Planetes
Taniguchi Goro - Sunrise
Anime - 26 Episódios
2003
8 em 10
A verdade é que existe anime sobre tudo. Até existe anime sobre homens do lixo. Mas, para dar uma certa classe à profissão, não são uns homens do lixo quaisquer. São homens do lixo do espaço.
Planetes é uma delícia, uma cornucópia de visões e de sentimentos e uma viagem ao espaço, 10.000 anos depois entre Vénus e Marte. Começando pela história. De uma simplicidade única, apresenta-se como um dos argumentos mais originais da década. Conta-nos o dia a dia daqueles que, por competência própria ou do destino, acabaram a apanhar o debris espacial criado ao longo dos anos. É uma profissão importante, tal como qualquer outra, mas sobrevalorizada na empresa a que pertence. A luta do dia a dia dos personagens é contrabalançada pela luta entre as várias esferas de poder empresarial e do mundo do doismilesetentaepico. Assim temos a vida das pessoas equiparada à vida do mundo, e do universo, de uma forma tão equilibrada que se torna bela. E o anime não se coíbe de aproveitar a deixa para promover a paz no mundo, por um planeta unido e sem guerra.
Planetes não é só "planetas". Planetes é "wanderers", os que "andam por aí", os que procuram. Planetes não é só uma história do dia a dia, mas é também a história das pessoas. Cada personagem é único e tão real que o podemos palpar. Todas as pessoas são normais e vivem na normalidade. Têm problemas como os nossos, têm crises como as nossas, têm desejos como os nossos. São pessoas como nós. E, tal como nós, mudam com as suas experiências, para melhor ou para pior. Cada personagem cresce à sua maneira, de forma perfeita, nunca apressada, cada personagem busca em si própria a maneira de mudar para atingir os seus objectivos. E, tal como nós, por vezes falham neste processo. E voltam a por-se de pé. Hachimaki tem das melhores progressões alguma vez criadas, passando por várias fases até descobrir verdadeiramente o que deseja e sente. Tanabe Ai também muda de forma perfeitamente orquestrada, crescendo, passando de menina ingénua a mulher, mas sem nunca mudar a sua perspectiva de ver a vida. São pessoas.
A arte é muito bela. O espaço não tem muito que ver, mas da perspectiva destes homens e mulheres até no quotidiano se encontram paisagens maravilhosas. A animação é muito cuidada e as cenas com acção são detalhadas. Os designs dos personagens são adequados e a estrutura de toda a maquinaria e tecnologia é extremamente realista. Porque, efectivamente, um fato de astronauta nos doismilesetentaepicos provavelmente será parecido com os de agora e não será um plugsuit perfeitamente ajustado às curvas dos enormes seios da bela pilota da nave espacial que, com os seus longos cabelos a esvoaçar no vácuo, faz movimentações e lança raios laser. Gostei especialmente da manutenção do efeito da gravidade (ou falta dela) nos movimentos dos personagens e dos objectos. Também das várias visões que temos do planeta Terra e do Sol e da Lua, a girarem sobre eles próprios a uma velocidade que não vemos.
A música é apropriada, mas não memorável. Pessoalmente, eu consigo ver a Equipa de Debris a trabalhar ao som de Fuga para o Espaço, mas se calhar sou só eu.
Um anime carregado de mensagens importantes e tocantes. Uma delas impressionou-me especialmente: a imagem da rapariga da Lua a brincar no "mar". Vou reter esta imagem durante muito tempo e vou falar dela a toda a gente até se fartarem: foi belo. Foi intenso. Foi perfeito.
Não estava à espera que um anime sobre homens do lixo fosse assim. Mas a verdade é que Planetes passou a figurar na minha lista de favoritos. Extremamente recomendável.
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