Hunter x Hunter
Koujina Hiroshi - Madhouse Studios
Anime - 148 Episódios
2011
6 em 10
Afinal era esta a série muito longa que eu estava a ver. Já tinha visto a versão anterior, mais antiga, e sabia que esta era um remake sem os famigerados "fillers" (dos quais nem dei conta no original) e com uma prolongação da história. Ocorreu que o visse agora, a propósito do meu clube. É uma série famosa, amada por muitas pessoas, mas que terá a minha não recomendação, infelizmente. Como sempre, nadamos contra a corrente neste espaço e temos de ser maus para as coisas que as pessoas amam. Mas tudo tem uma razão. Passarei a explicar.
Tudo começa na Whale Island, uma pacífica ilha onde Gon vive com a sua mãe. Ging, o pai de Gon, é um "Hunter" famoso. "Hunters" são aqueles detentores de uma licença que lhes permite acesso às mais variadas coisas, permitindo-lhes fazer novas descobertas, resolver assuntos pendentes de variada periculosidade e, no fundo, viver constantes aventuras. Assim, Gon decide também ser um Hunter, para conseguir descobrir o paradeiro do seu desaparecido pai, que está sempre afastado por razões que a própria razão desconhece.
Tudo começa, então, com o Hunter Exam. Os candidatos terão de passar por uma série de testes que atestarão a sua capacidade para serem detentores da desejada licença. O começo é divertido, cativante, colorido, cheio de energia. Seguimos Gon e os seus novos amigos, Killua, Leorio e Kurapika, nos seus testes intensos e perigosos, desejando sempre que consigam encontrar a melhor solução. Estas são inteligentes, originais e muito estimulantes. A partir da segunda parte, processa-se uma certa mudança, que vem a afectar toda a tonalidade da série, progressivamente. Neste arco, vamos conhecer um pouco mais sobre Killua e a sua família. São momentos mais negros, mas continuamos a aprender um pouco sobre os valores que caracterizam toda a série shounen, amor, amizade e tudo o mais. No fundo, a série não deixava de ser típica, mas tinha uma originalidade refrescante nos personagens, variando entre o bom humor e o sarcasmo, e nos inimigos que vão aparecendo. Há um deles que, para mim, foi especialmente interessante: Hisoka. Apesar de, talvez, a minha opinião esteja desviada pelo facto de ele aparecer (de quando em quando) em total nudez (o que é muito agradável visualmente), senti que este vilão era mais do que o esperado. Caracterizado com uma aura de maldade, o facto de para ele ser tudo uma espécie de jogo, uma procura pelo oponente mais forte com um simples objectivo de diversão pura, é uma variação agradável ao típico antagonista.
Ora, eu sentia uma certa magia em HxH. Era algo único, apesar de estar dentro dos padrões da normalidade. Infelizmente, é difícil manter as coisas únicas. E HxH desiludiu nesse aspecto. A magia perde-se rapidamente a partir do momento em que entramos no terceiro arco. Aqui, o personagem principal é Kurapika, uma pessoa desde logo interessante na concepção. Ele procura vingar a morte do seu clã, perpretada pelo grupo das "Aranhas" e, por isso, tem de destruir os assassinos da melhor forma que conseguir. É introduzido um novo conceito, o "nen". Este "nen" acaba por tornar toda a continuação da história numa oposição constante de super poderes originais (certamente inspirados pelos "stands" de Jojo), dando uma razão para a existência de variadas formas de lutar. Este conceito torna tudo bastante aborrecido e desagradável, sobretudo porque grande parte da série é passado a treiná-lo. Enfim, voltemos a Kurapika. Este personagem, que até me era bastante querido, sofre uma profunda descaracterização de forma a torná-lo numa espécie de máquina de matar, um ser magoado, introvertido e com uma aura de maldade que não lhe era nada própria. O anime torna-se "negro" e pelos vistos é isso o que o pessoal gosta. Coisas "negras" e com muitas mortes, sangue e tudo o mais. E a magia? Pelos vistos a magia está na destruição.
Passamos para a Greed Island, um jogo que Ging dá a oportunidade de jogar. Arco extremamente desinteressante, parece estar ali apenas para estabelecer os poderes do "nen", permitir aos personagens que os aperfeiçoem e, no fundo, é uma preparação física e mental para o arco seguinte, o muito afamado Chimera Ant Arc. Para ser sincera, eu compreendo as razões que levam à maioria das pessoas gostar deste arco. Adorá-lo, até. Tem acção, tem muita acção. É negro, muito negro, com momentos horripilantes e arrepiantemente sanguinolentos. É violento. O pessoal gosta. Eu senti que, mais uma vez, houve uma completa descaracterização narrativa e dos personagens. Até Gon, que era uma criatura infantil e bem disposta, se torna num animal psicótico capaz de qualquer coisa para operar uma vingança e vencer as forças do mal. Pois é, pela primeira vez temos aqui uma força maligna invencível, mesmo aquilo que faltava a um shounen típico. Igual a todos os outros. De tal forma invencível que o autor recorre a um instrumento de extremo mau gosto para resolver a situação, acabando por não a resolver de qualquer forma. Isto é, de certa maneira poderíamos fazer um paralelismo ao passado da vida real: somos atingidos por este tipo de arma e encontramos uma espécie de paz interior. Mesmo assim, pareceu-me completamente desnecessário e teria preferido que a paz interior tivesse sido encontrada por uma outra forma de destruição: afinal de contas, o poder do velhote era de tal forma interessante que poderia ter sido aproveitado dessa forma. Para mais, o estilo narrativo (com narrador) é anticlimático, aborrecido, peca pela falta de ritmo. Nesta parte, a banda sonora torna-se de tal forma repetitiva que acaba por ser nauseante. E a integração de momentos de comédia nas situações mais abstrusas leva-as ao ridículo.
Para finalizar, recuperamos um pouco daquilo que foi a primeira parte. Um alívio, relativamente ao que passámos nos arcos anteriores. Mas, mesmo assim, senti que houve um esquecimento de personagens que eram tão importantes, nomeadamente Leorio e Kurapika.
Em termos artísticos, a série tem os seus altos e baixos, como qualquer série longa. Existem cenas de acção extremamente bem montadas e animadas, mas alguns momentos (especialmente no final) demonstram um evidente desaproveitamento de orçamento, fazendo uso de uma experimentação insossa e pouco iluminada.
Musicalmente, acontece a mesma coisa. Em alguns momentos a banda sonora é arrepiante e muito excitante mas, com o processar da narrativa e o estilo adicionado, acaba por se tornar repetitiva e cefaleica.
Enfim, uma série que poderia ter sido muito mais do que aquilo que é, tivesse escolhido um rumo diferente para si própria. Tenho muita pena que assim seja, mas não a poderei recomendar.