Persepolis
Marjane Satrapi
2000
Banda Desenhada
7 em 10
Depois de ver o filme, tinha ficado curiosa em relação ao livro original. Assim, quando a Ana-san se ofereceu para mo emprestar (em troca de qualquer BD que eu tivesse por aqui), foi com muito gosto que aceitei. Li-o num instante, e olhem que o livro é bem grande.
Inevitavelmente, terei de estabelecer alguns paralelos com o filme. O tema é o mesmo, assim como a abordagem. De uma forma autobiográfica, Marjane Satrapi conta-nos como costumava ser a vida no Irão antes da guerra e como se tornou depois dela. No entremeio, fala-nos da incapacidade do mundo dito por "civilizado" de a aceitar enquanto ser humano e da sua dúvida e espiral depressiva quando confrontada com a sua identidade. Se por um lado ela se habituou à liberdade europeia tal como ela é, por outro lado é atraída pelo conforto de estar na sua terra e de não ser julgada pelo seu aspecto. Só que continua sendo. É um dilema paradoxal muito interessante, que está explorado com a mestria de quem o viveu.
Existem várias diferenças em relação ao filme que tornam esta obra em algo completamente distinto. Para começar, são poucos e muito vagos os momentos musicais. Considerando que o filme vive em absoluto destes, o "silêncio" foi algo que me impressionou de sobremaneira. Para mais, há uma diferença artística flagrante. Enquanto que no filme explorávamos toda uma tonalidade entre o preto e o branco, no livro este elemento é muito mais directo: só existem o preto e o branco. Apesar disto, a utilização de padrões leva-nos a conseguir imaginar toda uma matiz de cor. Assim, a paleta reduzida torna-se extremamente versátil, sobretudo em imagens de guerra e destruição que são, sem dúvida, muito mais impressionantes.
É uma banda desenhada de curtas vinhetas e com bastante texto. As explicações dadas são claras e dão-nos uma excelente visão do sentimento colectivo das pessoas informadas perante o flagrante da guerra e do extremismo religioso, colmatados com expressões extremamente naturais inseridas nos diálogos. Isto prova que, apesar de tudo, ainda somos "pessoas", "pessoas normais", não apenas reduzidas ao limitante "extremo ou livre-pensador"
O elemento depressivo pareceu-me estar melhor expressado no filme, já que aqui há apenas uma referência bastante vaga sob um olhar frio. Isto foi, realmente, uma pena: gostaria de ter visto todas aquelas imagens de tripanário em papel.
No geral, uma excelente banda desenhada que nos dá uma luz aguçada sobre a temática da guerra do médio-oriente, assunto sempre actual (espero que venha o dia em que deixe de o ser)
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