Gunda
Viktor Kossakovsky
Filme
2020
8 em 10
Quando pensamos em filmes sobre a
indústria da carne, surgem-nos sempre as pavorosas imagens do transporte
e abate que, terríveis, apelam para o nosso lado da suavidade humana
que odeia morte e violência. Mas “Gunda”, filme norueguês realizado por
Viktor Kossakovsky, coloca-nos uma diferente perspectiva.
Filmado a preto e branco, com uma banda sonora
composta exclusivamente de sons de animais e da natureza, este filme
mostra-nos a vida diária de uma porca e seus porquinhos, uma manada de
vacas e uma galinha perneta, numa aparente liberdade, com possibilidade
de exibirem os seus comportamentos normais. O filme é
extraordinariamente belo, com uma cinematografia comovente, mas o que o
distingue em absoluto dos outros filmes apologistas do vegetarismo, é a
naturalidade com que nos mostra a vida diária destes animais de produção
que, livres, conseguem ter uma vida aparentemente normal.
Com uma sensibilidade quase cruel, os animais são-nos
mostrados em todo o seu esplendor, com pequenas descobertas, pequenas
dúvidas, e o crescimento de uma família. Este filme demonstra de uma
forma concreta e silenciosa que, sim, os animais de quinta são também
seres sencientes, que – à sua maneira própria – também amam e também
querem ser livres.
Quis falar aqui sobre este filme porque penso que
deve ser visto, não tanto para a compreensão da indústria da carne, mas
para entendermos que aquilo que comemos esteve, realmente, vivo e que
também teve algum tipo de sentimento.