Space Battleship Yamato
Leiji Matsumoto - Academy Productions
Anime - 26 Episódios
1974
7 em 10
Estávamos nós a revolucionar-nos e estava o Leiji a revolucionar todo um género de anime e uma indústria inteira. Não tem comparação, nós tínhamos cravos e ele tinha aventuras no espaço. Yamato é uma delas.
Num futuro que não é assim tão distante (mais cem anos e estamos lá), o Planeta Terra foi atacado pelo Planeta Gamilon e pelos seus habitantes (Gamilianos). Tal foi o poder do ataque que a radioactividade destruiu a superfície do planeta e a humanidade está condenada a viver debaixo do chão. O problema grave é que a radioactividade é de tal forma potente que está a penetrar a terra e vai chegar às pessoas dentro de, exactamente, trezentos e sessenta e cinco dias. Então aparece a salvação! Uma mulher chega morta de Iscandar com o recado de que se eles lá forem os Iscandarianos têm a solução! Infelizmente, Iscandar fica a 148.000 anos luz de distância. Mas eis que aparece... YAMATO! Inspirada no navio Yamato da segunda guerra mundial, é uma nave super-potente que os vai levar a Iscandar em tempo record! Ou será que não?
Pessoalmente, eu não sou uma profunda apreciadora de ficção científica, mas esta série fascinou-me. Vi só a primeira season, ainda há mais duas, e vou ficar por aqui mas só por agora. É para continuar e depois ver o remake. Ou se calhar nem ver o remake: isto já é assim de bom!
Normalmente séries dos anos setenta têm um defeito enorme: a arte envelhecida. Para minha grande surpresa, não é o caso de Yamato. Existem elementos característicos da era: os designs e a paleta de cores. Os designs são Leijianos até à medula, coisa com a qual não me importo nada. Marcou verdadeiramente uma geração e acho que são excelentes e muito expressivos. Gosto sobretudo das mulheres, que têm todas um ar diáfano e uma aura feminina muito delicada, mesmo quando são mulheres de força. O contraste é charmoso. As cores são limitadas e as sombras são sólidas e evidentes, de uma maneira que já não se usa. Isto costuma ser pouco atractivo, mas a qualidade imposta na arte deste anime transforma tudo isto em algo muito interessante, quer em termos visuais quer em termos históricos.
A história tem algumas falhas, tal como inconsistências hilariantes na concepção da tecnologia. Está certo que todas as coisas têm de estar adaptadas à sua época. Mas não deixa de ser engraçado que as fardas tenham boca de sino, que tirem fotografias com uma polaroid ou que falem ao telefone entre naves espaciais. Em termos da narrativa em si só houve uma coisa que não compreendi e que creio que deveria ter sido explicada: porque é que os Gamilianos querem destruir a terra? Talvez venha a ser explicado numa outra season. Eles afirmam que é para que o planeta deles fique a salvo, mas o planeta deles é tão longe, qual é a relação de uma coisa com a outra? E uma outra coisa que me transcende, mas esta é uma dúvida que não tem nada a ver com Yamato. Coloco-a à mesma: os Gamilianos são azuis; as pessoas de Interstella são azuis; logo as pessoas de Interstella são Gamilianos; logo Gamilon encontrou a paz em 30 anos? Esta questão está-me a matar a cabeça!
Mas enfim, futuro à parte, falemos dos personagens: são eles que trazem mais intensidade à história e as grandes questões filosóficas e emocionais deste mundo (gostei especialmente de quando capturaram o Gamiliano e se questionaram "mas ele é um ser humano!") O trio de personagens principais é o arquétipo shounen antes de o arquétipo shounen existir. Eles definem o arquétipo: pessoas corajosas, amigas do seu amigo, passado trágico, dedicação, bondade, dúvidas em relação aos seus objectivos e às suas capacidades. São eles que colocam as dúvidas ao público e é com eles que nos questionamos sobre o que realmente se passa nesta guerra, sobre o certo e sobre o errado. Outro personagem com uma presença muito forte é o capitão do navio, que por vezes tem atitudes incompreensíveis para o resto da equipa mas que demonstra notável coragem. E finalmente, não podíamos deixar de ter algum alívio cómico, um par de um veterinário bêbado (que também é médico de pessoas) e de um robot. Na maioria das vezes irritavam-me, mas eles próprios também eram capazes de perguntar sobre emoções e de as fazer aparecer em quem vê.
Finalmente, a música. Não podia se melhor. É a parte que gosto mais nos anos setenta: estas músicas épicas, heróicas, preparadas para serem verdadeiros hinos de guerra. Aparentemente, a OP deste anime tornou-se no hino não oficial da Yamato original (o tal navio da segunda guerra). Em termos parenquimatosos, temos uma banda sonora variada e característica, com uma música para cada tipo de momento e vários efeitos sonoros que adicionam à expressão das situações.
Foi um anime que gostei muito e que recomendo. Não lhe dou uma nota mais alta porque apesar de tudo a progressão é um pouco lenta e por vezes errónea (como demorarem um episódio a mostrar as salas da nave em vez de as mostrarem ao longo da série. O que também é típico da época, mas que mudou por alguma razão). Mas recomendo bastante, vão ver. Vale a pena e é muito divertido!
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