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22.3.15

Antologia Poética de Antero de Quental

Antologia Poética de Antero de Quental
Antero de Quental
Século XIX
Poesia

Comprei este livro na Feira do Livro, pois estava barato e sentia falta de poesia nas minhas prateleiras. Enfim, tudo indica que poderia ter escolhido melhor poesia.

Antero de Quental foi um jovem Açoreano que escrevia versús muito vunitos sobre coisas muito vunitas, nomeadamente Jesus, a espada em chama de Jesus, a águia de Jesus e coisas vunitas que Jesus fez. Enfim, é um tipo de poesia carregadíssima com esta misticidade cristã. Embora esta tenha uma certa graça quando bem utilizada, no caso de Antero de Quental podemos discernir que estão aqui os primórdios, as origens!, dessa coisa maravilhosa que é o azeite.

Se existe poesia azeiteira, Antero de Quental é o rei.

Não gostei de quase poema nenhum, mas ainda assim transcrevo para aqui um dos dois ou três que até achei interessantes:

... LUX DUBIA

Verg.

Visões! Visões longínquas!
Ondas do céu - tão puras...
nuvens do mar - tão brandas...
e, em tudo... formosuras!

Coisas incertas, vagas,
que a gente vê passar
pelo-crepúsc'lo à tarde,
e erguer-se com o luar...

E mal se sabe ao certo
se estão, se andam girando,
ou se é o olhar turbado
que as foi alevantando...

Astro, que está crescendo,
imenso, desusado,
e se acha ser escuro
apenas é fitado...

Relâmpago, que o olho
mal sabe inda se viu
e, já nesse horizonte,
ao longe se sumiu...

Imagens fugidias,
que à noite andam girando
e entre a vigília e o sono,
no leito, visitando...

Véus de cambraia e renda
flutuansdo ao longe, ao longe...
nota socmo sumidas
no canto de algum monge...

Que neste céu vaguíssimo
tomassem corpo, enfim...
saudades misteriosas
que a gente vê assim.

Nem bem ao certo sabe, 
se as vê ou se é que as sente,
ou só com, olhos de alma
apenas as pressente.

Aparições fantásticas
que muito além da vida
nos levam, em hora estranha,
a alma adormecida!

Oh! quem soubera, espíritos,
donde assim baixais!
se sois talvez a imagem
- no céu - de nossos ais!

Se sois apenas sonho
que a mente nos criou....
ou alma irmã da nossa
que sobre nos pairou...

Ou ser que anda vestido
dos raios do luar
e para a vaga altura
nos vem a convidar...

Não é deserto o espaço,
o céu não é deserto
e então - quem sabe? - às vezes
se possam ver mais perto.

Essas essências puras
que além da esfera habitam,
onde se escuta a música
dos astros, que palpitam

Pois são talvez espíritos
e vêem donde vens,
alma! vê tu se podes
falar-lhes - tu que tens.

Em ti, inda um reflexo,
como tremente lua,
dessa penumbra incerta
- mas doce - onde flutua

A essência, e onde enlaçados
vão, como a adormecer,
banhados no infinito - 
- juntos - a causa e o ser.

Vendo bem a coisa, até este poema é um pouco foleiro. O que havemos de fazer? :p

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