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29.6.13

Kamikaze Girls

Kamikaze Girls
Novala Takemoto
2002
Romance

Provavelmente a maioria de vós que segue este blog conhece alguma coisa da cultura pop Japonesa. Assim, já se terá deparado com um estranho filme sobre uma lolita, Kamikaze Girls. Ou quiçá com um manga. Eu deparei-me primeiro com o manga. Gostei tanto que fui ver o filme (que é um live-action, não é anime. E é estranhamente genial, à sua maneira). E agora, levada por uma inspiração que desconheço, li o livro. Decidi comprá-lo sem pensar e entre a edição mais barata - cuja capa está acima - e a edição especial em capa grossa.... Bem, fui pela mais barata.

Já me devem ter ouvido dizer coisas sobre lolitas por aqui e ao vivo. Normalmente não são coisas muito positivas, pois a verdade é que é raro uma pessoa vestida com este ensemble me tratar bem. E a verdade é que alguns de vós saberão que eu tenho um sério qui-pro-quo com um elemento importante e famoso da comunidade lolita Portuguesa. História essa que já correu o mundo e já se transformou em rumor. Um rumor tão desenvolvido que envolve roubar e queimar vestidos, da última vez que eu o ouvi? História longa feita curta, sentimentos foram magoados e a pessoa que eu considerava a minha melhor amiga desapareceu da minha vida sem deixar rastro. As únicas coisas que sei sobre ela neste momento são as que oiço de amigos de amigos de amigos e as suas aparições em lugares de fama. Para que conste, as histórias que oiço de amigos de amigos de amigos são preocupantes. Mas é estranho, este sentimento, por um lado eu quero saber e preocupo-me, por outro lado digo "estou-me a cagar" e continuo na minha, sem fazer qualquer tipo de esforço para a encontrar, para falar com ela, para lhe dar novidades das outras pessoas que a consideravam como amiga. Isto se ela quiser saber, claro. A verdade é que foi uma pessoa muito importante para mim e que eu fiquei mesmo muito triste por ter desaparecido da minha vida. Talvez não pareça ser assim, porque eu sou o tipo de pessoa que guarda tudo bem guardadinho e faz piadas mórbidas sobre o assunto, que em vez de procurar a solução prefere embebedar-se e dizer merda sem sentido a seguir. Quem é a pessoa triste afinal, não é? :3 Enfim, se a lolita em causa ler isto ou se alguém que a conheça ler isto ou se um amigo de um amigo de um amigo ler isto, podia por favor dizer-lhe que eu gostava que ela me devolvesse os livros "As Crónicas de Nárnia" e "The One I Love", que tinha emprestado porque gostei tanto deles que os queria partilhar? E que, na devolução, até podíamos tomar um café e olhar para o passado e saber o que é que andamos a fazer das nossas vidas e para onde é que elas irão depois de terminar o café e o copo de água e quiçá uma imperial? Eu peço desculpa por estar a falar de um assunto tão estranhamente pessoal neste espaço, que na realidade é o comentário a um livro e tal, mas não vejo outra maneira de a encontrar. Perdi os contactos com o tempo (isto já foi há muito tempo) e não queria usar nenhum método de comunicação lolitoso para isto, porque não sendo lolita não me sinto no direito de o usar.

Falando nisso, eu não me considero lolita mas a verdade é que até tenho um par de vestidos (e mais uma série de coisas que são offbrand e uma réplica de que já não gosto mas que gostava na altura). Mas isso não fará de mim uma lolita, se bem que o conceito do que é ou não uma rori é motivo de debate interno. Será que precisas de viver a vida como uma Momoko, personagem deste livro, ou será que usar os vestidos basta? De uma forma ou de outra, eu não os uso muito bem. A maquilhagem ainda é um mistério para mim e o meu cabelo é um desastre. Mas isso é outra história.

Momoko é uma lolita e vive o rococo dentro dela. Mas a interpretação dela do rococo não é nada de inocente. A verdade é que ela vive a vida usufruindo dos prazeres ao máximo, de forma egoísta e indiferente. Está na sua, por isso usa os vestidos mais histericamente possíveis. E ela diz que é tudo uma questão de "mau gosto". A roupa é de tão mau gosto que dá a volta e se torna maravilhosa. É um exagero. E se olharmos para o estilo desta forma, chegamos ao âmago da questão: isto é uma moda de revoluções. É o punk ao contrário. Novala Takemoto é considerado uma das grandes autoridades do mundo da moda lolita (ou era, antes de ter sido preso) e se ele diz isto... Bem, é uma interpretação coerente que torna o estilo muito mais fascinante do que "vestidos com ovelhinhas que têm chapéus de palha". Recomendo a todas as pessoas interessadas neste estilo que leiam este livro ou que, pelo menos, vejam o filme. Porque a Momoko define-o de uma maneira muito interessante. Interpretações, cada um tem a sua, mas esta é a opinião do alter-ego do Novala. Acho que é importante, se bem que desactualizada. Bem, é importante em termos históricos.

Este livro conta a história de Momoko que, por acaso do destino (ela precisava de dinheiro para comprar mais vestidos), se torna amiga (mais ou menos) do seu oposto diamétrico: Ichigo, uma yanki. Os yankis são aqueles mauzões, motoqueiros que andam em brigas e na estrada. O fascinante do livro é como elas as duas, sendo tão diferentes, se entendem e se aceitam sem nunca mudar as suas perspectivas da vida. É também muito interessante ver como elas são a antítese do estilo de moda que escolheram: a inocente lolita é uma pessoa fria (que vai ganhando sensibilidade e abrindo o seu coração pela interacção com Ichigo) e a perigosa yanki é correcta e bondosa (que vai ganhando individualidade e independência do grupo pela interacção com Momoko).

É um livro muito interessante, mas que pode ser um pouco confuso para quem não tem conhecimento sobre o estilo lolita. A maioria dos fãs de anime pensa que é algo preto e branco cheio de folhos, mas esse tempo já passou. Se quiserem informações, recomendo o  site HelloLace, que tem uma biblioteca com os vestidos existentes e muitas fotografias de inspiração para perceberem o que é a lolita dos anos 10.

Ah, e vou escrever uma carta ao Novala, ele tem a morada no site dele. Vou dizer-lhe para não se desmotivar por ter sido preso e continuar a fumá-las. E a agradecer este livro, que me fez compreender melhor um estilo de vestir e de viver. Depois de o ler, acho que estou preparada para enfrentar essa pessoa do passado e assinalar umas tréguas, deixar para trás esta minha atitude de cabra insuportável e olha, viver a vida!

Chihayafuru 2

Chihayafuru 2
Asaka Morio - Madhouse Studios
Anime - 25 Episódios
2013
6 em 10

É certo que Chihayafuru tinha deixado na boca aquele gostinho de quem quer continuar. Precisávamos de uma segunda season e aqui está ela! Apareceu no Inverno de 2012, continuando-se por 2013 e terminando agora mesmo.

É uma continuação directa e considero-a ligeiramente inferior à primeira season, quase uma season de transição. Pega no segundo ano dos nossos personagens e a segunda vez que aparecem no campeonato de Karuta. São introduzidos dois novos personagens na equipa, jogadores novatos que têm de aprender a jogar (e, assim, o anime dá-nos uma revisão das regras, para os que já se tinham esquecido). E também introduzidos novos oponentes.

Infelizmente o anime torna-se um pouco repetitivo e cansativo: tem demasiados jogos. Aquilo que (eu) queria saber era como se desenvolvia a história do triângulo amoroso. Esta season não lhe toca: apenas é referida alguma coisa no último episódio, que deixa - mais uma vez - um gostinho na boca de quem quer uma terceira season. Uma coisa que me causa pena é estarmos sempre a acompanhar os jogos da Chihaya, que tem uma maneira um pouco desinteressante de jogar, mais física. Por exemplo, gosto muito mais dos jogos da Oe-san, porque ela chega às cartas pela interpretação e assim  ficamos a conhecer melhor os poemas e as cartas (gostaria de ler os poemas um dia, se conhecerem uma boa edição em papel com anotações por favor digam-me).

De resto, mantém-se na linha da primeira season em termos de animação e sonoridade. Uma coisa que gostaria de saber é se estes leitores das cartas do karuta são realmente tão bons como eles dizem ou não. Realmente quanto apareceu aquela senhora, eu senti alguma coisa diferente, mas não sei se foi pela animação que vinha associada ou se pela voz propriamente dita.

Ficamos à espera de uma terceira season. E que demore pouco a chegar!

Karneval

Karneval
Suganama Eiji - Bandai Visual
Anime - 13 Episódios
2013
6 em 10

Continuando, estação da Primavera... Quem sou eu para recusar ver um anime cheio de entidades masculinas bonitas? Sou o eu de agora: a partir de Karneval vou passar este tipo de anime de agora em diante. Porque já não tenho vagar para estas coisas. E estas coisas são o chamado "fujoshi pandering". O que é este conceito? É quando um anime tem uma palete de gajos giros por onde escolher, que fazem coisas de gajos giros e têm uma certa tendência subliminar meio homoerótica (mas não completamente, muito discreto), mas que são giros e como são giros as gajas babam-se e as gajas gostam e as gajas papam. Pois que eu não seja gaja se vou papar isto! Porque depois de já ter passado toda a minha adolescência a papar isto e a delirar com isto e a babar-me para os gajos dos bonecos que são tão giros... Eu cresci e eu estou FARTA. Eu quero anime BOM. Se o anime for BOM e tiver gajos giros: ÓPTIMO. Yang Wenli todos os dias da minha vida. Kusuriuri aos fins de semana.

Mas vamos ver, porque é que eu tenho esta opinião sobre Karneval se todas as reviews que tenho lido, com excepção de uma ou outra, lhe dão um retumbante dez em dez?

Comecemos pela história. Confesso que me perdi, porque ela realmente não faz muito sentido. Então temos um gajo (giro) que está preso e outro gajo (giro) que o liberta, então vão juntos e são perseguidos, então vão parar a um sítio que os defende que é um circo e que tem coelhos e então eles lutam e procuram um outro gajo (que deverá ser giro) que está perdido, mas lutam contra o mal de qualquer forma, porque se são  os personagens principais (e são giros) é porque devem ser boas pessoas. Não, sentido está em falta, cadê sentido? Alô?

Claro que isto poderia ser compensado com personagens fortes, que estariam no meio de uma história tão circense por mero acaso do destino. Não. Não é o caso. Todos os personagens, sem excepção, são uns coitadinhos. O das orelhas é um coitadinho, o ladrão é um coitadinho, as gajas são muita carismáticas mas continuam todas a ser umas coitadinhas, o médico é um coitadinho, toda a gente é coitadinha. Tenho tanta pena deles. Tanta. Imensa. Assim deste tamanho: (...)

No parênquima sonoro nada que se distinga da normalidade. Vamos admitir que a OP está interessante e que se o anime correspondesse à animação da OP teríamos algo muito mais fascinante. E vamos admitir, vamos mesmo, porque é verdade, que a arte está bastante boa. É colorida, é vívida, os designs dos monstros e das roupas estão muito interessantes. E reparo com este anime que os 10s têm uma nova tendência no design shoujo. Observemos:

Um coitadinho qualquer

Cabelos separados em madeixas, cada uma com a sua sombra, pestanas longas (back to the 70s?) e olhos mais apertados em personagens adultas, nariz comprido e linha do maxilar longa e forte. Mãos típicas de BL, grandes e poderosas (ler com sotaque brasileiro).
Não desgosto desta tendência, por acaso, só achei curioso e achei por bem reparar nela neste post.

Enfim, Karneval pode ser medíocre, mas aprendi uma grande lição com ele: não mais ver anime quando a única razão para o ver é "tem gajos giros". Vamos ser um pouco mais selectivas, não vamos Lady? Afinal, se quiseres ver um gajo giro já não precisas de ver anime!

Hataraku Maou-sama!

Hataraku Maou-sama!
Hosoda Naoto - Lantis
Anime - 13 Episódios
2013
5 em 10

Mais outro anime de Primavera que, para mim, possuía uma grande dose de potencial e que me desapontou.  Vejamos, o que é que eu pensava que isto ia ser baseada no primeiro episódio:

O rei dos demónios e seu cúmplice são transportados para a dimensão onde se encontra o planeta terra. Evidentemente vão parar ao Japão, mas isso é o menos. Aquilo que eu pensava é que o demónio e seu sub-demónio iam ter aventuras pelo planeta Terra em que seriam confrontados com as diferenças ideológicas entre eles e as pessoas normais. E que isso seria cómico.

e a verdade é que estava a ir muito bem. Até mais ou menos o meio da série. Em que... Pois... ACÇÃO. CENAS DE MOTHERFUCKING ACÇÃO. Acção essa perfeitamente inútil que desviou a história para mais um shounen exactamente igual a todos os outros. Adicionem-se gajas. Adicionem-se inimigos. Adicione-se mais acção. Tudo o que *as pessoas* gostam, mas que eu desprezo. E, com isto, a série morreu para mim.

Não é que a animação esteja má, ela até está bastante capaz nas ~lutas~. Mas eram necessárias? Era necessário fazer de uma história tão engraçada uma coisa assim tão básica que se baseie em... ~Lutas~? É este o problema do anime dos tempos de hoje: tem uma história interessante, tem uma premissa muito gira, mas na execução decide sempre ir pelo caminho fácil, pelo caminho das ~lutas~, pelo caminho que Dá Dinheiro. O que era uma comédia hilariante ficou de uma vulgaridade fremente, tudo se tornou desinteressante. Mas enfim, a animação não está má.

Não se pode dizer o mesmo da música. Tardou para a OP aparecer, mas aparecendo foi horrível. No entanto, estão interessantes as vozes e são elas que ainda conseguem trazer algum efeito cómico.

Digo sempre que a comédia é difícil de avaliar porque é subjectiva. Hataraku falhou em fazer-me rir durante todo o tempo em que decorreu. Problema meu? Sim. Masacomédiaésubjectiva.

Devil Survivor 2 The Animation

Devil Survivor 2 The Animation
 Kishi Seiji - Manichi Broadcasting
Anime - 13 Episódios
2013
4 em 10

Em relação a este anime, season de Primavera de 2013, possuía algum tipo de expectativa, pois a sinopse parecia interessante. No entanto, a sinopse revelou-se um lugar comum logo ao segundo episódio.

Essencialmente, esta juventude neste anime tem uma aplicação para o telemóvel que mostra como vão morrer. Super útil. Começou por aí, mas depois - de alguma maneira que não compreendo - passou para invocar uns bicharocos pelo telemóvel e usá-los para lutar contra outros bicharocos ainda mais feios. E, assim, um anime que tinha potencial para ser interessante, cai na infantilidade de monstrinhos contra monstrinhos. E porque é que os monstrinhos têm todos de ter os mesmos nomes em todos os animes é algo que me transcende. Todos os tigres brancos se chamam Byakko, pelo amor da santa.

Enfim, em termos de história e de personagens temos pouco mais que nada. Todos os personagens são estereótipos, se bem que os seus designs se aproximam mais do ideal de shoujo do que do de shounen (nos masculinos) e o oposto nos femininos. Curioso. Resta-nos música e animação, que também sofrem a infelicidade de serem vulgaríssimos.

A animação poderia ser bastante boa se não tivesse momentos de CG algo pavorosos. Se bem que, vamos admitir, o CG no anime de agora está bem mais bem disfarçado do que o do anime do antigamente. Temos muitas lutas e muita acção, com os bicharocos e tudo o mais, muitas explosões bichosas, etcoetera, mas nada de interesse.

A música, a primeira vez que ouvi a OP pareceu-me um som da Hatsune Miku - o vocaloido - mas depois de a ouvir a segunda vez já não me pareceu, por isso não sei. De uma forma ou de outra, não era nada de especial. O resto do sonoro não se distingue do restante do género.

Finalizando, acaba tudo em bem, graças ao poder supremo que todos os personagens principais possuem para vencer o terrível mal que nos assombra. Oh yeah.

27.6.13

Uta no☆Prince-sama♪ Maji Love 2000%

Uta no☆Prince-sama♪ Maji Love 2000%
Kou Yuu - A-1 Pictures
Anime - 13 Episódios
2013
5 em 10
 
A continuação directa do 1000%, mas desta vez nenhuma parte do meu corpo explodiu. Porque desta vez os príncipes da música nada mais foram que um cliché sem qualquer tipo de conteúdo.
 
O anime gira todo em volta da introdução de um novo personagem. Se já tínhamos um menino para cada gosto, só faltava ter um de tez um pouco mais escura para completar o harem. Mas eu não compreendo, se calhar isto é uma coisa Japonesa, não são sete gajos... Gajos a mais para uma banda? Sei que os nihonjins têm aquelas bandas infinitas as AKBcoisoetal que são imensos e imensas, mas qual é a graça disto? Bem, se calhar sou eu que tenho uma limitação, a partir do momento em que ultrapassa um certo número deixo de conseguir decorar nomes de elementos de bandas.

Entretanto aparecem uns rivais. Pois, temos de ter sempre rivais para podermos evoluir. Ou se calhar não. Tanto faz, o que interessa é que temos uns rivais, uns gajos mais experientes e mais giros (supostamente) que cantam melhor e têm uma compositora melhor e são melhores em todos os aspectos. Sóquenão.
 
Metade dos episódios são para cada um dos meninos demonstrar os seus atributos, que continuam exactamente iguais aos da primeira season, sem tirar nem por e sem qualquer tipo de evolução ou mudança ou o que quer que seja.
 
Até as músicas me irritam um pouco, porque são demasiadas e as vozes começam a soar a "olhem para mim, canto de uma maneira tão sensualóide apesar de ser um boneco!" E também porque depois de ter sacado a banda sonora da primeira season fiquei imensamente desapontada. Fora do anime as músicas não têm graça nenhuma.

enfim, se a primeira season foi divertida, esta foi completamente inútil. Porque cai no exagero sem tirar nada dele.

25.6.13

Hotel Memória

Hotel Memória
João Tordo
2007
Romance

Livro recebido pelo BookCrossing. Conta a história de um jovem estudante que, após certa tragédia, se envolve numa investigação que visa encontrar uma pessoa perdida, um fadista Português.

O livro está, essencialmente, dividido em duas partes: antes do mafioso russo e depois do mafioso russo. Antes do mafioso russo, o narrador conta a história de como chegou a Nova York e uma paixão intensa que vive nessa cidade. Após o final, entra  numa espiral descendente de depressão que o leva a viver no quarto do Memory Hotel, uma pensão nojenta cheia de baratas. Lá, é visitado por um Russo enorme que o incita a investigar sobre Daniel da Silva, o fadista desaparecido. Depois aparece o mafioso russo e ficamos, através da narrativa de outra personagem, a saber o que se passou para o fadista ter desaparecido e qual a sua relação com os russos.

O livro está bem escrito, com cenas intensas, apesar de por vezes entrar no lugar-comum. Por exemplo, o final, que estava a ser emocionante devido à revelação do estado evolutivo final dos personagens, ficou rapidamente lamechas e perdeu a intensidade que possuía.

No entanto está aqui uma história diferente e bem construída, um thriller da máfia da música, envolvendo um Português. E fado!

24.6.13

Shigurui

Shigurui
Ueda Yasayuki - Madhouse Studios
Anime - 12 Episódios
2007
7 em 10

Normalmente um anime de samurais está recheado de coisas como a honra, a força interior e todas esses atributos positivos. Shigurui é diferente. Shigurui é uma violenta história de traições e vingança, caracterizando a época Edo - a preferida de toda a gente (a minha é a Heian) - como um lugar terrível e ameaçador. Uma novidade para o género.

Tudo começa com uma luta que será com espadas verdadeiras. Os samurais que se apresentam é um homem sem um braço e um cego aleijado. E com isto o anime entra num flashback que explica quem eles são, qual a sua relação e como vieram parar a esta situação. Infelizmente o final deixa muito a desejar, deixando muitas perguntas no ar. A história está incompleta no anime. Sei que me vão mandar ler o manga, mas não vale a pena, não vou investir nesta colecção. Porque eu gostei foi do anime.

A história é suportada pela força horrenda destes personagens. Cada um é pior que o outro e fazem coisas horríveis uns aos outros, por motivos muito claros de "proteger a honra" (aí está ela) e, com isso, proceder a vinganças extremas. O estilo narrativo fascinou-me. A história progride lentamente, como uma peça de teatro No, apresentando grandes momentos de tensão. Isto não seria possível se tivessem escolhido outra forma artística para mostrar a história.

A arte, para mim, é um ponto bastante forte. Apesar de a animação ser bastante incapaz e de haver algum CG muito feio (intestinos e cigarras, sobretudo), o anime tem um sentido artístico forte. A paleta de cores é escura, isto é quase um "filme" a preto e branco, mas que tem algumas cores. Azuis e verdes secos, sobretudo, contrastando com o vermelho sempre presente no sangue que espirra por todo o lado a toda a hora. A violência gráfica é inusitada, mas está feita de tal forma que se integra com o espírito do anime, sem parecer forçada ou exagerada.

A música é um aspecto fascinante. Não temos exactamente temas musicais para caracterizar os momentos. Em vez disso, somos colocados em tensão por canções infantis e, sobretudo, por efeitos sonoros com os instrumentos tradicionais japoneses da época. Efectivamente, um shamisen pode não ser o instrumento mais melódico do mundo, mas possui uma alma muito característica própria para contar histórias deste género.

Tive pena que o anime ficasse incompleto e, como não irei ler o manga, resta-me imaginar o que se irá passar a seguir. Não alimento a esperança de que façam uma segunda season, mas espero que - se a fizerem - lhe dêem uma animação correspondente ao estúdio.

Nota Pessoal ou Porque é que eu quase nunca leio manga:
Porque eu me recuso, recuso e R-E-C-U-S-O a não pagar pelos livros que leio. Já começo a aceitar o ebook como forma de livro mas, para mim, a edição em papel ainda é o mais importante. Por isso recuso a ler manga na internet, que é o que toda a gente faz. Recuso-me a ler scanlations do que quer que seja. Há muito manga que eu quero ler e que só existe em Japonês. E, assim, aprendo a ler em Japonês. Para poder ter os livros na mão e lê-los. Mas, efectivamente, também não aprecio manga por aí além. Aborrece-me lê-lo, desconcentro-me com os desenhos - sobretudo se a arte for muito boa - e perco-me na narrativa e tenho de voltar para trás. Acontece-me isto com toda a banda desenhada com histórias mais complexas, apesar de não ter experimentado muita e ainda desejar, bastante, entrar por esse universo um dia. Quando me fizer sócia de uma biblioteca. Porque eu não vou ler na net. Nem que o manga em questão me conte os segredos da existência da humanidade.

17.6.13

Toaru Majutsu no Index

Toaru Majutsu no Index
Nishikiori Hiroshi - J. C. Staff
Anime - 24 Episódios
2008
5 em 10

Estava numa grande expectativa para ver este anime, pois tinha ouvido falar tanto dele. Um desapontamento absoluto. Um anime que tem tudo e não oferece nada.

Tudo... Que tudo? Tem uma história que promete acção sem parar, como as pessoas gostam (eu não sou uma delas, apesar de tudo). Tem todos os estereótipos de personagens para se escolher. Mas a resolução é infeliz e o resultado final é um anime sem qualquer tipo de conteúdo. 

A premissa promete-nos um debate: ciência versus religião. Numa cidade em que oitenta por cento dos habitantes são estudantes, existem vários graus de poder científico, "espers" de 0 a 5. Lutarão uns contra os outros, como é evidente. Mas eis que aparece uma freira que é uma biblioteca de livros proibidos. Por razão cientificamente palerma, se não lhe apagarem a memória de tantos em tantos anos ela morre. Enfim. Prometem-nos um debate. Não temos debate nenhum. Apenas lutas contra o tal inimigo (cantar isto com voz de navegante da lua, por favor). E as lutas não têm grande graça. O personagem principal é um incapaz mas tem o fascinante poder de anular todos os poderes esperianos com uma das suas mãos, esquerda ou direita já não me lembro. Assim, as lutas resumem-se a "eu ataco-te, tu defendes-te" e pouco mais.

Aparentemente os valores de produção até eram bastante elevados para esta série, mas... Não se nota. Porque as cores estão esbatidas, os designs são vulgares e a acção não tem nada de extraordinário.

Mas voltemos ao que isto nos tinha prometido: personagens de todos os tamanhos e feitios. Temos freiras, temos lolis, temos tsunderes, temos ganguros lolitas (se imaginassem a falta de sentido que isto faz em termos de moda...), temos de tudo um pouco. Mas ninguém se desfaz do seu estereótipo e vai para além dele. Inimigos? Todos muito maus, com certeza. Mas razões profundas por detrás das suas acções? Ou das de qualquer personagem, diga-se... Nada. Rien de rien.

E a música? Nem se dá por ela. Não é boa nem má, nem se nota. Não adiciona nada, não tira nada, existir ou não parece ser indiferente.

Tanta excitação para nada.

16.6.13

O Livro Perdido de Camões

O Livro Perdido de Camões
Maria Coriel
2008
Romance Espiritual

Lido na viagem de regresso. Agarrou-me completamente, tanto que me ficaram a doer as mãos de estar três horas a segurá-lo. E comprei-o na Feira do Livro!

Não achei que começasse bem. Em primeiro lugar porque se classifica, como podem ver acima, como "romance espiritual". O que raio é um "romance espiritual"? Pelos vistos é isto. E isto é a auto-biografia de Camões, narrada pelo próprio, depois dele ter morrido. Quando passa para o estado transcendente, ele vê a sua vida toda e escreve este livro, o livro perdido. Mas primeiro estranha-se, depois entranha-se.

O que é que eu achava sobre Camões? Que era um bêbado com algumas tendências violentas que escreveu uma epopeia chamada "Os Lusíadas", que toda a gente lê na escola (e que eu li por inteiro, sem perceber absolutamente nada) e que toda a gente detesta, porque se lê na escola (e porque não se percebe nada) e que não interessa a ninguém, porque se lê na escola (e porque são umas centenas de páginas todas em verso sobre a história de Portugal, escritas no lingo próprio do século XVI, que não se percebe nada e que é chato para toda a gente que não gosta de poesia/que não gosta do século XVI/que tem de analisar isto na escola/que leu o livro todo sem o perceber)

Mas este livro mostra uma perspectiva diferente. Mostra o caminho de Camões numa certa "tradição", bem semelhante àquela praticada por uma pessoa que eu conheço bem, e a forma como ele atingiu um certo nível de iluminação que lhe permitiu escrever aqueles versos todos. Porque, vamos admitir, apesar de eu ter achado "Os Lusíadas" a coisa mais chata à face do planeta, é preciso uma grande dose de genialidade para o ter escrito. E ainda bem que somos todos obrigados a levar com essa genialidade, para percebermos que há literatura com qualidade acima daquilo que se pode considerar como superior, escrita na nossa língua, por um senhor zarolho, numa altura em que nem sequer havia corrector ortográfico nem internet.

Isto tudo e ainda não disse nada. O livro é envolvente, é impossível parar de o ler. A vida de Camões é-nos mostrada de uma maneira fascinante e a iniciação pela qual ele tem de passar leva-nos para um espaço espiritual de aceitação da realidade com o qual parece muito possível escrever uma das maiores obras literárias da humanidade.

A linguagem é apropriada à época e existem muitas citações de muitos poemas (todos devidamente anotados, pelo que quem as conhece bem não achará tanta graça, porque não as encontrará por acaso). O único defeito na escrita é o. Excesso. De. Pontos. Finais. Mas passadas umas cinquenta páginas uma pessoa habitua-se.

Recomendo bastante este livro. Fiquei a gostar mais do Camões e a partir de agora já não o vou chatear tanto.

Vou emprestar este livro à pessoa que conheço bem que pratica a tal "tradição" parecida com esta, a ver o que acha. :3

Eu, Ela e os Vampiros

Eu, Ela e os Vampiros
Carlos Rodrigues
2012
Fantástico

Segundo livro do fim de semana de ida ao Porto (agora vou lá todos os meses, acho que já disse isto). Só não o li todo no comboio de ida porque... Não me apeteceu. Quando os livros são menos bons, não dá vontade de os ler e uma pessoa tem de se forçar. Às vezes acontece o mesmo em livros muito bons que sejam muito difíceis. Mas não foi o caso deste.

Ora, o nosso amigo Gary Stu Carlos e a nossa amiga Mary Sue Diana tornam-se caçadores de vampiros quando uma estátua de um museu onde estão em visita de estudo se torna num vampiro. O que quer que seja um vampiro no universo deste senhor, porque as características deles não estão nada definidas. Enfim, "vampiro" é o nome dado a criatura sobrenatural associada à cor roxa e que morde. Os nossos amigos são possuídos pelos guardiães, uns anjos de nome Português (os vampiros, por sua vez, são ingleses. Como convém, diga-se de passagem, a meteorologia latina não é nada apropriada a criaturas sobrenaturais roxas). E têm um professor que é mais poderoso que eles, apesar deles serem os mais poderosos. Mas têm alguém mais poderoso que eles a ensiná-los. Mas eles são os mais poderosos.

Numa série de reviravoltas com muita acção e uma piñata em forma de Minnie (nem sabia que existia semelhante coisa à venda no nosso país) a resolução é, precisamente, nenhuma.

Além do mais, o autor da narrativa, Carlos (não o Rodrigues, mas o jovem de 14 anos que caça vampiros) tem o poder etéreo de ver o que está a acontecer em sítios onde não está presente e de saber os sentimentos de pessoas que não são ele. De repente, o narrador passa para a terceira pessoa e falamos de Elisabete, que se vem a saber ser a mãe de Carlos. Por momentos pensamos que ela tem alguma relação com isto tudo, mas depois não acontece nada.

A minha sensação é que isto é uma introdução para uma -logia (tri, tetra, penta, hexa, etcoeteralogia). Mas a realidade é que não prende e não trás qualquer tipo de curiosidade em saber o que acontece à estátua maneta, nem aos personagens, nem aos anjos, nem ao gajo da túnica, nem ao professor, nem aos ingleses, nem à pinhata nem nada.

Irei abandonar libertar este livro pelo BookCrossing. Provavelmente no metro ou no cacilheiro.

A Culpa é das Estrelas

A Culpa é das Estrelas
John Green
2012
Romance

Muito bem, este livro tem uma história deveras estranha. Comprei-o para oferecer à minha irmã no seu aniversário. A capa é muito gira, o título é muito giro, a sinopse parecia muito gira. E ela estava a lê-lo quando fomos a Paris. Chegamos ao aeroporto para voltar e eu termino, precisamente nesse momento, de ler o livro que tinha levado (o segundo volume de 1Q84). Assim, pedi-lho emprestado. E descobri que era sobre putos com cancro. Oh, mas que prenda tão bonita para se dar a uma irmã no seu aniversário... -__- Tão positiva! Tão alegre! Enfim, no avião ela pediu-mo de volta e só agora voltei a ele. Ainda tinha o marcador no mesmo sítio, por isso peguei daí.

Como eu dizia, o livro é sobre miúdos com cancro. Hazel tem um cancro endócrino que lhe enche os pulmões com edema. Augustus tinha um tumor ósseo que lhe levou a perna. Juntam-se numa aventura de conhecer um escritor que vive na Holanda, que escreveu um livro sobre uma miúda com leucemia. E depois muitas coisas acontecem mas não vou fazer como certa irmã que eu tenho que me contou o que ia acontecer.

O interessante deste livro é a narradora, uma adolescente que é pessimista e sobre-analista em relação a tudo. Pelo facto de estar, tipo, a morrer (citando o livro). Nunca tinha lido um livro em que uma personagem que ainda tem a vida toda para viver sabe que, bem, está a morrer. E que vai morrer de certeza, porque está doente e nunca se vai curar, porque um tumor hipofisário não dá para tirar. É a forma como ela enfrenta o inevitável que impressiona neste livro: vivendo o que lhe resta.

A história é só o típico de adolescentes mas, como eles próprios o dizem, estarem doentes dá-lhes outra dimensão. E a verdade é que todos os dias morrem crianças com estas doenças e não há nada que possamos fazer. O cancro é uma coisa que me assusta. Porque estudei sobre ele que me fartei, porque debati sobre ele academicamente. Porque um membro da família teve um e morreu. Porque outro membro da família teve um e sobreviveu. Porque é provável que eu venha a ter um se continuar a fumar, a comer carne bem passada e a viver com ansiedade. Por isso este livro perturbou-me e tocou-me de uma forma muito profunda. Confesso que estava quase a chorar quando me interromperam a leitura naquela parte na casa da Anne Frank. O cancro nunca é uma história que acaba bem. Mesmo quando está em remissão, há sempre algo que se perde. E normalmente é o que é mais importante para nós, algo que nunca daríamos pela falta se não o perdêssemos.

A exactidão científica do livro é duvidosa, mas aceitemos que nem todos tiveram seminários sobre cancro com o maior especialista vivo sobre o cancro em animais de companhia (e foi grátis, ganhei por ter ido a uma aula de HACCP a que toda a gente faltou. Sim, estou a exibir-me!!!!11)

Mas acho que devo um pedido de desculpas à minha irmã. Porque o livro é mesmo muito depressivo e não era esse tipo de sentimento que eu queria transmitir com uma prenda de anos.

14.6.13

Red Data Girl

Red Data Girl
Shinohara Toshiya - FUNimation Entertainment
Anime - 12 Episódios
2013
6 em 10

O primeiro anime desta season de Verão a terminar. Eu estava a acompanhar as releases (libertações?) na televisão, mas depois fartei-me de esperar e fui ver o último episódio na release do NicoNico (uma espécie de youtube Japonês). Aconselho que, se forem ver este anime fora da season, vejam a versão TV, pois a qualidade de imagem é muito superior e, nesta série, vale a pena.

Fala sobre a vida e aventuras de uma rapariga tímida, Izumiko, que tem dentro dela a encarnação de uma deusa (ou algo do género, como verão) extremamente poderosa. Vai para uma escola habitada por pessoas com poderes especiais e tem de se adaptar. Assim, o anime poderia ter sido uma análise sobre a inadaptação adolescente e sobre a luta da personagem por se integrar. Infelizmente, esse potencial não é revelado. Ao que parece, tentaram adaptar seis livros de uma Light Novel em apenas doze episódios. Não correu bem. Os vários episódios podem dividir-se em "arcos" que estão pouco relacionados uns com os outros, o que parte a cadência da série. Além disso, estamos sempre à espera de alguma explicação para o que está a acontecer, o que nunca nos é dado. Nenhum dos personagens sabe o que se está a passar e ninguém lhes explica, pelo que nós - público - também não sabemos (e também ninguém nos explica).

A personagem mais interessante é Izumiko, pelo potencial que referi. Acho que ela perde parte do seu charme a partir do momento em que tira os óculos, se bem que esse acto foi uma revolução pessoal importante (mas se ela tem astigmatismo, como vê sem óculos é um mistério). Os outros personagens são bastante vulgares, se bem que a interacção entre os gémeos tem algum interesse. O desenvolvimento é mínimo e linear. A Izumiko do primeiro episódio é diferente da do último episódio, mas não muito. Por um lado isto até é bom, porque significa que a sua personalidade não mudou.

Se em termos de história e personagens este anime fica um pouco aquém das expectativas, tal não se passa com a arte - de todo. As paisagens são lindíssimas e é extraordinário como, passando-se quase toda a acção durante a noite, tudo consegue ser tão brilhante. Estar sempre lua cheia ajuda... As cores são muito bonitas e é tudo extremamente detalhado, sendo que a luz dá uma constante aura de mistério e a expectativa de uma explicação, que nunca acontece.

Música é parca e vulgar, OP e ED simpáticas mas facilmente esquecíveis.

Dos animes da season, por agora, este é o que eu coloco em quarto lugar da minha preferência.

13.6.13

Debaixo de Algum Céu

Debaixo de Algum Céu
Nuno Camarneiro
2013
Romance

Tinha visto no jornal demasiadas ovações a este livro, vencedor do Prémio Leya 2012. Já começava a ganhar-lhe raiva quando li a sinopse. Qualquer coisa como "vida dos vários inquilinos de um prédio ao pé do mar". E achei que era interessante! Então aproveitei a Feira do Livro para o comprar (foi o mais caro deles todos)

Foi uma surpresa absoluta. Eu pensava que ia ser um livro denso, cheio de humor, afinal como poderíamos falar da vida dos inquilinos de um prédio se não lhes acontecessem coisas espectaculares e fora do normal? Mas foi exactamente o oposto. Tudo o que lhes acontece é normal. Mas como os conhecemos, como são os nossos vizinhos, parecem coisas extraordinárias.

Tudo se passa em apenas sete dias, entre o Natal e o Ano Novo. Pelo meio falta a luz e é nessa noite escura que são feitas as grandes decisões de todas as personagens, que acabam por ter a sua resolução no novo ano. Cada dia é relatado pelo narrador e depois analisado por um dos habitantes do prédio. Não gostei muito das partes dos habitantes do prédio, pois todos eles diziam muitos palavrões. Ao início as suas vozes pareciam-me muito distintas umas das outras, mas a partir do meio comecei a pensar que eram todas a mesma pessoa, pois o estilo narrativo, a maneira de falar, era igual para todas.

O livro é depressivo e é trágico. O final é agri-doce, com coisas que terminam e coisas que recomeçam. Não é um final feliz, nem é bem um final. Porque a vida continua e este livro é sobre a vida. A vida das pessoas, que somos nós.

Recomendo, mas não para todos. Não é um livro que nos faça sentir muito bem. A história é forte pela maneira como se conecta à nossa realidade, a de hoje em dia, a que estamos a viver neste momento.

Made in Hollywood

Made in Hollywood
Exposição
Fomos a Cascais, ver esta exposição. É uma colecção de fotografias dos tempos antigos de Hollywood, dos anos 20 aos anos 50, fotografias de cena e retratos.

é uma exposição muito informativa no que respeita aos fotógrafos e à fotografia de cinema, mas não contempla nada sobre o cinema em si ou sobre as técnicas. Eu  não tinha visto nenhum dos filmes que estava em exposição, para ser sincera... Reconhecia alguns de nome.

Ainda assim as fotografias eram muito interessantes e havia algumas muito artísticas. As minhas preferidas foram a da senhora de preto no fundo preto (não decorei o nome dela), a do Hitchcock com o leão da MGM e uma azul. O que mais me surpreendeu foi a perfeição das pessoas (eram todas tão bonitas), numa época em que ainda não havia photoshop. E descobri que a Marilyn afinal era magrinha.

Ganhei alguns postais e um poster com informações atrás.








Depois fomos comer gelados e jantámos nos Santos Populares. :3

12.6.13

Até à Eternidade

Até à Eternidade
Fred Zinnemann
Filme
1953
7 em 10

O terceiro filme das Sessões Clássicas no Corte Inglés, depois de Taxi Driver e Lawrence da Arábia. Desta vez conseguimos, três de nós, ganhar os convites da Metropolis e ir à ante-estreia com um grupo jeitoso. Mais uma vez, estavam senhores a falar. São críticos de cinema, e eu até sigo o blogue de um, mas e saber os nomes deles? Explicaram que este foi um filme revolucionário por abordar o exército de outra forma e spoilaram o final sem querer... Bem, o senhor avisou que não gostava de falar de filmes antes de as pessoas o verem porque tinha sempre medo de contar alguma coisa. Isso também me acontece muito e às vezes eu faço spoilers fenomenais sem sequer perceber... Desculpem! Enfim, aqui está o poster que recebemos desta vez:



Pois bem, eu fui para este filme sem fazer ideia do que era. Como tinha o Frank Sinatra estava convencida de que era um musical. E pensava que era a cores. Afinal era a preto e branco e é um filme trágico sobre a vida na ilha de Pearl Harbour imediatamente antes do bombardeamento.

O filme foi baseado num livro que relata a vida dos soldados de um agrupamento e os maus tratos injustificáveis que um deles vive, sob o pretexto de o fazer juntar à equipa de boxe. Também tem duas histórias de amor paralelas, bastante avant-garde para a época. A cena do cartaz, o beijo na praia foi revolucionária e chegou a ser censurada pelo seu erotismo implícito.

A história é imprevisível e crua, caracterizando o exército americano de uma forma distinta da maioria dos filmes do género, nessa época ou na nossa. Em vez de colocar os soldados como heróis coloca-os como seres humanos, todos eles pejados de defeitos que seriam inconcebíveis para um soldado. A história não acaba bem, o que é uma variação muito grande, nem poderia acabar bem se quisermos ser realistas, coisa que o filme é.

Os actores fazem trabalhos muito bons, transportando os sentimentos diversos dos seus personagens até ao limite do final, inesperado. Apesar do oscar, não achei que Sinatra fosse o mais brilhante entre eles.

Temos muita música, mas ela é utilizada de forma sábia, nunca trazendo alegria mesmo nas situações que supostamente o são. É irónica.

No fundo, um grande clássico que não devem perder. A versão pareceu-me bem restaurada, sem os grânulos habituais nas nossas sessões a preto e branco do canal Hollywood (mais ainda assim com alguns). Segundo li, já havia cores nesta altura, mas o realizador optou pelo preto e branco ou o filme não seria levado a sério. E realmente é este monocromatismo que dá a intensidade trágica à história.

10.6.13

Heartcatch Precure!

Heartcatch Precure!
Toudou Izumi - Toei Animation
Anime - 49 Episódios
2010
7 em 10

Purikure! Iniciei-me neste projecto fatídico por causa do meu clube. Em vez de começar pelo princípio, que era o meu objectivo, meti-me logo pelo final. Mas enfim, fica marcado: Precure irá ser um projecto de vida, tal como Gundam o está a ser neste momento (apesar de já não ver nenhum há algum tempo)

Normalmente iniciaria esta crítica por "és uma menina de seis anos?" Mas a verdade é que este anime me surpreendeu pela positiva e é apropriado a todos, sejam meninas de seis anos ou não. É um anime muito infantil, meninas mágicas a lutar pelas flores que temos nos nossos corações. A história segue um ritmo de "colega em problemas" semanal e dos quarenta e nove episódios só meia dúzia é que têm história. O resto é palha. Mas palha muito gira!

As personagens são muito queridas e facilmente nos identificamos com elas. Não estava à espera, mas sofrem bastante desenvolvimento: vão ficando mais fortes e existe uma cena específica em que enfrentam o seu "eu do passado", o que demonstra o quanto elas cresceram. As mascotes, as fadinhas, são demasiado amorosas para o meu coração. Até a fazer cócó são fofinhas! Podiam encontrar-me a ver este anime e a bater palminhas por causa delas! Tão queridas!

A arte é um ponto bastante forte. Os designs são angulosos e funcionam bem nas cenas de acção, que são bastantes. Não percebo bem porque é que batiam nos Deserterians antes de usar a Forte Wave, nem porque é que os generais não atacavam logo à força toda (assim tinham despachado tudo muito mais rapidamente). As cores são brilhantes e, num todo, é um anime envolvente e agradável à vista, com um sentido artístico bastante próprio e um estilo definido.

A música é um pop despretensioso, fácil de aprender e bom de cantar. Um pouco repetitivo, mas nunca inapropriado.

Realmente, o que eu gostei mais deste anime foi que ele não tentou ser nada mais do que um anime de meninas mágicas. Não tinha pretensão nenhuma e, por isso, conseguiu cumprir com o objectivo: entreter. Não se distingue de outros animes do género (diria que até Sailor Moon é superior em termos de história) mas é muito giro e acho que vale a pena ver, mesmo que não sejam uma menina de seis anos.

9.6.13

Flores Raras

Flores Raras
Nuno Barreto
Filme
2013
6 em 10

Isto passou-se na sexta-feira à noite. O meu pai arranjou-me uns convites para a estreia do ciclo de cinema brasileiro no CCB, que se iniciou pela ante-estreia do filme Flores Raras, de Nuno Barreto. Antes disso houve um coquetel.

Eu não ia bem vestida para o coquetel, esqueci-me de mudar de sapatos. Mas enfardei-me de comida e de moscatel e de sumo de laranja e fui à maluca para o filme. Estava sozinha. E já não me lembrava de como o Grande Auditório do CCB era grande, nem como as cadeiras eram desconfortáveis por estarem tão juntas umas das outras (as filas). Ainda estivemos uns quarenta minutos a ouvir entidades políticas importantes a agradecerem-se umas às outras e depois o realizador veio pedir-nos que não nos acariciássemos durante o filme. Ainda bem que a pessoa que não foi não foi, ou então não poderia ter obedecido a essa regra, já que me é impossível resistir a fazer festinhas diversas.

O filme é sobre a poetisa Elizabeth Bishop que, procurando inspiração, vai ao Brasil. Lá apaixona-se por Lota, uma arquitecta, escreve bem e ganha um prémio Pulitzer. O filme analisa a relação delas a crescer e a desintegrar-se, por motivos do alcoolismo de Bishop e depois o que se passa após a sua separação. Interessante ver que à medida que Bishop sai do torpor alcoólico, Lota entra numa espiral de depressão e os papéis acabam invertidos no final.

O filme tem uma história de amor interessante, apesar de estar fora da minha zona de conforto, e faz uma boa recriação da época, anos 50. Elas vivem todas na Samambaia, uma casa no meio da floresta muito linda, e as imagens são bem brilhantes e bastante bonitas. As actrizes fizeram um bom trabalho, como tinha de ser porque o filme é todo com elas, mas por vezes pareciam indiferentes aos sentimentos dos seus personagens.

No geral, um bom filme. Acho que vale a pena ir ver, porque sempre é uma variação do típico cinema americano (e se vos faz muita impressão ouvir falar o sotaque brasileiro, o filme é todo em inglês)

Asian Culture Party

Asian Culture Party
Evento
Era uma vez uma pessoa que tinha de ir a uma reunião do condomínio no Algarve. Essa pessoa queria ir com outra pessoa e a outra pessoa baldou-se à ida ao Algarve por motivos de força maior. Então a pessoa inicial pegou nela e foi ao evento dos animus. Eu.

Fui com a Hota, que tinha dois livros para me emprestar e acabou por se ir embora com eles. E eu não lhe liguei nenhuma porque depois me acoplei ao grupo do Anime Portugal, sou uma má amiga. :< Enfim, entrámos, pagámos três euros para receber um papel a servir de bilhete. O papel dizia que era proibido tirar fotografias, mas eu sou against da powa e tirei à mesma. Dez minutos e tudo visto.

O espaço é excelente, mas estava aproveitado de uma maneira infeliz. Apesar de ter tanto espaço só tinha meia dúzia de bancas e tinha os artistas, os infelizes, todos ao molho numas mesinhas. A um canto pessoas a bailar keipop e um palco bem grande e bem jeitoso. Escondidos estavam pessoas nas suas jogatanas, mas não os visitei. Se calhar devia ter ido jogar RPG, que tinha feito melhor. Nas bancas, não gostei muito da Tsubaki ter uma caixa com hentai do agressivo. Afinal estes são eventos familiares ou não? Têm de se decidir. Se vendem hentai do agressivo também me deviam deixar dizer palavrões no palco. A prova:


Agora vejamos o programa. A minha ideia de não ir ao evento foi precisamente porque o programa não me oferecia nada, nada de interesse. Eu não quero saber de coreano nem de chinês e todos os workshops japunas que se fazem já eu os fiz dezenas de vezes (logo não os vou fazer outra vez). Entretanto parece que o programa atrasou todo e era meio da tarde e ainda estavam a haver os bailados coreanos. Eu acho bem que dancem, é saudável, mas eu não aprecio esse pop. Porque não fazer as coreografias da Madonna? Já estava a deitar kizomba coreana pelos olhos e pelos ouvidos.

Ainda assisti aqueles concursinhos de comer e de se babar em colectividade, de pocky (essa reles imitação do mikado) e de mochi. Talvez para a próxima participe, para comer à pala. E me babar toda em público, nham nham

Perdi parte do desfile de cosplay, mas só me disseram que foi um flop fenomenal. A Leonor Grácias, apresentadora, ia chamando as pessoas mas as pessoas não estavam organizadas e algumas falhavam a chamada. Não que eu tivesse visto muito cosplay neste evento. Vi duas Canas Alberonas, que é um cosplay meu (e só meu!) e uma Meroko versão preta (também um cosplay meu e só meu!) e a Leonor estava de Utena (do qual eu estou a fazer uma versão diferente, minha e só minha), o que me leva a pensar que se calhar as personagens que eu escolho não são assim tão obscuras. Haha. Mas não lhes tirei fotos. A minha máquina tem manias e recusou-se a tirar fotografias a algumas pessoas. Desculpem! :( Ficam aqui as fotos mais decentes que consegui tirar (todas as outras estarão demasiado escuras ou desfocadas) mais um link para sacarem todas. :)





 JESUIIIS

 Um cosplay que vale minis!



Finalmente, o momento pelo qual me mantive com todas as forças neste evento: o concurso de cosplay. Uma miséria. Fui à rua esfumaçar-me durante um momento e quando voltei a entrar já tinha terminado! Eram só três! Agora começo a arrepender-me de não ter ido... A Hota gravou os skits, que comentarei quando estiverem online (estarão um dia, os da Anicomics também estarão um dia...)

Depois pensava que ainda ia haver um concerto de música tradicional Japonesa, tinha visto no programa, mas devia ser um programa antigo porque tudo o que fizeram foi amochar-se todos no palco a dançar o PSY.

Este evento foi um falhanço absoluto no que respeita a divertir as pessoas que não gostam de coisas coreanas. Se queriam um evento de coreanadas, fizessem um evento só disso. Aliás, o que me pareceu foi que este "Asian" Party queria ser um "Korean" Party e só juntou as japonesices para ter mais quórum. Depois juntou a china para não parecer mal. Um Asian Party a sério também devia ter a Mongólia, a Tailândia e a Índia. Também devia ter o Tibete! Se me tivessem dado um Asian Party com todos os países asiáticos, teriam aproveitado melhor o espaço e teriam entretido muito mais, teriam tido muito mais gente e teriam tido muito mais sucesso. Mas não, bailado coreano é o que se queria fazer. E a verdade é que havia muita, mesmo muita gente, que fazia a coisa, dançavam no palco e o público estava todo a dançar, como é que sabem as coreografias todas supreende-me. Também gostava de aprender a dançar, mas tinha de ser com música que me agradasse, por exemplo, Daft Punk (que é o que estou a ouvir agora)

Segundo consta também, a organização dos concursos e do desfile estava atroz, porque os voluntários aparentavam não ter tido formação e não sabiam o que estavam a fazer, nem dar informações, nem nada. Por isso têm de melhorar.

Isto se existir uma próxima edição, coisa que não acredito. Talvez para quem tenha estado a trabalhar lá dentro, talvez essas pessoas sintam que fizeram um trabalho genial, mas eu como elemento do público terei de discordar.

De resto, acabámos - grupo do Anime Portugal e grupo da APC - a jantar em Cacilhas e depois fomos beber minis para o miradouro. Foi a parte onde se esteve melhor. Desculpem lá se lá mais para as três da manhã já estava meio taralhoca e vos ter obrigado a guardar o meu chapéu de chuva. :3 No próximo a ver se levamos litras em vez de minis! =D

Edit: ah, e obrigado à menina que lê este blog e que me disse que gostava e ainda pediu para tirar uma foto. Fico muito contente, mas é estranho, haha

Edit2: Aparentemente houve muito mais cosplay no segundo dia, pelo que vejo das fotos. Yay! Fico à espera dos vídeos com os sukitos. :3

Edit3: Prodica - Não me levem a sério.

Comentários aos Skits (Individual)

A Hota gravou-os todos! Bem, eram só três, hah. Mas uma coisa que me fez espécie e confusão foi separarem os skits de fatos feitos pelo próprio daqueles não feitos pelo próprio. Não teria sido mais simples juntarem tudo, já que o concurso era (suponho) só de skits sem avaliar fatos? Bem, vamos a eles!

Começa bem, quarenta segundos para por tudo a funcionar? Com a Kali a fazer sinalefas para porem as coisas a funcionar. Buenooo~~ Enfim, gostei da coreografia com as fitas, boas cores para as fitas. Neste vídeo não dá para ver o contexto, mas acredito (pelo pouco que se vê) que foi explicado no vídeo de suporte. Podia ter havido mais interacção com aquelas correntes, que são da personagem.

Lembra-me aquele meu fatídico skit das cuecas, mas com um Mewtwo. Tudo desengonçado, tipo eu xD

Se é um skit de poses, é boa ideia ficar mais tempo em cada pose. Também é boa ideia fazeres um baixo/guitarra (eu acho que era um baixo, já não me lembro) para poderes violentá-lo à vontade sem risco de estragar um instrumento musical. Eu tenho um tutorial, se quiseres. :3 E também era boa idea prenderes o lenço com um alfinete.

Conclusão: acho que o prémio foi merecido.

6.6.13

Granta Portugal 1 - Eu

Granta Portugal 1 - Eu
Vários
2013
Revista

Depois de ter lido a(s) notícia(s) sobre esta nova revista literária no jornal - não que eu leia o jornal, eu sigo-o por RSS Feed - tinha elevados níveis de curiosidade em comprá-la e lê-la. E não é que aparece o meu stepfather com ela em casa e afinal o volume é volumoso como um livro! Um livro de contos!

Possui sete contos de autores Portugueses, inéditos, um editorial e sete contos de autores estrangeiros, publicados na Granta original, a internacional. E possui também poemas inéditos de Fernando Pessoa. Infelizmente poemas esses provavelmente eram inéditos por não terem graça nenhuma.

Os contos que mais gostei foram os de Portugueses, homens todos. As mulheres, todas elas, pareceram-me estar muito fixadas no tema e não havia história nenhuma, só elas a falarem sobre a vida. O mesmo se passa com os autores estrangeiros, também estão só a falar sobre a vida. A questão que se coloca aqui é, sendo que eu não os conheço de parte alguma (mas devia, não conheço porque sou ignorante), interessa-me os detalhes da sua vida privada?

A minha história preferida foi a "Jazz, rosas e andorinhas", da autoria de Afonso Cruz, que fala sobre culinária e sobre a tragédia do eu inadaptado. Logo a seguir, "À Medida que fomos recuperando a mãe", de Valério Romão, um ensaio surreal sobre a loucura de uma família desgraçada. E em terceiro lugar (se é que me posso dar ao luxo de classificar), "Espelho da Água", de Rui Cardoso Martins, que conta a vida das pessoas que andam de cacilheiro (sorte que ele não me apanhou a mim, se não teria contado uma história terrível)

Também gostei bastante de "Gente Famosa", de Orhan Pamuk, que fala sobre a infância contando, ao mesmo tempo, a história do desfazer de uma família.

Enfim, gostei das histórias que contavam uma história e não só descreviam a vida a passar. Não que eu possa falar muito, contando que o que eu escrevo também não tem história, às vezes. Mas não tem filosofia, isso não sei fazer. De uma forma ou de outra, auto-proponho-me - a partir de agora - o exercício de passar a escrever uma história com o tema da revista Granta. Desta vez é o "Eu". Já tive uma ideia, mas já me esqueci quando voltava no cacilheiro.

4.6.13

Kotonoha no Niwa

Kotonoha no Niwa
Shinkai Makoto - CoMix Wave
Anime - Filme
2013
7 em 10

Este filme, O Jardim das Palavras, é o novo trabalho de um realizador que eu admiro muito e que nunca me desapontou: Shinkai Makoto. A minha obra preferida dele é o Voices of a Distant Star, que é um ensaio em ficção científica. Este Jardim afasta-se bastante dessa corrente apreciada pelo autor, aproximando-se mais da análise da vida diária e da história realista, mais próxima de nós - pessoas.

Fala sobre um rapaz que falta às aulas nas manhãs de chuva e vai para um jardim onde se dedica a rabiscar aquilo que mais gosta: sapatos. O sonho dele é ser um sapateiro, mas dos que fazem os seus sapatos. A seu lado costuma sentar-se uma mulher que bebe cerveja e come chocolate. À medida que o tempo passa, vão-se aproximando e desenvolvem uma relação afectiva dominada pelo elemento natural da chuva. Só se encontram em dias de chuva e a sua relação existe em função dela, de tal forma que ambos acabam por desejar que a chuva nunca termine, que todos os dias chova. Mas a natureza não é assim, se exceptuarmos esta Primavera tão agradável que temos vivido.

Como devem imaginar, o filme é passado quase todo debaixo de chuva. No entanto, não é um filme cinzento e frio. Em vez disso existe uma luz quase purificada pela água que cai e todas as coisas têm um brilho reflectivo. Makoto é o especialista da "pornografia dos fundos" e não nos deixa ficar mal. O detalhe é quase fotográfico e, devido aos jogos da luz em movimento, não há uma única cena que seja estática.

A história é simples e bonita, um misto de reflexão sobre a solidão e história de amor. O final, razão pela qual não posso dar melhor nota a este filme, foi um pouco anti-climático, apesar de ser expectável devido às diferenças da natureza dos personagens. O que mais me estragou o final foi a música, um pop regularíssimo que, apesar de dentro do tema, tirou o peso e a consequência de tudo o que se tinha passado anteriormente. Mas as outras músicas, um piano que cai como a chuva, melancólico mas doce, conjugam-se com o ambiente de forma bela e quase desejei que nunca acabassem.

Um filme muito bom. Acho que não o devem perder devido à qualidade da arte, que é exemplar.

1.6.13

Lawrence da Arábia

Lawrence da Arábia
David Lean
Filme
1962
8 em 10

Mais uma das sessões clássicas da UCI, no El Corte Inglés. A primeira foi o Taxi Driver. Desta vez não conseguimos convites, porque perdemos o passatempo, mas não podíamos perder a oportunidade de ver um dos clássicos mais influentes do cinema no grande ecrã.

Este filme relata, ao longo de quase quatro horas - três horas e quarenta minutos, para ser mais precisa - a vida e obra de Lawrence, um soldado inglês que intervencionou a Arábia durante a primeira guerra, levando-a à independência e à união dos povos. É um filme extraordinário, porque consegue ser enorme e nunca ser chato.

A cinematografia está lindíssima, com grandes imagens panorâmicas de um deserto pavoroso. Mas no filme até parece quase agradável. O facto de terem de ter estado a viajar pelo deserto nos anos sessenta para filmar isto é fantástico. É sem dúvida uma grande produção, com centenas de pessoas envolvidas (e centenas de cavalos também). As cenas de guerra são violentas e emocionantes, apesar de o sangue destas pessoas ser bastante cor de rosa.

A música será para sempre lembrada. Mesmo antes de ver o filme (eu nunca tinha visto este filme), já reconhecia a música como sendo a do Lawrence da Arábia. O tema e as suas variações adicionam tensão crescente a cenas que são muito simples, nomeadamente o nascer do sol.

Mas o que mais me impressionou foi a evolução da personagem (que existiu, mas consta que o filme não está muito exacto) e o trabalho de actor por detrás dessa evolução. Lawrence passa de jovem culto um pouco avoado, com um bom coração, a uma máquina de guerra imparável, manietada pelas influências políticas superiores, devido ao trauma que encontrou no facto de sentir prazer com o sofrimento e com a morte. O infeliz vai passando progressivamente para o outro lado, cada vez mais perturbado pelas marcantes mortes que teve de executar e assistir.

A sinopse que me deram deste filme foi "é um gajo que vai para o deserto viver com o pessoal do deserto e depois passa-se". Confere. Vale muito a pena ver este filme, sobretudo se forem em breve para ainda o apanharem no cinema. A versão restaurada está exemplar, com uma vivacidade nas cores e no detalhe que se equipara aos filmes de agora. Excepto que este foi feito sem computadores.