Asssassinatos na Academia Brasileira de Letras
Jô Soares
2005
Policial
Recordam-se do Jô Soares. Aquele amiguinho gordinho da televisão brasileira, que tinha sempre piada! Pois bem, quando vi um livro dele (aliás, dois) na lista que me mandaram fiquei com curiosidade de o ler. Revelou-se um senhor extremamente culto, além de revelar com classe o seu bom-humor que sempre o caracterizou.
Este livro é um policial passado no Rio de Janeiro dos anos 20. Um a um, membros da Academia Brasileira de Letras vão sendo assassinados por um misterioso envenenador. Há muitas pessoas, muitas mulheres atraentes, um anão, um médico legista e muitas coisas muito engraçadas.
Mas o que é a Academia Brasileira de Letras. Pois bem, a quem não sabem, é como se fosse um "clube" que reúne os melhores escritores brasileiros, a nata da intelectualidade. Mantém-se até hoje e tem nomes importantíssimos. É quase certo que se um escritor pertence a este grupo, a sua obra é de génio. Mas, revela este livro, nem sempre terá sido assim... A obra revela todo um universo de corrupção e de venda de favores em troca de um lugar na prestigiada Academia, para além da leviandade de seus membros que não têm mais nada com que se entreter do que tomar chá e participar em grandes festanças sociais.
O personagem principal, comissário Machado Machado (assim chamado por o seu pai, Rubino Machado, ser grande apreciador e fã de Machado de Assis) está muito bem construído, com um detalhe primoroso nas suas acções e personalidade. A forma irónica como aborda os factos torna-o cativante, tudo isto polvilhado com uma pitada de Machado de Assis. Porque Machado Machado conhece bem e cita a sua obra integral. Não apreciei, no entante, as suas capacidades infalíveis de galã. Pareceu-me exagerado que atraísse mulheres lindíssimas ao primeiro contacto, ao primeiro olhar, a ponto de se reproduzirem cenas eróticas em vários pontos do livro que em nada contribuem para a história.
Também não contribuem para a história, mas têm o seu quê de engraçado, as reflexões sobre cada uma das personagens que é apresentada, com detalhes sobre a sua vida privada. No entanto, é maneira de os conhecermos e de os colocarmos o retirarmos da lista de suspeitos.
O mistério mantém-se até ao fim, com muitas pistas ocultas que requerem um grande conhecimento de literatura para fazer uma dedução lógica antes do tempo. O assassino é totalmente inesperado e de uma loucura irrepreensível, simplesmente de tão cómica que é.
Agora estou desejosa de ler o outro livro que tenho dele. A linguagem transporta-nos para a época de todas as coisas com classe, os loucos anos 20, e o autor demonstra um seguro uso da palavra. Gostei muito e é para repetir.
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