Universus da Poesia
Vários
2014
Poesia
Poderei alongar-me um pouco, portanto vou dividir esta postagem em quatro partes. :)
Parte 1 - Como vim parar a este livro
Dos vários grupos a que pertenço, alguns são de literatura. Também recebo notificações de vários concursos no meu e-mail, fazendo esforço por participar, mais por exercício mental de escrever sobre um determinado tema do que para ganhar o que quer que seja (o que, sendo improvável, já aconteceu uma vez ou outra). Assim, recebi o convite para participar nesta antologia poética sob a chancela UniVersus, com o tema "Universus da Poesia". Escrevi um poema a propósito e pediram-me mais, pelo que escrevi mais uns dois ou três e juntei outros que tinha guardados do passado. Acabaram por ser escolhidos esse escrito de propósito e uma letra que tinha escrito para o projecto musical Ocaso, do meu amigo R.
Claro que depois houve um dilema enorme, pois a editora desejava que eu falasse sobre mim e eu sou o tipo de pessoa que não tem nada de interessante para contar. Lá inventei uma coisa qualquer, de relativa piada. Também queriam uma foto e a primeira que mandei não foi aprovada por não considerarem "apropriada". Vejam lá e digam-me se é desapropriada!
Enfim, acabei por mandar um retrato que um artista Japonês me fez uma vez e que é o meu avatar em alguns locais.
Tendo tudo isto em conta, ainda era necessário pagar o livro. Aí está uma condição curiosa: para se participar tem de se comprar pelo menos um livro, caríssimo por sinal! Mas pensei "olha, é agora ou não é agora, boraí que se calhar vale a pena" Será que valeu... Fico à espera de outras opiniões. Bem, mais uma publicação com o meu nome escrito na prateleira...
Parte 2 - Coisas que eu acho sobre a poesia e essas cenas
Eu não sou grande apreciadora de poesia, admito desde logo. Quando era muito pequena, era o que eu gostava de escrever. Mas houve algum ponto de viragem, algures na minha vida, em que de repente me tornei senhora da prosa e passei a só gostar de escrever historietas. Ainda assim, vou lendo poesia de vez em quando e, ainda mais raramente, vou escrevendo um poemita ou outro.
Ao longo deste tempo, acabei por desenvolver uma teoria sobre a poesia. Há dois tipos de poesia: a inocente e aquela que sofre. A inocente é aquela que escrevemos quando somos adolescentes e pensamos que estamos a sofrer imenso. A que sofre é aquela que dói para nascer. Neste livro, a grande maioria é da primeira categoria. Isso não é uma coisa má, cada um escreve aquilo que sente e aquilo que lhe parece bem. Mas, pessoalmente, gosto mais da segunda.
Apesar de tudo, houve algumas passagens duvidosas, que me fazem duvidar da capacidade de selecção da editora. Coisas como "aves aladas" e assim (todas as aves têm asas...). Para mais, estranhei as pequenas notas biográficas dos autores, que na maioria pareciam uma enumeração de palmarés ganhos e publicações o que, dentro do contexto, não deixa de ser irrelevante. Interessa saber que ganharam a Menção Honrosa do Clube Caminho Fantástico? Eu podia ter posto isso....
Mas fica a nota, a nota muito importante, de que o artista é um bom artista. Portanto, todos os poemas desta antologia têm o seu valor, independentemente de eu ter gostado ou não deles. Gostaria de dar os parabéns a todos.
Parte 3 - Sobre o trabalho editorial
Isto sim, deixa muito, muito, MUITO a desejar. Primeiramente, a edição está cheia de gralhas. Por todo o lado. Depois, como participei, sei perfeitamente que nem contactaram os autores a propósito de uma eventual edição do texto. O que me pareceu foi que simplesmente fizeram um cópia-e-cola dos ficheiros word enviados: ninguém reparou (nem eu) que no poema da "Dança" falta uma vírgula e a formatação do poema da lua está completamente disforme, sem separação entre as estrofes - o que tira um grande significado à coisa.
As fotografias dos autores são pouco claras, havendo até uma (coitadinha da senhora) que está totalmente pixelizada.
Assim, UniVersus, mesmo que eu tivesse dinheiros para que me publicassem, não ia deixar.
Parte 4 - Um poema de que gostei
Entre uns e outros, houve poemas que gostei bastante e outros que gostei menos (até alguns que não gostei mesmo nada). Gostaria de citar o que me marcou mais. :)
Banco de Jardim
de Rui Machado
Foram muitas bocas a fazer chegar aos meus ouvidos
de que nunca se deve voltar
aos lugares onde fomos felizes.
Não acreditei.
Essas mesmas bocas já se tinham aberto antes,
para me dizer que o Amor era lindo.
Bocas que vomitam sílabas luminosas de mentira,
línguas que se movem como a vida nos desertos,
lábios que sabem a veneno doce.
São o maior perigo dos que precisam ouvir o Amor.
Para lá do bater do coração dos abralos,
para lá dos gemidos dos lençóis,
para lá dos olhos que incendeiam.
Hoje, senti bem cedo que o dia era traiçoeiro
para quem traz ainda estilhaços de Amor no corpo.
Sou um deles,
veterano de uma guerra
onde a cada Amor que fazia
ia adiando o hastear da bandeira branca dos fracos;
adiando a cada promessa,
a cada beijo o teu desembarque final,
o teu ataque cruel,
a tua desleal emboscada.
Ainda não sei bem o que fizeste acontecer.
Soube apenas que tinha acontecido coisa feia,
quando me deixaste derrotado,
estendido,
sem tratado de paz,
herói de nada,
peito sem condecorações de metal,
dilacerado pela pólvora das palavras,
estropiado de Amor
e abandonado ao desprezo
da ausência de um golpe de misericórdia.
Devaneio maior dizer-se que o Amor é lindo.
Devaneio supremo falar-se ou achar-se
que do Amor se possui alguma sabedoria.
Dele nada se saberá nunca,
tudo se sentirá sempre.
Incauto, por ventura,
para superar a saudade
que rasgava o avesso de mim,
voltei àquele jardim
Fui pisar-lhe o chão para me segurar ao mundo,
proteger-me na sombra das memórias que queimam,
fui rebentar um mar de saudada nas rochas duras da vida
que teima em não seguir caminho.
Procuro o nosso banco,
lugar do nosso Amor
onde a vida ganhou asas.
Procuro o lugar onde já fui feliz, sim.
Sem medo,
sem coragem,
incompleto,
quase vivo,
urgente.
Encontro-o.
Não me sento nele,
não sou tolinho de todo.
Sento-me no banco da frente,
num dia de semana
que esvaziou quase tosos os bancos daquele jardim.
Sem que quisesse desdobro,me por magia da nostalgia
que pede para voltar o que já esqueceu caminho.
Vejo-me no nosso banco,
estou feliz,
tenho na cara os olhos que te aguardam
e a boca que te deseja.
Espero-te pelas vezes que visito o relógio no meu punho.
Uma espera feliz, sei que nãom tardarás.
Curvam-se então os meus lábios,
num sorriso que inventei para te dar as boas vindas.
Chegas,
e antes de te sentares,
beijas-me.
Sentas-te, cheiras bem.
Não sei se é o cabelo,
a pele
ou a roupa,
que está a mais.
Enquanto nos bservo a olharmo-nos,
a trocar palavras,
beijos e toques,
assombro-me;
estou louco e encantado com isso.
A loucura devolve-nos às tábuas daquele banco de jardim,
palco do nosso Amor que em tantas matinés de Domingo,
enchemos de inveja os que passavam.
Vejo-me,
peghar numas chaves
para ferir o banco com os nossos nomes.
Enquanto gravo os nossos nomes na madeira,
tu ris e pedes-me para parar,
mas eu sei que é para continuar e continuo.
Termino.
Entre os nossos nomes deixo um coração.
O nosso.
Tu olhas, sorris e abraças-me.
Eu não me consigo deter e levanto-me para ir de encontro a nós,
ao nosso banco.
Corro até nós e antes de chegar,
explodimos como bolas de sabão.
Voltei a ser só eu.
Maldita poucura que não dura.
Olho o banco onde há pouco me via a escrever.
Não está lá nome nenhum,
nem o meu, nem o teu;
só metade do que parece ter sido um coração.
Sou metade de qualquer coisa que não tem nome sequer.
Nota:
Se tiverem interesse em ler as coisas que escrevo, consultem o meu deviantArt (estranhamente, tem muito pouco cosplay): http://ladylouve.deviantart.com