Zipang
Furuhashi Kazuhiro - Studio Deen
Anime - 26 Episódios
2004
8 em 10
Há muito tempo que não via um bom anime e, para mais, um anime de guerra que estivesse realmente bem feito. Apesar de alguns defeitos, não me coibi de dar uma excelente classificação a Zipang, um anime memorável e marcante que poderá ter passado ao lado da maioria dos fãs.
Tudo começa quando Mirai, uma embarcação militar com todo o top de modernidade e todas as características mais evoluídas que poderá ter este tipo de objecto, navega pela primeira vez e, numa noite de nevoeiro, é atingida por um raio. Qual a surpresa dos seus tripulantes quando se vêm no meio do Oceano Pacífico em plena Segunda Guerra Mundial! Isto, desde já, é um pouco revolucionário no mundo do anime: é uma raridade ver animes sobre a grande guerra que tratem do assunto com objectividade e relatem factos verdadeiros sem os ocultar debaixo de metáforas como naves espaciais, robots e toda essa parafernália de invenções. São giras, claro, mas por vezes faz falta um pouco de realidade nua e crua. Mas a força da narrativa atinge o seu verdadeiro significado quando os personagens são postos à prova perante o seguinte paradoxo: este barco tem o poder de ganhar a guerra, com todas as suas características tecnológicas; no entanto, se mudarem o passado, a vida que eles têm no século XXI poderá ser completamente diferente? O que fazer? As coisas mudam quando, por acaso, salvam um agente das secretas de morrer afogado. E aí, o passado entra em jogo.
É um anime que provoca debate aceso entre os personagens, entre o que deverá ser feito moralmente, o que deverá ser feito na prática, e as consequências disto para o futuro que todos conhecemos. Os nossos personagens começam a participar activamente, embora de forma puramente defensiva e com o objectivo de "salvar vidas" numa guerra que está perdida desde a sua génese. Acabam por conhecer outras pessoas que concordam, mas também outras que não conseguem aceitar isto. E é neste caldeirão de personalidades que o espectador tem de procurar uma identificação. É fácil de encontrar alguém neste anime por quem nutrir algum carinho: há uma grande variedade de pessoas, cada uma perfeitamente construída sobre uma base sólida (um passado, uma família, uma maneira de ver o mundo) e cada uma, também, com um caminho evolutivo evidente. Os personagens que conhecemos no início de Zipang mudam radicalmente à medida que o anime se aproxima do fim e mais coisas terríveis começam a acontecer à nossa tripulação.
Se temos uma história e personagens muito sólidos, não poderemos, infelizmente, dizer o mesmo da arte. Teremos de aceitar que toda a maquinaria está muito bem estudada, com designs historicamente informados e muito funcionais. Aliás, o facto de todos estes navios e aviões terem existido realmente é um ponto fulcral na narrativa, pois permite aos personagens do "presente" ter uma vantagem em relação aos do "passado". No entanto, efeitos especiais como explosões, efeitos aquáticos, fumo, tudo isso foi feito por métodos digitais que não se coadunam bem com o resto do cenário. Este, tem pouco detalhe paisagístico e está bastante limitado a eventos marítimos.
Musicalmente, temos alguns momentos um pouco repetitivos, mas OP e ED apropriadas ao assunto que vai ser tratado.
Talvez a pior parte deste anime tenha sido o facto de não haver um final conclusivo para a história. O anime de Zipang conta-nos apenas um arco muito inicial de uma narrativa que se prolonga por pelo menos mais três anos (até ao fim da guerra). Isso desapontou-me bastante, mas não o suficiente para reduzir a classificação do anime.
Assim, recomendo vivamente que todos vejam esta peça. É original, único e muito bem feito em termos históricos e narrativos. Impressionou-me muito em algumas partes, noutras comoveu-me. Irei lembrar-me dele por muito tempo.
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