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22.12.21

ComicCon Portugal 2021

 

ComicCon Portugal 2021
Evento

Estamos na penúltima quarta feira do ano do transacto 2021 e eu tenho estado agravada: já passaram quase duas semanas desde a Comicona, já fui a vários jantares de Natal, e ainda não falei da Comicona. Bem dito, bem feito, é sobre isso que vou falar hoje, numa edição ESPECIAL - ie. fora da cronologia - especialmente criada para pessoas especiais como todos vós.

Penso que para contar uma história devemos começar no início. O início da Comicona começou, para mim, há três meses. Decidi nessa altura que ia levar um cosplay de jeito cheio de planificações e que, para variar, ia fazer boa figura no concurso. Após diversos acidentes de percurso, desde mandar arranjar as botas até a gata me ter comido a peruca, iniciei o meu processo de inscrição. Digamos que foi atribulado. E isso, realmente, parecia-me muito estranho. Após o envio de várias questões e problemas técnicos, consegui apenas que me dissessem que "tem de pagar o bilhete porque os valores do prémio são muito superiores ao do bilhete".

(Mas quem disse que ia ganhar algum prémio? Como assim?)

Após filme muito breve de comprar uns bilhetes digitais na candonga, de ter de pagar 20 paus por um testecovido porque nenhuma farmácia atendia o telefone, e de uma sessão de relaxamento, reuni todos os meus objectos - com muito cuidado para não esquecer nada - e deitei-me. Infelizmente existe uma diferença muito simples entre pessoas como eu e pessoas responsáveis. Quando as pessoas responsáveis têm de estar em lugar incerto no Parque das Nações às oito e meia da manhã em ponto e sem atrasos, elas... Vão dormir com o Vitinho. Quando pessoas como eu têm de fazer à mesma coisa deitam-se de madrugada.

Miraculosamente conseguimos chegar em segurança. Estávamos coisa de dez minutos atrasados e eu já estava a ver que tinha de voltar para casa porque não nos iam deixar entrar. Por um lado agradava-me até a ideia, de voltar para casa e voltar para a minha caminha quentinha e fofinha. Mas, lá chegados, a esperança fez adeus com a sua mãozinha, lá no alto. Lá estavam eles. Companheiros de concurso.

Numa corrida emocionada, apenas prejudicada pelo cosplay pouco manejável que trazia nas mãos, juntei-me aos meus amigos, colegas, companheiros, palhaços, neste grande circo. Este circo de amigos. E nesse momento, recordo.... Eu trazia um chapéu na cabeça. Isto vai ser importante mais tarde, mantenham-se atentos.

Porque nesse momento, começou o verdadeiro circo. O circo de feras.

Já missbakemono tinha feito uns quatrocentos e vinte telefonemas, após quarenta minutos de espera sob um sol outonal despertando pelo rio, rodeados de estruturas de betão armado e tendas ladeando a "entrada dos artistas", surge a pessoa responsável por nós, concorrentes do concurso. Faz uma chamada. Há pessoas que não estão na chamada. O meu helper não está na chamada. Lá vai o nosso responsável encontrar outra chamada. Volta. Faz outra chamada. Há pessoas que faltam. E agora?

Agora vamos todos juntos, conversando com alegria, mal sabendo que nos espera uma longa caminhada à volta do recinto Comicona até chegarmos à área do cosplay. A área do cosplay é uma tenda que contém uma alcatifa. E nada mais. Passamos por um gradeamentozinho que nos leva aos belos camarotes, que se tratam de duas salas que contém alcatifa e uma cadeira. Existe um espelho, que decidimos por no corredor para facilitar toda a gente. Trocamos de roupa, alguém me cede uma pistola de cola quente para colar a minha vassoura que se rachou no caminho para este sítio. Estamos mesmo contentes, todos juntos, a falar dos fatos uns dos outros e a relatar as coisas estranhas que verificámos até agora.

Por exemplo, existem umas bolachinhas no corredor. Recordem que nesta altura são nove da manhã e que eu tinha tomado o pequeno almoço às seis. Também foi essa a última vez que fui à casa de banho e, mais uma vez, isto é importante. Ora, as bolachinhas estão no corredor e têm um papel em cima a dizer que são para as estrelas: Pretzl e Ju Tsukino, as convidadas internacionais (embora a Ju provavelmente tenha vindo de Massamá, ou onde ela está a viver agora) No bolachinha for us.... Almas corajosas, as que se atreveram a roubar línguas de veado às estrelas!

Subitamente alguém nos pede o testecovido! AAAAI! Mostramos o testecovido: está tudo bem, estamos tão negativos como as minhas notas de anatomia. Mas e o bilhete? Seria importante que nos pedissem o bilhete.... Talvez porque eu o comprei? Se o comprei gostava de o usar. Mesmo que tenha sido na candonga. Mas não, nunca nos pediram o bilhete. Nem direito a pulseira. Absolutamente ilegais.

Em passo estugado passamos para a tenda onde estará o nosso palco. Voltamos pelo caminho de onde viemos e passado muito tempo encontramos a tenda. Parece a tenda electrónica do Alive, só que sem a parte da música eletrónica e os broados todos. Existem cadeirinhas para nós e umas bolachinhas, que também são para nós. E bolo! Vamos ao Ensaio Geral. Cheguei a dizer que na inscrição ninguém nos perguntou detalhes do skit, quando entrávamos, de que lado, quem punha os nossos adereços no palco, etcoetera, etcoetera? Pois. Então estamos a ensinar como se metem as coisas no palco, uma menina desespera porque ninguém lhe arranja uma mesa, outra menina recebe ajuda de vários de nós para montar um monstruoso adereço arquitectónico. Ninguém sabe nada e alguém precisa de fazer xixi. Não se pode fazer xixi! Só o nosso responsável é que pode sair da tenda, todos os outros estão fechados na tenda! Mas a malta precisa de fazer xixi, deixe-nos ir fazer xixi para não nos mijarmos no palco! E lá foram.

Mas eu não fui, porque achei que estava com pouca mobilidade-para-ir-à-casa-de-banho. Isso revelou-se um erro fatal, como veremos adiante.

Felizmente havia uma abertura microscópica na tenda, por onde rastejámos para podermos fumar. Ora, a questão é que eu fumo muitos cigarros. Então eu acabou por falar com as outras pessoas que também fumam cigarros, que no caso são os técnicos. E eu estava na converseta e disse algo como "desculpe, isto é sem querer ofender, senhor técnico de som, mas não acha que o som está muita mau?" Ao que ele se desfez em desculpas, porque nunca tinha estado num evento mais desorganizado, que só lhes tinham dado os skits nessa altura (?) e que por isso não estavam a conseguir pô-los bem e ninguém sabia o que nós íamos fazer e wtf.

Com isto em mente, a ideia que eu tinha de fazer boa figura (que já tinha sido arruinada ao olhar para os meus fellow concorrentes, malta talentosa da porra o que) desvaneceu-se totalmente. Vamos só fazer o que deus quiser e wooooo

E assim fui para o pre-judging, onde expliquei a obra de engenharia de pontes que é a saia deste fato e também expliquei que a minha varinha-em-forma-de-pénis acendia mas ficou sem pilha após ter estado um mês parada fora do alcance da gata. Logo logo o concurso ia começar, assim que o apresentador e uns jovens acabassem de inventar e ensaiar um teatrinho que misturou o novo filme do Homem Aranha com a DC Comics. E depois de o apresentador lá teatrar, começou a apresentar e isso, devo dizer-vos, correu lindamente. Não ele a apresentar, mas o concurso. Boa energia, apesar de serem onze e trinta da manhã, entreajuda e apoio de todos para todos e skits realmente muito giros.

Eu, por mim, peguei na ideia de a minha personagem (Ursula Callistis, a professora de Little Witch Academia) ser uma trapalhona de primeira e pu-la apanhar livros gigantes, que eram os meus livros de anatomia comparada e patológica. As pessoas riram muito e eu gostei muito que elas se rissem comigo! Beijo Gratiluz!

E terminamos, e estamos todos contentes, alguns muito nervosos mas contentes na generalidade, e são os prémios ohmeudeus são eles! Excepto que de cinco categorias passamos a duas, ninguém sabe bem porquê, então só um individual e um grupo podem ganhar. E evidentemente que ganham as pessoas talentosas, pronto, assim nem sequer se pode brincar (que é uma dica a brincar!) Mas até as anunciarem, passámos um tortuoso momento de apresentação de jurados, de conversa randómica, e - da minha parte - correr às voltas em volta de props no chão para não me desfazer no xixi que tinha estado a guardar há cerca de seis horas.

Finalmente saímos. Esqueci-me dos meus livros. Mas eu não me importo de ficar sem eles, talvez excepto o Livro de Doses do Plumb, porque dá sempre jeito saber que dose de ketamina dar a um macaco juvenil. O que me interessa é apenas e só chegar a uma casa de banho. A zona dos cosplayers não tem casa de banho. Não deixam entrar a minha amiga que veio ver o concurso pelo lado que diz "Saída", só pode entrar pelo lado que diz "Entrada", apesar de não estar lá ninguém dentro. Deixo os meus props nos lindos camarins, destrancados. Volto para poder voar até uma sanita, mas sou interrompida: está na hora de tirar fotos aos cosplayers. Então eu decido esperar: não quero perder a oportunidade de tirar fotos com o Nuno Gomes só porque preciso de urinar. Espero. Estou realmente impaciente, mas espero. Tudo parece demorar horas. Olho com raiva para os que estão à minha frente, rangendo os dentes, os meus olhos de lentes vermelhas desorbitados. Os meus desejos são de morte absoluta a tudo o que me rodeia.

Mas chega a minha vez e tiro as fotos, que tenho a certeza de terem ficado lindamente, e agradeço muito ao fotógrafo e peço desculpa e corro, corro com asas nas minhas bootcovers de bruxa, até ao water closet que me pareceu mais próximo. E lá está ela, branca, brilhante, como anjo de cerâmica Roca vindo do paraíso de todos os aflitos.... A sanita. A sanita está cheia de papel cheio de mijo e sangue até à borda. Verifico a próxima. Também. A próxima. Todas! Todas assim!

"É que não há água na casa de banho", explica-me uma menina que havia tentado lavar as mãos.

Com grande sacrifício suporto o nojo. O alívio é imediato, mas rápido, pois o cheiro que se sente parece entranhar-se no meu cosplay.

De volta, como o meu pretenso almoço (uma napolitana de chocolate do Minipreço), tiro fotos com malta, uns miúdos vieram tirar uma selfi mas ficámos todos de máscara, falamos dos diversos problemas a serem tratados com urgência neste evento que é a Comicona. Vou tirar o fato, arrumo todas as minhas coisinhas num canto. Desta vez a porta dos camarinotes está fechada à chave.

 Cirandamos pelo espaço do evento, vemos a zona dos artistas (que são bons artistas), compro uma prenda de Natal para a minha mãe. Visitamos a exposição dos zombies, que é pequena mas engraçada. Procuramos a zona da banda desenhada, que descobrimos depois ser inexistente. Do interior do Pavilhão Arena Atlântica ouvimos uma histeria colectiva, que achamos ser motivada por um actor criança qualquer. Observamos as lojas. Um longcat de peluche custa 70 paus. Parto-me a rir. Observamos as actividades e tiramos foto no Matrix, com uma Trinity do Carnaval. Encontramos a zona dos jogos, com esperança de inalar um pouco de aroma humano. Tem três jogos, a zona dos jogos, num espaço pouco maior que a minha sala.

E assim terminamos o evento, cansados mas satisfeitos apesar de tudo. Vamos buscar o carro, mas o parque está diferente.... Quando chegámos, éramos só nós, nós e o carro Citris. Quando voltámos, eram carros, carros em todo o lado. Após uma hora de pânico em busca do Citris descobrimos que estamos no andar errado. Após outra hora de pânico, decido pedir ajuda às informações.

E foi assim que pela primeira vez andei no carrinho pequenino do parque de estacionamento.

Depois fomos beber uma jola e acho que estamos todos felizes até agora.


Nota: para fotos verifiquem @ladyxzeus no instagramo, tenho fotos de gente bonita mas dá trabalho por aqui, sorrynotsorry

Nota2: beijos de gratiluz

Nota3: Lembram-se do chapéu que eu tinha na cabeça no início da história? Pois que à noite não o tinha, mas só dei por isso em casa. Isto é: ALGUÉM ME DEU A BOCA AO CHAPÉU DURANTE A COMIC CON PORTUGAL DEVOLVAM-ME A PORRA DO CHAPÉU CARALHO EU CURTIA DO CHAPÉU.

Se virem o chapéu #procuramosochapéu


15.12.21

Nem todos os cactos têm picos

 

Nem todos os cactos têm picos
Mosi
2017
Banda Desenhada

Queria comprar este livro desde o AmadoraBD de 2017 e por isso, desta vez em 2021, aproveitei a tal promoção para o trazer.

Confesso que fiquei um pouco desapontada. Este é um álbum curtíssimo que nos conta a história de duas amigas de infância, dos seus pequeninos conflitos e das suas pequeninas consolações, em que a amizade é sempre o maior valor. Fiquei com a sensação de que a história poderia ser autobiográfica, por causa das referências de roupas e estilos, que estão bem colocadas dentro do contexto.

Ainda assim, penso que esperava um pouco mais de uma história sobre este tema. Apesar de os desenhos serem bastante bonitos, isso não me chegou para compensar uma premente falta de conteúdo. Talvez fizesse mais sentido numa zine.

Toutinegra

 

Toutinegra
André Oliveira e Bernardo Majer
2019
Banda Desenhada

Comprei este livro no AmadoraBD para aproveitar uma promoção de "leve 4 pague 3". Valeu bem a pena, porque foi um bom achado.

Duas crianças são as únicas fontes de esperança para uma aldeia envelhecida e perdida no tempo e no espaço. A vida delas vai dar uma grande volta quando, num moinho abandonado, descobrem a "toutinegra", uma criatura estranha e negra que traz más notícias.

A história é por vezes um pouco confusa, por causa das mudanças de perspectiva que não têm nenhum indicativo na arte que nos permita situar-nos em cada realidade. No entanto, o resultado final acaba por ser bastante comovente e desesperançoso, como uma "má notícia" da toutinegra. Aliado a uma arte delicada, redonda e suave, o efeito coloca-nos perante uma certa onda de desespero.

Um álbum eficiente.

A Culpa é Minha

 

A Culpa é Minha
Louise O'Neill
2015
Romance

Livro recebido na Chuva de Livros de aniversário do BookCrossing.

Ao início fiquei triste por receber um livro juvenil, mas com a leitura descobri que por vezes não podemos julgar o livro pela capa. Este é um romance violento e pleno de trauma, que fala sobre um assunto que me toca especialmente.

A autora apresenta-nos uma protagonista aparentemente detestável e vazia, com amigos igualmente ocos. Quando algo de trágico acontece, de quem quer que seja a responsabilidade, toda esta fantasia social se desmorona.

Neste livro surge o debate sobre o consentimento, mas da perspectiva de uma vítima que tem a confiança totalmente abalada e destruída, e que depois se torna uma casca de si própria, consumida pela culpa, pela dúvida e pelas memórias verdadeiras e falsas. Apenas gostaria que a autora não tivesse "saltado" o processo de aceitação, apenas referindo-o em breves flashbacks, e que tivesse dedicado mais tempo à atitude imediatamente após o acontecimento.

Penso que assim o livro seria mais forte.

János vitéz

 

János vitéz
Marcell Jankovics
Animação - Filme
1973
6 em 10

Uma adaptação do poema épico homónimo, húngaro, em animação.

É um filme com recursos simples e uma animação um pouco desactualizada para a época, mas em que os elementos fantásticos se desdobram para criar uma festa visual inusitada, romântica e divertida, em que realmente entramos nesta história de encantar.

O nosso protagonista é um homem que vive apaixonado pela filha de uma bruxa, que os afasta. A partir daí ele vai viver muitas aventuras, por vezes com esperança, outras vezes com desespero, mas sempre com uma grande atitude e coragem.

Cada encontro do nosso herói vai revelar-nos algo sobre o folclore húngaro e outros mitos e lendas, tudo com diálogos belos - ou não fosse um poema épico.

Apesar das suas falhas, é um filme encantador.

Macunaíma

 

Macunaíma
Mário de Andrade
1928
Romance (?)

Livro que me foi oferecido pelo meu pai e que.... Céus.... É inexplicavelmente bom.

Macunaíma é a representação de todo o povo brasileiro, por isso é um herói. Mas é um herói sem nenhum carácter. Mário de Andrade vai contar-nos as aventuras dele e porque é que uma série de coisas existem hoje em dia: é por culpa do Macunaíma.

Fartei-me de rir com este livro, apesar de não entender nem metade dos termos. Sei que eram fauna, flora ou mineral, nas suas mais variadas formas e sentidos, alguns que nem sequer existem. Aprendi imenso folclore, algum mesmo recolhido das várias aldeias por onde o autor passou na sua viagem sabática, outro simplesmente inventado, porque.... Porque não?

É um livro que sem dúvida ficará na memória e ao qual, um dia destes, quero voltar.

Collective

 

Collective
Alexander Nanau
2019
Filme
7 em 10

Com este filme aprendi que houve um escândalo de saúde pública na Roménia, relacionado com a morte de (muitas) vítimas de um incêndio na sala de espectáculos Colectiv onde estavam a ver um concerto de metal.

E este filme é realmente estranho porque, se isto for real, como é que não soubemos de nada? Se isto for real, podemos realmente confiar nos sistemas de saúde europeus e mundiais? Se isto for real podemos realmente confiar nos nossos governos?

O documentário é altamente detalhado na investigação desta situação, mostrando os diferentes intervenientes que ajudaram a levantar o tapete sobre este poço de horrores. No entanto, fico a pensar que tudo teria de ter sido filmado antes de tudo ter sido descoberto, e como é que isso aconteceu?

A incredulidade com que o filme nos deixa é tal que sinto que não o consigo classificar.

Shuggie Bain

 

Shuggie Bain
Douglas Stuart
2020
Romance

O vencedor do Booker Prize 2020 chegou-me através da bondade do BookCrossing.

Este é um livro duro e violento, com pinceladas autobiográficas do autor, que fala sobre a vida de um menino numa Irlanda empobrecida e ignorante dos anos 80. Mas sobretudo, é um livro que fala sobre a doença do alcoolismo e do seu efeito destrutivo em tudo o que rodeia a vítima.

É um livro difícil, com muitas passagens escritas num forte sotaque irlandês muitas vezes indescernível, e com um ritmo lento e sempre negativo. Para mim este foi o pior aspecto do livro: mesmo as pessoas mais infelizes terão, de vez em quando, algum momento alegre. Aqui, tudo é terrível, tudo é infeliz e é tudo sempre a descer. Esta negatividade, que nos leva para o fundo do poço e nos faz terminar numa elipse de infelicidade, torna o livro repetitivo e um pouco aborrecido.

Apesar de ser um retrato valioso, com importantes questões que se levantam, fico na dúvida se a qualidade da escrita mereceria tal gabarito.

Arcane

 

Arcane
Christian Linke e Alex Yee
2021
Série de Animação

(Porque é que as entradas da Wikipedia de animações ocidentais nunca têm poster?)

Adiante!

Vimos esta série porque nos tinha sido altamente recomendada por... Toda a gente. Valeu bastante a pena e *quaaaase* fiquei com vontade de jogar LoL. Ênfase no *quase*.

Pelo que percebi, esta série conta as origens de um conjunto de personagens que será essencial no paradigma da história do jogo. Trata-se de uma história bastante juvenil, que envolve o amor fraterno e familiar, num ambiente steampunk de oposição entre "ricos e pobres", "bons e maus".

No entanto, não são os elementos narrativos que tornam esta série especial: a animação é alguma coisa de extraordinário. Utilizando uma mistura de recursos digitais 3D e 2D, com modelos rotoscopados de design elegante e realista, misturados com um cell shading detalhado, trata-se de uma série com uma animação revolucionária, de que espero virmos a ter mais exemplos brevemente.

Em termos de animação, é assim que se faz.

Devilman Lady

 

Devilman Lady
Toshiki Hirano - TMS Entertainment
Anime - 26 Episódios
1998
6 em 10

Sendo um objectivo momentâneo ver todas as instâncias de Devilman, aparentemente está completo. Adeus.

Não, voltei. Então, Devilman Lady é uma reinterpretação do Devilman original (manga), com uma história paralela aos acontecimentos deste. Aqui, Jun Fudou é uma supermodelo muito atraente mas com uma vida simples, que descobre através de uma mulher má e misteriosa que tem dentro de si uma besta, um demónio, um Devilman. Esta mulher vai escravizá-la para que se torne uma caçadora de Devilmans.

Se ao início os episódios eram extremamente parecidos com os do original, com os mesmos monstros e tudo, progressivamente este anime vai criando uma identidade própria, da busca pela própria humanidade e daquilo que nos torna realmente pessoas. Com um romance (S-A) influente e pungente, este anime acaba por nos dar mais uma perspectiva da moral de Devilman, que é a moral de todos nós: os monstros são as pessoas.

Por isso, mesmo que a sua qualidade artística seja duvidosa, é um elemento precioso para os fãs do original.

Last Night in Soho

 

Last Night in Soho
Edgar Wright
2021
Filme
6 em 10

Candidatei-me a ganhar bilhtes para o cinema para este filme, mas não ganhei então vimos em casa.

Temos uma premissa interessante: uma rapariga com ambição a ser uma grande estilista, muda-se para o Soho de Londres, lugar onde não se consegue adaptar. Ao mudar de casa, entra na vida passada de uma rapariga fabulosa nos anos 60. Precisamente onde queria estar. Mas estarão ambas seguras?

Temos uma ideia original e bem conseguida em várias partes, com duas personagens bem interpretadas, apesar de algo limitadas. A componente thriller é um pouco apagada pelos elementos juvenis, que dão piada ao filme. No entanto, a conclusão aparece bastante socialmente injusta. Também houve várias referências ao longo do filme que foram mencionadas sem nunca ser exploradas, o que tornou tudo um pouco estranho.

Um bom filme popika para ver à noite

Hidamari Sketch x 365

 

Hidamari Sketch x 365
Iwakami Hatsuhiro - Shaft
Anime - 13 Episódios + 3 Specials
2008
4 em 10

Um dos animes mais recomendados pelos maiores conhecedores da arte e que, por isso, meu veio parar às mãos à conta do clube. Não recordava as seasons que tinha visto anteriormente. E ainda bem. Porque Hidamari Sketch é a pretensão a anime mais abominável que vi estas semanas.

São meninas fofinhas a fazer coisas fofinhas numa escola de arte. No entanto, elas não são fofinhas. São grotescas. E meninas grotescas a fazer o que quer que seja é grotesco. Então estamos na escola de arte e por isso o anime é feito à base de arte, com muitos padrões manga às cores e bolinhas amarelas ali encaixadas num friso ou algo que o valha. E agora....

Uma notícia escandalosa:

TER UMA ARTE DIFERENTE NÃO TORNA O ANIME BOM

Neste caso torna-o detestável.

14.12.21

Penguin Cafe

 

Penguin Cafe
Concerto

Fomos ver um concerto de uma banda chamada Penguin Café. Originalmente era Penguin Café Orchestra, mas o pinguim principal faleceu. Assim, a banda foi recuperada com um nome amputado pelo seu filho, constituindo um quinteto de cordas com piano.  

As músicas foram sobre pinguins imaginados. Os pinguins que são detectives, a preto e branco num filme muito noir, os pinguins que se salvam porque se mantêm juntos, os pinguins que nadam como zepelins debaixo das águas geladas do ártico. 

E de repente, para mim, esses pinguins tornavam-se cavalos, um casal de cavalos que corre por um campo verde, soltando a terra debaixo dos cascos. Eles provocam-se, empinam-se, escoiceam-se e mordem-se. Mas amam-se, pois essa é a maneira própria de amar dos cavalos. 

De repente esses pinguins tornavam-se uma luta, uma luta entre a rapariga mais forte do mundo (que não sou eu) e algum inimigo, inimigo que leva palmada forte abaixo do queixo, e que depois vê a sua cabeça a ser empurrada sucessivamente contra uma parede, até a parede rachar, até a cabeça se partir. 

Logo cavalos de novo. Romance equino, qual será a sua consequencia? 

Permitam-me, pinguins, imaginar algo diferente. Afinal, a música comunica por si só. 

 

Sora no Manimani

 

Sora no Manimani
Takamatsu Shinji - Studio Comet
Anime - 12 Episódios
2009
5 em 10

Um anime escolar, fatias de vida do dia a dia, com o tema de um clube de astronomia.

Excepto que neste anime fala-se muito pouco de astronomia e fala-se sobretudo de porcarias sem qualquer tipo de interesse. Trata-se de um anime de escola igual a todos os outros, com os mesmos conflitos e os mesmos acontecimentos, sem nada que o possa distinguir de settings semelhantes.

Apesar de a ideia de mostrar as constelações seja graficamente interessante, rapidamente perde o seu interesse por excesso de utilização.

Vale pela tentativa de explicar como se faz um planetário caseiro.

Evangelion: 3.0+1.0 Thrice Upon a Time

 

Evangelion: 3.0+1.0 Thrice Upon a Time
Hideaki Anno - Khara
Anime - Filme
2021
8 em 10

Protegi-me dos spoilers para poder ver o Rebuild of Evangelion sossegada e, para me preparar, revi os três filmes anteriores. Este vem como uma conclusão que é bem distinta do original, mas ainda assim bastante válida e poética à sua maneira.

Neste momento avançámos no tempo, é verdade, e os nossos personagens evoluíram de certa forma. A idade pesa e, com isso, o autor permite-nos um novo desenvolvimento das suas personalidades, que se reflecte nas acções do filme e que nos levam a um culminar de acção. O mundo está destruído e no entanto mantém-se uma certa esperança, uma tentativa de normalidade.

E desta vez, o nosso protagonista, personagem frágil, fraco e infeliz, consegue ultrapassar as suas limitações e encontrar a forma de "reconstruir".

Com uma animação estado da arte e uma banda sonora fenomenal, este filme é absolutamente imperdível.

Nota: acrescentei duas personagens aos meus planos do cosple D:

Sindbad no Bouken

 

Sindbad no Bouken
Kurokawa Fumio - Nippon Animation
Anime - 52 Episódios
1975
4 em 10

Na colecção dos WMT, temos esta secção dos Arabian Nights, do qual nunca tinha visto nenhum. No entanto, a história de Sindbad o Marinheiro é capaz de ser o pior anime do género que vi até agora.

Primeiramente, não consigo lidar com o facto de terem feito de Sindbad uma criança. Uma criança plenamente insconsciente, até, cujas acções não são fruto de nenhum talento ou inteligência mas, usualmente, de mero acaso. A mistura com várias outras lendas das 1001 Noites tira o foco das histórias de Sindbad, que deixa de ser um marinheiro para passar a ser.... O que quer que isto seja.

A animação, mesmo para época, é também muito fraca, embora por vezes haja opções estilísticas assustadoras e interessantes.

Portanto, foi um desapontamento completo.

Cair para Dentro

 

Cair para Dentro
Valério Romão
2018
Romance

Recebi este livro através do BookCrossing, numa actividade chamada Chuva de Livros.  Nesta chuva, todos os participantes enviam um livro as pessoas que fazem anos nesse mês. E em Setembro calhou-me a mim. Este foi um dos melhores presentes, pois Valério Romão é sem dúvida um nome a que devemos ficar atentos no momento actual. 

Este volume, penso que o segundo de uma trilogia, vem na mesma linha de Autismo, de que já falámos anteriormente. Também é um relato de uma doença, de uma doença sobre a qual não podemos exercer nenhum controlo, e as consequências que esta tem na vida familiar. 

No entanto, existe um outro detalhe que o autor explora e que torna este livro em algo de inacessível e erudito, tal é qual como eu gosto. A personagem principal tem uma espécie de poesia dentro de si, uma poesia incontornável, um romantismo inevitável, que a todo o momento tentam apagar, que a todo o momento a doença tenta dominar. 

Mas como controlar a poesia? 

Apenas acho que o autor não deveria ter usado citações para estes poemas, mas sim ter criado algo da sua própria imaginação. Talvez não fosse tão bom, não, mas sem dúvida que seria mais genuíno.