ComicCon Portugal 2021
Evento
Estamos na penúltima quarta feira do ano do transacto 2021 e eu tenho estado agravada: já passaram quase duas semanas desde a Comicona, já fui a vários jantares de Natal, e ainda não falei da Comicona. Bem dito, bem feito, é sobre isso que vou falar hoje, numa edição ESPECIAL - ie. fora da cronologia - especialmente criada para pessoas especiais como todos vós.
Penso que para contar uma história devemos começar no início. O início da Comicona começou, para mim, há três meses. Decidi nessa altura que ia levar um cosplay de jeito cheio de planificações e que, para variar, ia fazer boa figura no concurso. Após diversos acidentes de percurso, desde mandar arranjar as botas até a gata me ter comido a peruca, iniciei o meu processo de inscrição. Digamos que foi atribulado. E isso, realmente, parecia-me muito estranho. Após o envio de várias questões e problemas técnicos, consegui apenas que me dissessem que "tem de pagar o bilhete porque os valores do prémio são muito superiores ao do bilhete".
(Mas quem disse que ia ganhar algum prémio? Como assim?)
Após filme muito breve de comprar uns bilhetes digitais na candonga, de ter de pagar 20 paus por um testecovido porque nenhuma farmácia atendia o telefone, e de uma sessão de relaxamento, reuni todos os meus objectos - com muito cuidado para não esquecer nada - e deitei-me. Infelizmente existe uma diferença muito simples entre pessoas como eu e pessoas responsáveis. Quando as pessoas responsáveis têm de estar em lugar incerto no Parque das Nações às oito e meia da manhã em ponto e sem atrasos, elas... Vão dormir com o Vitinho. Quando pessoas como eu têm de fazer à mesma coisa deitam-se de madrugada.
Miraculosamente conseguimos chegar em segurança. Estávamos coisa de dez minutos atrasados e eu já estava a ver que tinha de voltar para casa porque não nos iam deixar entrar. Por um lado agradava-me até a ideia, de voltar para casa e voltar para a minha caminha quentinha e fofinha. Mas, lá chegados, a esperança fez adeus com a sua mãozinha, lá no alto. Lá estavam eles. Companheiros de concurso.
Numa corrida emocionada, apenas prejudicada pelo cosplay pouco manejável que trazia nas mãos, juntei-me aos meus amigos, colegas, companheiros, palhaços, neste grande circo. Este circo de amigos. E nesse momento, recordo.... Eu trazia um chapéu na cabeça. Isto vai ser importante mais tarde, mantenham-se atentos.
Porque nesse momento, começou o verdadeiro circo. O circo de feras.
Já missbakemono tinha feito uns quatrocentos e vinte telefonemas, após quarenta minutos de espera sob um sol outonal despertando pelo rio, rodeados de estruturas de betão armado e tendas ladeando a "entrada dos artistas", surge a pessoa responsável por nós, concorrentes do concurso. Faz uma chamada. Há pessoas que não estão na chamada. O meu helper não está na chamada. Lá vai o nosso responsável encontrar outra chamada. Volta. Faz outra chamada. Há pessoas que faltam. E agora?
Agora vamos todos juntos, conversando com alegria, mal sabendo que nos espera uma longa caminhada à volta do recinto Comicona até chegarmos à área do cosplay. A área do cosplay é uma tenda que contém uma alcatifa. E nada mais. Passamos por um gradeamentozinho que nos leva aos belos camarotes, que se tratam de duas salas que contém alcatifa e uma cadeira. Existe um espelho, que decidimos por no corredor para facilitar toda a gente. Trocamos de roupa, alguém me cede uma pistola de cola quente para colar a minha vassoura que se rachou no caminho para este sítio. Estamos mesmo contentes, todos juntos, a falar dos fatos uns dos outros e a relatar as coisas estranhas que verificámos até agora.
Por exemplo, existem umas bolachinhas no corredor. Recordem que nesta altura são nove da manhã e que eu tinha tomado o pequeno almoço às seis. Também foi essa a última vez que fui à casa de banho e, mais uma vez, isto é importante. Ora, as bolachinhas estão no corredor e têm um papel em cima a dizer que são para as estrelas: Pretzl e Ju Tsukino, as convidadas internacionais (embora a Ju provavelmente tenha vindo de Massamá, ou onde ela está a viver agora) No bolachinha for us.... Almas corajosas, as que se atreveram a roubar línguas de veado às estrelas!
Subitamente alguém nos pede o testecovido! AAAAI! Mostramos o testecovido: está tudo bem, estamos tão negativos como as minhas notas de anatomia. Mas e o bilhete? Seria importante que nos pedissem o bilhete.... Talvez porque eu o comprei? Se o comprei gostava de o usar. Mesmo que tenha sido na candonga. Mas não, nunca nos pediram o bilhete. Nem direito a pulseira. Absolutamente ilegais.
Em passo estugado passamos para a tenda onde estará o nosso palco. Voltamos pelo caminho de onde viemos e passado muito tempo encontramos a tenda. Parece a tenda electrónica do Alive, só que sem a parte da música eletrónica e os broados todos. Existem cadeirinhas para nós e umas bolachinhas, que também são para nós. E bolo! Vamos ao Ensaio Geral. Cheguei a dizer que na inscrição ninguém nos perguntou detalhes do skit, quando entrávamos, de que lado, quem punha os nossos adereços no palco, etcoetera, etcoetera? Pois. Então estamos a ensinar como se metem as coisas no palco, uma menina desespera porque ninguém lhe arranja uma mesa, outra menina recebe ajuda de vários de nós para montar um monstruoso adereço arquitectónico. Ninguém sabe nada e alguém precisa de fazer xixi. Não se pode fazer xixi! Só o nosso responsável é que pode sair da tenda, todos os outros estão fechados na tenda! Mas a malta precisa de fazer xixi, deixe-nos ir fazer xixi para não nos mijarmos no palco! E lá foram.
Mas eu não fui, porque achei que estava com pouca mobilidade-para-ir-à-casa-de-banho. Isso revelou-se um erro fatal, como veremos adiante.
Felizmente havia uma abertura microscópica na tenda, por onde rastejámos para podermos fumar. Ora, a questão é que eu fumo muitos cigarros. Então eu acabou por falar com as outras pessoas que também fumam cigarros, que no caso são os técnicos. E eu estava na converseta e disse algo como "desculpe, isto é sem querer ofender, senhor técnico de som, mas não acha que o som está muita mau?" Ao que ele se desfez em desculpas, porque nunca tinha estado num evento mais desorganizado, que só lhes tinham dado os skits nessa altura (?) e que por isso não estavam a conseguir pô-los bem e ninguém sabia o que nós íamos fazer e wtf.
Com isto em mente, a ideia que eu tinha de fazer boa figura (que já tinha sido arruinada ao olhar para os meus fellow concorrentes, malta talentosa da porra o que) desvaneceu-se totalmente. Vamos só fazer o que deus quiser e wooooo
E assim fui para o pre-judging, onde expliquei a obra de engenharia de pontes que é a saia deste fato e também expliquei que a minha varinha-em-forma-de-pénis acendia mas ficou sem pilha após ter estado um mês parada fora do alcance da gata. Logo logo o concurso ia começar, assim que o apresentador e uns jovens acabassem de inventar e ensaiar um teatrinho que misturou o novo filme do Homem Aranha com a DC Comics. E depois de o apresentador lá teatrar, começou a apresentar e isso, devo dizer-vos, correu lindamente. Não ele a apresentar, mas o concurso. Boa energia, apesar de serem onze e trinta da manhã, entreajuda e apoio de todos para todos e skits realmente muito giros.
Eu, por mim, peguei na ideia de a minha personagem (Ursula Callistis, a professora de Little Witch Academia) ser uma trapalhona de primeira e pu-la apanhar livros gigantes, que eram os meus livros de anatomia comparada e patológica. As pessoas riram muito e eu gostei muito que elas se rissem comigo! Beijo Gratiluz!
E terminamos, e estamos todos contentes, alguns muito nervosos mas contentes na generalidade, e são os prémios ohmeudeus são eles! Excepto que de cinco categorias passamos a duas, ninguém sabe bem porquê, então só um individual e um grupo podem ganhar. E evidentemente que ganham as pessoas talentosas, pronto, assim nem sequer se pode brincar (que é uma dica a brincar!) Mas até as anunciarem, passámos um tortuoso momento de apresentação de jurados, de conversa randómica, e - da minha parte - correr às voltas em volta de props no chão para não me desfazer no xixi que tinha estado a guardar há cerca de seis horas.
Finalmente saímos. Esqueci-me dos meus livros. Mas eu não me importo de ficar sem eles, talvez excepto o Livro de Doses do Plumb, porque dá sempre jeito saber que dose de ketamina dar a um macaco juvenil. O que me interessa é apenas e só chegar a uma casa de banho. A zona dos cosplayers não tem casa de banho. Não deixam entrar a minha amiga que veio ver o concurso pelo lado que diz "Saída", só pode entrar pelo lado que diz "Entrada", apesar de não estar lá ninguém dentro. Deixo os meus props nos lindos camarins, destrancados. Volto para poder voar até uma sanita, mas sou interrompida: está na hora de tirar fotos aos cosplayers. Então eu decido esperar: não quero perder a oportunidade de tirar fotos com o Nuno Gomes só porque preciso de urinar. Espero. Estou realmente impaciente, mas espero. Tudo parece demorar horas. Olho com raiva para os que estão à minha frente, rangendo os dentes, os meus olhos de lentes vermelhas desorbitados. Os meus desejos são de morte absoluta a tudo o que me rodeia.
Mas chega a minha vez e tiro as fotos, que tenho a certeza de terem ficado lindamente, e agradeço muito ao fotógrafo e peço desculpa e corro, corro com asas nas minhas bootcovers de bruxa, até ao water closet que me pareceu mais próximo. E lá está ela, branca, brilhante, como anjo de cerâmica Roca vindo do paraíso de todos os aflitos.... A sanita. A sanita está cheia de papel cheio de mijo e sangue até à borda. Verifico a próxima. Também. A próxima. Todas! Todas assim!
"É que não há água na casa de banho", explica-me uma menina que havia tentado lavar as mãos.
Com grande sacrifício suporto o nojo. O alívio é imediato, mas rápido, pois o cheiro que se sente parece entranhar-se no meu cosplay.
De volta, como o meu pretenso almoço (uma napolitana de chocolate do Minipreço), tiro fotos com malta, uns miúdos vieram tirar uma selfi mas ficámos todos de máscara, falamos dos diversos problemas a serem tratados com urgência neste evento que é a Comicona. Vou tirar o fato, arrumo todas as minhas coisinhas num canto. Desta vez a porta dos camarinotes está fechada à chave.
Cirandamos pelo espaço do evento, vemos a zona dos artistas (que são bons artistas), compro uma prenda de Natal para a minha mãe. Visitamos a exposição dos zombies, que é pequena mas engraçada. Procuramos a zona da banda desenhada, que descobrimos depois ser inexistente. Do interior do Pavilhão Arena Atlântica ouvimos uma histeria colectiva, que achamos ser motivada por um actor criança qualquer. Observamos as lojas. Um longcat de peluche custa 70 paus. Parto-me a rir. Observamos as actividades e tiramos foto no Matrix, com uma Trinity do Carnaval. Encontramos a zona dos jogos, com esperança de inalar um pouco de aroma humano. Tem três jogos, a zona dos jogos, num espaço pouco maior que a minha sala.
E assim terminamos o evento, cansados mas satisfeitos apesar de tudo. Vamos buscar o carro, mas o parque está diferente.... Quando chegámos, éramos só nós, nós e o carro Citris. Quando voltámos, eram carros, carros em todo o lado. Após uma hora de pânico em busca do Citris descobrimos que estamos no andar errado. Após outra hora de pânico, decido pedir ajuda às informações.
E foi assim que pela primeira vez andei no carrinho pequenino do parque de estacionamento.
Depois fomos beber uma jola e acho que estamos todos felizes até agora.
Nota: para fotos verifiquem @ladyxzeus no instagramo, tenho fotos de gente bonita mas dá trabalho por aqui, sorrynotsorry
Nota2: beijos de gratiluz
Nota3: Lembram-se do chapéu que eu tinha na cabeça no início da história? Pois que à noite não o tinha, mas só dei por isso em casa. Isto é: ALGUÉM ME DEU A BOCA AO CHAPÉU DURANTE A COMIC CON PORTUGAL DEVOLVAM-ME A PORRA DO CHAPÉU CARALHO EU CURTIA DO CHAPÉU.
Se virem o chapéu #procuramosochapéu