Blue Jasmine
Woody Allen
Filme
2013
7 em 10
Será certamente conhecido de todos vós que eu não sou grande apreciadora da obra do Woody Allen. Pelo menos dos filmes onde ele aparece. Parece-me, a mim, que o senhor se transfere para todos os personagens e que todos eles são retratos dele próprio. Todos os seus personagens têm uma neurose própria e, no caso daqueles que são interpretados por si próprio, não têm a sua identidade: todos os personagens são Woody Allen e, assim, Woody Allen está sempre a fazer dele próprio. Nesta sua sequência de filmes sobre cidades, o autor encontra uma nova maneira de se expressar, que me parece muito mais única e muito mais original, pois faz uso de outros actores que, por sua vez, têm a sua própria forma de interpretar as psicoses do realizador. E neste filme, em que seguimos as tentativas de recuperação de uma mulher à beira de um ataque de qualquer coisa, parece-me que isso é, finalmente, conseguido.
Jasmine era muito, muito rica. Por sua própria mão, perde tudo o que tinha e viaja até São Francisco para tentar fazer uma vida nova, tendo como ponto de partida a casa da sua irmã - uma pessoa completamente diferente. No entanto, a nova vida na nova cidade colocará à prova a sua capacidade de adaptação. Enquanto isso, tem de lutar contra as constantes memórias e o sentimento de opressão e paranóia e tentar manter-se equilibrada.
Esta neurose é muito diferente daquilo que vemos nos outros filmes do autor. Desta vez, temos uma pessoa que está realmente à beira de perder completamente o controlo e que não está a conseguir encontrar-se e colocar um pouco de lógica na sua vida para que as coisas corram melhor. As situações em que se encontra também não ajudam. Rodeada de personagens únicos e que têm os seus motivos para a perturbarem de todas as formas, Jasmine é uma personagem perdida e desesperada. Coloca-se aqui então o trabalho da actriz, Cate Blanchett, que transmite este sentimento de forma perfeita, fazendo-nos ao mesmo tempo odiar e amar a personagem, ter pena dela e ao mesmo tempo tentar compreender como pode ser tão difícil mudar de vida. E na verdade é, pois a personagem está feita de forma a nunca ter conhecido nada para além de uma vida perfeita.
Apresenta-se, então, um filme extremamente negativo, apesar de ter o seu lado cómico dependendo das situações. A história tem tudo para terminar num bom tom, mas a vida não costuma ser assim e todas as coisas acontecem para que a personagem acabe num beco sem saída, numa nota extremamente trágica se olharmos para a sua situação final.
É também uma análise muito interessante à vida socialite das duas cidades, Nova York e São Francisco. Mostra também o lado mais normal, o das pessoas vulgares. Tudo isto recheado com bonitas imagens paisagísticas da cidade onde ocorre a acção. Será mais um filme publicitário?
Creio que Woody Allen, agora idoso, chegou a um ponto de maturidade em que consegue analisar os seus problemas de forma mais séria. Neste filme é-nos apresentado um Woody Allen que perdeu toda a esperança, mas que não perdeu a vontade de fazer rir as pessoas. Talvez seja a sua derradeira grande obra.
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