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24.1.14

Revolutionary Girl Utena

Não sei se todos vós estão atentos à minha lista de cosplays... Se estão, saberão que o meu último cosplay e que o meu próximo cosplay são fruto do visionamento de uma série que adorei e que adoro. Hoje é dia de falar sobre esse anime. Também há um filme, mas tenho preferência clara pela série. Escrevi há pouco tempo, para o clube Critics and Conoisseurs, uma análise bastante completa, com a minha interpretação e projecção (um pouco abusiva e demorada) de ideias, sobre esta série. Irei agora transcrevê-la e traduzi-la para a nossa bonita língua, melhorando-a com isso. Espero que as vossas antenas da curiosidade já estejam levantadas. Porque hoje vamos falar de

Revolutionary Girl Utena



Quando vi Revolutionary Girl Utena pela primeira vez para o clube, estava à espera de algo muito parvo, ao qual não tomaria qualquer atenção. Lembro-me perfeitamente, até hoje, os quatro dias que passei a ver a série. O meu computador estava para arranjar, por isso vi tudo no portátil. Simplesmente, não podia parar. Tornou-se numa das minhas séries preferidas e é o meu exemplo fulcral para um "anime de desconstrução", no qual o género shoujo é analisado em peças. O resultado é uma obra de arte, que se excede em todos os aspectos.

Muitas pessoas podem argumentar que a história é repetitiva e que não tem foco ou sentido, Na verdade, posso concordar com isto. Numa primeira abordagem, Utena é certamente como uma "sopa" de conceitos, todos misturados numa imagem amorfa que não é de todo atractiva. Isto acontece porque uma pessoa tem de olhar para além da premisa: este anime não conta simplesmente uma história. É uma alegoria para a adolescência, mascarada por objectos simbólicos. Cada objecto representa algo e, todos juntos, eles caracterizam o crescimento do único personagem, Utena. Vou dar o meu melhor para explicar a minha perspectiva e espero que, com isso, todos possam olhar para o anime com outros olhos.

Primeiramente, "O Único Personagem".

Utena.








Utena é apresnetada como uma rapariga que quer ser o rapaz. Isto diz "a princesa que quer ser um príncipe". Acredito que isto não apenas representa a dúvida sexual que acontece a quase todos durante os doces anos da adolescência, mas também que o género, o sexo, é irrelevante. Seja uma princesa ou um príncipe, todos passam pelos mesmos problemas e é isso o que Utena representa. É uma personagem em branco, tabula rasa, e é o seu crescimento ao longo da série, enfrentado os vários problemas, que a torna numa pessoa sólida, num adulto. A série está dividida em três partes diferentes, que eu acredito representarem diferentes tipos de assuntos que temos de enfrentar durante o nosso crescimento como seres humanos. Primeiro, temos de nos enfrentar a nós próprios; depois, temos de enfrentar os outros; finalmente, temos de enfrentar o futuro. No final, salvaremos a "princesa" (nós próprios) ao atingir a realização final. Seremos adultos nessa altura.
 
A Associação de Estudantes - Eu



Na primeira parte da série, Utena tem de conquistar a Noiva Rosa (Rose Bride) - Anthy - enfrentando os membros da Associação de Estudantes. Vejo Anthy como "a bruxa" do conto de fadas, o oposto da polaridade, como o inimigo que Utena tem de ultrapassar para conseguir passar por cima dos seus próprios problemas e crescimento pessoal.

Isto para dizer que Anthy é a própria Utena. Anthy é tudo o que Utena tem de conquistar; é tudo o que a Associação de Estudantes representa, todos juntos numa úncia pessoa. Ela também é tudo que Utena tem de salvaguardar, como veremos nos outros arcos, porque assim que nos aceitamos a nós próprios temos de nos manter firmes e usá-lo em nosso favor.

Agora, o que é que a Associação de Estudantes representa? Cada história prgressa dá-nos uma ideia sobre que tipo de objecto são estes elemtnos. Gosto de fazer uma conexão com a lenda dos sete vícios capitais (erradamente conhecidos por sete pecados mortais, esses são só três), em que Anthy é o vício final. Cada um deles representa algo que é um defeito nosso e que temos de aceitar e reduzir. Derrotar. Vejamos:

Juri - Ciúme. Juri está escondida por trás de uma máscara de nobreza, quando na realidade está roída de desespero causada pelas suas relações.

Kaoru - Gula. As pessoas comem muito, muitas vezes porque se sentem inseguras, daí a minha (não assim tão evidente) conexão. Mesmo quando és excelente na prática que escolheste, podes não ter certezas na tua confiança.

Touga - Avareza. O membro mais poderoso da Associação de Estudantes, que quer ter ainda mais poder.

Nanami - Orgulho. A senhora que não deixa que nada lhe aconteça, que acredita que é poderosa e, na realidade, é tão frágil como todos os outros.

Saionji - Raiva. Ele sente tanta raiva em relação à Noiva Rosa que perde o foco e acaba por perder.

Tsuchiya - Inveja. Um sentimento qeu está muito relacionado com o ciúme, que também se relaciona com a influência deste elemento sobre Juri. O seu desespero está relacionado com o facto de que a sua forma de ser não é eficiente na manutenção de relações.

E no final, Anthy é - evidentemente - "Luxúria". Ela é aquela que todos desejam, aquela com mais poder, ela é o desejo e a fome sexual que apenas pode ser satisfeita e conquistada quando se ultrapassam os outros defeitos: assim que és capaz de te aceitar a ti próprio, serás capaz de formar relações sociais e, assim que as tens,  poderás encontrar o amor.



Voltaremos a isto mais tarde.

Rosa Negra - As Vidas dos Outros


 

Conquistamos os nossos problemas, mas a vida não é feita apenas por nós próprios. Os seres humanos são sociais e gregarios, independentemente do que algumas pessoas na internet possam dizer. Assim, as outras pessoas têm uma grande influência em como nos comportamos e em como mantemos tréguas com a própria vida.

Enquanto que é um pouco redutor resumir a sociedade que nos rodeia a categorias e estereótipos, o anime mostra-nos alguns temas que são recorrentes nas relações humanas. Alguns exemplos são: pessoa que não gostam de nós sem razão aparente; pessoas que se comportam de formas que não aprovamos; pessoas que têm ciúmes de nós; pessoas que são nossas amigas.

Pegando neste ponto, falamos de Wakaba. Amigos vêm e vão, alguns ficam para sempre. Na verdade, temos sempre problemas com os nossos amigos mais cedo ou mais tarde. Às vezes resolvemo-los, outras vezes não. Este duelo representa aquela discussão que tivémos com o nosso amigo, quer seja sobre uma coisa importante ou sobre uma coisa parva, isso não interessa. O que interessa é que no final sempre há uma solução, seja ela negativa ou positiva.

O instigador destes duelos, Mikage, quer ficar com a Noiva Rosa. Lembram-se daquela altura em que pensavam que o mundo inteiro estava conta vocês e que eras o único que tinha razão? É isso Mikage. Derrotá-lo é a conclusão de que não, o mundo não te odeia e que, na verdade, somos todos irrelevantes na grande ordem do universo.

Boleia para o Futuro


Conheces-te a ti próprio e conheces o mundo que te rodeia. O que vem a seguir? Ninguém sabe. E é sobre isso que trata este arco.


Carros podem parecer um objecto muito estranho para incluir no cenário, mas se olharmos para eles dentro do contexto fazem muito sentido. Ter um carro (e falo por experiência própria), é um bilhete para a liberdade. Com um carro, podes ir onde quiseres com quem quiseres. é um sinal de que és mais independente e mais responsável. Os carros representam, no contexto de Revolutionary Girl Utena, a vida a dulta e o estado final da nossa evolução enquanto seres sociais.

Mesmo quando já aceitámos quem somos, por vezes ainda nos sentimos inseguros sobre nós próprios. Temos de lutar e conquistar tudo outra vez. Lutamos para a manutenção do presente de forma a podermos avançar para o futuro.

Isto serve como explicação para os símbolos relativos aos personagens, mas há mais no anime para além deles. Vou agora referir-me aos outros elementos.
Arte


Revolutionary Girl Utena passa-se num ambiente escolar, mas esta escola é bastante diferente do que estamos habituados a ver. O cenário é surreal e está recheado de detalhes que, cada um deles, têm um significado intríseco e intricado.

Como todos sabemos, os sonhos são simbólicos e cada objecto num sonho tem um significado. O mesmo acontece com o cenário do anime. Mas e agora, quem está a sonhar este sonho? Utena. Esta história, este conto de fadas, não está a acontecer na realidade. É um sonho, o sonho de Utena. Não faz sentido conectar o cenário a uma realidade alternativa, porque nada aqui é real.

Nem tudo é perfeito. A animação falha por vezes, o que faz sentido para uma série longa dos 90s. Existem muitas cenas repetitivas. No entanto, esta repetição também dá espaço para a insistência no assunto, um sentimento de terror e desespero, a parte em que o sonho se torna em pesadelo.

O facto de que não há sentido espacial nesta escola, cheia de salas que mudam de lugar e forma, adiciona ao sentido de surrealismo patente na série. Acredito que isto não é um erro: é feito de forma propositada.

O estilo é único, mas também característico do género (shoujo). Traços finos, tudo muito clássico e ornamentado, adicionando à beleza do design básico.

Música

Os temas são recorrentes e característicos, adicionando ainda mais ao citado sentido de "pesadelo".

O tema do duelo, que se vai manter nas nossas mentes para sempre, também é extremamente simbólico, pois refere-se a temas como a evolução e a mudança.

Mas nem tudo é trágico...



A série é longa e tem cita muitos assutnos que são dolorosos e difíceis de enfrentar. No entato, nem tudo na vida é triste, pelo que existem muitos momentos de alívio cómico. Acredito que estão bem integrados com o progredir da história, pois actuam como "lufada de ar fresco", permitindo-nosT digerir o que aconteceu e preparar-nos para o que virá a seguir.

Conclusão
Revolutionary Girl Utena é um excelente exemplo de surrealismo aplicado ao anime, tocando em assuntos que normalmente são evitados de forma elegante. É uma obra de arte, altamente detalhado e muito bem pensado, da sua concepção à sua execução. Este facto ultrapassa largamente as falhas. Acredito que o posso recomendar a todas as pessoas interessadas em saber um pouco mais sobre anime ou que simplesmente queiram ver um pedaço de animação extremamente interessante.




Nota 1:  A quem não viu este anime, por favor, pelo amor de tudo o que é sagrado, não passe os recaps à frente. São muito importantes.

Nota 2: Termino esta entrada com o meu cosplay de Rose Bride Utena. Mais está para vir, mantenham-se sintonizados :)


Esta música foi feita com inspiração em Utena e utilizada numa apresentação de cosplay, para o ECG no Anifest. Foi feita juntamente com o meu amigo R., detentor do projecto Ocaso - que deveriam ir ver, porque é giro. :3

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