OUT.FEST 2017 - Festival Internacional de Música Exploratória do Barreiro
Festival
No ano passado, havia desesperado porque não tinha ido a este festival. Portanto, este ano, acompanhada de alguns amigos e de um Qui, viajámos até à bela terra do Barreiro para experimentar um festival de música experimental. Ou exploratória, conforme dizem!
Chegados, comprámos o bilhete e aguardámos que permitissem a entrada. Ficou tudo um pouco atrasado, pois julgávamos que a entrada era na parte da frente, mas era uma mentira. Na verdade, era na parte lateral, junto à linha do comboio, onde o edifício de uma fábrica abandonada nos remetia para um lugar pleno de urbanismo artístico.
Analisámos o espaço. Em cada sala acontecia um concerto ou, se não tivesse condições para tal, tinha a exposição de um artista, provavelmente pertencente ao colectivo ADAO (espaço do festival). Eu espero um bocadinho de que talvez estes artistas e4stejam em residência. Enfim, cada sala era uma magia diferente, sendo que existiam instalações muito assustadores, enquanto que outras eram um pouco mais calmas.
Depois passámos aos concertos propriamente ditos.
Para começar vimos, na Sala das Colunas, um tal de Simon Crab. Era um senhor com um ar muito neutro que colocava sons num computador e tocava um pouco uma guitarra, acompanhado por uma rapariga com ar perdido que batia de vez em quando numa bateria e dizia poemas. Confesso que não foi a coisa mais interessante que vi nessa noite.
Depois, fomos até ao Palco Oficina para ver os cabeças de cartaz: This is Not This Heat. Esta banda vem de tempos mais antigos, em que chegou a ter outro nome. Agora, apresenta-se um colectivo com duas baterias, três guitarras, um clarinete estranho, violinos e tudo o mais que se possa pensar. Foi uma experiência absolutamente brutalizante! A forma como a banda experimentava todos os sons dos seus instrumentos, sempre seguindo uma batida militarizada, aterrorizante, com letras distópicas e um constante abuso dos sons enquanto elementos conceptuais. Uma música altamente detalhada, em muitas camadas, por vezes difícil de compreender, mas com um ritmo alucinante e irresistível. Foi a minha banda preferida da noite!
Cansados deste concerto, procurámos uma pausa. Sentar, talvez. Mas tal nunca veio a acontecer. Experimentámos a Sala de Jantar, onde tocava um tal de Jejuno. Não foi muito interessante, pelo que fomos embora. Repare-se então nas pessoas que estavam à nossa volta: um ambiente curioso, libertário, muito eclético, com representantes de todos os grupos urbanos, incluindo algumas pessoas que conhecia de vista. Note-se que estavam por ali umas cotas bezanas a fazer conversa com toda a gente, incluindo connosco. Fora isso, um ambiente muito agradável.
Seguidamente, tínhamos de escolher entre Black Dice e as Putas Bêbadas. Mas como estávamos já no palco principal, ficámos a ver os primeiros. Foi um concerto que me deixou dividida: por um lado, os produtores com as suas maquinarias, gritos e saltos estavam a criar um ambiente de caos com uma energia altamente dançável. Mas o tipo da guitarra, parecia mesmo que estava ali porque os amigos o tinham deixado. Até a tocar a estrelinha lá no céu se notava a sua enorme dificuldade em coordenar os dedos de forma a extrair um som que fizesse sentido. O efeito geral disto era um conjunto de sons que, efectivamente, não tinham sentido mas que, após a mistura, se tornavam numa sequência de ruído quase cardíaco.
Mais tarde soubemos que esta banda pertence ao estúdio dos Animal Collective, o que faz todo o sentido.
Acabou este concerto e vamos ver o que se passa na Sala das Colunas. O horário alterou-se, portanto quem lá está é o DJ Nigga Fox. É certo que, para algumas pessoas, o nome do senhor soa a ofensivo. Mas considerando que é um black de Angola, acho que pode escolher o nome que quiser! Ouvi, pela primeira vez, um género em expansão nesse país: "batida". É uma mistura de kuduro com as tonalidades mais progressivas da música electrónica, com um resultado muito mexido, muito interventivo e muito coreografado. Uma música perfeita para dançar!
Finalmente, subimos ao andar superior para ver o que estava a acontecer. Acabámos por sentar na Sala de Jantar a ver Gyur, um ser andrógino que estava totalmente focado a mexer num computador. Nunca chegámos a saber exactamente se estava a fazer música ou a jogar, pois foi o concerto mais impessoal e, ao mesmo tempo, mais introvertido que vi nos últimos tempos.
Em conclusão, devo dizer que foi uma experiência excelente, isto da música exploratória. Fiquei com vontade de ouvir todos eles em separado para saber realmente o que se passa por aí. O espaço é fantástico, o preço foi muito justo e valeu realmente a pena!
Para o ano, lá estarei de novo!
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