Só
António Nobre
1892
Poesia
Aqui está o livro que ficou para trás, como tinha comentado na minha última resenha.
Este livro veio-me parar às mãos no meio dos livros da Convenção do BookCrossing. Olhei para ele, vi que era poesia e pensei... Porque não? E porque não mesmo! Então, na minha viagem para o Porto, estive a lê-lo.
Se alguma vez li poesia do século XIX deve ter sido há muito tempo, porque já não estava habituada. Num prefácio de vinte páginas plenas de erudição patega, o amigo do Anto (António Nobre) diz que este é o livro mais triste do mundo. Só me resta concluir que no século XIX não havia grandes razões para estar triste, porque os poemas são de uma futilidade plena e admitida. O tema é sempre o mesmo: tem saudades de casa. Na altura não havia skype por isso compreende-se, mas acaba por ser repetitivo. Os poemas mais interessantes são aqueles que se afastam do tema e mostram uma melancolia um pouco mais peculiar, de nota o desejo constante da morte.
Vou oferecer este livro a um amigo que acho que o vai achar engraçado (eu achei, porque está tão desactualizado!), mas deixo-vos aqui um poema que marquei com um bilhete da TST:
Balada do Caixão
O meu vizinho é carpinteiro,
Algibebe de Dona Morte,
Ponteia e cose, o dia inteiro,
Fatos de pau de toda a sorte:
Mogno, debruados de veludo,
Flandres gentil, pinho do Norte...
Ora eu que trago um sobretudo
Que já me vai aborrecer,
Fui-me lá, ontem (era Entrudo,
Havia imenso que fazer...)
- Olá, bom homem! quero um fato,
Tem que me sirva? - Vamos ver...
Olhou, mexeu na casa toda.
- Eis aqui um e bem barato.
- Está na moda? - Está na moda.
(Gostei e nem quis apreçá-lo:
Muito justinho, pouca roda...)
- Quando posso mandar buscá-lo?
- Ao pôr do Sol. Vou dá-lo a ferr:
(Pôs-se o bom homem a aplainá-lo...)
Ó meus Amigos! salvo erro
Juro-o pela alma, pelo Céu:
Nenhum de vós, ao meu enterro,
Irá mais dândi, olhai! do que eu!
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