Ashita no Joe
Dezaki Osamu - Mushi Productions
Anime - 79 Episódios
1970
5 em 10
É com muito orgulho que anuncio que chegámos ao milésimo post neste espaço! Talve em breve faça uma pequena celebração, mas queria só dizer a toda a gente. :) Tem sido muito agradável partilhar convosco estes meus comentários mais ou menos malcheirosos sobre coisas diversas :) É também com orgulho e um certo sentimento de dever cumprido que este milésimo post é sobre um marco histórico na indústria do anime como o conhecemos hoje: Ashita no Joe.
Estreado na televisão há 45 anos, é um anime bem presente na sua época e que definiu todo um género. Foi um dos primeiros animes de desporto com uma ligação bastante forte ao lado negro da sociedade, tema que vem evoluindo desde essa altura para outros animes de que tanto gostamos. Assim, é um anime muito importante em termos históricos e, apenas por isso, todos deviam experimentar vê-lo. Conhecimento nunca é demais, já dizia o meu Professor.
No entanto, olhando objectivamente para este anime, mesmo se tentarmos tirar os óculos dos anos 10 e tentarmos regressar um pouco à época que é retratada nele, tem algumas falhas que me levam a dar-lhe uma nota um pouco mais baixa que a minha média. Comecemos pelo início.
Este anime conta uma história simples, um "coming of age" de um rapaz que, tendo sido abandonado pelos pais e que não tem nada que o ligue às outras pessoas, acaba por se envolver num meio desportivo do boxe, começando a ganhar uma força diferente e desenvolvendo relações. É precisamente nesse aspecto que a história não funciona. Para este tipo de narrativa precisamos de um personagem forte que, mesmo assim, esteja aberto à progressão e evolução. E, infelizmente, Joe não é assim. Simplesmente não combina com a sua personalidade.
Temos, então, um personagem principal irascível, insuportável e detestável, com o qual é impossível que alguém se identifique se não para desejar que ele perca todos os combates. As suas atitudes nunca melhoram, ele parece nunca estabelecer uma ligação com quem quer que seja. Tudo aquilo que faz é negativo e a sua personalidade, apesar de carismática, não permite algo tão simples como... Gostar dele. Talvez nos anos 70 este seja o modelo ideal de desportista mas, para mim, foi impossível ganhar qualquer afeição por Joe. Quanto aos outros personagens, temos um treinador que faz muito pouco além de gritar, um grupo de crianças que serve mais como alívio cómico do que outra coisa, duas mulheres em extremos opostos que não revelam grande personalidade (excepto que são o contrário uma da outra e Joe, evidentemente, terá de escolher de quem gosta mais) e um parceiro de equipa que acaba por ser o personagem mais interessante da colecção.
A narrativa processa-se de forma rápida, sem gastar tempo em coisas inúteis como treinos dos desportistas ou mesmo combates. Dedica-se mais a lutas de rua e às maldades que Joe vai deixando à sua passagem. Até a parte supostamente mais intensa, aquela em que Joe está na prisão, acaba por ser repetitiva e não nos transmite qualquer tipo de sentimento de horror.
Em termos artísticos, mesmo para a época a animação não é extraordinária. Apesar de termos um design de personagens bastante limpo, existem repetições infinitas das mesmas frames, o que levam a combates extremamente repetitivos e pouco ou nada coreografados. Gostei bastante, ainda assim, da utilização de cores e sombras. A paleta é muito reduzida (o que faz sentido para uma série longa nesta década), mas está bem usada em termos gráficos, apesar de alguns erros que o olho mais atento detecta facilmente.
Musicalmente, temos um tema que é repetido constantemente mas que, sendo tão belo, não cansa. Este tema e suas variações constituem toda a banda sonora do anime, incluindo as OPs e EDs que têm aquele aspecto "épico" das músicas antigas mas com uma interpretação algo fraca.
Assim, é um anime histórico que vale a pena conhecer, mas que - apesar de tudo - não fica na memória pela qualidade.