CARNIVAL - Comei as Vossas Crianças
Produções Acidentais
2012
Teatro
6 em 10
Fui ao teatro na sexta-feira. Chovia torrencialmente, mas ainda assim lá fui jantar fora com R. e nos dirigimos para o Teatro Extremo, em Almada Velha, procurando abrigo e uma horinha de entretenimento. Lá chegados, venho a ler o folheto que nos deram. Estava lá escrito o que está na imagem que coloquei (até a pus um bocadinho maior do que o habitual, para poderem ler :) ). Posto isto, pensei logo no pior... "É daquelas peças para interagir". A sério, não gosto nada de peças de interagir com o público. Isto é, ser actor é giro, mas ser público nestas peças é um stress e um horror.
Deram-nos umas fichas de poker à entrada, que deveríamos colocar em caixinhas em cada secção da peça. Para nos ajudar, tinhamos um assustador senhor de cartola que gritava "FICHAS". Tive medo dele e pus logo as fichas todas (eram três) na primeira parte da performance. Digo performance porque as primeiras três partes eram mais isso do que uma peça propriamente dita. Foram seguidos pelo monólogo "Comei as vossas crianças". Mas voltemos ao início.
Assim que a primeira pessoa coloca a ficha, aparece numa salinha transparente junto ao tecto uma cigana a cantar o fado e a colar papéis no vidro. O fado era giro e teve um grande efeito inicial, mas tive pena de não poder ler o que quer que estava escrito nos papelinhos.
De seguida, um corredor. Esperámos uma eternidade no corredor, em alegre converseta com um senhor que lá estava. Era para por outra ficha, mas eu não tinha mais... R. deu-me uma das dele e ficámos com uma cada um. Ao fundo do corredor, uma parede negra com um espacinho para espreitar. Do outro lado, a dançarina, ferida, fazia gestos, aproximando-se e afastando-se.
Finalmente, entramos na sala de espectáculo propriamente dita. A última ficha é para colocar numas velinhas. O senhor de cartola ordenou que pusesse uma ficha, mas eu não tinha mais nenhuma. "Então tem de arranjar uma!" disse ele, com ar demoníaco. Não arranjei. As velinhas diziam artigos da constituição quando se punha a ficha, numa voz que - no folheto - vinha identificada como "voz do padre". Será que "voz de padre" é um epíteto específico? Um estereótipo? Estranho...
Sentamo-nos e esperamos que todos cheguem para que comece o discurso. Uma deputada, falando para o parlamento, em texto traduzido de um autor que desconheço (mas que posso por aqui quando chegar a casa para ver o papel), declara que a solução para os nossos males é comer as crianças de todos os que não são ricos. Passa a descrever a indústria de carne, mas com crianças. Bem, esta parte teve piada. Fartei-me de rir, porque era tudo tão ilógico, e a imagem de "paté de crianças" pareceu-me absolutamente hilariante. A actriz podia ter estado um bocadinho melhor, apesar de se ter safado bem e se unir com o público, mas sem interferir connosco. Gostei muito quando todos bateram palmas a meio do discurso e ela conseguiu parar-nos com imensa classe e continuar.
Finalmente saímos. Ainda falta a parte da dança... E eu só dizia "eu não quero dançar, eu não quero, eu não vou, eu tenho sono, eu não quero, eu não vou" Mas fui logo a segunda pessoa a ser chamada para dançar com um desconhecido (fugimos um do outro muito rapidamente). Depois dançámos em grupo numa rodinha. Nem estava com atenção à música, que era guitarra e voz, não me lembro sobre o que falava porque estava tão concentrada e tentar dançar sem pensar nos outros.
Terminou com um copo de vinho no bar do teatro.
No geral, gostei do conceito de "circo" que nos foi imposto, apesar de não me parecer adequado ter este e o discurso na mesma sequência, porque não tinham muito que ver um com o outro. Mas o ambiente foi interessante, apesar de não ter percebido bem as mensagens que pretendiam transmitir com cada secção. Era só pelo circo ou havia algo mais? Terei de debater.
Mas vou tentar ir mais vezes ao teatro. Confesso que já tinha muitas saudades.
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