As Regras do Tagame
Kenzaburo Oe
2000
Romance
Esperava eu o bicharin quando me vejo sem livro para ler. Inesperadamente, havia terminado o grande volume em que estava a batalhar! Assim, dado que a sua chegada estava apontada para daí a um quarto de hora, decidi comprar um livro. Gosto sempre de ir a livrarias comprar livros. Peguei em muitos, voltei a pô-los no sítio e cheguei à zona das promoções. Aí, vi este: um autor japonês, prémio nobel ainda por cima! Será mesmo este!
Mas creio que não foi o livro ideal para começar a conhecer este autor.
De natureza quase auto-biográfica, dá-nos a conhecer os sentimentos do autor sobre a morte do seu cunhado, um famoso realizador de cinema. Existe um paralelismo evidente entre os personagens do livro e os personagens da vida do autor, assim como elementos da sua própria vida, com mais ou menos verdade por trás de cada evento. Por exemplo, os ataques físicos da direita em relação ao autor dentro da história: o autor fora da história terá sido vítima das críticas dessa faixa política, mas creio que os ataques físicos serviriam como uma metáfora para a violência que lhe foi feita.
A história é muito densa e trata da relação do personagem - autor consagrado - com o seu cunhado - realizador consagrado - que se suicida sem motivo aparente. O cunhado deixou um conjunto de cassetes audio para serem ouvidas no "tagame" (nome dado ao leitor de cassetes pelo personagem principal, devido à sua semelhança com um escaravelho). Assim, ficamos a conhecer várias vertentes destes personagens, nomeadamente o seu passado e um evento específico, muito traumático para eles, que veio a marcar todas as atitudes em relação à arte e à política dos seus eus futuros.
Apesar da complexidade do livro, que se compõe de uma miríade de camadas sobrepostas, é uma história muito delicada e emocionante, que me tocou profundamente e me deixou extremamente triste. Apesar de não ter nada de triste, ser apenas um relato sobre a vida, está escrito com tal sensibilidade que mexe com as emoções do leitor e arrepia. É uma narrativa plácida, de cor verde, que prossegue com toda a calma até uma conclusão bastante estranha mas que, ainda assim, não deixa de nos dar esperança.
Fiquei curiosa em relação ao autor e hei-de experimentar lê-lo mais vezes.
Sem comentários:
Enviar um comentário