Apocalypse Now
Francis Ford Coppola
1979
Filme
9 em 10
Nunca tinha visto o Apocalypse Now. Lembro-me de ser pequena e de o meu pai ter muita vontade de me mostrar este filme. Mas... Eu era pequena. Não era apropriado. Agora percebo que, realmente, não ia perceber o filme. Que ia ficar impressionada. Agora sou crescida, bem grande! E achei que Apocalypse Now é o exemplo de genialidade.
Para mim, a guerra nunca foi coisa que fizesse sentido. Qualquer a razão, sempre considerei que matar pessoas indiscriminadamente não é uma atitude correcta para seres que se dizem racionais. Aqui, o exemplo é uma guerra que, entre todas as outras, é possivelmente a que menos sentido fez. Vietname. Uma guerra perdida desde a origem, desde a sua concepção. Uma guerra feita para matar uma geração. Para a perturbar. Que, devido a isso, tem consequências emocionais até aos dias de hoje. Este filme fala do Apocalipse. O apocalipse agora, neste momento. Uma guerra que de tão ilógica, poderia ser um retrato do fim do mundo.
Um soldado conturbado, traumatizado pelos eventos passados nesta guerra, tem uma missão: ir até aos confins de um rio para assassinar um general que, dizem, enlouqueceu. A loucura rodeia-o. E ele tem de sobreviver com o único objectivo de voltar a causar destruição. Seguimos rio acima para encontrar momentos cada vez mais bizarros, inspirados por uma estética muito surreal e bastante psicadélica, dentro do contexto de floresta e nevoeiro. Pelo caminho, encontramos situações que têm tudo de doido, com protagonistas que se perderam na senilidade da situação e apenas encontram um escape, uma saída, na morte, no horror e no sacrifício de outras vidas.
Parece que o fazem para se divertir. Para se libertar. Mas o que significa tudo isto, a um nível mais profundo? Será que a guerra, afinal de contas, é apenas a conjugação de um grupo de gente louca que precisa da morte para se sentir bem? Tudo isto é caracterizado no espectáculo final. Encontram, pois, uma nova civilização, lideradas pelo general, uma espécie de deus da morte. Esse, sim, é a personificação da guerra. Uma pessoa que está caracterizada de forma impecável, na sua luta interior, no seu desespero. Mas também é ele a figura humana que simboliza toda a falta de sentido que existe numa luta entre povos, entre ideologias, entre aqueles que discordam uns dos outros. Porque este homem discorda de toda a gente. Portanto, mata. Tortura. Destrói. Não é isso o que faz uma guerra?
Momentos finais são altamente duvidosos. Afinal, o nosso protagonista liberta-se da guerra, depois da sua missão, ou toma o lugar de deus, já que viver no mundo real é demasiado difícil para ele? Foi o que vimos no início, a sua inadaptação, a sua dependência das "missões". Fica a dúvida, a ambiguidade. Certamente que o irão lá buscar, mas irá pacificamente?
Todo o ambiente do filme nos remete para um pesadelo. Nada faz sentido e o clima recriado acaba por ser tanto engraçado como extremamente assustador. Nada disto seria possível sem um perfeito trabalho de imagem e fotografia, aproveitando paisagens que, de tão maravilhosas e luxuriantes, acabam por ser atemorizadoras e claustrofóbicas. É um filme que não se dedica muito a grandiosas cenas de acção (exceptuando talvez todos aqueles helicópteros), mas que pulsa vivo à conta de diálogos incisivos e absurdos, que apenas ajudam na caracterização deste mundo apocalíptico em que estamos condenados a cair uma e outra vez.
Enfim, um filme exemplar. Acabei de o ver e já estou com vontade de o ver outra vez.
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