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30.5.14

Koukou Butouden Crows

Koukou Butouden Crows
Takahashi Hiroshi - Knack Productions
Anime OVA - 2 Episódios
1994
6 em 10

Este anime tem uma história muito curiosa. Houve aí uma fase, já vai para uns cinco ou seis anos, em que eu queria ver todos os animes sobre delinquentes juvenis possíveis. Queria compreender como funcionavam tais pessoas na sociedade, sobretudo raparigas. Bem, encontrei muito pouca coisa (sobretudo sobre as tais raparigas de saias compridas). Ainda quero saber, portanto estejam à vontade para me recomendar. Enfim, este anime foi um dos que me recomendaram na altura. E lá fui eu. Após muita, muita, muitaaaa pesquisa, fui encontrar um torrent perdido no meio de nenhures e lá me pus eu a sacar. E aqui esteve. Cinco... Seis anos... Parado nos 98%. Há coisa de três semanas terminou! E hoje tive a oportunidade de o ver! =D

Consistindo de dois episódios de 50 minutos, este anime não tem muito de história ou personagens. Um jovem forte e violento, mas bem humorado, envolve-se numa luta de gangs pela hierarquia da escola e do bairro ao proteger um miúdo mais fraco. É uma história típica de branco no preto (o bem que luta contra o mal), recheada de lutas corpo a corpo violentas, mas bastante realistas. Assim, não há muito espaço para o desenvolvimento de personagens ou de uma história que interligasse todos os aspectos do anime. Mas para quem quer dois episódios de boa porrada, aqui está a coisa certa para verem.

A arte é clássica da época, com designs realistas e traços fortes. A animação não é excelente mas também não está má, oferecendo muita vivacidade a todas as lutas a que assistimos. São cenas com muita energia, que servem bem para libertar a raiva acumulada ao fim de um dia de trabalho. O mesmo se passa com a música. Muito típica de meados dos anos 90, apresenta-se com um rock bem animado, que ilustra muito bem as cenas de delinquência que recheiam toda a hora e meia que são estes OVAs.

Valeu a pena o tempo de espera, porque foi divertido. Não foi a pérola que eu estava na expectativa de receber, mas foi bem engraçado. :)


Mazinkaiser

Mazinkaiser
Murata Masahiku - Brains Base
Anime OVA - 7 Episódios
2001
4 em 10

Põe o random a mexer, para um anime escolher. Vai roleta, vai mais um, calhou este catrapum.

Meu deus. O que é que eu acabei de ver. Ao início... Ao início pensei "bem, apanhei uma fase má dos 80s". Mas depois olhei para a data... Olhei para a data e vi... Dois Mis. O milénio. Como. Porquê. Quando. Quem sou eu?

Robôs gigantes, tudo bem. Mamocas ao léu, tudo bem também. Um inimigo idiota... Aceita-se. Mas o que não se aceita é isto tudo junto carecendo de sentido, objectivo, tudo o que um anime precisa para ser um anime! Vejamos: três amigos, bikers (ponto a favor) lutam contra o génio do mal, encarnado por um velho barbudo (ponto neutro), que tem robôs maléficos (ponto contra) e cujo minion é um ser metade homem metade mulher (ponto a favor), que se toca impudicamente no banho (ponto contra). Têm duas parceiras que são gajas boas (ponto neutro), que aparecem nuas a tomar banhos de sol sem razão (ponto contra). A gaja do grupo é fraquinha e está sempre a ser capturada (ponto contra) e em última instância mostra as mamas com mamilos bicudos (ponto contra).

Tudo isto com uma animação atroz, envelhecida, terrível, sem ponta por onde se lhe pegue. Designs mal aproveitados, mas sobretudo sequências, seguidas (seguidas!) em que podemos ver a distância entre as frames de cada gesto. 

Música do piorio, tentando apanhar o charme dos 80s mas patinando em estrume vacum a cada passo.

Há muito tempo que não me calhava nada assim. Se calhar isto é um regresso ao giant robot das décadas passadas, uma homenagem, algo... Mas não, nem isso consegue ser. Horrível. Medonho. Sim, medonho é a palavra certa.

Agora vou lavar os olhos com betadine. Até já.

29.5.14

Uma Morte Súbita

Uma Morte Súbita
J.K. Rowling
2012
Romance

Tinha uma grande curiosidade em ler este livro, já que sou grande fã da saga Harry Potter (pelo menos enquanto tinha a mesma idade que o Harry nos livros). Assim, queria muito saber como seria um livro de J.K. Rowling para um público adulto. Como tinha o livro empatado nas últimas cem páginas e passei o dia de hoje todo em casa, pensei em fazer algo que já não fazia há muito tempo. Deitar no meu canto da cama, em cima da minha ovelha e encostada ao meu poring, braço apoiado no cão pudim e manatim MASAL a servir de encosto para os pés.... E ler! E agora já conhecem alguns habitantes da minha cama, que coisa tão privada, huhuhu (há mais ºvº)

Devido a uma morte súbita, um lugar no conselho da pequena cidade de Pagford fica livre. E pelo meio de muitas intrigas ficamos a conhecer cada um dos habitantes da cidade, como se nós próprios vivêssemos lá. A história liga muitas pessoas diferentes, apesar de não ser muito complexa. O que é certo é que está muito bem contada. Realmente senti-me como se estivesse em Pagford, acompanhando as pequenas vidas diárias e os dramas pessoais de cada um dos personagens como se fossem os meus.

A personagem que mais gostei foi Krystal. E devo confessar que chorei um bocadinho no fim. Também simpatizei muito com Sukhvinder e os que gostei menos foram Colin Wall e o filho (na minha edição traduzido como "Bola Wall", mas acho que não seria o mais correcto).

Achei que a autora captou muito bem as expressões locais, um interior perdido da Inglaterra. As descrições dos locais são muito exactas e cada uma das personagens foi construída com muito detalhe e muito carinho. Existem vários temas presentes e cada um deles ganha dimensão há medida que a história decorre, não se deixando ofuscar uns pelos outros.

No geral, um livro excelente. Não será uma obra prima da literatura, mas é muito envolvente e, sobretudo, muito divertido.

Kimagure Orange Road

Kimagure Orange Road
Osamu Kobayashi - Studio Pierrot
Anime - 48 Episódios
1987
6 em 10

Continuo em casa a doentar, portanto achei por bem por os animes todos em dia e terminar este bicho que me tem vindo a atormentar nos últimos meses. Bem, talvez atormentar não seja a palavra correcta, porque até foi uma viagem bem divertida. Mas a verdade é que já não via uma série longa dos 80s há algum tempo e, parece-me, já tinha perdido o hábito...

Esta é uma comédia da vida diária, o protótipo daquilo que um dia virá a ser o fatia-de-vida. Kyosuke e as suas irmãs gémeas, mais novas, vão viver para uma nova cidade. Lá fazem novos amigos e o pobre rapaz vê-se envolvido num triângulo amoroso, dividido entre Madoka Ayukawa e Hikaru Hiyama. Isto leva-nos a quarenta e oito episódios de desentendimentos e muitas alegrias. Com um twist: toda a família de Kyosuke tem poderes telecinéticos, que não podem usar sob nenhum pretexto! Ou então, terão de mudar de cidade mais uma vez.

A história é simples, deixando tudo em aberto (suponho que será concluído nos filmes, que não sei se tenho muita vontade de ver). Este tipo de história só pode ser suportado por grandes personagens, já que cada episódio é uma aventura nova sem relação com as anteriores. Sendo assim, falemos dos personagens. São muito melhores do que os de um fatia-de-vida moderno, sem dúvida. Cada um tem um elemento identificativo que vai para além da personalidade exterior, sendo pessoas vivas e únicas, cada uma com uma enorme alegria de viver e com vários traços na personalidade que tornam cada episódio numa experiência bastante divertida. No entanto, isto não é suficiente. São tantas coisas, tantas coisas que eles fazem, que tudo acaba por ser repetitivo. Isto é, tudo poderia ser solucionado se logo desde o início cada um dos personagens clarificasse a sua posição em relação aos outros, se admitissem os seus sentimentos e se falassem sinceramente. Mas como isto não acontece, tudo termina de forma inconclusiva, o que é pouco agradável.

A arte é típica da época, pecando da mesma forma como tantos outros pecaram: imagens repetidas e recicladas. Sobretudo em cenas de maior animação, nomeadamente de dança, isto torna-se cansativo e expectável. De resto, os designs são bastante criativos, sobretudo no que respeita a roupas e à sua variedade, dando-nos uma boa imagem do que os 80s eram em termos de moda e tendências. O que é bastante curioso, diga-se de passagem, gosto muito, na verdade. :)

O melhor é mesmo a música. Este grupo de amigos frequenta muitos concertos, sendo que nos dá uma visão muito abrangente no território da pop. São músicas com muita cor e muito dançáveis, que se pegam imediatamente na nossa cabeça e dificilmente saem dela.

Um bom clássico, apesar dos seus defeitos.

28.5.14

Fuse: Teppou Musume no Torimonochou

Fuse: Teppou Musume no Torimonochou
Miyaji Masayuki - TMS Entertainment
Anime - Filme
2012
6 em 10

Encontro-me doente, a ponto de ter faltado ao trabalho para doentar em casa, portanto peço desde já desculpas se o meu discurso se encontrar estranho e sem sentido. Também por typos e erros ortográficos.

Filme que teria algo com cães e que, portanto, escolhi para ver. Afinal não tinha assim tanta relação com cães.

Uma caçadora vai para Edo (vulgo, Tóquio) ter com o irmão mais velho. Juntos, irão caçar os Fuse, umas criaturas canídeas que comem a alma das pessoas. O problema, é que elas se disfarçam de pessoas. Portanto, é difícil de os encontrar, de os caçar e de suportar que os vamos caçar. A nossa amiguinha encontra muitas pessoas e faz amigos, mas saberá ela o que escondem os seus novos companheiros? É o que veremos.

A história é interessante e tem potencial. No entanto, há informação que não nos é dada e que dá vontade de mais, apenas para saber. Falo da origem e das histórias pessoais dos Fuse, dado que a maioria já está morta logo no início do filme, mas também sobre as origens e os problemas familiares da personagem principal. Também por esta razão, sente-se que os personagens foram pouco explorados e que poderiam ser algo mais. A narrativa é bastante previsível.

O anime poderia vencer com a arte e animação, mas nem isso o salva. Os designs são demasiado infantis para o teor da história, sobretudo o dos fuse, que mais parecem umas mascotes do tipo furry do que criaturas que nos podem comer a alma. A animação propriamente dita está bastante boa, mas os e3feitos são estragados pela pobreza dos designs. As paisagens, algumas são bonitas, mas não é uma explosão de maravilhas. No geral, está bastante regular.

Finalmente, a música... Parece-me que já ouvi todas estas músicas em algum lugar... Repetitivas e pouco interessantes.

Enfim, um filme que merecia mais em todos os aspectos.

25.5.14

Nisekoi

Nisekoi
Shinbou Akiyuki - Shaft
Anime - 20 Episódios
2014
 6 em 10

O único anime que mantinha desde a season passada terminou. Escolhi-o porque tinha ouvido falar muito do nome, mas realmente não fazia ideia do que esperar. Acontece, então, um harém, uma comédia leve sobre os desígnios do amor.

Um jovem, filho de um chefe da máfia, tem um medalhão com uma fechadura. Existe uma chave que a pode abrir e quem a tem é uma amiga de infância da qual a nossa amiga não recorda o nome ou a cara. Entretanto obrigam-no a fingir que namora com uma outra filha de chefes da máfia. Odeiam-se e amam-se numa picardia constante. Ela tem uma chave. Mas... Não é a única! A série anda e anda e aparecem sempre mais raparigas com chaves! E nunca termina!

As personagens não têm nenhum ponto forte que as faça distinguir de outros elementos comuns a todos os haréms (haréns? Como é que isto se escreve?) Temos uma tsundere, temos uma miúda tímida, temos uma maria rapaz também tsundere e temos uma maluquinha. O que nos reservará o futuro? Pois que isto com certeza terá segunda season, claro. Não que seja necessário, mas se tiver sucesso o suficiente claro que irão continuar a ordenhar este franchise.

A única coisa que poderá distinguir Nisekoi do universo das comédias românticas será a arte. Muito colorida e brilhante, usando detalhes cénicos muito interessantes, com uma boa animação e uso de perspectivas. Isto torna a série mais divertida, aliado à música, que também é engraçadinha. Ver estes pequenos twists coloridos foi uma das razões que me manteve sempre interessada na série.

Não é dos piores, mas também não é dos melhores. Agora, até à próxima!

19.5.14

Kara no Kyoukai: Mirai Fukuin

Kara no Kyoukai: Mirai Fukuin
Sudou Tomonori - ufotable
Anime - Filme
2013
7 em 10

Não estava nada à espera que aparecesse na lista dos downloads um novo filme de Kara no Kyoukai! Qual não foi a minha alegria!! Para saber dos filmes anteriores, do qual este é uma outra história/sequela/história alternativa (saberemos um dia mais tarde) consultem o motor de busca do blog, neste local.

Este filme trata de dois jovens bastante jovens que têm a capacidade de ver o futuro, cada um com um tipo de habilidade diferente. A rapariga, que vive traumatizada pelo facto de prever o futuro, pode ver uma possibilidade, uma possibilidade provável. O trabalho do filme é retirar-lhe esse trauma e apresentá-la para, eventualmente, eventos futuros. O rapaz, outra história, consegue ver o futuro mais proveitoso para ele e a forma exacta de o concretizar. Portanto, torna-se bombista. Aí entra Shiki, a minha maravilhosa Shiki. O meu futuro cosplay (talvez para o ano)

Depois, dez anos para a frente, coisas surpreendentes aparecem. E deixa-nos muita vontade de saber o que se passou nesse espaço de tempo e qual a nova aventura que os nossos amigos viverão.

Não existem muitas cenas de acção, mas a animação está estupenda. O mesmo não posso dizer dos cenários, que estão demasiado mecânicos e com formas demasiado fixas na sua paleta. A variação de cores também não se apresenta muito bela, ao contrário de outros filmes do franchise.

Em termos musicais, mais do que já estamos habituados, com grandes corais. No entanto, também na música há uns momentos pop que, adequando-se à situação, não se adequam ao tom estranhamente negro de Kara no Kyoukai.

Um filme que deixa um gosto na boca e muita vontade de mais. Espero que venha em breve, e que venha mesmo!

Clube da Luta

Clube da Luta
Chuck Palahniuk
1996
Romance

Atenção, atenção meus senhores e minhas senhoras! Aqui não falaremos de filme algum! Esse está comentado aqui. Aqui tratamos do livro! E aviso desde já que quem gostou do filme tem todas as razões para o ler. Porque é ainda mais divertido!

Eu não tenho uso, e não gosto muito, de fazer comparações entre medias diferentes. Mas neste caso parece-me necessário. Então, qual a diferença entre o livro e o filme? O livro é muito mais detalhado e, sobretudo, passa uma sensação de loucura e esquizofrenia muito mais apurada, coisas que se perderam na transcrição para filme. Também existem mais detalhes interessantes no livro que não perderiam nada em ter sido adaptadas. Mas posso dizer que o filme, todo ambiente e envolvência, está muito de acordo com o que está descrito na narrativa. Portanto, ambos valem a pena, mas sugiro ver o filme primeiro.

Um homem sem nome conhece Tyler Durden quando vai à praia. Este homem tem um problema: não consegue dormir. Tyler aparece na sua vida e juntos formam o "Clube da Luta", onde pessoas lutam mediante algumas regras. Todos conhecemos a primeira. Mas à medida que o nosso homem consegue adormecer, Tyler começa a causar o caos. Reune gente, muita gente, gente por todo o lado, e começam a causar o pânico e a anarquia, através de maldades simples que qualquer um de nós, com a motivação certa, pode fazer.

O livro é todo ele o discurso do ódio perante a humanidade, do nojo e do desprezo pela vida alheia e pela própria vida. No entanto, isto é antítese do personagem, pois sabemos que ele tem um problema (embora até ao final não saibamos qual é exactamente). Também é crítica à sociedade e, sobretudo, ao anti-social, ao grupo, ao gregarismo.

A forma como a narrativa está construída é rápida e viciante. Entramos numa espiral de acontecimentos dos quais não podemos sair, que não podemos interromper, pois seguem-se uns aos outros de forma inesperada e alucinante. Alucinante talvez seja a palavra certa, pois estamos diante de uma alucinação (Única? Colectiva? Quem sabe...).

Recomendo fortemente. O filme é bom, mas o livro é uma delícia.

Antologia Poética de Vinicius de Moraes

Antologia Poética
Vinicius de Moraes
1967
Poesia

Quando regressei ao Kobo, tinha este livro escolhido para ler a seguir. Embora tivesse lido alguma poesia na semana anterior - o que me levaria a uma interrupção no género, pois gosto de variar - pensei "porque não". E ainda bem que pensei assim, porque eu não compreendo como pude passar tanto tempo da minha vida sem ler tão excelente obra poética.

Vinicius, Poeta com Pê. Poeta com uma linguagem acutilante e exacta, mas ainda assim bela. Poeta com um sentido de humor sempre presente e tão apropriado. Parece-me que a grande diferença entre Vinicius e os outros é que este criador sabe sempre o que quer dizer e di-lo com certeza e exactidão, sem dar muitas voltas ao assunto para o tornar bonito. Porque a forma de o dizer já é bonita por si só. Percebemos exactamente o que ele quer expressar, mas a linguagem usada é... Poética? O que é certo é que o senhor faz poesia, poesia que dá gosto ler, que é apaixonante e viciante.

Recomendo a todos. Como gostei de imensos poemas, não pude cingir a minha escolha para por aqui a apenas um. Escolhi três, que passarei a citar. Espero que gostem :)

A uma mulher

Quando a madrugada entrou eu estendi o meu peito nu sobre o teu peito
Estavas trêmula e teu rosto pálido e tuas mãos frias
E a angústia do regresso morava já nos teus olhos.
Tive piedade do teu destino que era morrer no meu destino
Quis afastar por um segundo de ti o fardo da carne
Quis beijar-te num vago carinho agradecido.
Mas quando meus lábios tocaram teus lábios
Eu compreendi que a morte já estava no teu corpo
E que era preciso fugir para não perder o único instante
Em que foste realmente a ausência de sofrimento
Em que realmente foste a serenidade.

Rio de Janeiro, 1933

Vida e Poesia

A lua projetava o seu perfil azul
Sobre os velhos arabescos das flores calmas
A pequena varanda era como no ninho futuro
Na rua ignorada anjos brincavam de roda...
- Ninguém sabia, mas nós estávamos ali.
Só os perfumes teciam a renda da tristeza
Porque as corolas eram alegres como frutos
E uma inocente pintura brotava do desenho das cores
Eu me pus a sonhar o poema da hora.
E, talvez ao olhar meu rosto exasperado
Pela ânsia de te ter tão vagamente amiga
Talvez ao pressentir na carne misteriosa
A germinação estranha do meu indizível apelo
Ouvi bruscamente a claridade do teu riso
Num gorjeio de gorgulhos de água enluarada.
E ele era tão belo, tão mais belo do que a noite
Tão mais doce que o mel dourado dos teus olhos
Que ao vê-lo trilhar sobre os teus dentes como um címbalo
E se escorrer sobre os teus lábios como um suco
E marulhar entre os teus seios como uma onda
Eu chorei docemente na concha de minhas mãos vazias
De que me tivesses possuído antes do amor.

Rio de Janeiro, 1938

Mensagem à Poesia

Não posso
Não é possível
Digam-lhe que é totalmente impossível
Agora não pode ser
É impossível
Não posso.
Digam-lhe que estou tristíssimo, mas não posso ir esta noite ao seu encontro.
Contem-lhe que há milhões de corpos a enterrar
Muitas cidades a reerguer, muita pobreza pelo mundo.
Contem-lhe que há uma criança chorando em alguma parte do mundo
E as mulheres estão ficando loucas, e há legiões delas carpindo
A saudade de seus homens; contem-lhe que há um vácuo
Nos olhos dos párias, e sua magreza é extrema; contem-lhe
Que a vergoinha, a desonra, o suicídio rondam os lares, e é preciso reconquistar a vida
Façam-lhe ver que é preciso estar elrta, voltado para todos os caminhos
Pronto a socorrer, a amar, a mentir, a morrer se for preciso.
Ponderem-lhe, com cuidado - não a magoem... - que se não vou
Não é porque não queira: ela sabe, é porque há um herói num cárcere
Há um lavrador que foi agredido, há uma poça de sangue numa praça.
Contem-lhe, bem em segredio, que eu devo estar prestes, que meus
Ombros não se devem curvar, que meus olhos não se devem 
Deixar intimidar, que eu levo nas costas a desgraça dos homens
E não é o momento de parar agora; digam-lhe, no entanto
Que sofro muito, mas não posso mostrar meu sofrimento
Aos homens perplexcos; digam-lhe que me foi dada
A terrível participação, e que possivelmente
Devere enganar, dfingir, falar com palavras alheias
Porque sei que há, longínqua, a claridade de uma aurora.
Se ela não compreender, oh procurem convencê-la
Desse invencível dever que é o meu; mas digam-khe
Que, no fundo, tudo o que estou dando é dela, e que me
Dói ter de despojá-la assim, neste poema; que por outro lado
Não devo usá-la em seu mistério: a hora é de esclartecimento
Nem debruçar-me sobre mim quando a meu lado
Há fome e mentira; e um pranto de criança sozinha numa estrada
Junto a um cadáver de mãe: digam-lhe que há 
Um náufrago no meio do ocenano, um tirano no poder, um, homem
Arrependido; digam-lhe que há uma casa vazia
Com um relógio batendo horas; digam-lhe que há um grande
Aumento de abismos na terra, há súplicas, há vociferações
Há fgantasmas que me visitam de noite
E que me cumpre receber, contem a ela da minha certeza
No amanhã
Que sinto um sorriso no rosto invisível da noite
Vivo em tensão ante a expectativa do milagre; por isso
Peçam-lhe que tenha paciência, que não me chame agora
Com sua voz de sombra; que não me faça sentir covarde
De ter de abandoná-la nestes instante, em sua imensurável
Solidão, peçam-lhe, oh peçam-lhe que se cale
Por um momento, que não me chame
Porque não posso ir
Não posso ir
Não posso.
Mas não a traí. Em meu coração
Vive a sua imagem pertencida, e nada direi que possa
Envergonhá-la. A minha ausência.
É também um sortilégio
Do seu amor por mim. Vivo do desejo de revê-la
Num mundo em paz. Minha paixão de homem
Resta comigo, minha solidão resta comigo; minha
Loucura resta comigo. Talvez em deva
Morrer sem vê-la mais, sem sentir mais
O gosto de suaslágrimas, olhá-la correr
Livre e numa nas praias e nos céus
E nas ruas da minha insônia. Digam-lhe que é esse
O meu martírio; que às vezes
Pesa-me sobre a cabeça o tampo da eternidade e as poderosas
Forças da tragédia abastacem-se sobre mim, e me impelem para a treva
Mas que eu devo resistir, que é preciso...
Mas que a amo com toda a pureza da minha passada adolescência
Com toda a violência das antigas horas de contemplação extática
Num amor cheio de renúncia. Oh, peçam a ela
Que me perdoe, ao seu triste e inconstante amigo
A quem foi dado se perder de amor pelo seu semelhante
A quem foi dado se perder de amor por uma pequena casa
Por um jardim de frente, por uma menininha de vermelho
A quem foi dado se perder de amor pelo direito
De todos terem uma pequena casa, um jardim de frente
E uma menininha de vermelho; e se perdendo
Ser-lhe doce perder-se...
Por isso convençam a ela, expliquem-lhe que é terrível
Peçam-lhe de joelhos que não me esqueça, que me ame
Que me esperte, porque sou seu, apenas seu; mas que agora
É mais forte do que eu, não posso ir
Não é possível
Me é totalmente impossível
Não pode ser não
É impossível
Não posso.

14.5.14

Montijo - Imagens da Tradição Concelhia

Montijo - Imagens da Tradição Concelhia
Luís Maria Pedrosa dos Santos Graça
2001
Photobook

E aqui está o último livro que ganhei no concurso literário. Esperava que fosse algo denso e, como é muito grande para ser transportado na mala, decidi deixá-lo no trabalho para ler à hora de almoço. Afinal bastou uma hora de almoço para o completar. O seu destino será o meu pai, receptáculo de todos os livros estranhos que vou encontrando por aí.

Este é um livro de fotografias (photobook) sobre o Montijo, terra que tenho vindo a apreciar bastante por motivos laborais. As fotografias são muito bonitas e mostram detalhes inesperados, que eu nunca vi e que me deixaram curiosa para os ver ao vivo. Felizmente há uma lista dos locais onde foram tirados as fotografias e, assim, poderei fazer um pouco de turismo (quando houver a oportunidade, que tanto pode ser agora como daqui a muito tempo).

Em termos textuais, é um livrinho bastante informativo. Primeiro é-nos dada uma descrição leve da história da cidade. Seguidamente, falamos das pessoas que vivem na cidade (pescadores e aldeanos). Depois, arquitectura. Esta parte passou-me um pouco ao lado, porque depois da Nossa Senhora da Atalaia fiquei sem qualquer tipo de interesse em ler descrições detalhadas da arquitectura de igrejas. Mas os prédios até me parecem bem giros (eu só conheço um dos que foi referido). Finalmente, a parte que gostei mais: associações e academias. Apesar da forte tradição tauromáquica da terra, existem algumas associações que parecem bem giras, musicais e desportivas. Que pena que a que tinha grupo de teatro foi extinta, porque eu me juntaria com todo o gosto!

Foi um belo pedaço de informação. :)

13.5.14

Mas é Bonito

Mas é Bonito
Geoff Dyer
1991
Histórias Curtas

Passava eu numa livraria (vou com o meu pai todas as semanas, por causa do seu vício bibliómano) quando vi esta capa. E gostei. Peguei nele noutra visita à livraria. Sobre jazz. Eu sou a primeira pessoa a admitir que não percebo absolutamente nada sobre jazz. Ouvi muito pouco. A minha playlist de 90 gigas de música não tem um único album de jazz. Mas aquele ser conhecido como nhó aprecia bastante. Então pensei que um livro sobre jazz seria uma boa forma de me iniciar no género. Assim, quando me vi no Porto sem perspectiva de leitura durante todo percurso do comboio, fui a uma Bertrand comprá-lo (gosto de comprar na Bertrand porque tenho cartão de cliente que me dá uns descontos muito simpáticos)

Devo dizer que adorei o livro e fiquei fascinada pelo género musical. No final existe uma discografia, que usarei para me orientar nos primeiros passos dentro do género.

O livro é composto por oito histórias curtas sobre oito artistas (músicos) que marcaram de algum modo a sua época. Estas histórias são fruto da imaginação do autor baseado no que ele conhece ou conheceu dos músicos e de fotografias da época. Ele refere, tanto no prefácio como no posfácio, a importância das fotografias como registo da criação. É muito interessante ver como são trágicas todas as histórias. Conforme explicado posteriormente, este tipo de música nasceu de uma criatividade muito motivada pelos excessos. Excesso de álcool, de comida, de droga, de violência. É tanto triste como belo ler estas histórias do apogeu e queda de artistas que tinham demasiado para dar, que acabaram por fechar as portas à criação por não conseguirem aguentar com ela.

Cada história é tocante de certo modo, remexendo no íntimo dos músicos e revelando-os como pessoas, tanto geniais como frágeis. O detalhe da perspectiva, a forma como cada um deles repara nas pequenas coisas da vida diária, a forma como cada um deles lida com a sua vida, é extremamente belo e muito delicado. Cada história é uma constatação da fragilidade humana e de como a qualquer momento a nossa vida pode ser destruída por uma má opção, tantas vezes motivada por traços da nossa própria personalidade.

Nota-se que foi escrito com muito carinho e respeito, o que é sem dúvida admirável. Este livro pode ser muitas coisas mas é, sobretudo, bonito.

Recomendo-o a todos os amantes de música e, agora, vou começar a fazer a minha pasta de jazz. Próximos cosplays serão feitos com essa banda sonora. :)

Iberanime LX 2014

Iberanime LX 2014

Passa-se uma noite bem dormida. E assim se acorda bem cedo para nos equiparmos com o novo cosplay e nos transportar-mos até ao Parque das Nações. Pois é, chegou aquela altura do ano em que vamos ao Iberanime.
Sob a ameaça de que os bilhetes se iam esgotar com brevidade, comprei o meu com antecedência. Qual a minha surpresa quando me dão a notícia de que ganhei um passatempo e que, portanto, tenho outro bilhete! Assim, ofereci o que tinha comprado ao Zé Gato, que me acompanhou nesta aventura.

Mas comecemos pelo início. Eram 8 da manhã e estava eu de pijama preparando-me para me mascarar. Peguei na caixinha que tem as lentes de contacto azuis. E... Confesso que é um mistério. Não faço ideia que se passou e ninguém nesta casa se acusa. O que é certo é que uma das lentes desapareceu. A outra estava lá. Portanto, fui de olhos naturais. Apressei-me para apanhar o comboio, que ainda é a uma grande distância a pé da minha casa. Nada de estranho se passou, todos olhavam para mim mas apenas um taxista se manifestou ("Arre, Parque Aventura!", disse ele). Tomei café e esperei pelo Zé na esplanada do Vasco da Gama. Nesse momento, sou abordada por dois velhotes: "Desculpe, mas isto é o quê?", "Ah, é um evento de banda desenhada e desenhos animados!", "E a que horas acaba?", "Lá para as seis", "É que temos um neto lá dentro e ainda vamos voltar para casa em Castelo Branco", "Deveras? Estive num evento destes em Castelo Branco!"

Entretanto liga a Ana-san, informando que está uma fila gigântica mas que ela está quase a entrar. Bem, de alguma forma tivemos sorte, porque quando chegámos a fila já não conferia.

À entrada, uma pulseira verde para "identificação visual". Não percebi bem o sentido disto, porque para entrar e sair tínhamos de validar o bilhete de qualquer forma... Depois, descobrimos o porquê do preço do evento! Os 15 euros de entrada foram usados para, sim!, para arranjar um souvenir, uma pulseiras de borracha horrorosas a dizer "IBERANIME" em letras amarelas/laranjas. Está tudo esclarecido! Também nos deram um horário e aí eu digo a verdade. O evento até que valia o preço. Se eu fosse jovem e inocente e acreditasse que ainda ia fazer da arte a minha vida, o evento tinha imensos workshops e actividades a que eu poderia ter comparecido. Mas como tal não é certo, em nenhum workshop se participou. Ainda assim, teve o seu quê de engraçado.

Passámos a manhã a ver o Espaço. Admito que este ano o Iberanime ouviu as nossas críticas e preces generalizadas. Estava muito melhor organizado espacialmente. No andar de cima havia um espaço de descanso, com ar condicionado, e jogos de RPG e tabuleiros. Mais para cima, uma zona de artistas muito bem composta e um palco secundário discreto, depois de passar pelos participantes dos concursos de desenho. No andar de baixo, muitas lojas e um palco de karalhoke. Bem dividido, o palco principal. Desta vez os sons não se misturavam de palco para palco, o que foi muito bom, apesar de no recinto principal ser uma confusão de músicas e etcoeteras.

Aproveitei a primeira visita à banca dos artistas para pedir um desenho. Houve alguns momentos de interesse nas bancas pelo que passarei a enumerar

Bancas de Interesse que Visitei

Banca da APC - Apesar de os cartazes da revista Cosplayer estarem constantemente a cair, segundo consta, estava muito bem arranjadinha. Segundo me disseram, já tinham ajudado um monte de gente, o que é sempre bom (cumprir com a sua função). Eu tinha-me oferecido para ir para lá tomar conta da base no Domingo: não esperava ir acompanhada e eu sei que há sempre uma fase do evento em que passo uma seca desértica. Não precisavam, mas ainda assim fui lá fazer uma visita a pretexto de dizer olá ao pessoal. Até se fez uma espécie de sugestão planeada de um eventual grupo para um eventual cosplay futuro que.... Hoho

Banca de Coleccionismo de Dragon Ball - Pessoalmente, eu não compreendo porque precisamos de uma banca de coleccionismo de Dragon Ball. Porque não fazer uma banca com a minha (gorda) coleccção de merchandise do Gackt? Mas ao passar por lá recebi a minha primeira foto e ainda tirei uma fotinha com uma Bulma miniatura (que tem a foto mais em baixo). Conhecia a senhor que escreve as fanfictions de outro Iberanime e descobri que um dos escritos dela, que até tenho autografado, será editado em livro! Lerei seus escritos e depois logo decidirei se o compro ou não...

Banca da Kingpin - Onde tiveram a simpatia de deixar a Ana-san deixar os meus objectos. Muito obrigada!

Banca do Canto Direito - Com muita variedade de coisas diferentes, incluindo uns objectos muito suspeitos. Comprei um peluche!

Banca no Meio do lado Direito - Merchandise verdadeiro! Comprei objecto!

Interlúdio

Sugeri irmos almoçar. Conhecendo este evento como conheço, sei que a enchente de pessoas esfomeadas se dá entre a uma e as três da tarde. Por isso o meio dia pareceu-me uma excelente hora para hamburgueres. Neste momento, fomos interpelados por um senhor. "Porque está tanta gente vestida de modo tão interessante?" "É um evento de banda desenhada e desenhos animados!" "É que eu sou professor!" E assim lhe indiquei que havia uma série de eventos ao longo de todo o ano e pelo país todo. Mais um visitante do freakshow. :>

 Cirandando

No regresso, começámos a cumprir com o desafio imposto por mim própria: tirar fotografias a TODOS os cosplayers do evento. Quase que conseguimos... Mas isso virá mais tarde. Cirandámos bastante tempo, tirando fotos, falando com o pessoal (encontrei montanhas de gente... E surpreendentemente o Zé Gato também!), comprando coisas... Comprei uma carteira, o cão-pudim e um phone-strap do cão-pudim. E eu espantava-me... Toda a gente dizia "que fato giro!" e "que afro gira!" mas ninguém pedia fotos... E cheguei à conclusão... NINGUÉM SABE QUEM EU SOU? EU ERA A BULMA PAH! QUEM É QUE NÃO SABE QUEM É A BULMA?? Pelos vistos escolhi uma versão da Bulma tão obscura que ninguém sabia quem era... ;____; Mas não faz mal, é sempre giro andar com uma afro azul. Vejam lá como estava!


Eu e o cão-pudim

Mas também isso não interessa nada. Poderão saber mais sobre o meu fato no meu Cosplay Portfolio, se tiverem interesse. :) No fundo, decidi fazê-lo para ter um fato prático e confortável para andar nos eventos. Apesar de tudo, já tenho ideias para skits, huhuhu ºvº

 Coisas Relevantes Começam a Acontecer

Chegamos à hora em que aparece a grande estrela da companhia! Concerto do Sr. Kageyama! Ora bem... Eu sou mesmo muito ignorante, mas eu não fazia ideia de quem era o senhor. Sabia que ele cantava aberturas de anime, nomeadamente a de Dragon Ball. Isto leva-me a outro problema do Iberanime... Parece que é um evento de Dragon Ball. Tem tanto Dragon Ball que até enjoa. Eu contribuí para o enjoo... Adiante!

Enquanto esperávamos, acontece aquilo que eu considerei o momento mais surreal do evento. Portanto, estamos num evento dirigido ao público infantil. E de repente o apresentador grita "E é o momento da kiss cam!" Ora, em que constitui isto? A câmera aponta e as pessoas beijam-se. Tudo em cima para os casais que se anunciaram. Mas motivar desconhecidos a beijarem outros desconhecidos? Graças a deus que não apontaram para mim, se não tinham levado um gesto mal formado. Observámos um desconhecido a beijar uma desconhecida (que nem sequer foi a rapariga que o apresentador sugeriu, mas a amiga dela) e isso horrorizou-me. E se alguém me beijasse? Eu seria forçada a enfiar uma chapada no focinho de semelhante campeão... E isso seria muito desagradável. Só uma pessoa no planeta me pode dar beijos, diga-se de passagem.

Não desgostei do concerto, apesar de não conhecer música nenhuma. Precisamente por isso, fiquei mesmo atrás, no trás do atrás das bancadas. O senhor já tem a sua idade, mas tem uma energia imparável, sempre a abanar a anca e a dançar, mais um bocadinho e parecia o Ney do Japão! Foi essa a energia que gostei. Mas também foi essa a energia (e o calor insuportável) que me fez cansar do concerto a meio. E assim fomos embora. O Zé ainda gravou algumas músicas, aqui está uma!


Nota: Segundo consta houve grandes problemas técnicos durante o concerto, aos quais eu não assisti. Na verdade, só soube mais tarde. Se assim foi, contamos com a boa vontade do Sr. Kageyama, que não desistiu de nós. Mas o evento não pode sempre continuar com a boa vontade dos artistas, pelo que erros como estes deverão ser evitados a todo o custo.

 Interlúdio Número Dois

Aproveitamos para descansar. Beber uma média (custou o preço de uma litra). Encontrar mais pessoas. Estar à sombra.

Por todo o lado eu sentia um... Funky smell. O pitéu perseguia-me para todo o lado. Foi nessa altura que cheguei à conclusão de que eu era a fonte do fedor. Mas como? Porquê? Eu desodorisei-me... Eu tomei banho... Eu tenho os sovacos lavadinhos... A conclusão é evidente. Atingi esta realização. Eu sou um equino. E com isto em mente, poderei viver mais feliz.

O passo seguinte do programa era ver o concurso de cosplay. Mas... Fomos raptados! Ao passar pela banca de coleccionismo de Dragon Ball, fui requerida para um concurso que ia decorrer no palco secundário dentro de instantes. Pensei "faço isto e ainda vamos a tempo do cosplay". Mas não. O workshop que estava a decorrer atrasou-se imenso e portanto portanto. Não fazia ideia do que tinha de fazer, mas aprendi as regras: duas pessoas lutariam. Cada uma faria dois ataques. Quem tivesse mais palminhas ganhava. Eu inventei e ficámos empatados. A parte boa é que empatei com o rapaz que acabou por vencer! Depois fui eliminada, ser labrega e ameaçar chapadas não funcionou.


A parte má é que se rasgou um bocado das costas do vestido, porcaria de tecido que nem para forrar sofás serve, esta coisa! Mas arranja-se fácil. ^_^

Ainda apanhámos os dois últimos skits... Terei de ver os vídeos para comentar! Quem tem, quem tem? =D

O Final

Estávamos a ir embora... Bolhas nas mãos... Bolhas nos pés... Bolhas nas bolhas... Pés são eles próprios uma bolha... Até que OHCÉUS ESQUECI-ME DO MEU DESENHO! Lá voltamos para trás, correndo sobre as bolhas. Falemos dele: ao passar pela zona dos artistas, vi logo a artista que ia fazer o meu desenho. Como sabem, encomendo sempre um desenho, para coleccionar. Esta artista tinha umas ilustrações lindíssimas de passarinhos. Ora, eu adoro passarinhos! Adoro a forma deles existirem e voarem e pularem de um lado para o outro a fazer piu. Aqueles passarinhos tão bem pintados emocionaram-me, por isso escolhi esta artista. Como não tinha ideias, disse-lhe para me desenhar a mim, a Bulma Afro. Ficou assim:

Acho que esperava algo diferente... Algo mais como os passarinhos. Está muito, muito fixe, mas não tem aquele sentimento...

Retiro a minha afro. O comboio para casa é o da linha de Sintra e não quero que a mitra se sinta tentada a furtar o meu cão-pudim. E agora, com algum atraso, escrevi este aborrecidíssimo relato.
Vamos là a parte que interessa!

FOTOFOTO

São cento e tal fotos, por isso não posso por todas aqui. Assim, têm um link para sacarli-as todas :)

As que gostei mais são as seguintes












Uma única crítica ao evento

Todos nós sabemos que o Iberanime não é um evento dos fãs para os fãs. É um evento promovido na televisão e em todo o lado para chamar um público maioritariamente infantil e adolescente, que apenas agora se inicia no mundo do visionamento dos bonecos animados nipónicos. Agora, o problema é que - disfarçado por baixo de uma campanha publicitária em que se usa e abusa da boa vontade dos cosplayers, sem sequer que eles apercebam - o evento parece publicitar-se como um "Venham ver a freakalhada! Venham ver pessoas estranhas mascaradas!" E assim as famílias cumprem com o objectivo e vão ver os maluquinhos. Isto não me parece ter muito de positivo, esta forma falsificada de mostrar o evento, pois não estamos a chamar novos fãs, mas sim fãs ocasionais, que não se integram na comunidade e não têm interesse nisso. Isso torna-nos mais dispersos, o que é problemático quando queremos organizar outros eventos com uma menor carga publicitária, e até para as pequenas coisas, nomeadamente conhecer novas pessoas: estes fãs ocasionais não aparentam ter interesse em travar conhecimento com os outros, pelo que se processa um isolamento constante de grupos e grupinhos, num estilo de escola secundária que já não é apropriado a uma comunidade com mais de uma década de existência. Mas esta problemática já vem de longe e venho-a observando desde que me juntei a este universo. Preocupa-me vastamente, por isso o refiro uma e outra vez. Perdão pela insistência.



E assim se conclui mais um evento. Por mim, cumpriu todas as expectativas. Eram muito baixas, de qualquer forma... E se valeu a pena comprar bilhete? Para ir com boa companhia felina, claro que sim :)

Desculpem lá o meu discurso estar ligeiramente desconexo, mas estou um bocado cansada... Espero que se tenham divertido no evento e, agora, vemo-nos no próximo! 

Até lá!

Até a Bulma se alimenta!
Divirtam-se e sejam felizes! :)

12.5.14

Hanasaku Iroha - Home Sweet Home

Hanasaku Iroha - Home Sweet Home
Ando Masahiro - Lantis
Anime - Filme
2013
6 em 10

Chegada a casa, pensei que seria bom ver um filme até serem horas de ir para a cama. Como verão em breve, no dia seguinte iriam executar-se actividades!

Para quem não recorda o assunto desta história, fica o comentário que fiz à série da Hanasaku Iroha. :) Este filme explora o tema da responsabilidade e da libertação adolescente. No entanto isto é feito de forma estranha, porque - apesar de os temas estarem intimamente ligados - as duas histórias que acontecem paralelamente (uma no passado, outra no futuro) não têm qualquer ponto de ligação que nos faça tirar uma conclusão

A história do passado conta como a mãe de Ohana, Satsuki, saiu de casa e conseguiu enfrentar a mãe (a ameaçadora dona das termas). A história do presente conta como uma miúda adolescente consegue substituir a mãe ao tomar conta dos irmãos. São histórias interessantes por si só, mas como não existe uma perpendicularidade entre elas, isto é, não têm relação, não me foi possível encontrar uma lógica na narrativa do filme.

Em termos artísticos, o filme tem os seus momentos de beleza. Não pontuam todas as cenas, mas existem algumas paisagens muito interessantes. As fotografias tiradas ao longo da história também são pedaços de arte muito engraçados.

Musicalmente, nada de novo.

Este filmezinho (só tem uma hora) tinha bastante potencial para ser interessante, mas parece-me que tropeçou em si próprio enquanto estava a dar uma corridinha para apanhar o eléctrico.

Nossa Senhora da Atalaia

Narrativa Histórica da Imagem de Nossa Senhora da Atalaia Que Se Venera Na Capela Sita No Monte D'Atalaia Do Concelho de Aldeia GAllega do Ribatejo
Padre Manuel Frederico Ribeiro da Costa
1887
Narrativa Histórica (?)

Sim, eu sei que a questão que paira aqui é "wtf". Mas também recebi este livro no concurso de que falei e decidi que os ia ler todos. Ainda me falta um, mas como é daqueles livros guias de imagem não o levei (não cabe dentro da mala)

Esta narrativa histórica, ou o que seja, é estranhamente divertida. Um padre lá no tempo da maria cachucha pensou que seria boa ideia relatar em todos os detalhes coisas sobre a vida e obra da Nossa Senhora da Atalaia, que vive confortavelmente na Atalaia.

é a prova essencial e única de que realmente esta gente não tinha mesmo nada que fazer. Lê-se rápido porque grande parte do livro é um inventário dos objectos que a Nossa Senhora da Atalaia tinha e de todos os seus serviçais. Ela até tinha uma ama para a vestir e dar-lhe banho. Ficamos a saber que esta Nossa Senhora gostava muito de pinheiros, voltando a pô-los no sítio quando eram cortados ou dando diarreia a todos os lenhadores.

A parte que gostei mais foi a descrição detalhada de todas as trinta e tal romarias que se faziam ao longo do ano, em que pessoas de Sintra, Alhos Vedros e terras perdidas para os lados de Viseu iam visitar a senhora e pedir gentilmente alguns milagres. Mais uma vez a prova de que não havia entretenimento válido nesta época, já que iam todos em romaria em vez de fazer coisas úteis, como inventar a fotografia a cores.

Nem sei o que faça a isto, acho que vou oferecer ao meu pai, que é capaz de achar piada.

--- e a lua forma-se luar

...e a lua forma-se luar
João Madeira
2001
Poesia

(Como não achei nenhuma imagem da capa do livro, achei por bem por uma ceninha tripada a ilustrar. Combina com o conteúdo literário de que falarei)

Lido no comboio, enquanto me vinham laivos de inspiração para um projecto literário em que estou a participar, foi um livrinho denso de que gostei muito e que irei reler depois dele dar uma volta por aí.

Talvez sejam vários poemas. Talvez seja um muito longo. Mas cada detalhe está em conexão com o outro numa viagem a um lugar de dor e contemplação. Com uma lírica própria, escolha de palavras certeira, leva-nos para um universo surreal, descrevendo céus, florestas e plantas, enquanto alguém (autor? Nós próprios) procura uma razão, quiçá um amor.

Estes poemas (ou um único poema?) têm uma tonalidade muito gótica, no verdadeiro significado da palavra. Faz-nos quase regredir a uma época de mistério, castelos e corvos, com um spleen único.

Sem dúvida fascinante e merecedor do prémio Poesia Jovem do Montijo. Sim, também ganhei este livro no tal concurso.

Não cito nada porque não sei por onde escolher. ;_;


Um Dia Sonhei que Voava

Um Dia Sonhei que Voava
Taichi Yamada
1988
Romance

Acordei bem cedinho para chegar a tempo e horas ao exame e ainda ter a chance de tomar um café. Lá chegada, descubro que o exame, em vez de ser às nove da manhã... Era à uma da tarde! E com este livro se passaram as quatro horas de espera. Bem, quase todas, uma parte foi a comprar outro livro para o comboio de regresso e uma outra foi para almoçar uma salada com molho vinagrete.

Já tinha lido os outros dois livros deste autor editados em Portugal, por isso achei por bem comprar este. Foi numa feira do livro, numa outra ocasião em que estava no Porto e senti que não iria ter livros suficientes para ler na viagem de regresso.

Um executivo de uma empresa de construção encontra-se longe da família quando se vê num hospital. Nele, vive uma aventura platónica, mas muito erótica, com uma senhora que se vem a revelar muito mais velha que ele. Mas voltam a encontrar-se. E a senhora é estranha: ela está a viver a sua velhice numa experiência de regressão em que vai ficando cada vez mais nova. Assim, eles encontram-se quando ela tem 40, 30, 20 anos e por aí em diante.

A escrita é onírica, com muitas referências ao ambiente que rodeia o personagem principal, a natureza, o céu, as estações do ano. Conhecemos este homem com um nível de intimidade por vezes desconcertante, acabando por compreender os sentimentos que ele desenvolve por Mutsuko, a estranha mulher. A descrição dela é feita com tanto carinho apaixonado que não conseguimos deixar de sentir uma certa ansiedade pelo destino que a espera, que é inevitável e incontornável.

No entanto, achei que as cenas físicas talvez fossem demasiado excessivas. Na minha opinião, creio que o livro seria mais bonito e emotivo se este amor fosse simplesmente platónico, ou cessasse no momento em que Mutsuko se torna numa rapariga.

Dos livros do autor, este foi o que mais gostei. Talvez seja porque é mesmo meu, e não emprestado, hehe.

Termino citando um poema que, por sua vez, foi citado no livro. Talvez tenha sido este o momento mais bonito de toda a história.

Eu
Tu
"Nós"

"Nós"
Não pode ser reduzido a ti e a mim
É por isso que é
Eu
Tu 
"Nós"

Eu
Tu
Pomos as mãos dentro da boca um do outro
Tocamos nas nossas gargantas
Tocamos nas nossas traqueias
Tocamos nos nossos esófagos
Tocamos nos nossos pulmões
Tocamos nos nossos corações
Nos nossos diafragmas
Fígados, pâncreas, costelas, intestinos
Músculos, artérias, veias e capilares
Tocamos em tudo
Em todo o tipo de nomes abstractos
Mas aquilo em que nunca conseguimos tocar
És tu
Sou eu.

Taeko Tomioka

O Verso dos Pássaros

O Verso dos Pássaros
David Elrich
2009
Poesia

Pois bem, o certo é que terminei o livro anterior no comboio. Porque estava eu num comboio? A caminho do Porto, evidentemente. Foi a minha última viagem, pelo menos a propósito da pós-graduação. Fui fazer o exame final. :>

Este livro, ganhei-o num concurso literário promovido pela Câmara Municipal do Montijo. Portanto, literatura montijense, here we go!

Este livrinho foi editado a propósito de o autor ter vencido um prémio de poesia jovem. Ora bem... Nota-se que é poesia jovem. O jovem parece ter estudado a poesia e tudo o mais, mas os temas... A verdade é que são muito imaturos. Por todo o lado aparece uma imagem mimada da figura materna. Também temas desportivos e da vida da juventude são abordados de uma perspectiva bastante infantil.

Eu poderia aceitar isso, se a biografia do autor não insistisse que ele estudou poesia e que é um artista (que é um bom artista). O jovem era jovem em 2009, por isso suponho que já seja crescido. Espero que ele tenha evoluído, com toda a sinceridade.

Não vou citar o meu poema preferido, porque não tenho nenhum.

11.5.14

A Cor do Céu

A Cor do Céu
James Runcie
2003
Romance Histórico

Livro que recebi de presente no BookCrossing, a propósito de um RABCK. Pedi-o porque me pareceu que a história poderia ser muito bonita, e não me enganei.

Um rapaz adoptado, na Itália do século XIV, tem de aprender a ser vidreiro. O problema é que ele não vê nada ao longe! Sendo pitosga (facto com o qual me identifico bastante), não pode seguir essa profissão. No entanto, isso dá-lhe uma outra capacidade: a de apreciar e distinguir a cor como ninguém. Assim, é contratado como aprendiz de um pintor. Passado algum tempo, é-lhe dada a missão de ir até terras distantes procurar lápis-lazuli, a pedra que dará a verdadeira cor do céu, um azul tão maravilhoso que pensaremos estar perto de Deus.

O livro começa de forma muito confusa e apressada, com uma sucessão de nomes e conceitos que me pareceram inúteis. Esta enumeração de objectos mantém-se, mais ou menos, por todo o livro. Está claro que o autor fez uma grande pesquisa, mas pareceu-me de todo desnecessário forçar os frutos disso na narrativa. No entanto, isto dilui-se pela excelente história, romântica e espiritual, encontrada na viagem de Paolo, o nosso personagem principal.

Através das suas descobertas, vemos o rapaz a crescer como ser humano e a tornar-se num homem. Na sua viagem conhece muitos elementos importantes naquilo a que se poderia chamar a "fórmula da felicidade", optando por os usar para se dedicar ao "amor". A partir do momento em que a caravana sai das cidades e entra no deserto, o livro obtém um ritmo muito mais calmo e contemplativo, o que torna a sua leitura muito agradável.

é um livro interessante e bonito, mas talvez defina o que eu chamaria de "literatura da nova vaga secular": parece que todos os livros agora têm uma revelação budista algures no meio... Será?

Vou agora emprestá-lo à minha mãe, que é capaz de gostar. :)

Odes

Odes
Miguel Torga
???
Poesia

Livrinho muito velhinho recolhido da convenção do BookCrossing do ano passado. Qual a minha surpresa quando o abro e vejo que é uma edição especial de 60 exemplares numerados, todos eles assinados pelo autor! Mas quel preciosidade, meldels!!

é um conjunto de odes, várias homenagens a diversas coisas. São essas coisas da natureza e deuses gregos, que - por si - também representam coisas da natureza. A cada página virada, um sorriso se abria. Cada nova ode era uma surpresa, e há odes para tudo, desde o sol à música.

São pequenas constatações do que é observado, mas com uma beleza extraordinária. Um olho clínico que encontra nas coisas mais simples características que são puras e verdadeiras, se bem que por vezes apresentam expectativas inesperadas.

Sem dúvida vale a pena ler.

O que gostei menos foi o da lua, mas deixo aqui o que gostei mais.

À Terra

Também eu quero abrir-te e semear
Um grão de poesia no teu seio!
Anda tudo a lavrar,
Tudo a enterrar centeio,
E são horas de eu pôr a germinar
A semente dos versos que granjeio.

Na seara madura de amanhã,
Sem fronteiras nem dono,
Há-de existir a praga da milhã,
A volúpia do sono
Da papoila vermelha e temporã,
E o alegre abandono
De uma cigarra vã.

Mas das asas que agite,
O poema que cante,
Será graça e limite
Do pendão que levante
A fé que de tua força ressuscite!

Casou-nos Deus, o mito!
E cada imagem que me vem,
É um gomo teu, ou um grito
Que eu apenas repito
Na melodia que o poema tem.

Terra, minha aliada
Na criação!
Seja funda a vessada,
Seja à tona do chão,
Nada fecundas, nada
Que eu não fermente também de inspiração!

E por isso te rasgo de magia
E te lanço nos braços a colheita
Que hás-de parir depois...
Poesia desfeita,
Fruto futuro de nós dois.

Terra, minha mulher!
Um amor é o aceno,
Outro a quentura que se quer
Dentro de um corpo nu, moreno!

A charrua das leivas não concebe
Uma bolota que não dê carvalhos;
A minha, planta orvalhos...
Água que a manhã bebe
No pudor dos atalhos.

Terra, minha canção!
Ode de polo a polo erguida
Pela beleza que não sabe a pão
Mas ao gosto da vida!

8.5.14

Heroína

Heroína
Helena Duque
2014
Romance

Livro para o qual me inscrevi no BookCrossing, pois gosto sempre de dar a oportunidade a literatura portuguesa. Sobretudo quando é de novos autores! Assim, vou enviar este comentário à autora... Poderá ser negativo por vezes, mas tento sempre ser construtiva. E a verdade é que gostei bastante do livro.

É um romance, daqueles de amor, vivido por uma rapariga jovem numa actualidade com que todos nós nos podemos relacionar. Acho isto o ponto mais importante do livro, o facto de falar de problemas muito próximos de nós. A dificuldade em arranjar um emprego, em manter uma relação estável, as dúvidas, os vícios, tudo isso está muito bem explorado. Descrito de maneira lírica e delicada, o livro prende-nos até ao fim devido às características de Maria Alice, a personagem principal. É uma rapariga muito real, com as suas inseguranças e num estado de depressão subdiagnosticada que lhe dá uma profundidade bastante palpável.

O mistério de Ricardo também está bem concebido, mantendo-se mesmo até ao final (apesar das tristes consequências)

Isto é, na sua génese é um livro muito bom, com uma grande carga emocional e trágica. No entanto, há alguns detalhes a apontar, que poderiam ser prevenidos com uma atenta revisão editorial (que, segundo consta, a editora Chiado não faz). Comecemos pela semântica: a utilização das palavras está muito limitada e o vocabulário acaba por se tornar repetitivo, assim como o mau uso da pontuação e algumas gralhas. Outra coisa que se nota é que a autora é uma menina (da categoria das pequeninas, isto é, com muito espaço para aprender :) ), pois há uma insistência fragrante em detalhes que não interessam. A descrição dos corpos dos homens, parece revelar uma preferência por esse tipo de homem musculado e bem-tratado. A personagem está sempre a fumar. Isto é natural para um fumador, mas a verdade é que um fumador não racionaliza sobre todos os cigarros que fuma ao longo do dia. Muito menos pensa "vou fumar este veneno podre". Também ninguém bebe uma garrafa de vinho branco todas as noites e acorda toda contente para se ir maquilhar no dia seguinte. Pobre fígado da Maria Alice! E, falando em maquilhar, porquê descrever todas as roupas que todos usam? "Vesti-me assim e assim" só é importante quando a roupa é importante para a história e, durante todo o livro, só houve um único momento em que estar vestido ou nu seria relevante.

Para além disso há alguns erros de lógica que também não passariam numa revisão. Por exemplo, "não sei quantos cigarros fumei, mas o maço estava a meio e acabei-o". Ora, se o maço estava a meio tinha 10 cigarros. Portanto, ela sabe que fumou 10 cigarros. A menos que fosse tabaco de enrolar. :>

No entanto, vejo aqui bastante potencial, que ainda requer um pouco mais de polimento (muita leitura e muita escrita) para ser uma grande obra de arte. Verdade seja dita, adorei o livro e li-o de uma ponta à outra. Fiquei com muita pena da personagem no final, mas espero que a vida continue. :)

5.5.14

Cobiça

Cobiça
J. R. Ward
2011
Romance Fantástico

Livro que recebi no BookCrossing, apesar de não me lembrar exactamente de como, quando e porquê que o pedi. Porque assim que o recebi pensei... "Não"

Comecemos pela biografia da autora na aba das costas do livro. "Vive no Sul dos Estados Unidos com o seu marido incrivelmente generoso (...)" O que me faz desconfiar que foi o marido que pagou a edição  desta série dos Anjos Caídos mais de todas as passadas e futuras.

O livro propriamente dito... A ideia está engraçada, por assim dizer. Um gajo todo durão morre e informam-no no céu de que tem de ir salvar sete almas pecadoras de serem consumidas pelo diabo. Para salvar o mundo. Iupi. Mas o ambiente, as personagens, a linguagem, tudo torna esta ideia que poderia explorar muito sobre a condição humana numa historieta pré-adolescente com gajos metaleiros com tranças e montes de sexo com tranças.

Comecemos pelas tranças: os personagens parecem ser definidos pelo seu aspecto. Apesar de a autora insistir que todos têm um trauma passado ou algo que o valha, este torna-se irrelevante para o desenvolvimento da personalidade dos personagens, nem define as suas acções, sendo apenas motivo para todos serem tão "duros" e "agressivos" e "gajos com tomates". As descrições são horrendas, ofendendo classes sociais e trabalhadoras de frase em frase. Suponho que a autora, como tem um marido muito generoso, nunca tenha conhecido um pedreiro, pelo que acha que todos são broncos. Também há uma carga religiosa com uma tonalidade inespecífica e um pouco tonta, porque é toda a gente extremamente católica, sem que isso contribua em nada para a história ou para o desenvolvimento do carácter. E isto até seria uma coisa importante, dado que estão a lutar contra um demónio, ou quês. Também há os góticos, essa classe do tecido social tão estranha, que até tem prostitutas a trabalhar em bares, devem ser todos uns mauzões anti-católicos.

Acabemos no sexo: nos três-quatro dias em que se desenrola esta história, esta gente tem sexo em quantidades copiosas. Tudo bem, é saudável. A questão aqui é que a autora descreve estes actos com detalhes quase mórbidos, pornografia literária, digamos. E é horrível e é impossível levar o livro a sério quando de tantas em tantas páginas a "cabeça do membro" entra em acção (que termo horrível!)

Enfim, não é para repetir. Se me chegarem os outros livros da colecção, lá terei de enfrentar a besta com um sorriso. :>