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31.3.14

Space☆Dandy

Space☆Dandy
Watanabe Shinichiro - Bones
Anime - 13 Episódios
2014
8 em 10

Um anime que comecei a ver só porque achei o nome giro. Revelou-se, por larga margem, o melhor da season.

De natureza episódica, relata as diversas aventuras espaciais de Dandy e seus companheiros, um alienígena e um robot. Cada aventura é única na sua natureza, desafiando a lógica e explorando os vários conceitos de física e, até, de filosofia. Cada episódio tem um tema, sendo que podemos encontrar tudo o que é passível de acontecer, do holocausto zombie a corridas de naves espaciais, passando por histórias emotivas, sobre o amor e a família. Não há tema que se repita, apesar dos lugares recorrentes, nave espacial e Boobies, o restaurante favorito desta trupe que se caracteriza por ter empregadas em trajes menores e, sobretudo, com grandes boobies.

Os personagens de sempre são únicos na sua natureza e perfeitamente caracterizados, apesar do seu teor não ser trágico ou pesado. São personagens de comédia que produzem gags nas suas atitudes naturais. Mas é isso o que os distingue como bons comediantes: as piadas não são forçadas e aparecem como característica essencial e una dos personagens, fazendo um trio dinâmico com uma química muito especial. Outros personagens que vão aparecendo ao longo da série têm características um pouco mais superficiais, sobretudo o gorila vilão, que poderia ser mais explorado. Talvez numa segunda season, quiçá? Quem dera!

Coisa verdadeiramente extraordinária é a arte. Uma explosão de cor e textura, com uma animação muito fluída e divertida, de quem sabe o que está a fazer mas decidiu simplesmente atrofiar com as situações. Existem alguns cenários extremamente originais, como o mundo de plantas ou o universo a preto e branco, em que o uso da paleta e do contraste se torna absolutamente delicioso. Vale a pena ver este anime na grande tv da sala e deixar os nossos olhos absorver tudo, pois existem momentos absolutamente hipnotizantes.

Finalmente, a música. Há muito tempo que não ouvia uma banda sonora tão boa. Tem a sua dose de açúcar, o que trás o bom humor a todo o ambiente, com algumas peças que, individualmente, são valiosas. A minha preferida foi a ED, por falar de tantos conceitos estranhos de maneira tão simples e boa-onda.

Uma comédia visual com temas tão vastos como o universo em que vivemos (ou outro). Sem dúvida um recomendado. Agora, fico ansiosamente à espera da segunda season.

30.3.14

Golden Time

Golden Time
Kon Chiaki - J.C. Staff
Anime - 24 Episódios
2013
6 em 10

Gosto sempre de, uma vez por outra, ver um anime romântico. A season passada, este foi a minha opção. E até foi engraçado, apesar de tudo.

Primeiramente, o ambiente em que se passa esta história é um pouco diferente dos shoujos habituais (podendo quase ser considerado um josei, talvez): passa-se na universidade. Tada Banri conhece Kaga Koko - não se riam do nome - e formam uma relação de rapaz x yandere que tem os seus momentos tanto emotivos como engraçados. 

Mas há algo que estraga o que podia ser uma história de romance leve e simpática: Tada Banri tem amnésia. Isto faz com que ele se sinta dividido entre outra colega de escola (Linda), que faz parte do seu passado, e Koko que será parte do seu presente. São estas dúvidas que não dão peso suficiente aos personagens para que a narrativa se desenvolva de forma calma e assertiva. Assim, tudo se torna numa amálgama de situações que não se encontram bem definidas dentro do contexto.

A arte é brilhante e apreciei muito a variedade de roupas e seus designs de Koko, a rapariga das modas.. No entanto os outros personagens pareciam demasiado simplificados, sobretudo no formato e cor dos olhos, que dava a todos - especialmente Banri - um ar mortiço.

Em termos musicais, tanto as OPs como as EDs eram agradáveis, se bem que um pouco histéricas demais para o teor do anime.

Mas foi uma boa experiência, embora não seja a minha primeira escolha para recomendar.

29.3.14

pupa

pupa
Mochizuki Tomomi - Studio Deen
Anime - 12 Episódios
2014
4 em 10

Um anime para o qual se gerou uma grande expectativa e que se revelou desapontante e inútil.

Primeiramente porque o que se esperava ser uma série de horror é apenas um conjunto de clips com dois minutos. A história, mal explicada e sem conclusão ou narrativa coerente, é a de uma miúda que se transforma num monstro canibal. Pelos vistos ela ama o irmão mais velho (nii-chan nii-chan) e come-o às dentadas, sendo que ele se regenera.

No final não passa de cenas de amor fraternal da miúda a comer o miúdo, tudo isto com uma dose demasiado carregada de censura que não permite nem o motivo violento actuar nem quase perceber o que se está a passar (não que haja muita coisa a passar-se)

Os designs têm uma tonalidade interessante, com uma textura própria. Também existem cenas da infância relatadas por ursinhos que poderiam dar uma perspectiva original à história, se existisse uma história.

em termos musicais, a OP e ED (que ocupam metade de cada episódio) são intensas e bonitas.

Infelizmente, nada disto compensa a ausência de narrativa e de desenvolvimento dos personagens. O conceito está interessante, mas foi muito mal executado.

Gin no Saji 2nd Season

Gin no Saji 2nd Season
Deai Kotomi - Aniplex
Anime - 11 Episódios
2014
4 em 10

Gostei muito da primeira season, como podem ver aqui. Detestei esta com todas as minhas forças! Como me puderam enganar desta forma?!

Ontem recomendaram-me que quando visse coisas que me irritassem (nomeadamente, a estupidez alheia [sic]) me afastasse. Mas no anime é impossível para mim afastar-me, eu simplesmente vejo tudo até ao fim porque sim e ninguém me impedirá. Enfim... Pensei em escrever uma crítica pejada de palavras horrendas e chamá-los a todos de filhos da meretriz, mas a verdade é que não vale a pena irritar-me coisas que não interessam a ninguém.

Pois bem, nesta segunda season descobri que o anime está mal. Como sabem, fartei-me de estudar para saber coisas sobre bichos. E tudo o que eles dizem acaba por estar incompleto ou ir completamente contra a coisas que são verdade, que já há 124234 estudos a prová-lo! Como posso eu levar isto a sério?

É certo que o drama humano é o que faz o anime, mas para ver drama humano via outro anime qualquer. O meu objectivo aqui era ver o drama animal. Mas ou o Japão é o país mais atrasado do planeta no que respeita a produção animal ou... O autor nada sabe sobre produção animal. De uma forma ou de outra, não passem estes conceitos como se fosse realidade, ainda para mais avisando o espectador que nunca deve ir a uma exploração para não apanhar doenças. Sim, porque quando vamos a explorações vamos certamente comer fezes às colheres.

Na animação não há nada de distintivo e há coisas que não podem ser possíveis, em termos de design, sem causar sofrimentos horríveis aos animais. Caricaturar é giro, mas caricaturar o sofrimento alheio já me parece de mau gosto.

A única coisa que ainda safa será a música, que é muito ligeira e divertida.

Um anime para esquecer e para esquecer que eu adorei a primeira season. Tanta excitação foi por água abaixo e risquei este anime da minha lista (de recomendados).

28.3.14

Samurai Flamenco

Samurai Flamenco
Omori Takashiro - Manglobe
Anime - 22 Episódios
2013
7 em 10

Este anime atraiu-me simplesmente por causa do nome. Como é que alguém pode ser um samurai e dançar o flamenco ao mesmo tempo? Série muito interessante, que vale a pena ver nem que seja só pelo conceito.

Existe um jovem modelo que, inspirado pelo seu avô, quer ser um super herói dos tempos modernos. Ele adora os super heróis, os sentais, aquele pessoal tipo Power Ranger que passa na televisão Japonesa a toda a hora para entreter a miudagem. Mas há um pequeno senão... Masayoshi não tem poderes! É só um rapaz normal! Mas, munido da sua farda, vai começando a ser um herói do dia a dia, impedindo as pessoas de fumar em sítios de não fumadores, salvando guarda chuvas e promovendo a reciclagem. Torna-se amigo de Goto, um polícia que o vai ajudando, e de Mari, uma menina mágica que tal como ele não tem poder nenhum.

À medida que o anime vai decorrendo, vão aparecendo estranhos inimigos, cada vez mais poderosos e o anime fica com cada vez menos lógica. Mas está tudo bem, porque no fundo continua a ser muito divertido.

Carregado de referências a essas séries da tradição infanto-juvenil, este anime é mais uma homenagem ao género do que outra coisa. A mensagem que passa é muito positiva, provando que todos nós podemos ser "heróis". O exagero das situações acresce à intensidade da comédia. Mas nem tudo é para rir. Existem cenas muito sérias, alguma violência física e psicológica. Isto adiciona à força da mensagem. No fundo, é um anime para aqueles fãs de super sentais, os de longa data, aqueles que cresceram ouvindo gritos de guerra e explosões de fumo em transformações heróicas.

A animação está interessante, existindo muitas cenas de acção bastante bem concebidas em que a podemos ver em todo o seu esplendor. O design das personagens traz um traço muito realista ao conceito, quase dizendo que "isto pode acontecer a qualquer um de vós".

Em termos musicais, a banda sonora é animada e cheia de energia, com algumas canções pop muito sorridentes.

Anime interessante para os fãs mais antigos.

The Hunger Games: Mockingjay

Mockingjay
Suzanne Collins
2010
Ficção Científica

Portanto, tirei a tarde porque fui trabalhar no sábado de manhã. São seis e meia e só agora estou em casa. Antes de avançarmos para os animes semanais que estão a terminar, façamos uma interrupção com tão famoso livro. É verdade, aqui está o terceiro volume da saga Hunger Games. Para saberem mais, leiam os comentários ao Primeiro e Segundo volumes!

Ora bem, que tenho eu a dizer? Depois do que eu gostei do primeiro volume, da impressão neutra do segundo... O terceiro só piora. Pois é... Agora o jogo é outro. De repente, Katniss vê-se envolvida numa guerra de rebeldes, numa revolução contra o sistema. Isto seria muito interessante, se não repetisse a fórmula anteriormente usada uma e outra vez, ao ponto de exaustão.

A personagem evolui da pior forma possível: regride. As suas fragilidades enquanto adolescente estão permanentemente em causa e, por culpa delas, a história desenvolve-se a um ritmo fastidioso, sem a emoção selvagem que caracterizava a personagem. Isto perde-se, apesar de compreendermos que esta moça já passou por muito na vida. Mas a verdade é que isso só revela como ela é fraca, pois não consegue ultrapassar as situações. Nomeadamente a situação Peeta vs Gale, que se demora demasiado tempo - ao longo de todo livro - apenas para terminar de forma apressada e sem muito fundo de lógica. Deu a impressão de que a autora tinha um limite de palavras e resolveu terminar com "e então passou-se isto e isto e fim"

Os novos personagens são muito pouco explorados e as revelações sobre os personagens antigos são demasiado inconstantes para serem levadas a sério. Da mesma forma, as descrições de paisagens e mortos (em geral) aparecem em excesso e acabam por cansar. O que realmente queremos é saber sobre a narrativa, não interessa muito sobre quem está a matar quem e como. Talvez o leitor de agora goste disto, mas o leitor de antigamente farta-se rapidamente.

Enfim, o terceiro volume desapontou, mas gostei da trilogia no geral. Acho que a ideia está boa e está bem escrito. Talvez seja um ponto de partida para o leitor jovem, se depois disto tiver vontade de ler outra literatura em universos distópicos que seja um pouco mais complexa. :)

24.3.14

Log Horizon

Log Horizon
Ichihira Shinji - Satelight
Anime - 25 Episódios
2013
6 em 10

Mais um anime que terminou agora. Este começou na Season de Outono e prolongou-se até agora, o final do Inverno.

Uma variação dos animes de acção, que alia a magia ao universo dos Roleplaying Games. Só joguei uma vez, Ragnarok, e gostei muito da ideia. Houve algumas coisas que identifiquei e que gostei, outras de que me lembrei e gostava de repetir... Em termos de sistema de jogo, houve muitas explicações que não caíram em saco roto e que ajudaram muito a perceber o anime e a apreciar os momentos de acção, integrados como estavam no jogo.

Mas fora esta pequena variação, trata-se de um anime de fantasia perfeitamente normal. Existem todas as classes que existem no jogo, formando uma party (festa?) constituída por elementos principais que também são transversais à maioria dos animes de fantasia inspirados neste tipo de jogo. O que mais gostei foi sem dúvida as linhas de dedução realizadas por Shiroe, o personagem principal, e a forma como ele as explicava de maneira a todos entendermos. Achei um pouco escusada a história amorosa, esse binómio, que correu em paralelo nos últimos episódios.

Este anime poderia ter beneficiado de uma animação mais cuidada e menos uso de expressões ditas "cómicas". Parece haver um investimento bem maior nas cenas de acção, que se perde nos outros episódios com mais diálogo e menos lutas, acabando por formar uma série bastante inconsistente.

Em termos sonoros, destaque para a OP bastante original. Efeitos e parênquima, nada que se note.

Acabou com vontade de continuar o que, segundo consta, irá acontecer em breve. Espero bem que sim, porque gostava de saber como realmente acaba a história.

Inari, Konkon, Koi Iroha.

Inari, Konkon, Koi Iroha.
Takahashi Tooru - DAX Production
Anime - 10 Episódios
2014
6 em 10

Primeiro anime da season a terminar, vamos lá! Confesso que tenho tudo solenemente desactualizado, mas a pouco e pouco vou conseguir terminar tudo mais ou menos nos tempos correctos.

Escolhi este anime para ver porque me pareceu ser fofinho e porque é uma temática que me agrada, a dos deuses do folclore Japonês. Inari é uma miúda feliz mas um pouco tímida. Por salvar uma pequena raposa de se afogar num rio, a deusa Uka dá-lhe um pouco do seu poder divino. Isto significa que Inari tem agora o poder de se transformar em quem quiser, gritando um motezinho e fazendo uns gestos com os dedos. Daí, mete-se numa série de confusões, quer no mundo real quer no plano astral.

O anime tem uma história muito querida, que no fundo é sobre fazer amigos e manter essas amizades. É uma série para meninas, da variedade das pequenas, mas por causa disso - a inocência e o tema tão simpático - acaba por ser uma experiência relaxante. Não temos cenas de acção, não temos uma grande história de amor, temos apenas a história de uma menina que faz amigos, sejam eles pessoas ou deuses.

A arte é suave, com imagens cénicas bastante bonitas. Dá muita vontade de nos perdermos num desses templos enormes e ver todo o mundo natural que se estende por eles. No entanto, a animação não surpreende. Poderiam ter feito algo extremamente bonito em alguns efeitos, mas o CG - apesar de bidemensional - não se aplicou muito bem à situação.

em termos de música, nada a apontar, nem positivo nem negativo. A voz da Inari pode ser incomodativa de quando em quando, porque é muito estridente.

Um animezinho curto e simpático. :)

21.3.14

Dareka no Manazashi

Dareka no Manaza
Shinkai Makoto - CoMix Wave Films
Anime - Curta Metragem
2013
7 em 10

Senhores e senhoras, meninos, meninas, cactos e plátanos, machos e fêmeas, hoje vamos celebrar! Este foi o *dundundundundun* MILÉSIMO ANIME! Pois é, cheguei ao ponto de não retorno.

Adiante.

Como é uma ocasião especial, e tal, tinha pensado em ver um filmaço todo jeitoso. Tenho uma série de filmes em standby para ver e decidi escolher um aleatoriamente. Calhou este e lá fui eu. Qual não foi a minha surpresa quando descobri que era uma curta de seis minutos! Mas não faz mal, porque é interessante, apesar de não passar de um spot promocional.

Em seis minutos sabemos tudo sobre a vida de Aya, uma rapariga que tenta singrar sozinha na sua independência. Fala da sua relação com o seu pai e na tristeza de ambos, pelas situações da vida e por não estarem um com o outro como antigamente. No fundo, é um relato da vida diária, fatia-de-vida de uma realidade tão verdadeira e presente. É extraordinário como os personagens são tão próximos de nós com tão pouco tempo de antena, mas foi feito um bom trabalho.

Bom trabalho esse que também se traduz na arte, não fosse o autor o meu querido Makoto Shinkai. Detalhada, luminosa, calma. Não é espectacular, como habitualmente, mas é muito agradável à vista.

Portanto, esta curtinha foi uma experiência muito boa. Foi um bom milésimo anime. Agora vamos voltar à programação habitual e avançar para o milésimo primeiro.

19.3.14

Livro Sem Ninguém

Livro Sem Ninguém
 Pedro Guilherme-Moreira
2014
Romance

Quando vou jantar com o meu pai (quase todas as semanas) ele tem o hábito de ir à Fnac. Costumamos ir ao Colombo, só por questões relacionadas com dentro ou fora de mão, e lá está ele na Fnac. Às vezes já ele comprou cinco livros quando eu chego, bem, a verdade é que quase sempre compra um, dois ou sete livros cada vez que lá vai. (Lê todos). Desta vez fui dar com ele na secção de Economia e ele revelou-me, com muita tristeza, que nesse dia não ia comprar livros. Então... Eu comprei um! Olhei para este livro e achei uma gracinha. Fui ler a sinopse, achei fofinha. Li algumas páginas, pareceu-me giro... E aqui está ele na minha montanha. Preciso mesmo de umas prateleiras novas!

Mas... Não há bela sem senão. É sem dúvida um livro muito atractivo, mas foi um pouco diferente daquilo que eu esperava. Vamos ver...

Este é um livro onde não há pessoas. Há poucos animais, muitas plantas e, sobretudo, os objectos das pessoas. É pelos movimentos dessas coisas que acabamos por perceber o que se vai desenrolando nesta rua onde cada casa tem uma cor. Ora, o grande defeito é que em cada casa vive um ser - que supomos que seja uma pessoa porque usa chapéus de chuva, óculos e sapatos, entre outros - que acaba por ser um estereótipo, daqueles feios. Temos os velhos, temos a adolescente grávida, temos ciganos, temos gays e uma pessoa que não se percebe muito bem o que é. A florista faz arte, no café vê-se quem morre (o café até parecia ser bom, com a sua variedade de chás, mas é um bocado tétrico). Ah e temos a origem de todos os males, que são os drogados. Foi esta a primeira coisa que não gostei: cada estereótipo está etiquetado com uma faixa de "bom" ou "mau". Para o autor, todos os ciganos são violinistas e todos os drogados são maus. E pelos vistos o autor também vive nos anos 90, porque os drogados andam a dar no cavalo ao lado das casas das pessoas.

Também pensei que o livro pudesse ser confuso, dado que não há exactamente personagens. Ou não deveriam haver. A verdade é que a cada personagem acaba por ser dado o nome de um objecto. A bengala, a gramática verde clara, o lenço aos quadrados, os sapatos vermelhos, os óculos azuis, as camisas negras. Cada um é o habitante de uma das casas. Para isso mais valia ter feito tudo com pessoas e ter-lhes dado os nomes de José, Manela e Isaura.

Gostei da descrição das mudanças na horta, embora me tenha parecido que para haver tanta vida vegetal a horta deve ser enorme. Mas foi essencialmente isso o que gostei. Porque de resto a história é vulgar, um crime passional, um acidente, um assalto. A sinopse dizia que através dos objectos se ia falar de intolerância e justiça e muitas coisas, mas isso é verdadeiramente impossível quando os personagens não têm a profundidade das pessoas reais.

Ainda assim, o problema pode ser meu. Vamos submeter o livro ao teste do BookRing!

O Baile

O Baile
Nuno Duarte e Joana Afonso
2013
Banda Desenhada

Quando esta BD ganhou os prémios todos do AmadoraBD, pensei que seria bom lê-la para me informar melhor (como o tenho vindo a fazer) sobre este universo aos quadradinhos. Mas quando cheguei à banca da Kingpin... Já estava esgotado! Mas houve uma segunda edição! Então fui à festa de lançamento, onde o comprei e me deram este belíssimo autógrafo:


Confesso que o tema "zombies no Estado Novo" não era algo que me atraísse. Mesmo assim, queria ler o livro e tirar a prova por mim mesma. Não me podia ter surpreendido mais... E pela positiva!

Rui Brás tem a triste sorte de ser inspector da PIDE. É enviado para um vilarejo onde algo estranho se está a passar... E descobre o que realmente se está a passar. Um policial com um twist de terror fantástico, muito bem localizado no tempo e no espaço. Começo pelo personagem principal: ele poderia ser apenas um mocinho mascarado de vilão, mas tem mais profundidade que isso. De forma breve mas enxuta, é-nos dado a conhecer o grande descontentamento deste inspector e a sua falta de motivação. Não é que seja um homem bom, mas é um homem como todos os homens e tem a sua fraqueza no sofrimento dos outros. Daí que faça muito sentido a sua tentativa de proteger os habitantes da aldeia e a acusada de feitiçaria que se tornará sua protegida.

Os outros personagens são tipicamente portugueses, nos seus hábitos e - sobretudo - na sua linguagem. A linguagem vernacular invade todo o livro, colocando-nos como mais um estranho na aldeia, tal como Rui Brás. Em termos de personagens, o vilão (que não poderei revelar para não tirar a graça ao livro) está desenvolvida de maneira muito especial, notando-se o cuidado em lhe dar traços de personalidade que se coadunam mais tarde com as razões pelas quais ele está a fazer mal à vila. O mal, são os mortos que vêm do mar. Zombies marinhos, portanto. Aí está uma forma original de pegar no assunto dos zombies, tantas vezes repetido e espezinhado que acaba por chatear.

Nada isto seria possível sem uma arte detalhada e muito própria, com traços fortes nos personagens, quase caricaturais da figura humana. Integram-se perfeitamente nos padrões e cores dos fundos, criando um ambiente de horror quase infernal na pequena aldeia onde se passa a história.

Ah, e adorei a dica das musicas que passavam na rádio!

Realmente, uma bd excelente!

alguém desarruma estas rosas e outras estórias

alguém desarruma estas rosas e outras estórias
José Carlos Fernandes
1997
Banda Desenhada

Livro que comprei no AmadoraBD porque era só 3€ e o título fascinou-me.

A minha primeira impressão: deveras fascinante. Cada história levava-nos para um universo onde a lógica é desconhecida, numa tonalidade onírica apenas fundamentada pela sequência de imagens. Os desenhos, detalhados e realistas, apesar da característica cartoonistica que identifica o autor, o que dá uma energia a cada "conto" apenas superada pela qualidade das histórias.

Estas, como disse, entram no campo do surrealismo. É-nos apresentada uma situação que, no final, se revela como parte de uma realidade paralela. As minhas histórias preferidas foram logo a primeira, sobre a casa de uma namorada cheia de coisas estranhas, e a que dá o título ao album, uma pequena interpretação da morte.

E lá estava eu a pensar "mas que genial, nunca pensei que houvesse disto, que bom que comprei este livro!" quando vejo as notas finais. Quase todas as histórias... Não são originais. São bedêzações de contos de autores clássicos. Por isso não admira que fossem geniais... Mas o génio está no autor? Ele desenhou a visão que tinha dos contos, mas desapontou-me que não tivessem vindo da sua cabeça.

Ainda assim, acho que vale a pena ler e reler, porque é extremamente divertido e digno do (ainda em manutenção) Tripanário.

17.3.14

É de Noite que Faço as Perguntas

É de Noite que Faço as Perguntas
David Soares, Jorge Coelho, João Maio Pinto, André Coelho, Daniel da Silva e Richard Câmara
2011
Banda Desenhada

Este, recebi-o no BookCrossing. Para variar, alguém fez u7m ring, no tema dos autores portugueses, de Banda Desenhada. Inscrevi-me logo!

Apesar de já ter uma paixão pelo autor, não posso dizer que tenha apreciado muito este album. Segundo consta, na introdução, convidaram David Soares a falar sobre a primeira república, a ser desenhada por cinco autores diferentes.

Cada autor tem um estilo muito próprio que acho que se integra muito bem no tempo-espaço da narrativa. Não gostei muito do último, pois achei o estilo demasiado rascunho para se adequar ao ponto final da história. Depressivo é, certamente, mas coloca um ponto final muito difuso e, parece-me, pouco conclusivo.

Agora, para mim o grande problema reside na história. Tudo isto pareceu-me mais uma narrativa de factos históricos do que a experiência real de uma pessoa real. O facto de repetidamente aparecerem as páginas da carta ao filho foi uma insistência que me desconcentrou e irritou. A verdade é que a história da primeira república deve ser celebrada mas não é especialmente emotiva ou interessante, sobretudo com a sucessão de nomes, uns atrás dos outros, que mal reconhecemos, mal aprendemos isto na escola e o livro não é claro na explicação.

Desapontou-me, mas não será por isso que desistirei de tão excelente autor.

O Pequeno Deus Cego

O Pequeno Deus Cego
David Soares e Pedro Serpa
2011
Banda Desenhada

Livro que comprei no AmadoraBD apenas para repetir o autor.

Um livro simples que é muito mais do que aquilo que aparenta. Fala sobre uma menina (ou um menino?) sem olhos que procura uma resposta para o seu problema. Encontra o caminho com a ajuda de um velho sábio, que parece mover-se através dos tempos. Dado que o seu acompanhante, o urso panda, não pode ser real (panda carnívoro), atrevo-me a imaginar que esta visualização não passa de uma imaginação infantil, resposta ao facto de não se poder ver e de se encontrarem coisas para além do que os olhos podem captar.

Há um encontro com um dragão, um monstro. Imaginação? Talvez também o seja. Mas o monstro é de uma graça interessantíssima, cheio de humor e de inseguranças que podem reflectir também os desejos ocultos da figura materna. Talvez o monstro seja, efectivamente, a mãe. É através da inocência, do que não vê e nada esconde, que essa figura é enfrentada e acaba por se autodestruir.

Interpretações à parte, é um album muito interessante, cheio de detalhes - tanto na narrativa como no desenho - que transmitem um certo ambiente de misticidade que não pode ser ignorado nem ultrapassado. A utilização das palavras é de mestre: a história assustadora transforma-se num exercício de humor e de espanto, página a página.

Fico feliz por ter adicionado este livrinho à minha pequena, mas crescente, colecção. :)
 

A Morte Feliz

A Morte Feliz
Albert Camus
1936
Romance

Nunca tinha lido Camus. Assim, quando apareceu a oportunidade no BookCrossing de receber este livro, fui logo a primeira a por o dedo no ar! Diziam os comentários no site que este não seria o melhor livro dele e que toda a gente estava desapontada. Também que não era o melhor para começar. Mas achei precisamente o contrário. A verdade é que adorei o livro e tornou-se bastante especial para mim. Espero poder ficar com ele. Li-o de uma assentada no comboio para o Porto (como verão, mais livros virão e eu rimei)

Este livro fala da depressão. Um jovem que se sente inadaptado na sua cidade e na sua época, acaba por assassinar um conhecido que tem muito dinheiro, roubando-lhe a fortuna e viajando pela Europa. Na sua viagem, apenas encontra mais angústia, decidindo mudar-se para perto do mar, onde é assolado por uma misteriosa doença que acaba por lhe ceifar a vida.

Isto tudo poderia ser quase um Crime e Castigo, excepto que este livro não explora os conceitos de arrependimento e redenção. São significantes os locais e os objectos que o personagem encontra nas suas viagens, cada um deles representando algo que o atormenta e lhe perturba o sistema biológico, levando ao desenvolvimento da doença que acaba por o matar e encontrar a paz. Essa paz será motivada pelo encontro com jovens raparigas numa casa de onde se vê o sol, lugar que representa a calma e o regresso à inocência primitiva. Talvez o facto de não se ter falado da infância do personagem tenha ajudado nesta afirmação.

O livro é leve, bem escrito, sem forçar o conteúdo depressivo. Apenas acompanhamos a viagem do homem, com o seu declínio e finalmente a recuperação, com toda a naturalidade.

No geral, gostei mesmo muito e recomendo. Agora estou cheia de vontade de ler mais deste autor.

14.3.14

Memória das Minhas Putas Tristes

Memória das Minhas Putas Tristes
Gabriel García Marquez
2004
Romance

Um livro que fizeram o favor de fazer circular no BookCrossing. Era uma oferta, mas eu fiquei com tanta pena de não ter ficado com ele que acabaram por fazer um bookring. Viva! Viva!

Como saberão (ou não, acho que não li nenhum livro deste autor desde que tenho este espaço) eu adoro positivamente o senhor Gabriel. Acho-o super fofinho e adoro ler os livros dele, porque são fascinantes e muito divertidos. Não nos temas, os temas são sempre tristes, mas a escrita é perfeitamente deliciosa.

Neste livro, Gabriel disserta um pouco sobre a velhice. É o seu último livro e parece-me uma boa ocasião para falar sobre o assunto, que o deveria atormentar na altura. Um velho de 90 anos decide, no seu dia de aniversário, regalar-se com uma prostituta virgem. Ao entrar no seu quarto, ela está a dormir. E continua sempre a dormir. Daí se desenvolve uma história de amor, estranha mas muito pura.

O que distingue esta história é que o personagem, idoso e sozinho, nunca tinha aprendido a amar no passado. Nunca teve mulher, apesar de terem passado centenas de mulheres na sua vida. Nunca se tinha apaixonado. É perante a inocência e o medo da adolescente que ele aprende o que é verdadeiramente amar outra pessoa, desesperar-se por ela, apesar de a rapariga não ter nenhuma acção directa na sua vida e nunca trocarem uma palavra.

A escrita é, como sempre, fluída e cheia de charme. A melancolia está muito presente e toca profundamente no coração do leitor.

Um livro que gostava que o meu pai lesse, por isso acho que o vou comprar para lho oferecer. :)

13.3.14

Assassinatos na Academia Brasileira de Letras

Asssassinatos na Academia Brasileira de Letras
Jô Soares
2005
Policial

Recordam-se do Jô Soares. Aquele amiguinho gordinho da televisão brasileira, que tinha sempre piada! Pois bem, quando vi um livro dele (aliás, dois) na lista que me mandaram fiquei com curiosidade de o ler. Revelou-se um senhor extremamente culto, além de revelar com classe o seu bom-humor que sempre o caracterizou.

Este livro é um policial passado no Rio de Janeiro dos anos 20. Um a um, membros da Academia Brasileira de Letras vão sendo assassinados por um misterioso envenenador. Há muitas pessoas, muitas mulheres atraentes, um anão, um médico legista e muitas coisas muito engraçadas.

Mas o que é a Academia Brasileira de Letras. Pois bem, a quem não sabem, é como se fosse um "clube" que reúne os melhores escritores brasileiros, a nata da intelectualidade. Mantém-se até hoje e tem nomes importantíssimos. É quase certo que se um escritor pertence a este grupo, a sua obra é de génio. Mas, revela este livro, nem sempre terá sido assim... A obra revela todo um universo de corrupção e de venda de favores em troca de um lugar na prestigiada Academia, para além da leviandade de seus membros que não têm mais nada com que se entreter do que tomar chá e participar em grandes festanças sociais.

O personagem principal, comissário Machado Machado (assim chamado por o seu pai, Rubino Machado, ser grande apreciador e fã de Machado de Assis) está muito bem construído, com um detalhe primoroso nas suas acções e personalidade. A forma irónica como aborda os factos torna-o cativante, tudo isto polvilhado com uma pitada de Machado de Assis. Porque Machado Machado conhece bem e cita a sua obra integral. Não apreciei, no entante, as suas capacidades infalíveis de galã. Pareceu-me exagerado que atraísse mulheres lindíssimas ao primeiro contacto, ao primeiro olhar, a ponto de se reproduzirem cenas eróticas em vários pontos do livro que em nada contribuem para a história.

Também não contribuem para a história, mas têm o seu quê de engraçado, as reflexões sobre cada uma das personagens que é apresentada, com detalhes sobre a sua vida privada. No entanto, é maneira de os conhecermos e de os colocarmos o retirarmos da lista de suspeitos.

O mistério mantém-se até ao fim, com muitas pistas ocultas que requerem um grande conhecimento de literatura para fazer uma dedução lógica antes do tempo. O assassino é totalmente inesperado e de uma loucura irrepreensível, simplesmente de tão cómica que é.

Agora estou desejosa de ler o outro livro que tenho dele. A linguagem transporta-nos para a época de todas as coisas com classe, os loucos anos 20, e o autor demonstra um seguro uso da palavra. Gostei muito e é para repetir.

10.3.14

Coisas que Acarinho e me Morrem Entre os Dedos

Coisas que Acarinho e me Morrem Entre os Dedos
Dulce Maria Cardoso
2012
Conto

Ora bem, com a adição do Kobo na minha vida, este blog agora terá mais uma vertente literária. A dos contos. Eu não tenho por uso ler contos que encontro na net, apesar de gostar que leiam os meus, simplesmente porque gosto de separar os meus momentos de leitura dos meus momentos de estar na net. Mas agora com o bicho digital, posso lê-los nos meus espaços de leitura (autocarros, mesa do trabalho à hora de almoço, etc.) Assim, escrevo aqui um apelo-barra-oferta:

Novos escritores, enviem-me os vossos contos ou e-books e eu terei todo o gosto em lê-los. A leitura poderá não ser imediata, porque as minhas escolhas do "próximo a ler" são bastante ecléticas, mas serão lidos mais tarde ou mais cedo. E, para mais, irei comentá-los neste espaço e poderão usar isso como crítica (construtiva, espero eu). :) Por isso, bring it on!

Sobre este conto: foi a minha primeira experiência com esta autora tão aclamada. Gostei bastante e fiquei curiosa em relação às suas outras obras. É um conto muito moderno, que faz referência aos nossos hábitos do agora. O de acordar e ir à net, o de perder tempo e estar na net. Também reflecte sobre a ansiedade que nos assola e que nos provoca isolamento e na relação que a informação que encontramos online tem com o facto de não conseguirmos conhecer as pessoas.

É isso o que é importante, talvez a ideia que tinhamos das pessoas antes de as conhecermos, e que se perde por entre os dedos. Assim, o conto é muito forte e muito triste. Ficará certamente na memória e mal posso esperar para ler mais da autora!

Frozen

Frozen
Chris Buck e Jennifer Lee - Disney
Animação Ocidental - Filme
2013
6 em 10

Aos Domingos, por vezes, muitas vezes, fazemos um piquenique ou um passeio ou props de cosplay. Este que passou fomos para casa de um amigo ver o Frozen. O filme já me causava certa irritação, por causa da abundância sem paralelo de jpgs e gifs e ficheiros de som que populam todo o Tumblr. Mas também por causa desse excesso, tinha certa curiosidade em saber se o filme era realmente assim tão bom.

Não é. Não é sem razão que há quem diga que a Disney perdeu a magia. Se calhar fomos todos nós que crescemos... Enfim, o filme tem os seus momentos, mas de resto não tem grande coisa onde pegar. Começa logo pelo epíteto de "baseado na história da Rainha da Neve". Ora bem... Eu adoro a história da Rainha da Neve. Mesmo. E este filme, de Rainha da Neve, tem neve e rainha, mais nada. A história é tão bonita, porque é que fizeram algo completamente diferente? A inspiração? Nenhuma!

A história é simples, a causa e efeito do amor fraternal e da relação entre irmãs. De certa forma, o filme distingue-se por dar um certo poder ao amor entre as duas, a capacidade feminina. As princesas não são frágeis, apesar de serem puras e inocentes. Ainda assim, acho que o Tumblr anda a ler demasiadas coisas entre as entrelinhas... Não creio que o filme seja representativo de feministas ou doenças mentais (apesar de haver um personagem com uma rena que é esquizofrénico).

A arte é plástica, bem modelada, mas a paleta de cores é extremamente aborrecida. É tudo demasiado azul, não havendo aproveitamento das várias imagens de paisagens nevadas. Bem, eu só vi neve uma vez, mas já vi fotografias e os campos gelados não são assim tão monótonos.

As músicas... Demasiadas. Esta gente está sempre a cantar e como são feitos por computador parecem pessoas e isso é estranho. Pareceram-me todas parecidas umas com as outras e ficaram-me na cabeça... Mas todas misturadas. Por isso tenho andado a cantar "LET IT GO LET IT GO THE COLD NEVER BOTHERED ME ANYWAY DO YOU WANNA BUILD A SNOWMAN"

Em resumo, o filme parece-me sobrevalorizado, apesar de ter os seus momentos. Gostei imenso do Olaf, apesar de ter pensado que ele me ia irritar. A verdade é que é um bonequinho bem simpático.

Caim

Caim
 José Saramago
2009
Romance

Apetecia-me ler um livro do Saramgo. Tinha saudades do seu humor tão especial e das palavras todas que ele sabia. Tinha este no Kobo e assim foi.

Uma reinvenção do Antigo Testamento da Bíblia, requer algum conhecimento prévio das histórias originais. Por isso, às vezes dou graças ao facto de ter andado tantos anos num colégio católico. Tudo começa com a criação da humanidade, Adão e Eva. Depois Caim e Abel. Caim mata Abel e deus condena-o a viajar pelo mundo sem destino. O que deus não percebe é que Caim começa a vaguear entre o passado e o futuro, entre os vários presentes, e assiste a todas as coisas que deus faz, concluindo que as faz injustamente.

Assim, Caim é - como personagem - a "consciência" de deus, aquele que vê e tenta impedir as coisas terríveis que foram feitas em nome do poder divino e da sua manutenção. De Sodoma e Gomorra até ao Dilúvio Universal, Caim vê, toca e critica todas as coisas que deus faz, discutindo com ele e com os seus anjos até ao fim dos tempos.

Caim serve como a voz humana às injustiças divinas. Rejeitou deus ao início e cada vez mais, de forma inócua e natural, recusa que ele seja o gerador do amor. Considera, na verdade, que deus é o gerador das guerras, as maiores e as menores, e que sem ele estaríamos todos melhor.

Isto é, o personagem é a voz do autor. É uma auto-inserção por forma a criticar o que Saramago entendia pelo exagero da religião e todos os problemas que daí advêm.

Facto é que o livro é extremamente divertido e muito bem escrito. Não será a obra prima do autor (mas é a última), mas vale a pena ler só pelo factor de entretenimento.

Senya Ichiya Monogatari

Senya Ichiya Monogatari
Osamu Tezuka - Mushi Productions
Anime - Filme
1969
8 em 10

Para marcar um momento importante, decidi ver um filme. O filme teria de ser bem escolhido, por isso pensei em ver um clássico esquecido. Já me tinham dito coisas estranhas sobre esta obra e queria saber o que realmente se passava com ela. Afinal, o momento importante deverá acontecer com outro filme, por um engano que ainda não compreendi bem. Mas vamos falar agora sobre este.

Ambiente surreal, estas 1001 Noites são uma alegoria para a vida moderna e para os desejos do homem actual. Temos de ter em consideração a data em que este anime foi feito: existem miríades de influências hippies e avant-garde, que aparecem tanto na história como na arte.

Falarei primeiro da história. Um vendedor de água em Bagdad apaixona-se por Miriam, uma escrava. Depois, vive estranhas aventuras pelo universo de influência árabe. Cada uma das aventuras pode ser representativa de algo para a vida normal, servindo como metáfora aos desejos de cada pessoa. A componente sexual é muito forte e explícita, apesar de não ser gráfica (como veremos depois). A luta pelo poder, o desejo de vingança, as dependências, tudo está simbolizado através de objectos, como animais estranhos e objectos mágicos, ou pessoas, outros personagens. No final, temos uma conclusão de que o ser humano é sempre um ser mutável e adaptável e que tudo poderá correr bem se nos mantivermos com sentimentos positivos, o sentimento flower power que grassava na época.

Tudo isto é atingido por uma capacidade artística cheia de detalhes. O bizarro é atingido pela paleta de cores, pelo uso variado de texturas, mistura com imagens reais de paisagens e assim por diante. Existem algumas sequências, nomeadamente as relacionadas com a actividade sexual, que são estranhamente brilhantes, pois demonstram de forma nada gráfica o erotismo da situação, tornando o filme apropriado a todas as idades.

Falando em todas as idades, o filme peca pela infantilidade de alguns momentos. Existem muitas piadas, verbais e estruturais, que por vezes calham mal, sobretudo ao início. A partir do meio do filme, parece que nos habituamos ao ritmo e acabamos por sorrir com as feitas e desfeitas de Alladin, o nosso personagem.

Uma nota especial para a música: o tema é recorrente, mas é excelente. Com uma clara influência progressiva, molda-se em cada situação e fica sempre bem.

No geral, um excelente filme que recomendo. É uma pena que todos se esqueçam destes clássicos, que nos deram tanto e nos fizeram chegar aos dias de hoje.

4.3.14

Maria Sama ga Miteru

Maria Sama ga Miteru
Kato Toshiyuki - Studio Deen
13 + 13 + 13 Episódios + 5 OVA + 13 + 13 + 5 + 13 Specials
2004
7 em 10

E o ritmo de uma série por semana concretiza-se imediatamente. É isto o que da ter o dia de Carnaval para fazer nada! =D Demorei algum tempo com isto porque são quatro seasons, cada uma com specials de um minuto. Vou falar, neste comentário, na minha impressão geral da série, pois as seasons completam-se como um todo, dando uma conclusão à história (que ainda poderia continuar, apesar de tudo)

Fatia-de-vida, acompanha os dias de um grupo de raparigas numa escola católica feminina, Lillian. Não é um grupo de raparigas quaisquer, mas sim as "rosas" da escola, a Associação de Estudantes. Nesta escola, há um sistema senpai-kouhai que se baseia em "irmãs": as estudantes mais velhas escolhem uma "irmã mais nova", que acompanham e protegem ao longo do seu percurso escolar. Esta relação baseia-se em respeito e carinho, também num amor fraternal. Isto é tudo muito bonito, apesar das nuances amorosas com tendÊncias yuri que pontuam os momentos, sendo por vezes muito evidentes e essenciais ao desenvolvimento dos personagens. Mais uma prova de que este tipo de anime não é uma coisa má e que eu fiz muito mal em evitá-lo durante tantos anos por razões perfeitamente idiotas.

As personagens são únicas. Cada uma tem uma característica que a define em relação ao resto do grupo, mas não estão limitadas a uma categorização. Olhando para o conjunto, temos um grupo de raparigas muito humanas, apesar da sua inocência. Este elemento torna todas as relações extremamente puras e não há qualquer tipo de maldade em nenhum momento da série.

A arte não é muito boa, com excepção para a terceira season. Como são OVAs, o investimento terá sido mais cuidado. Não existem grandes cenas de acção que possam mostrar a qualidade da animação e os designs das personagens não são muito originais. Nota para as "várias caras de Yumi" (facto que me referiram quando anunciei que ia começar a ver a série), que a distinguem em relação às outras personagens.

A música é muito calma, com excepção das OP e ED da quarta season, trazendo uma aura de inocência religiosa como tema principal do anime.

No geral, dou-lhe uma nota um pouco acima da média. Foi uma experiência relaxante e interessante, que posso recomendar.

K-On!!

K-On!!
Yamada Naoko - Kyoto Animation
Anime - 26 Episódios
2010
6 em 10
 
Olá! Há quanto tempo! Há séculos! Há milénios! Bem, nem tanto assim... Há cerca de dois meses que não falava aqui de anime. Estou numa desorganização perfeita e está a ser muito difícil acompanhar as séries semanais e ver coisas novas. Mas agora foi colocar-me num regime de cerca de "um anime por semana" e talvez volte a um ritmo mais normal para mim. Nada como antigamente. Trabalhar, dormir, viver... Tudo me ocupa muito o tempo. Mas vamos lá falar sobre uma coisa diferente!
 
Como se recordarão, eu não gostei mesmo nada da primeira série deste anime. Assim, foi sem grande motivação que comecei a ver esta instância, para o meu clube elitista. A verdade é que, feitas as contas, me surpreendeu bastante pela positiva.

O anime é um fatia-de-vida no seu estado mais puro: segue a vida diária de um grupo de raparigas fofas, não muito espertas, adolescentes sem muito interesse para a grande escala das coisas. No entanto, é a sua "normalidade" que dá um toque de diversão a tudo. É um anime calmo, em que não se passam muitas coisas, mas desta vez temos alguns momentos emotivos, que - devido às minhas experiências na fase da vida dos personagens - me tocaram muito.

Se as personagens não têm nada de especial sobre elas, as suas relações têm consigo uma carga muito verdadeira, sobre as dúvidas e medos que existem nesta fase da adolescência. O que fazer quando terminar a escola, o que fazer aos meus amigos... No final, são interacções engraçadas e amorosas, quase relaxantes. Por isso, soube-me muito bem ver este anime, já que relaxamento é uma coisa que está em falta em mim.

Outro aspecto que me fez gostar muito mais desta season, foi a música. Desta vez temos muito mais música, dividida entre concertos e espectáculos. Toda ela variada e toda ela interessante, um pop simples e cativante. Vou sacar a banda sonora, é verdade.

No geral, uma experiência bastante positiva e que recomendo a quem quiser umas horinhas divertidas.

3.3.14

Cosplay Photoshoot #11

Cosplay Photoshoot #11

Olá! Há quanto tempo! Há séculos! Há milénios!

Pois é, há milénios que não ia a um evento... Trabalho, vida, trabalho, dormir, dormir, estou com a cabeça toda às voltas. Mas agora já estou a atinar melhor, por isso podem contar comigo para os próximos!

Mais um ano, mais um Photoshoot. Tudo começa algures em Setembro, quando inicio o projecto do meu novo fato. Para levar ao Photoshoot, claro. Mas, como esta menina é uma taralhoca da cabeça, foi-se adiando, adiando, preguiçando e tal... E esta semana foi uma roda viva a terminar o fato e a ir buscar as coisas que foram feitas na oficina, andar para trás e para a frente a comprar as coisas que faltavam, oargh! Em breve colocarei todo o processo do meu fato no meu Cosplay Portfolio, caso tenham curiosidade em saber como foi feito. :)

Enfim, deitei-me cedo para descansar (como faltava descanso em mim!), acordando cedo e refrescada como um trinaranjus. Após um belo almoço de esparguete à bolonhesa (ah, podia comer isto todos os dias!) enfiei-me no autocarro com o saco do Pingo Doce cheio de tralha cosplayistica e depois mudei em Sete Rios para o metro e... Mas porque é que eu estou a falar disto que não interessa nada?

Adiante!

Com medo que o fato se desfizesse pelo caminho,  decidi vesti-lo no Vasco da Gama. Como ás da inteligência que sou (...) fui para a casa de banho mais refundida, onde não estava ninguém para me perturbar. O fato não se desfez ao longo do dia. Aliás, partiu-se um ponto no ombro, mas não abriu nada. Significa que me serve e que não está assim tão mal, né?

E que cosplay era? Utena! Já tinha feito a versão Rose Bride, mas o uniforme era a versão que eu mais queria fazer. Ora, estava eu a andar Vasco da Gama fora quando vejo, em frente de um multibanco, nada mais nada menos que... Outra Utena! É claro que tinha de falar com ela! O fato dela estava super giro, muito mais limpo que o meu e mais engomado também. Fartámo-nos de rir quando olhámos uma para a outra e foi realmente um momento engraçado... A moça foi super boa-onda. :)

Avancemos para a parte da foto. O Zé Gato, fotógrafo de serviço, e o Moamô, chaperon de serviço, chegaram com algum avanço. Mas assim que fomos para a foto, ainda faltavam uns 20 minutos para as 15:00, já estava toda a gente preparada para o momento do êxtase... Foi uma foto super rápida e, como começou antes do tempo, mais rápida pareceu... Teria sido a chuva, suponho. Aliás, a chuva fez fugir muitas pessoas. Não compareceu o número habitual de gentes mascaradas e ninguém vi tirando fotos pelo Parque das Nações. Na volta, descobrimos todo o mundo encarcerado dentro do centro comercial...

Pelo meio de dedos (das mãos e dos pés) de conversa, tirámos algumas fotos. Agora, a parte triste... Não tenho nenhuma. Nem as que me tiraram, que foram poucas, nem as que o Zé tirou. Vou explicar: a portentosa máquina do Zé estragou-se. Então, para a photoshoot, levou duas analógicas e uma digital com menos qualidade. Tirou as fotos do pessoal com uma das analógicas mas... Eram 36 fotos. O rolo não acabou. Para termos essas fotos, temos de revelar o rolo. E o rolo tem de estar cheio. Mas eu PROMETO, JURO PELAS ALMINHAS TODAS DE QUE TOMO CONTA! Vou por aqui as fotos assim que as tiver e vou partilhar o link outra vez assim que tiver as fotos e elas estiverem aqui. Tá? *-*

 Atenção, trago uma novidade sobre as fotos!

E são más notícias. Por favor não matem a mensageira, que sou eu. Pois bem, a máquina das fotos do pessoal era muito antiga. Fomos fazer um mini-piquenique para acabar o rolo mas... Quando o Zé o retrocedeu e se abriu a máquina... BAM! Rolo queimado! Todo enroladinho num canto tipo harmónica. As primeiras seis fotos, que eram do evento, tinham morrido. Mas podia ser que ainda se pudessem salvar as outras, caso fosse para cuidados intensivos. Após horas de cirurgia, a conclusão não podia ser pior... Queimaram TODAS as fotos! ;___________; Fica a lição aprendida, mais fotos naquela máquina satânica non... Desculpem. Estou um pouco triste porque tinhamos tirado fotos menos giras... Eu e a outra Utena, eu a lutar contra um chupa-chupa, a matar a Amy Winehouse, o homem aranha com o mini aranha... Enfim, ficarão só na memória...

Chovia. Chovia e portanto chovia e estava molhado. Húmido. Assim a dar para o desagradável. Mesmo assim, como semos uns bichos cheios de toda a coragem, rimo-nos face ao perigo e lá fomos tirar outro rolo de 36 fotos pelo Parque das Nações. Apesar de não nos termos afastado muito, fartámo-nos de andar. Se quiserem ver o resultado, vejam o álbum da photoshoot:


E, se quiserem, podem ajudar-me a escolher uma foto para mandar para o habitual concurso de fotografia... ^_^ As fotos estão estranhas, com artefactos e granulado, por causa do analógico e do tempo. Ainda assim, achei que ficaram com um aspecto giro e surrealista, daí ter chamado à Shoot "Sonho de Chuva". Acho que o ambiente combina bem com a Utena também.

E como não posso deixar um post deste calibre sem fotos, fica aqui a foto do nosso encontro imediato do primeiro grau com um senhor bizarro que pediu uma foto comigo. Olhem bem para a cara dele e imaginem isso ao pé da vossa cara. Foi tão assustador como hilariante... Fica a recordação:


Enfim, foi muito giro encontrar toda a gente e ver cosplays às cores, de todas as cores! Agora vêmo-nos de novo no Anicomics (ou antes? Se calhar... :p). E eu vou por aqui as fotos! A sério!

Enquanto não estão prontas, tenham um dia muito feliz!