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19.7.12

A Tia Julia e o Escrevedor

A Tia Julia e o Escrevedor
Mario Vargas Llosa
Romance
1977

De todos os Vargalhosa que li até agora (e ainda não são muitos, mas estão todos neste blog por isso parecem uma multidão) este foi o mais engraçado, o mais cativante e, sem nenhuma sombra de incerteza, o mais absolutamente delicioso gelado de Verão que me podia calhar em sorte.

Isto tem o seu quê de autobiográfico. Marito Varguitas (ou, para os amigos, Mario Vargas - tão a ver o connect, tão?) é um jovem com pretensões a escritor que trabalha a recortar notícias para a Radio Pan-Americana. Entretanto aparece-lhe na família uma tia vinda da Bolívia, Julia, com a qual se desenvolve uma tragicomédia de amor. Intercaladamente aparecem histórias dos folhetins de Pedro Camacho, que os escreve para a mesma rádio. Assim, temos duas histórias dentro da mesma história, a da ascensão do amor e a da ascensão dos folhetins, seguidos pela sua queda e pelo futuro dos seus intervenientes.

A história de amor é rocambolesca. A tia Julia é mais velha e divorciada, Varguitas é um estudante sem um chavo, como poderemos solucionar isto? Mas solucionam-no da maneira mais exasperantemente improvável e divertida (para o leitor, para eles não deve ter sido muito)

Mas para mim o maior encanto reside nos folhetins. Cada capítulo é um folhetim diferente, escritos com um vocabulário absolutamente floreado, requintado e desapropriado, contando histórias que, sendo do quotidiano, se distinguem por terem uma certa aura surrealista. Os personagens dos folhetins são desenvolvidos a uma profundidade sem limites, mas nunca sabemos o que lhes vai acontecer, fica sempre para o próximo capítulo e só à medida que o livro vai avançando é que percebemos que o seu fim vai ser extremamente bizarro. Posso avançar desde já que sim, é. Porque parte da história consiste na loucura de artista de Pedro Camacho e como isso se reflecte nas suas histórias que, no fundo, são a sua vida.

São livros como estes que me dão mais vontade de escrever. São livros como estes que provam que um excelente autor também tem de ser dotado de sentido de humor. São livros como estes que provam que um excelente autor, antes de mais, adora escrever.

Gostaria de o recomendar a toda a gente, mas devido à intensidade do vocabulário pode ser um pouco difícil para quem não esteja habituado a ler literatura "da pesada". Ainda assim experimentem lê-lo. Vão ver-se envolvidos num mundo de fantasia que ultrapassa os limites da própria fantasia e que, melhor de tudo, é absolutamente real.

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