegui dormir, com pesadelos sobre o meu fato e sobre o skit e todas essas coisas. .__.

O Domingo Fatídico

Acordei às sete da manhã, com a intenção de, bem, ficar mais um bocadinho a dormir. Mas não consegui. Então banhei-me, coloquei as lentes cinzentas e uma peruca. Fui de carro até Telheiras e depois tomei o metro. Na verdade, para o efeito pretendido para o meu sukito, eu precisava de uma maquilhagem um pouco diferente. Uma maquilhagem de Drag-Queen. Vi alguns tutoriais, mas não consegui perceber como se faziam as coisas, especialmente a parte de cobrir as sobrancelhas, nem que materiais deveria comprar. Por isso, procurei alguém que me ajudasse. Acabei por encontrar essa pessoa dentro dos contactos da minha mãe: ela tem uma amiga, a Ju, que faz maquilhagens. Assim, fui até ao estúdio dela nos Olivais para juntas fazermos aquilo que era preciso: transformar-me num homem. O resultado foi, mais coisa menos coisa, algo muito semelhante à Débora de Cristal enquanto jovem.

No regresso ao evento, tentei olhar fixamente para as pessoas que estavam no metro, para ver se as conseguia assustar de morte, mas a verdade é que vivemos numa capital europeia e as pessoas estão mais ou menos cagativas a todas as coisas diferentes do habitual. Não tive sucesso nas minhas tentativas de causar o terror.

Transportei a minha mala mais o saco do Pingo Doce que tinha mais cenários. A mala estava bem pesada e começou a atingir-me uma dor no músculo deltóide, que se mantém até agora (embora um pouco melhor, por causa daquele objecto fantástico chamado Voltaren Gel) Deixei tudo no único camarim que estava vazio. Estava lá um papel a dizer algo como "este camarim é das Mirai noi Yume" (não é uma citação perfeita), mas eu perguntei e achei que elas não se iam importar com a minha presença fedorenta, pelo que deixei lá ficar tudo na mesma. :)

Depois fui almoçar. Como estava com um batom espectacularmente histérico, não podia comer nada que envolvesse garfos ou copos. Por isso fui ao café Derby, que fica mesmo ao lado, e pedi um cruassã com queijo, que parti em bocadinhos manejáveis. No final pedi um café: tinha esquecido que precisava de tocar com os lábios na chávena. Por isso bebi-o com uma palhinha, o que deve ter sido uma visão altamente curiosa.

Vesti-me e a partir desse momento mantive-me em stand-by. Isto significa que passei todo o dia de Domingo, a partir mais ou menos da uma da tarde, sentada na cadeira que tinha levado, entre os camarins e o backstage. De vez em quando interrompia a minha espera para subir até à civilização, onde me tiraram uma foto ou outra e pude falar com uma série de pessoas interessantes. Depois na volta tudo se complicava, porque tinha medo de me atirar das escadas abaixo. Sempre que descia as escadas, descalçava-me e descia degrau a degrau, como uma pequena criança de dois anos ou como um gato que não sabe subir e descer escadas. Acho que a Biblioteca Orlando Ribeiro poderia melhorar estes acessos, imaginemos que tinhamos um actor com deficiência motora?

Entretanto, pude reparar, com algum espanto e tristeza, de que havia uma quebra monumental na afluência do evento. Em anos anteriores, uma pessoa não se podia mexer com a quantidade de gente que rodopiava pelo espaço. Este ano, não só nos podíamos mexer como até poderíamos fazer uma corrida em torno do espaço sem ter de mudar de direcção. Para ser honesta, não encontro outra explicação para isto sem ser a antipatia que algumas pessoas têm pelo espaço. É certo que se uma pessoa não participar nos concursos e actividades e não estiver no auditório, não há muitas coisas para ver (fora uma exposição muito interessante que estava no edifício da biblioteca). Mas não é o objectivo de um evento participar em actividades? O auditório tem uma lotação limitada, mas havia bilhetes especiais para obterem o vosso próprio lugar especial! E, segundo consta, nem sequer esgotaram! Assim, apesar das melhorias apresentadas para o problema do espaço, que não é muito grande (mas que faz parte da identidade do evento), parece que o público não as aproveitou. Mas bem, a verdade é que nunca ninguém fica contente com nada nunca. A mim não me faz diferença.

Falemos também da organização do espaço. Estava aproveitado de forma muito semelhante à do ano passado, com uma tenda central da Kingpin e os artistas (que são bons artistas) espalhados pelo edifício da biblioteca. Não visitei os andares superiores, porque me esqueci. Acho que desta forma a coisa até funciona bastante bem, embora o espaço do Foyer fique um pouco confuso nas entradas e saídas do auditório. Neste aspecto, talvez se possa pensar num tipo de aproveitamento espacial diferente, fica a sugestão ;)

Durante este tempo encontrei de novo a Ana-san, a quem devolvi o livro que ela me tinha emprestado anteriormente e mais outro que lhe ia emprestar (e que é muito interessante) e a Carolina², que me veio trazer mais exemplares do livro que escrevemos juntas enquanto trabalhávamos no Montijo. É um livro sobre os cães que habitavam o nosso Canil Municipal, para crianças (e para pessoas crescidas também), se o quiserem ler temos uma versão PDF e basta pedirem que a gente envia. =D

Convidaram-me também para assistir a diversas actividades que decorriam no Auditório, mas eu estava em modo stand-by e quando estou neste modo nunca vou para muito longe do sítio onde tenho de estar.

Entretanto, apareceu subitamente o júri fantástico que nos ia avaliar para o concurso. Expliquei-lhes com o máximo de detalhe possível, dentro do que me lembrei, como fiz o meu fato. A explicação completa estará no Cosplay Portfolio em breve, portanto se quiserem saber podem ir lá ver sempre que quiserem. :) Mas mais problemas se avizinham! Eu já sabia que íamos ser muito poucos concorrentes, entre dois e três. Eu esperava sinceramente que fôssemos só duas pessoas, porque assim ficaria em segundo lugar. Se fôssemos três, ficaria em último e era chato. Bem, isto não faz muito sentido, porque de qualquer das maneiras não era o primeiro prémio, mas na minha cabeça infantil estava a ser um dilema imenso! Para mais, foi feita a descoberta de que eu seria a primeira a actuar, o que ainda era pior porque dentro da minha ideia a performance teria mais efeito se fosse "no meio" em vez de "no início". Enfim, estava a dizer isto a toda a gente e toda a gente se ria e dizia que isto não fazia sentido. Não faz, mas estava a atrofiar a minha mente.

Aquando da montagem do cenário, comecei a ver mais problemas. Os voluntários são sempre pessoas esforçadas, mas eu espalhava sinalefas sobre onde as coisas deveriam estar e não me estava a fazer compreender: "À frente! Não, o outro à frente! Atrás!" Visto agora, até tem a sua piada. :) Outros concorrentes e participantes do show não ficaram contentes com o trabalho voluntário, apesar de tudo, mas eu aceito que acontecem sempre erros. Comigo, foi tudo impecalóide!

Agora, o skit. A Hota-chan fez uma gravação (podem ver os três sukitos no canal dela) que citarei aqui:


Ora, o que queria eu dizer com este cosplay? A base está na minha personagem: o Kuranosuke é um homem que gosta de roupa feminina. Mas imaginemos que, para além desta concepção básica, existe mais alguma coisa para além da roupa? A minha ideia era falar um pouco da dor que as pessoas travestis, transgénero e transsexuais devem sentir. Eu não consigo imaginar, porque nunca passei por semelhante coisa, mas penso que deve ser muito difícil para estas pessoas terem uma concepção de si próprias e terem de a recusar para poderem ser aceites na sociedade. Assim, coloquei este "travesti" numa luta interior, sobre "quem devo ser: homem ou mulher", como se tivesse de recusar a sua verdadeira identidade (a feminina) para ser aceite e amado, embora isso lhe cause imenso sofrimento. Assim, o personagem retira os elementos que o identificam como mulher, a coroa, a peruca, a maquilhagem, mas apesar de tudo é um NÃO, uma recusa de ser homem, uma tristeza, uma dor. Acho que, apesar de um pequeno erro na marcação, consegui transmitir isso e muitas pessoas vieram dizer que gostaram muito do meu skit. Isso deixa-me muito feliz :)

Quando voltei para o backstage, a minha maior vontade era tirar o fato. Estava cheia de calor e cheia de fome e sede e xixi, todas essas coisas que fazem os cosplayers sofrer. Mas disseram-me que não podia tirar o fato, pelo que decidi apenas refazer a minha maquilhagem (já que a especial tinha ficado estragada durante o skit) e pentear um pouco a peruca, que sofreu perturbações diversas. Então aguardei, em alegre cavaqueira com o resto do pessoal que lá estava, falando de skits, recomendando animes e por aí em diante. Quando nos chamaram para anunciar os prémios, muito (muito, muito) tempo depois, o meu maior desejo era que tudo acabasse para poder ir para casa, comer uma pizza - ainda estava com desejos - e fazer o maior dos ó-ós.

E aqui aconteceu o totalmente inesperado. Anunciaram o prémio. E quando anunciaram quem ia a Inglaterra, representar Portugal na final do Eurocosplay... Disseram o meu nome!

A reacção foi algo como:

AGDABAGDSFGHAHAHAHAHAHAHA~ohmeudeustenhodefazerumfatoeagora~

Nessa altura disse-me a Leonor Gracias, que era jurada também, que tinha de falar com a jurada Inês e que ia tudo correr bem e eu dei abraços a toda a gente e queria abraçar o público todo também, mas era muita gente e não dava e depois fui para dentro e abracei mais gente e gaaa e agora. 

Cerca de cinco pessoas disseram-me a mesma coisa: "prepara-te para gastar muito dinheirinho" Tassbem, só preciso de arranjar trabalho até lá xD

Assim que me desembaracei do açambarcamento que me dominava, fui ligar ao Qui. A conversa foi mais ou menos a seguinte:

Eu: Nini, ganhei a cena, Nini, vou a Inglaterra, wtf, e agora, ohceus
Pessoas à minha volta: AAAAH GANHASTE PARABÉNS *abraços e beijos*
Qui: *ruídos incompreensíveis*
Eu: Ligo-te mais tarde, beijos! =D

E no meio desta alegria vi-me outra vez no palco a fazer uma dança bizarra e a dar abraços de grupo a mais gente, mas o público já se tinha ido todo embora, então não houve foto de grupo.

Em torno da confusão, tirei o meu fato, o que me possibilitou respirar de alívio pela primeira vez desde que tinha acordado. Arrumei tudo e compreendi que tinha perdido o saco da peruca do Kuranosuke. Assim, meti-a no saco da peruca da Haruhi e esta foi assim à solta. Como é curta e lisa, não se embaraça com facilidade. Requisitei uma série de voluntários para me ajudarem a levar o cenário de volta ao carro. Ah, tinham-me roubado no Sábado um bocadinho do carro, uma das grades do seu focinho :( Afinal Telheiras não é tão seguro assim. Pelo caminho ia encontrando mais gente que me felicitava e abraçava e beijava e eu estava tão feliz mas também tão confusa e não sabia o que fazer. Depois voltei para falar às pessoas e ficámos todos contentes!

Só cheguei a casa quase às nove, mas ainda fui buscar uma pizza, conforme desejava há imenso tempo. Afinal, acho que merecia uma celebração! =D

Conclusão

Foi um fim de semana muito cansativo. Eu não estava nada confiante com o que iria acontecer, mas afinal correu tudo ainda melhor do que eu estava à espera. Desejo dar parabéns a toda a gente, à organização, aos voluntários, às outras meninas concorrentes do Euro, aos concorrentes do concurso, ao pessoal do show... Bem, todas as pessoas que queiram ser felicitadas encontram aqui a sua felicitação. :) Momentos felizes são assim!

Eu tinha pedido a máquina fotográfica emprestada à minha irmã, mas apesar de tudo não tirei muitas fotos. Não calhou, por uma razão ou outra. Mas as que tirei, ficam aqui! Obrigada a todos! =D







Edit: Ah, sim! Eu já tenho duas ideias de coisas que posso fazer lá nas Inglaterras, mas vou precisar do apioi, conselhos e todas as coisas de toda a gente. Conto convosco, vamos fazer disto um espectáculo altamente traumático! =D

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